segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Evangelho do dia

Ano C - 12 de novembro de 2013

Lucas 17,7-10

Aleluia, aleluia, aleluia.
Quem me ama, realmente, guardará minha palavra, e meu Pai o amará e a ele nós viremos (Jo 14,23). 


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, disse Jesus: 17 7 "Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: ‘Vem depressa sentar-te à mesa?’
8 E não lhe dirá ao contrário: ‘Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu?’
9 E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação?
10 Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer’".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
O CUMPRIMENTO DO DEVER
O discípulo é constituído para o serviço do Reino. É na vocação de servidor que se realiza e encontra um sentido para sua vida. Sua alegria consiste em entregar-se, sem reservas, à missão recebida, sem nada exigir. Basta-lhe a consciência do dever cumprido.
Jesus desenvolveu este tema, servindo-se de uma parábola baseada nos costumes da época. A inescrupulosa atitude do senhor, em relação a seu servo, justificava-se na sociedade de então. A falta de um contrato de trabalho, em que se estipulava o limite de horas de trabalho diário e se reconhecia as horas extras, possibilitava aos senhores explorar, ao máximo, os seus empregados. Por outro lado, o escravo era propriedade de seu dono, portanto, sem qualquer direito. Tudo quanto fizesse, por mais duro e esgotante que fosse, restava-lhe somente dizer: "Cumpri apenas meu dever!"
Aplicado ao Reino, a lição funciona assim: se o escravo, serve por obrigação, submete-se a todos os caprichos de seu patrão, resigna-se ao pensar que faz o seu dever, quanto mais o discípulo do Reino, cuja opção é livre, está a serviço de um Pai misericordioso, e tem como obrigação somente praticar o amor e a justiça? Por mais que tenha feito, cabe-lhe dizer: "Sou um empregado inútil, fiz apenas o que era minha obrigação!" É se dá por satisfeito por estar a serviço do amor.

OraçãoEspírito que estimula a cumprir o dever, que o serviço ao Reino, embora duro e exigente, seja para mim motivo de alegria e realização.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Sabedoria 2,23-3,9
Leitura do Livro da Sabedoria.
2 23 Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza.
24 É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão.
3 1 Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.
2 Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça.
3 E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz!
4 Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade,
5 e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
6 Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.
7 No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.
8 Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre.
9 Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia.
Palavra do Senhor.
Salmo 33/34
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo!

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!

O Senhor pousa seus olhos sobre os justos,
e seu ouvido está atento ao seu chamado;
mas ele volta a sua face contra os maus,
para da terra apagar sua lembrança.

Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta
e de toda as angústias os liberta.
Do coração atribulado ele está perto
e conforta os de espírito abatido.
Oração
Suscitai, ó Deus, na vossa Igreja o Espírito que impeliu o bispo são Josafá a dar a vida por suas ovelhas e concedei que, por sua intercessão, fortificados pelo mesmo Espírito, estejamos prontos a dar a nossa vida pelos nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Pecadores somos todos, corruptos não – o Papa na missa desta segunda-feira denunciou quem é benfeitor da Igreja mas rouba o Estado

Na missa desta manhã na Casa de Santa Marta o Papa Francisco denunciou os corruptos, dizendo que pecadores somos todos mas corruptos não. Partindo da passagem do Evangelho em que Jesus nos pede para perdoarmos sete vezes por dia, o Santo Padre recordou que o próprio Cristo considerava muito mau o comportamento dos que são motivo de escândalo. “Pecado é uma coisa mas o escândalo é outra”.

A diferença é que quem peca e se arrepende, pede perdão, sente-se débil, sente-se filho de Deus, humilha-se e pede a salvação a Jesus. Mas daquele que escandaliza, o que é que escandaliza? Quem não se arrepende. Continua a pecar, mas faz de conta de ser cristão: é a vida dupla. E a vida dupla de um cristão faz tão mal, tão mal. Mas eu sou benfeitor da Igreja! Meto a mão no bolso e dou à Igreja. Mas com a outra rouba: ao Estado, aos pobres... rouba. É um injusto. Isto é vida dupla.”
E nós devemos assumir-nos como pecadores, sim, todos, somos todos. Mas corruptos não. O corrupto está fixo num estado de suficiência, não sabe o que é a humildade. Jesus a estes corruptos dizia serem sepulcros esbranquiçados, que parecem belos exteriormente mas dentro estão cheios de ossos, morte e podridão. Cristãos corruptos e padres corruptos...quanto mal fazem à Igreja. Porque não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade.”

