terça-feira, 25 de junho de 2013

Dom Leonardo afirma que “os jovens que saem às ruas também participarão da JMJ”


DomLeo21062013 (1)Em entrevista concedida à Rádio Vaticano na manhã desta segunda-feira, 24 de junho, o secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner falou sobre as manifestações populares que tem ocorrido em todo o Brasil. “A situação é cada vez mais tranquila, calma, pois começam a se distinguir as manifestações pacíficas das violentas, e os próprios movimentos começam a insistir para que não haja violência. Um dos atos, por exemplo, é que quando começam o vandalismo e a violência, eles convidam todos a se sentar na rua, ou mesmo insistir para que ninguém vá encapuçado, ou com o rosto escondido. Nas redes sociais há um movimento para que todas essas manifestações sejam pacíficas e sem violência”.
Dom Leonardo enumerou os principais pontos de reivindicações apresentados nas manifestações. “Todo esse movimento visa melhorias importantes para a nossa sociedade, e penso que a mais importante seja a transparência nas contas públicas e o fim da corrupção na política. Além disso, há manifestações contrárias à PEC 37, que deseja retirar o poder de investigação do Ministério Público. A CNBB já se pronunciou contrária a ela”.
O secretário geral da CNBB também falou na entrevista sobre o encontro que a presidência da CNBB teve com a presidente da República, Dilma Roussef, na última sexta-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). “Dom Raymundo, Dom Belisário e eu tratamos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e também de outros assuntos que nos preocupam, como a questão indígena e quilombola. Foi um diálogo muito tranquilo e muito bom”.
Em relação à Jornada Mundial da Juventude, o secretário geral fez questão de reafirmar que a programação está confirmada. “Tenho certeza que ela caminhará bem. As manifestações contam também com jovens das nossas comunidades, que tem entrado em contato com a secretaria geral da CNBB e que participam ativamente dessas manifestações”.
Fonte: CNBB

“O que quer dizer ‘Povo de Deus’”? – Papa Francisco


Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral dessa quarta-feira.

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral da Quarta-feira, na Praça de São Pedro:
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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica, 782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.
1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.
2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo de Deus possui?
3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros, nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!
4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor, basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura, marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina.  Façamos que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.
5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9). A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor sem medidas, uma alegria plena.
Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho.
Tradução Jéssica Marçal / Canção Nova

Liturgia Diária

DIA 25 DE JUNHO - TERÇA-FEIRA

XII SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE - OFÍCIO DO DIA)

Antífona da entrada: O Senhor é a força de seu povo, fortaleza e salvação do seu ungido. Salvai, Senhor, vosso povo, abençoai vossa herança e governai para sempre os vossos servos (Sl 27,8s).
Oração do dia
Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Gênesis 13,2.5-18)
Leitura do livro do Gênesis.
13 2 Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro.
5 Lot, que acompanhava Abrão, possuía também ovelhas, bois e tendas,6 e a região não lhes bastava para aí se estabelecerem juntos. 7 Por isso houve uma contenda entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os dos rebanhos de Lot. Os cananeus e os ferezeus habitavam então naquela terra. 8 Abrão disse a Lot: “Rogo-te que não haja discórdia entre mim e ti, nem entre nossos pastores, pois somos irmãos. 9 Eis aí toda a terra diante de ti; separemo-nos. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para esquerda.”
10 Lot, levantando os olhos, viu que a toda a planície de Jordão era regada de água (o Senhor não tinha ainda destruído Sodoma e Gomorra) como o jardim do Senhor, como a terra do Egito ao lado de Tsoar. 11 Lot escolheu toda a planície do Jordão e foi para o oriente. Foi assim que se separam um do outro. 12 Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma.13 Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor.
14 O Senhor disse a Abrão depois que Lot o deixou: “Levanta os olhos, e do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. 15 Toda a terra que vês, eu a darei a ti e aos teus descendentes para sempre. 16 Tornarei tua posteridade tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade. 17 Levanta-te, percorre a terra em toda a sua extensão, porque eu te hei de dar.” 18 Abrão levantou as suas tendas e veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e ali edificou um altar ao Senhor.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 14/15
Senhor, quem morará em vosso monte santo? 
“Senhor, quem morará em vossa casa?”
É aquele que caminha sem pecado
e pratica a justiça fielmente;
quem pensa a verdade no seu íntimo
e não solta em calúnias sua língua.

