quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Audiência geral: "Doença e morte não podem nos separar de Cristo"




Cidade do Vaticano (RV) – A Unção dos Enfermos foi o tema da reflexão do Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira, na Praça São Pedro. Segundo a Prefeitura da Casa Pontifícia, cerca de 30 mil pessoas receberam bilhetes de ingresso para o encontro.

Jorge Mario Bergoglio completou a já tradicional volta da Praça com seu jipe aberto, parando diversas vezes para cumprimentar turistas e peregrinos. Muitas crianças estavam fantasiadas. Havia guardas suíços, palhaços, abelhas e joaninhas, e no meio deles, um menino de cerca de 4 anos, vestido de Papa, a quem Francisco sorriu e deu um beijo.

Depois de meia hora de contato com os fiéis, o Papa iniciou sua catequese. O Sacramento da Unção dos Enfermos era conhecido antigamente como “Extrema Unção”, pois se dizia que oferecia um conforto espiritual na iminência da morte. Hoje, o nome “Unção dos Enfermos” nos ajuda a estender o alcance à experiência da doença e do sofrimento, no horizonte da misericórdia de Deus.

Para explicar a profundidade do mistério da Unção, Francisco citou a parábola do Bom Samaritano, como está descrita no Evangelho de Lucas. O Bom Samaritano cuida de um homem ferido derramando sobre as suas feridas óleo e vinho.

É o óleo abençoado pelos Bispos a cada ano, na missa do Crisma de Quinta-feira Santa, utilizado na Unção dos enfermos. O vinho, por sua vez, é o sinal do amor e da graça de Cristo, que se expressam em toda sua riqueza na vida sacramental da Igreja”.

A parábola prossegue narrando que o Bom Samaritano, sem olhar a gastos, confia o homem ferido aos cuidados do dono de uma pensão: este representa a Igreja, a quem Jesus confia os atribulados no corpo ou no espírito.

“É à Igreja, à comunidade cristã, somos nós, a quem cotidianamente o Senhor confia os aflitos no corpo e no espírito para que possamos continuar a lhes doar, sem medida, toda a sua misericórdia e salvação”.

Continuando a catequese, Francisco lembrou que também a Carta de São Tiago recomenda que os doentes chamem os presbíteros, para que rezem por eles ungindo-os com o óleo. “É uma praxe que já se usava no tempo dos Apóstolos”, completou o Papa.

De fato, Jesus ensinou aos seus discípulos a mesma predileção que Ele tinha pelos doentes e atribulados, difundindo alívio e paz, e lhes transmitiu a capacidade e o dever de continuar a dispor da graça especial deste Sacramento. “No entanto, isto não nos deve levar a uma busca obsessiva do milagre ou à presunção de poder obter sempre a cura”, ressalvou Francisco.

“O problema, disse o Papa, é que este Sacramento é pedido cada vez menos, e a razão principal reside no fato que muitas famílias cristãs, devido à cultura e à sensibilidade atuais, consideram o sofrimento e a morte como um tabu, como algo a esconder ou sobre o qual falar o menos possível. É verdade que o sofrimento, o mal e a própria morte continuam sendo um mistério, e diante dele, nos faltam palavras. É o que acontece no rito da Unção, quando de modo sóbrio e respeitoso, o sacerdote impõe as mãos sobre o corpo do doente, sem dizer nada”.

Existe uma certa convicção de que chamar o sacerdote dá azar, que é melhor não chamá-lo para não assustar o doente”, disse o Papa, improvisando. “Há a idéia que depois do sacerdote, vem a agência funerária...”.

Por isso, diante daqueles que consideram o sofrimento e a morte como um tabu, deixando de se beneficiar com esse Sacramento, é preciso lembrar que “no momento da dor e da doença, devemos saber que não estamos sozinhos. O sacerdote e aqueles que estão presentes representam toda a comunidade cristã, que ao redor do enfermo, alimentam nele e em sua família a fé e a esperança, amparando-os com a oração e o calor fraterno”.