S. Paulo - comentou o Papa Francisco – diz claramente na Carta aos cristãos de Roma: “Não vos conformeis com este mundo”, e o próprio texto - continua o Santo Padre até vai mais longe pois S.Paulo propõe que não entremos nos parâmetros deste mundo, na mundanidade que nos leva à vida dupla:

“Uma podridão envernizada: esta é a vida do corruptos. Peçamos hoje a graça ao Espírito Santo que foge a todo o engano, peçamos a graça de reconhcermo-nos pecadores: somos pecadores. Pecadores sim, Corruptos não.” (RS)

Igreja promove uma verdadeira consulta católica


O mais notável sobre a consulta promovida pela Igreja é sua implicação de que as coisas têm que mudar.


Papa e o Conselho de Cardeais: como a Igreja pode começar a evangelizar as pessoas e parar de condená-las? (Foto: )
É importante que o maior número de católicos possível, de todos os matizes de opinião, participem do questionário vaticano, e não apenas aqueles que podem desemaranhar questões complicadas sobre o papel da lei natural na vida familiar.

O mais notável sobre a consulta referente ao sexo, ao casamento e à vida familiar, em que a Igreja Católica pediu que os católicos do mundo inteiro participem, é a sua brava implicação de que as coisas têm que mudar. Uma frase no documento oficial que acompanha o questionário do Vaticano é um exemplo disso. Como resultado da situação atual, ele afirma: "Muitos adolescentes e jovens (…) poderão nunca ver os seus pais aproximar-se dos sacramentos", à luz do que "compreendemos como são urgentes os desafios apresentados à evangelização pela situação atual".

Sem dúvida, essa é uma referência à atual política da Igreja sobre os católicos que se divorciam e se casam de novo e que depois são informados de que não podem receber a Sagrada Comunhão, porque ele então diz: "Esta realidade encontra uma correspondência singular no vasto acolhimento que tem, nos nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina". Em suma, como a Igreja pode começar a evangelizar essas pessoas – e os seus filhos – e parar de condená-las?

Essa consulta única está ocorrendo como parte dos preparativos para o Sínodo Extraordinário dos Bispos que o papa Francisco convocou para outubro próximo. Há uma crescente energia por trás desse argumento. O bispo de Portsmouth, Philip Egan, escreveu em uma recente carta pastoral que ele espera que o Sínodo encontre "alguma forma" de oferecer misericórdia, ajuda e reconciliação a católicos em uniões irregulares ou que estão divorciados e recasados – e ele é um dos bispos mais conservadores da Inglaterra. Esse já se tornou um campo de batalha chave deste papado, em que o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Gerhard Müller, negou que a misericórdia tenha algo a ver com isso, levando-o, assim, a um confronto com membros-chave da hierarquia alemã.
O fato de que os católicos comuns podem contribuir oficialmente com esse debate tomando parte da consulta não tem precedentes. O fato de se recusar a atender o que os católicos leigos comuns têm a dizer sobre questões como o divórcio e a contracepção não será mais um marco definidor da Igreja, razão pela qual essa consulta equivale a admitir que essa não será mais uma forma sustentável para dirigir a Igreja.
Mas o processo de substituição de uma mentalidade por outra vai levar tempo para se ajustar, assim como a formulação do questionário ocasionalmente transmite. Os autores das perguntas parecem divididos entre aceitar que o ensino, digamos, da Humanae vitae sobre o controle de natalidade foi rejeitado por um grande número de católicos casados, e perguntar como esse ensino pode ser ensinado de forma mais efetiva. Uma pergunta inesperada – "Como favorecer o aumento dos nascimentos?" – convida a uma resposta educada – "Por que deveria?". A Igreja possivelmente não pode saber que tamanho da população é o caminho certo.
Por isso, o questionário é uma mistura de coisas. Mas é importante que o maior número de católicos possível, de todos os matizes de opinião, participem, e não apenas aqueles que podem desemaranhar questões complicadas sobre o papel da lei natural na vida familiar. Os católicos praticantes são mais propensos a ouvir e a querer participar da consulta, mas é importante que eles também reflitam sobre os pontos de vista da comunidade católica mais ampla, que inclui muitos que se sentem excluídos da Igreja. De fato, a clara intenção do Papa Francisco é encontrar formas para que esse sentimento de exclusão possa ser revertido. Essa é uma iniciativa pastoral reconfortante.

