Dom Murilo Krieger
Arcebispo de São Salvador (BA) e Primaz do Brasil
Arcebispo de São Salvador (BA) e Primaz do Brasil
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo”, exclamou João Batista, ao ver Jesus que vinha ao seu
encontro (Jo 1,29). E completou: “Dou testemunho: ele é o Filho de Deus”
(v. 34). Para os discípulos de João Batista, esse anúncio foi tão
importante que o deixaram, para seguir Jesus. Um outro João, o
evangelista, ao final de sua vida sintetizou o que tinha sido para ele a
convivência de três anos com Jesus de Nazaré: “O que existia desde o
princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e o que a nossas mãos apalparam... isso vos anunciamos”
(1Jo 1,1 e 3). João evangelista deixava claro, assim, que seu anúncio
partia de uma experiência pessoal, que o havia transformado
radicalmente. Anunciava, também, que todos podem fazer idêntica
experiência – isto é, podem ouvir, ver e tocar o Filho de Deus, porque
ele veio até nós, assumiu nossa carne e se manifesta a quem o procura.
Se é próprio de Deus manifestar-se, para
nos revelar sua intimidade, e se, em vista disso, nos enviou seu Filho,
onde encontrar Jesus Cristo hoje? De que modo e em que situações ele se
revela a nós? Em que situações ele se faz presente? É importante ter
respostas claras a essas perguntas, já que o encontro com Cristo é o
ponto de partida para uma autêntica conversão.
Destacarei sete lugares de encontro com Jesus de Nazaré – isto é, onde podemos encontrá-Lo em nossos dias. Podemos encontrá-Lo:
1º - Em sua Palavra. Os Evangelhos
apresentam, numa linguagem clara, compreensível a todos, o que Jesus
falou e o modo como viveu entre nós. Se prestarmos atenção às suas
palavras, será inevitável: nossos corações se transformarão e
produziremos frutos de santidade.
2º - Nos pastores que dirigem a Igreja.
Cristo, pastor dos pastores, assiste os pastores que dirigem e governam o
povo de Deus, como ele mesmo disse aos apóstolos: “Quem vos ouve, a mim
ouve” (Lc 10,16).
3º - Nos sacramentos. Os sacramentos são
ações de Cristo, que os administra por meio de seus ministros. Os
sacramentos são santos por si mesmos e, “quando tocam nos corpos,
infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas” (Paulo VI). Cristo
está sempre presente por sua força nos sacramentos, de tal forma que
“quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza” (Santo Agostinho).
4º - Na Eucaristia. O sacramento da
Eucaristia contém o próprio Cristo e é, como afirmava Santo Tomás de
Aquino, “como que a perfeição da vida espiritual e o fim de todos os
sacramentos”. A presença de Cristo nesse sacramento é de uma intensidade
sem par; é uma presença especial, uma presença “real”, “não a título
exclusivo, como se as outras presenças não fossem “reais”, mas por
excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente
Cristo completo, Deus e homem” (Paulo VI).
5º - Quando a Igreja reza. Cristo está
presente em sua Igreja quando ela reza, sendo ele quem “roga por nós,
roga em nós e por nós é rogado; roga por nós como nosso Sacerdote; roga
em nós como nossa Cabeça; é rogado por nós como nosso Deus” (Santo
Agostinho). O próprio Jesus prometeu: “Onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20).
6º - No pobre. Quando fazemos o bem a um
irmão necessitado, nós o fazemos ao próprio Cristo: “Todas as vezes que
fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim
que o fizestes” (Mt 25,40). Mais: é Cristo que faz essas obras por meio
de nós, socorrendo assim as pessoas necessitadas.
7º - Em nossos corações. Cristo habita
pela fé em nossos corações (cf. Ef 3,17) e neles derrama o amor de Deus
pela ação do Espírito Santo que nos dá (cf. Rm 5,5).
Penso ter ficado implícito que o
cristianismo não é apenas um conjunto de normas éticas e nem se resume a
uma proposta de paz e de solidariedade; ele é, acima de tudo, o
encontro com uma pessoa – a pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus
Salvador. É ele é que dá novas perspectivas à nossa vida. Cabe-nos,
pois, estar atentos a seus passos em nossos caminhos. Acolhendo-o,
teremos a possibilidade de conhecê-lo sempre melhor e de apresentá-lo a
outros.
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