O maior conforto, finalizou o Papa, é que na Unção dos enfermos, Jesus nos mostra que pertencemos a Ele e que nem a doença, nem a morte poderão nos separar Dele.
(CM)



Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano

Evangelho do Dia

Ano A - 27 de fevereiro de 2014

Marcos 9,41-50

Aleluia, aleluia, aleluia.
Acolhei a palavra de Deus não como palavra humana, mas como mensagem de Deus, o que ela é, em verdade! (1Ts 2,13).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, disse Jesus: 9 41 "Quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa.
42 Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!
43 Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível
44 45 Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível
46 47 Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo,
48 onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga.
49 Porque todo homem será salgado pelo fogo.
50 O sal é uma boa coisa; mas se ele se tornar insípido, com que lhe restituireis o sabor? Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
NÃO SER OCASIÃO DE PECADO
O discípulo do Reino, no exercício de sua missão, deve ser muito cauteloso para não se tornar ocasião de pecado para quem está dando os primeiros passos na fé. O pecado, neste caso, consistiria em refutar Jesus e se recusar a aderir ao Reino anunciado por ele. E os próprios discípulos, agindo de forma inconsiderada, corriam o risco de se tornarem culpados deste fracasso e serem julgados por isso.
As atitudes inconsideradas do discípulo em missão podiam ser muitas. Eles corriam o risco de serem intransigentes e impacientes, não respeitando o ritmo próprio de cada pessoa no seu processo de adesão a Jesus. Não estavam livres do espírito farisaico, que os levava a ser extremamente severos e exigentes com os recém convertidos, esvaziando as exigências quando se tratava de si mesmos. Com a liberdade adquirida junto a Jesus, podiam ter atitudes chocantes para os pequeninos, ainda atrelados a antigos esquemas, que só com dificuldade deixavam-se permear pela novidade do Reino. Levados por um espírito corporativista, podiam ceder à tentação de selecionar, com critérios humanos, os novos discípulos, excluindo pessoas predispostas para o Reino, mas que não satisfaziam suas exigências.
A denúncia de Jesus contra esta mentalidade foi violenta. Se o discípulo não se desfizesse desta visão deturpada, corria o risco de ver-se lançado no inferno.

Oração
Senhor Jesus, não permita que eu seja ocasião de pecado para os pequeninos que se aproximam de ti e querem se fazer discípulos do teu Reino.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Leitura
Tiago 5,1-6
Leitura da carta de são Tiago.
5 1 Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão.
2 Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça.
3 Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias!
4 Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.
5 Tendes vivido em delícias e em dissoluções sobre a terra, e saciastes os vossos corações para o dia da matança!
6 Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu.
Palavra do Senhor.
Salmo 48/49
Felizes os humildes de espírito
Porque deles é o reino dos céus!


Este é o fim do que espera estultamente,
o fim daqueles que se alegram com sua sorte;
são um rebanho recolhido ao cemitério,
e a própria morte é o pastor que os apascenta.

São empurrados e deslizam para o abismo.
Logo seu corpo e seu semblante se desfazem,
e entre os mortos fixarão sua morada.
Deus, porém, me salvará das mãos da morte
e junto a si me tomará em suas mãos.

Não te inquietes quando um homem fica rico
e aumenta a opulência de sua casa;
pois, ao morrer, não levará nada consigo,
nem seu prestígio poderá acompanhá-lo.

Felicitava-se a si mesmo enquanto vivo:
“Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida!”
Mas vai-se ele para junto de seus pais,
que nunca mais e nunca mais verão a luz.
Oração
Concedei, ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Liturgia Diária

Dia 27 de Fevereiro - Quinta-feira

VII SEMANA DO TEMPO COMUM
(Verde – Ofício do dia)

Antífona da entrada: Confiei, Senhor, na vossa misericórdia; meu coração exulta porque me salvais. Cantarei ao Senhor pelo bem que me fez (Sl 12,6).
Oração do dia
Concedei, ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Tiago 5,1-6)
Leitura da carta de são Tiago.
5 1 Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão.
2 Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça.
3 Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias!
4 Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.
5 Tendes vivido em delícias e em dissoluções sobre a terra, e saciastes os vossos corações para o dia da matança!
6 Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 48/49
Felizes os humildes de espírito
Porque deles é o reino dos céus!


Este é o fim do que espera estultamente,
o fim daqueles que se alegram com sua sorte;
são um rebanho recolhido ao cemitério,
e a própria morte é o pastor que os apascenta.