Não é menos importante que as autoridades da Igreja responsáveis por cotejar os resultados da consulta devam levar em conta evidências como a produzida pela professora Linda Woodhead, resumida na The Tablet, que mostra o quanto a prática católica se distanciou da teoria católica. A Igreja provocou um grande dano a si mesma no passado, ao ouvir apenas aquelas pessoas leigas com opiniões "aceitáveis". Mas essa consulta marca o fim da familiar suposição de que aqueles que não assinam embaixo do pacote católico sobre sexo e casamento inteiro não são a realidade e, portanto, podem ser descontados.

A antiga abordagem ignorou o conselho do cardeal Newman, que escreveu em seu ensaio "Sobre a consulta aos fiéis em matéria de doutrina": "A tradição dos Apóstolos (...) manifesta-se de várias formas em vários momentos. Às vezes, pela boca do episcopado, às vezes pelos doutores, às vezes pelas pessoas, às vezes pelas liturgias, ritos, cerimônias e costumes, pelos eventos, disputas, movimentos (...) Segue-se que nenhum desses canais da tradição podem ser tratados com desrespeito". O papa Francisco, ao autorizar essa consulta, está respeitando todos eles, o que é algo muito católico, embora muito incomum, para um papa moderno.
Instituto Humanitas Unisinos, 11-11-2013.

Para reflexão: 'Nós ouvimos aquilo que amamos'

Por Padre Queiroz


Certa vez, dois rapazes, um índio e um branco, estavam passeando numa cidade grande. Era de tardezinha, depois de uma chuva, e eles estavam numa avenida central, com jardim no meio. O movimento, tanto de veículos como de pessoas que voltavam do trabalho, era enorme.

De repente, o índio falou: “Eu estou ouvindo um grilo cantar”. "Impossível!", disse o branco. “Como que, neste barulho todo, você vai ouvir o canto de um grilo?”Mas o índio insistiu que ouvia.

Para provar, depois que o farol fechou, ele levou o amigo até o canteiro central da avenida, afastou as folhas e apontou para o animalzinho. Continuaram andando na calçada, no meio da multidão. Disfarçadamente, o índio deixou cair no chão umas moedas que tinha no bolso. Várias pessoas ouviram o barulhinho delas e olharam na direção.
"Está vendo?", disse o índio. “Eu escutei o grilo porque estou acostumado com o seu canto. Essas pessoas escutaram as moedas caírem, porque estão acostumadas com o barulho de moedas. Nós ouvimos aquilo que amamos".

“Ninguém pode servir a dois senhores, pois vai odiar a um e amar o outro... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13).
A12, 06-11-2013.

A comunicação de Francisco e a 'cultura do encontro'

Por Moisés Sbardelotto* 


Desde a sua eleição, o papa Francisco tem sido um exemplo da íntima ligação entre palavra e gesto, discurso e ação, anúncio e testemunho, reflexão e prática – em suma, um exemplo da autêntica práxis. Assim foi logo na sua apresentação ao mundo como papa, quando convidou a um caminho de "fraternidade, de amor, de confiança" juntos, "bispo e povo", e subverteu a histórica bênção Urbi et Orbi, primeiro inclinando-se diante do povo para pedir a sua oração.
Dessa forma, Francisco reconhece esse "outro" multitudinário que está à sua frente, pessoas diferentes dele mesmo, que também têm algo a oferecer, que demandam uma atitude de escuta, abertura e acolhida. E, ao encerrar a noite, Francisco disse um simples e natural "Boa noite e bom descanso!", estabelecendo um diálogo direto e humano entre pessoas que compartilham os mesmos desejos e necessidades, como dormir e descansar.

Com gestos e palavras como esses, em menos de um ano de pontificado, Francisco foi revolucionando a comunicação dentro e fora da Igreja. Uma síntese da sua práxis comunicacional pode ser encontrada no tema proposto por ele para a sua primeira mensagem ao Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado em 2014: "Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro". A ideia da "cultura do encontro" foi abordada pelo papa principalmente em duas ocasiões, em contraponto à “cultura da exclusão”, do "descartável", da "globalização da indiferença".

Na missa com o clero e os religiosos presentes na Jornada Mundial da Juventude, no dia 27 de julho, Francisco afirmou: "O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade (...) e a fraternidade são elementos que tornam a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro”. E, na sua primeira Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o papa defendeu a cultura do encontro como “a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno, um mundo melhor”.