Que em nada prejudica o seu irmão
nem cobre de insultos seu vizinho;
que não dá valor algum ao homem ímpio,
mas honra os que respeitam o Senhor.

Não empresta o seu dinheiro com usura
nem se deixa subornar contra o inocente.
Jamais vacilará quem vive assim!
Evangelho (Mateus 7,6.12-14)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 6 "Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
12 Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.
13 Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
14 Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
A REGRA DE OURO
Jesus estabeleceu uma regra preciosa para o trato mútuo entre os discípulos do Reino. Cada um deveria fazer para o outro tudo quanto gostaria que o outro lhe fizesse. É o desafio de dar aquilo o que se gostaria de receber.
Esse princípio tem conseqüências bem práticas. O discípulo faz o bem ao próximo independentemente de retribuição, agindo com um amor gratuito e de qualidade. Ele dá o melhor de si. Procura sempre formas novas de fazer o bem. Não mede esforços quando se trata de ser útil ao irmão. É sempre solícito e serviçal. Tudo isso porque gostaria de ser tratado assim. Não lhe importa o reconhecimento alheio. Esta é sua opção de vida.
Toda Lei e os Profetas, ou seja, toda a Escritura, se resumem nesta regra de ouro do comportamento do discípulo. Não é preciso ir além dela, se se pretende viver um amor entranhado a Deus e ao próximo. O amor a Deus está aí presente porque, a opção do discípulo é uma opção de fé. Ele age assim porque acredita no Senhor e sabe que sua ação é um caminho para o Pai. Por outro lado, este modo de agir só tem sentido quando se transforma em manifestação de amor ao próximo. O trato cordial e amigo, em última análise, não se baseia na lei da retribuição nem acontece por mera formalidade. Ele é sinal do bem desejado ao outro e da solidariedade que sua presença desperta.

OraçãoSenhor Jesus, ensina-me a fazer a todos o bem que eu gostaria que me fizessem, como forma de expressar minha fé em ti.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, este sacrifício de reconciliação e louvor e fazei que, purificados por ele, possamos oferecer-vos um coração que vos agrade. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Eu sou o bom pastor e dou a vida por minhas ovelhas, diz o Senhor (Jo 10,11.15).
Depois da comunhão
Renovados pelo Corpo e Sangue do vosso Filho, nós vos pedimos, ó Deus, que possamos receber um dia, resgatados para sempre, a salvação que devotamente estamos celebrando. Por Cristo, nosso Senhor.