São empurrados e deslizam para o abismo.
Logo seu corpo e seu semblante se desfazem,
e entre os mortos fixarão sua morada.
Deus, porém, me salvará das mãos da morte
e junto a si me tomará em suas mãos.

Não te inquietes quando um homem fica rico
e aumenta a opulência de sua casa;
pois, ao morrer, não levará nada consigo,
nem seu prestígio poderá acompanhá-lo.

Felicitava-se a si mesmo enquanto vivo:
“Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida!”
Mas vai-se ele para junto de seus pais,
que nunca mais e nunca mais verão a luz.
Evangelho (Marcos 9,41-50)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Acolhei a palavra de Deus não como palavra humana, mas como mensagem de Deus, o que ela é, em verdade! (1Ts 2,13).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, disse Jesus: 9 41 "Quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa.
42 Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!
43 Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível
44 45 Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível
46 47 Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo,
48 onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga.
49 Porque todo homem será salgado pelo fogo.
50 O sal é uma boa coisa; mas se ele se tornar insípido, com que lhe restituireis o sabor? Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
NÃO SER OCASIÃO DE PECADO
O discípulo do Reino, no exercício de sua missão, deve ser muito cauteloso para não se tornar ocasião de pecado para quem está dando os primeiros passos na fé. O pecado, neste caso, consistiria em refutar Jesus e se recusar a aderir ao Reino anunciado por ele. E os próprios discípulos, agindo de forma inconsiderada, corriam o risco de se tornarem culpados deste fracasso e serem julgados por isso.
As atitudes inconsideradas do discípulo em missão podiam ser muitas. Eles corriam o risco de serem intransigentes e impacientes, não respeitando o ritmo próprio de cada pessoa no seu processo de adesão a Jesus. Não estavam livres do espírito farisaico, que os levava a ser extremamente severos e exigentes com os recém convertidos, esvaziando as exigências quando se tratava de si mesmos. Com a liberdade adquirida junto a Jesus, podiam ter atitudes chocantes para os pequeninos, ainda atrelados a antigos esquemas, que só com dificuldade deixavam-se permear pela novidade do Reino. Levados por um espírito corporativista, podiam ceder à tentação de selecionar, com critérios humanos, os novos discípulos, excluindo pessoas predispostas para o Reino, mas que não satisfaziam suas exigências.
A denúncia de Jesus contra esta mentalidade foi violenta. Se o discípulo não se desfizesse desta visão deturpada, corria o risco de ver-se lançado no inferno.

Oração
Senhor Jesus, não permita que eu seja ocasião de pecado para os pequeninos que se aproximam de ti e querem se fazer discípulos do teu Reino.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Ao celebrar com reverência vossos mistérios, nós vos suplicamos, ó Deus, que os dons oferecidos em vossa honra sejam úteis à nossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Senhor, de coração vos darei graças, as vossas maravilhas narrarei! Em vós exultarei de alegria, cantarei ao vosso nome, Deus altíssimo! (Sl 9,2s).
Depois da comunhão
Ó Deus todo-poderoso, concedei-nos alcançar a salvação eterna, cujo penhor recebemos neste sacramento. Por Cristo, nosso Senhor.

A Palavra de Deus no cuidado com os filhos


Os pais são os administradores dos mistérios de Deus, destacando o dom da benção para os filhos.
Por Dom Paulo Mendes Peixoto*
Podemos dar diversos significados para a palavra "cuidar", mas aqui ela está direcionada especialmente para os filhos, para aqueles que devem ser assistidos, educados e acompanhados por alguém. Dizemos que Deus, Pai e Mãe, cuida com carinho de seus filhos. Isso acontece, de forma especial, para com os acometidos de sofrimento.

Cuidar dos filhos significa praticar um amor atento e fiel, colocando como preocupação primeira a educação para a vida de cidadania, de responsabilidade e capacidade para o enfrentamento das exigências da sociedade. Não podemos desprezar os princípios da fé, capazes de construir uma espiritualidade necessária para o bem viver nos novos tempos.

Sabemos dos desafios enfrentados pelos pais no processo da educação. "Palavras não convencem", principalmente quando não são confirmadas pelo testemunho concreto de vida. A tendência é seguir as influências que chegam de fora do lar. É o caso da mídia, colocando os pais numa situação caracterizada como "sem saída".