Tendo em vista o serviço a essa cultura, qual o papel da comunicação? E, a partir do exemplo do papa, quais são as dinâmicas e as lógicas comunicacionais que colaboram com a construção dessa cultura? Retomar seus inúmeros e surpreendentes gestos e palavras renderia uma biblioteca inteira. Aqui, quero me deter sobre quatro momentos-chave que explicitam intuições de Francisco para o agir comunicacional de toda a Igreja, encarnadas no diálogo com todos.

O primeiro deles foi o encontro com os representantes dos meios de comunicação após o conclave, no dia 16 de março. O costume dizia que, ao fim da audiência, o papa deveria conceder a sua bênção aos presentes traçando o Sinal da Cruz. Mas Francisco surpreendeu ao dizer: “Como muitos de vocês não pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes, de coração eu dou a bênção em silêncio, a cada um de vocês, respeitando a consciência de cada um, mas sabendo que cada um de vocês é filho de Deus. Que Deus os abençoe!” – e simplesmente levantou a mão direita para se despedir. Assim, somando gesto e ação, Francisco reiterou a necessidade, para uma comunicação realmente humana, de reconhecer a existência de um “outro”, que é totalmente diferente de nós, que não compartilha necessariamente tudo o que somos e pensamos, mas que merece o mesmo respeito de “filho de Deus”.

E a ação evangelizadora da Igreja deve começar justamente a partir do reconhecimento dessa alteridade. Missão, no rastro de Francisco de Assis, é “encontrar, ouvir, dialogar, ajudar, espalhar fé e amor. Sobretudo amor”, disse o pontífice em uma entrevista concedida ao jornal italiano La Repubblica, no dia 1º de outubro. Por isso, “o proselitismo é uma solene bobagem (sciochezza). Não tem sentido”, exclamou. “É preciso se conhecer – continuou Francisco –, se ouvir e fazer crescer o conhecimento do mundo que nos circunda”. Na missa desse mesmo dia, Francisco reafirmou essa ideia: “A Igreja, dizia-nos Bento XVI, não cresce por proselitismo, cresce por atração, por testemunho”.

Um segundo momento foi a carta aberta endereçada ao diretor-fundador do La Repubblica, o jornalista Eugenio Scalfari, personalidade proeminente da intelligentzia italiana e ateu assumido. Em 2013, Scalfari escreveu dois artigos dirigidos pessoalmente a Francisco, questionando alguns ensinamentos e posicionamentos da Igreja. Em um gesto histórico, o papa respondeu ao jornalista com uma carta publicada no próprio jornal. Nela, retomando o Concílio Vaticano II, Francisco afirmou que “chegou agora o tempo (…) de um diálogo aberto e sem preconceitos que reabra as portas para um sério e fecundo encontro” entre a Igreja e a cultura contemporânea. Para poder estabelecer tal diálogo, segundo o papa, é preciso reconhecer a verdade não a partir de sua dualidade absoluta/relativa, mas sim como relacional: para a fé cristã, a verdade é “o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Portanto, a verdade é uma relação!”, afirmou.

Só a partir desse reconhecimento é possível estabelecer um “diálogo sereno e construtivo” com a cultura, sem aprioris que o engessem e o transformem em monólogo. Assim, a alteridade, a diversidade e as verdades do outro ajudam a descobrir a identidade, a unidade e a verdade do nosso próprio ser. Na conclusão, o papa convida o jornalista a acolher as suas reflexões “como a resposta tentativa e provisória, mas sincera e confiante, ao convite de fazer um trecho de estrada juntos”. E assim é toda comunicação: tentativa e provisória, visto que não controlamos nem o nosso próprio discurso – que sempre é posto em circulação em um caldo cultural que nos inclui, mas nos supera –, nem o nosso interlocutor – que sempre é um “outro” por excelência, que age de forma ativa, produtiva e criativa, jamais passiva, ao que lhe oferecemos.

Um terceiro momento foi a sua longa entrevista concedida às principais revistas jesuítas do mundo, publicada no dia 19 de setembro. Nela, Francisco reconhece que “o homem, com o tempo, muda o modo de perceber a si mesmo”, e assim “também as formas de expressão da verdade podem ser multiformes, e isto é necessário para a transmissão da mensagem evangélica no seu significado imutável”. É necessária, portanto, uma comunicação que saiba atualizar e diversificar seus meios e mediações diante de cada novo contexto e situação. Por isso, afirmou, em termos eclesiais, “a primeira reforma deve ser a da atitude. Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar”. E esse diálogo deve ser estabelecido “com todos, mesmo com os mais distantes e os adversários”.