Modelo de sociedade e de mundo está esgotado, diz bispo


Fátima  – O bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, desafiou este domingo (23) no Santuário os católicos a serem promotores de "um mundo melhor" apoiado na "esperança" que é Jesus Cristo. Segundo a assessoria de imprensa do local de culto mariano, o prelado sublinhou que o atual “modelo de sociedade e de mundo está esgotado” e que cabe às comunidades cristãs mostrarem que é possível viver uma “vida em plenitude”, que existem alternativas.
Dom António Marto pediu aos fiéis para “darem testemunho” da “salvação” que vem de Cristo, “a começar em casa e na família”. O bispo reforçou esta mensagem no final do Simpósio Teológico-Pastoral que o Santuário de Fátima promoveu, integrado na preparação para a celebração do Centenário das Aparições (1917-2017) de Nossa Senhora na Cova da Iria. Na sua intervenção, o também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa salientou que as palavras de conforto e motivação que Maria deixou aos três pastorinhos são “as mesmas que ela dirige” hoje a todas as pessoas, para mostrar que “Deus não abandona” a sociedade nem a Igreja, “no meio das tempestades do mundo”.
“Faço votos que este simpósio tenha ajudado a tornar o nosso Santuário de Fátima um lugar e uma fonte de esperança e que possa ajudar a desenvolver uma pastoral da esperança”, acrescentou D. António Marto. Com o tema “Não tenhais medo. Confiança – Esperança – Estilo Crente”, o Simpósio Teológico-Pastoral reuniu no Centro Pastoral Paulo VI cerca de 350 pessoas e também mereceu transmissão em direto através da internet.
O bispo de Coimbra e antigo reitor do Santuário de Fátima, Dom Virgílio Antunes, foi um dos oradores da iniciativa que arrancou na última sexta-feira. Para aquele responsável católico, Fátima afirmou-se desde 1917 como ponte “para Deus caminho da humanidade e como uma mensagem de alcance universal”. “Apesar de ser uma revelação privada, aponta para a centralidade da mensagem evangélica e, portanto, é portadora de um dinamismo intemporal, pois foca, por um lado, Deus e a fé cristã e, por outro, o Homem e a sua salvação no tempo e na eternidade”, sustentou.
Por outro lado, mais do que um ponto de peregrinação e encontro para católicos de todo o mundo, o Santuário é também “lugar de passagem para muitos buscadores de Deus, pessoas que se interrogam acerca da vida, do princípio e do fim, do sofrimento e da morte, que ainda não chegaram ao conhecimento da fé”, concluiu.
SIR

Igreja e sociedade: o projeto do papa Francisco

Francisco esclareceu seu projeto da seguinte forma: 'uma Igreja que dê testemunho do Reino de Deus'


Papa Francisco, entre a multidão: "a Igreja deve enfrentar esta crise antropológica, deve sair de si mesma"
Por Sérgio Ricardo Coutinho
O historiador italiano Daniele Menozzi, que dedicou um importante estudo sobre as relações entre a Igreja e a sociedade contemporânea (“A Igreja Católica e a Secularização”. SP: Paulinas, 1999), afirmava que apesar dos juízos tão dispares vindos do magistério católico e dos diversos grupos do mundo católico (neo-integristas, conservadores e progressistas) sobre o processo de secularização, havia entre eles uma convicção comum: não se poderia conceder ao agir político e social do homem uma plena autonomia em relação à religião cristã. Segundo esta premissa, entregue a si mesmo, o homem, na construção da cidade terrena, acabaria por se enveredar pelas vias de uma crise que conduziria à destruição ou dissolução da sociedade civil.
Pois bem, passados os primeiros 100 dias de pontificado do papa Francisco, temos já um bom material de análise, a partir de seus pronunciamentos, sobre qual deveria ser a missão e o papel da Igreja na atual sociedade contemporânea. Qual é o projeto de “Igreja” sonhado por Francisco para atuar junto à sociedade e responder aos desafios postos?
Nestes últimos 35 anos a Igreja, sob os pontificados de João Paulo II e Bento XVI, construiu um projeto eclesiológico bem claro para enfrentar estes desafios: uma Nova Evangelização.
De fato, a secularização transformou-se no grande desafio do mundo contemporâneo em relação à Igreja, causa determinante da diminuição da prática religiosa, da redução das vocações, da perda dos valores éticos do catolicismo na vida individual e familiar, e ainda, em particular, por tender à meta de uma organização de vida coletiva que prescinde dos valores cristãos, reduzindo ou anulando a importância social da Igreja.
Contra esta tendência o papa João Paulo II convocou os católicos para a necessidade de uma “nova evangelização” que restaurasse, em primeiro lugar, a Europa cristã na qual a sociedade recebesse da Igreja seus valores fundamentais. O cardeal Joseph Ratzinger, quando ainda prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em polêmica com as correntes teológicas contemporâneas que defendiam o abandono de uma ordem social cristã como a via de purificação da Igreja, sustentou que só a tradução para o plano legislativo dos valores dos quais a Igreja é depositária poderia permitir à Europa um retorno na rota dos desvios morais por onde enveredou a modernidade. De certo modo, este projeto também se fez chegar com força aqui em nosso continente americano.
Desta forma, e em larga medida, o mundo católico sob a forma do projeto de “nova evangelização” ainda se baseia nos pressupostos dos líderes da reação contrarrevolucionária, típicas do século XIX: não haverá verdadeira civilização nem autêntica convivência humana fora da “cristandade”, ou seja, fora de uma sociedade onde a Igreja dite as regras e valores do viver social.