No caminhar da história, os compromissos familiares vão se diluindo, necessitando de um "ecoar novo" da Palavra de Deus. Até parece que Deus abandonou a família, ou é a humanidade que se distanciou dos ensinamentos divinos. Os pais devem ter ternura para com aqueles que são frutos de suas entranhas.

Para o cuidado dos filhos, os educadores têm que abrir mão de "formas" que não falam mais. O mundo mudou, mas o amor deve conservar sua identidade e continuar sendo doação e esvaziamento para fazer o outro feliz. Os pais são os administradores dos mistérios de Deus, destacando o dom da benção para os filhos.

Pais e filhos necessitam de coerência e autenticidade. Não só usarem da sabedoria humana, mas também a de Deus para harmonizar a convivência. Com isto, o cuidado deve ser de ambos os lados sem se deixarem levar por ideologias do momento. Não podem faltar a fraternidade e a justiça, como diz a Escritura: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas em acréscimo" (Mt 6, 33).
CNBB, 25-02-2014.
*Dom Paulo Mendes Peixoto é arcebispo de Uberaba (MG).

Pensando com a Igreja

O pensamento por detrás das orientações inacianas não perderam sua relevância em nada.
Por Paul Nicholson*
No final do seu livro "Os exercícios espirituais", Inácio de Loyola apresenta uma série de orientações. Apresentadas no contexto de um retiro, estas orientações ajudam os retirantes a pensar através de diferentes aspectos de sua vida cristã.

À luz da profunda experiência de oração que os participantes no retiro passam, o que eles podem fazer em relação à caridade, ou o que podem escolher comer e beber em seu dia a dia? Como podem continuar discernindo a vontade de Deus em suas vidas, e como evitar cair em escrúpulos? E como essas pessoas deveriam viver enquanto membros de uma comunidade de fé visível e institucional?
"Acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado". Muitos rejeitaram isso como um chamado à obediência cega do tipo mais extremo e servil. Então, se assim for compreendido, as outras orientações que Inácio apresenta – louvar as relíquias, as indulgências, as peregrinações e as imagens sagradas, por exemplo – podem parecer como tentativas de se encerrar dentro de uma adesão rígida para cada estrutura da Igreja Católica romana pós-Reforma.

Mas dois princípios subjazem o que Inácio diz aqui, e eles são tão válidos e úteis hoje quanto o foram no século XVI. O primeiro é que o Espírito de Deus está agindo em todo o povo de Deus bem como em cada pessoa tomada individualmente. O segundo é normalmente expresso na frase "uma boa construção".

 Em termos gerais, isso quer dizer que, se você disser algo que inicialmente a mim parece objetável ou simplesmente estúpido, eu deverei dar o meu melhor a fim de entender num sentido positivo o que quer significar tal afirmação e o que levou você a dizê-la, antes que eu recorra à condenação. Tomados em conjunto, estes princípios sugerem que, se eu tiver uma opinião contrária àquela professada pela Igreja, deverei dedicar-me a descobrir por que a Igreja fala assim a este respeito, e confiar que – de alguma forma – a obra do Espírito de Deus pode ser descoberto através deste processo.

Aqueles que eram membros da Companhia de Jesus quando a ordem foi suprimida em 1773 foram chamados a ver Deus operando através da destruição ou do confisco de todas as suas instituições que eles haviam criado. Aqueles que se juntaram a ela (ou aqueles que voltaram a fazer parte dela) após a Restauração precisavam – no dizer de Kipling – "se curvar e se reconstruir com ferramentas gastas". Os registros que possuímos não revelam um grupo de homens que reconstruíram as injustiças sofridas ou que conspiraram contra seus responsáveis.

Muitos, talvez, simplesmente continuaram com suas vidas de serviço dentro da Igreja e, com gratidão, aproveitaram as oportunidades oferecidas na Companhia restaurada. Em nossos dias, quando as divisões de opinião dentro e entre as partes da Igreja cristã são, muitas vezes, tão profundas como jamais se viu, o pensamento por detrás das orientações inacianas para pensar com (e dentro) da Igreja não perderam sua relevância em nada.
Jesuit Restoration, 24-02-2014.
*Paul Nicholson é jesuíta.