Um quarto momento que gostaria de destacar foi o discurso do papa na Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais (PCCS), no dia 21 de setembro. Diante dos principais responsáveis pela comunicação da Igreja Católica mundial, Francisco reiterou a comunicação não como um “setor” da Igreja, mas sim como uma “dimensão existencial”. Nesse sentido, é preciso uma Igreja que saiba “dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo”. E esse desafio não é de ordem tecnológica: “O problema fundamental não é a aquisição de tecnologias sofisticadas, embora necessárias para uma presença atual e válida” da Igreja na cultura atual.

“No contexto da comunicação – afirma Francisco –, é preciso uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração”. Pois “a Igreja é mãe”, como disse o papa ao jornalista brasileiro Gerson Camarotti. “Nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama”. Assim deve ser a Igreja, e a sua práxis comunicacional deve se encarnar na realidade, na ação e na relação com o outro, pois “comunicação pela metade não faz bem”. A questão é sermos e reconhermo-nos como coartífices de uma comunicação em que o verdadeiro Artífice, como disse Francisco à Plenária do PCCS, é “o Deus em quem acreditamos, um Deus apaixonado pelo homem”, que “quer se manifestar através dos nossos meios, ainda que pobres, porque é Ele que opera, é Ele que transforma, é Ele que salva a vida do homem”.

O “Magistério comunicacional” de Francisco – centrado no diálogo com todos e encarnado em seus sorrisos, abraços, telefonemas, cartas, entrevistas – nos desafia e nos serve de bússola para encontrar os caminhos, em cada contexto específico, que levem à construção de uma autêntica “cultura do encontro”.
O Mensageiro de Santo Antônio, 11-2013.
*Moisés Sbardelotto é jornalista, doutorando em Ciências das Comunicação pela Unisinos e autor do livro "E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet".

Evangelho do dia

Ano C - 11 de novembro de 2013

Lucas 17,1-6

Aleluia, aleluia, aleluia.
Como astros no mundo brilheis, pregando a palavra da vida! (Fl 2,15s) 


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
17 1 Jesus disse também a seus discípulos: "É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm!
2 Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos.
3 Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe.
4 Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás".
5 Os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta-nos a fé!"
6 Disse o Senhor: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: ‘Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá’".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
RECONCILIAÇÃO E PERDÃO
A comunidade cristã não é feita de pessoas santas ou incapazes de pecar. Pelo contrário, comporta, entre seus membros, gente afetada pelo egoísmo e sempre disposta a romper os laços fraternos, que mantém a unidade entre os cristãos. Uma comunidade esfacelada é o pior contratestemunho do Reino que possa existir. É uma declaração tácita de que o amor é impraticável, e a força do egoísmo, inexorável.
Daí a exigência de o cristão se predispor, continuamente, a refazer os laços rompidos. Capitular seria um gesto anticristão, incompatível com as exigências do Reino.
A reconstrução da comunidade cindida pela inimizade processa-se num duplo movimento: o reconhecimento do pecado, por parte de quem ofende o irmão, e a oferta de perdão, por parte de quem foi ofendido. É uma questão de boa vontade e de se deixar mover pela graça.
Quem peca, deve ter consciência de suas faltas e das conseqüências negativas para a comunidade. O passo seguinte consiste em ser capaz de declarar-se arrependido e pedir perdão. É preciso ter a humildade de refazer este mesmo caminho, quantas vezes forem necessárias.
Quem foi vítima da ofensa alheia, deve estar sempre pronto a perdoar, sem conservar ressentimento ou rancor no coração. Reconhecendo que o pecado resulta da fraqueza humana, terá para com o pecador arrependido a mesma paciência de Deus.

OraçãoEspírito de reconciliação, mantenha meu coração aberto tanto para pedir perdão, quanto para oferecê-lo a quem tiver ofendido.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Sabedoria 1,1-7
Leitura do livro da Sabedoria.
1 1 Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,
2 porque ele é encontrado pelos que o não tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança;
3 com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
4 A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado;
5 o Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniqüidade que sobrevém o repelirá.
6 Sim, a Sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lábios, porque Deus lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coração, e ouve as suas palavras.
7 Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.
Palavra do Senhor.
Salmo 138/139
Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

Senhor, vós me sondais e conheceis,
sabeis quando me sento ou me levanto;
de longe penetrais meus pensamento,
percebeis quando me deito e quando eu ando,
os meus caminhos vos são todos conhecidos.