O papa Francisco iniciou seu pontificado expressando seu desejo e seu projeto eclesiológico aos jornalistas, que tinham feito a cobertura do Conclave: “como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres”.
Este projeto foi sendo explicitado ao longo destes 100 primeiros dias de pontificado e melhor delineado em pronunciamento feito aos Movimentos e Associações laicais no dia 18/05, véspera de Pentecostes, festa litúrgica eminentemente eclesiológica.
O papa Francisco foi provocado pela seguinte questão: “Que contribuição podemos nós todos, enquanto movimentos e associações laicais, dar concreta e eficazmente à Igreja e à sociedade para enfrentar esta crise que toca a ética pública, o modelo de desenvolvimento, a política, em suma, um novo modo de ser homens e mulheres?”
Francisco esclareceu seu projeto da seguinte forma: “uma Igreja que dê testemunho do Reino de Deus”. A Igreja, para ele, não é um movimento político, uma estrutura bem organizada, nem uma ONG; ela é chamada fundamentalmente a viver o Evangelho e dar testemunho dele como “sal da terra e luz do mundo”: “é chamada a tornar presente na sociedade o fermento do Reino de Deus; e a faz, antes de tudo, por meio do seu testemunho: o testemunho do amor fraterno, da solidariedade, da partilha”.
Chamou a atenção também para o fato de estarmos atravessando uma crise, não só cultural e econômica, mas de uma profunda “crise do homem”, uma crise antropológica. Por isso, para a Igreja enfrentar esta crise antropológica, deve sair de si mesma. Sair de uma “doença grave” que tomou conta da Igreja nos últimos anos: a mundanidade espiritual (Henri de Lubac) que a invadiu.
O diagnóstico desta doença, feita por ele ainda enquanto cardeal e explicitada durante as reuniões pré-conclave: “Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico. A Igreja autorreferencial quer Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair”. Simplificando: há duas imagens de Igreja, segundo ele: a Igreja evangelizadora que sai de si, ou a Igreja mundana que vive em si, de si e para si.
Por isso insiste: “Neste tempo de crise, não podemos preocupar-nos só com nós mesmos, fecharmo-nos na solidão, no desânimo, numa sensação de impotência face aos problemas. Não se fechem, por favor!”.
Este fechamento leva a problemas graves no interior da Igreja, verdadeiras heresias, e que a impede ser missionária: o pelagianismo e o gnosticismo. O pelagianismo aparece na forma de uma Igreja elitista restauracionista, com práticas disciplinares pré-conciliares e ciosos de si mesmos. A outra corrente é de uma Igreja, também elitista, “mas de uma elite mais formada”, gnóstica-panteísta. Esta corrente preocupa porque “pula a encarnação de Cristo”. Ambas correntes são autossuficientes, egocêntricas, preconceituosas, exclusivistas.
O critério para superar este mal na Igreja (a mundanidade) é “sair de si mesma” e ir em direção às “periferias existenciais” e lá poderá encontrar Jesus Cristo verdadeiramente encarnado: o pobre.
Disse ele aos membros da direção da Conferência Latino-americana de Religiosos (CLAR): “O Evangelho não é a regra antiga, nem esse panteísmo. Se você olhar para as periferias, os indigentes, os drogados, o tráfico de pessoas... Esse é o Evangelho. Os pobres são o Evangelho...”. Respondendo novamente aos leigos disse: “Este é o problema: a carne de Cristo, tocar a carne de Cristo, assumir este sofrimento pelos pobres. A pobreza, para nós cristãos, não é uma categoria sociológico, filosófica ou cultural. Não! É uma categoria teologal. Diria que esta é talvez a primeira categoria, porque aquele Deus, o Filho de Deus, humilhou-se, fez-se pobre para caminhar conosco ao longo da estrada. E esta é a nossa pobreza: a pobreza da carne de Cristo, a pobreza que nos trouxe o Filho de Deus com a sua Encarnação. A Igreja pobre para os pobres começa pelo dirigir-se à carne de Cristo”.