A palavra nem chegou à minha língua
e já, o Senhor, a conheceis inteiramente.
Por detrás e pela frente me envolveis;
pusestes sobre mim a vossa mão.
Esta verdade é por demais maravilhosa,
é tão sublime, que não posso compreendê-la.

Em que lugar me ocultarei de vosso espírito?
E para onde fugirei de vossa face?
Se eu subir até os céus, ali estais;
se eu descer até o abismo, estais presente.

Se a aurora me emprestar as suas asas,
para eu voar e habitar no fim dos mares,
mesmo lá vai me guiar a vossa mão
e segurar-me com firmeza a vossa destra.
Oração
Ó Deus, que fostes glorificado pela vida e morte do bispo são Martinho, renovai em nossos corações as maravilhas da vossa graça, de modo que nem a morte nem a vida nos possam separar do vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

'Deusa propina': a última cruzada de Francisco


O anátema do papa Francisco sobre a corrupção parece evocar a necessidade de uma comunidade cristã de "mãos limpas".
Por Marcello Longo
"Um hábito mundano e fortemente pecaminoso". Um vício das pessoas que "perderam a dignidade" e saciam os seus filhos com o "pão sujo". O Papa Francisco escolhe tons ásperos para lançar o seu anátema contra a "deusa propina" e os seus "devotos", uma advertência anticorrupção pronunciada nessa sexta-feira de manhã durante a ritual missa na casa de Santa Marta, no Vaticano.

O raciocínio de Bergoglio parte das páginas do Evangelho com a explicação da parábola do administrador desonesto, em que um malfeitor é elogiado pelo chefe pela sua notável astúcia. "É o louvor da propina", exclama Francisco, lançando-se contra o "espírito da mundanidade que agrada tanto do demônio" e que permeia a figura protagonista do trecho evangélico.

Assim, no discurso do pontífice, também entram em jogo os homens com cargos de responsabilidade: "Todos não!", especifica o papa, mas "alguns". Ele se refere a "administradores públicos, de empresas e do governo", que apresentam todas as características daquela atitude – segundo Bergoglio, na base da corrupção – caracterizada pela busca "do caminho mais curto, mais cômodo para ganhar a vida".

Durante a homilia, Francisco comparou a praga dos subornos a um mecanismo biológico capaz de criar dependência: "Começa-se com uma propina, mas é como uma droga". O suborno se torna uma rotina, um hábito – destaca – "que não vem de Deus", porque "Deus nos mandou trazer o pão para casa com o nosso trabalho honesto".

À dura crítica contra os ganhos fáceis da corrupção, segue-se um pedido de oração. Bergoglio se volta àqueles filhos "talvez educados em colégios caros, que cresceram em ambientes cultos" que recebem dos pais "sujeira como comida", ou seja, o fruto de rendas ilegais.

"Fará bem a nós – acrescenta Francisco – rezar pelas muitas crianças e jovens que recebem dos seus pais pão sujo. Esses também estão famintos: famintos de dignidade". Outra oração é reservada aos senhores dos subornos, para que "mude o coração desses devotos da deusa propina" e para que percebam que "a dignidade vem do trabalho digno de todos os dias e não desses caminhos mais fáceis que, no fim, lhe tiram tudo".

A corrupção é um tema caro ao Papa Bergoglio. Em março deste ano, foi publicado nas livrarias, pela editora EMI, o livro Guarire dalla corruzione, uma acusação contra o mal costume institucional sintetizado na expressão "pecadores sim, mas não corruptos". No texto, uma das primeiras publicações de Bergoglio em italiano, o papa analisa a figura do corrupto: um sujeito que "passa a vida em meio aos atalhos do oportunismo, ao preço da sua própria dignidade e da dos outros. O corrupto tem rosto de ´não fui eu´, o rosto de ´santinho´, como dizia a minha avó. Mereceria um doutorado honoris causa em cosmética social. E o pior é que acaba nos fazendo crer nisso".

Como em outras ocasiões, as palavras do papa argentino se dirigem sem filtros à consciência dos fiéis. É inevitável, porém, imaginar uma conexão entre as questões levantadas com força por Francisco e o projeto de uma Igreja renovada e limpa dos escândalos. O anátema sobre a corrupção parece evocar a necessidade de uma comunidade cristã de "mãos limpas". Dentro e fora dos muros do Vaticano.
Jornal Il Fatto Quotidiano, 09-11-2013.