Para realizar esta prática, serão necessárias reformas para muito além da Cúria romana, a começar pelo clero.
Para os padres, Francisco sinalizou com a seguinte imagem: a do “sacerdote ungido com óleo” que escorre pela barda até a “orla de suas vestes” (Salmo 133). Disse que o sacerdote que sai pouco de si, que unge pouco os seus fiéis “perde o melhor de nosso povo,  e isso é que é capaz de ativar o mais profundo de seu coração presbiteral”. “Quem não sai de si, em vez de mediador, vai se convertendo pouco a pouco em intermediário, em gestor. Todos conhecem a diferença: o intermediário e o gestor ‘já têm seu pagamento’, e como não colocam em jogo a própria pele, nem o coração, também não recebem um agradecimento afetuoso que nasce do coração”. Por isso, alguns sacerdotes “acabam tristes e convertidos em uma espécie de colecionadores de antiguidades [pelagianos-restauracionistas] ou, então, de novidades [gnósticos-panteístas], em vez de serem pastores com ‘cheiro de ovelha’, pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens”.
O mesmo foi dito aos bispos. Falando ao episcopado italiano, fez um forte apelo à radicalidade evangélica e estabelecendo como uma “regra” a de ser capaz de “inclinar-se sobre as pessoas” e não um administrador preocupado com a organização. “Nós não somos expressão de uma estrutura – explicou – ou de uma necessidade organizativa”. Ao centrar-se somente nas estruturas, torna o pastor “morno”, “distraído, esquecido e até mesmo impaciente; o seduz com a perspectiva da carreira, a tentação do dinheiro e os compromissos com o espírito do mundo; o deixa preguiçoso, transformando-o em um funcionário, um clérigo de Estado preocupado mais consigo mesmo, com a organização e com as estruturas, do que com o verdadeiro bem do Povo de Deus”.
Alertou aos Núncios apostólicos para os critérios em vista de uma boa escolha para o episcopado: que sejam pastores capazes de “caminhar no meio e atrás do rebanho: capazes de ouvir o silencioso relato de quem sofre e de manter o passo de quem teme que não irá conseguir; atentos a reerguer, a tranquilizar e a infundir esperança. Do compartilhamento com os humildes, a nossa fé sai sempre reforçada: deixemos de lado, portanto, toda forma de presunção, para nos inclinarmos” sobre as pessoas. Os candidatos ao episcopado devem amar “a pobreza interior como liberdade no Senhor e também a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida” e não devem ter “uma psicologia de ‘Príncipes’”. “Estejam atentos – assinalou Francisco aos Núncios – para que não sejam ambiciosos, que não persigam o episcopado e que sejam esposos de uma Igreja, sem buscar constantemente outra”. Aqui está uma alusão explícita ao carreirismo na Igreja.
Sem dúvida nenhuma que o modelo de sacerdote-pastor que Francisco tem em mente é Dom Oscar Romero, cuja beatificação ele desbloqueou nestes dias. Isso o faz se colocar próximo à Teologia da Libertação.
Na América Latina, durante um longo período, a hostilidade demonstrada para com a Teologia da Libertação foi um importante fator para favorecer brilhantes carreiras eclesiásticas. De fato, hoje, é muito mais fácil reconhecer que certas veementes mobilizações de alguns setores eclesiais contra a Teologia da Libertação eram motivadas por certas preferências de orientação política mais que pelo desejo de guardar e afirmar a fé dos apóstolos.
Mas Francisco tem plena consciência dos riscos desta “saída de si”: “Entretanto que acontece quando alguém sai de si mesmo? Pode suceder aquilo a que estão sujeitos aqueles que saem de casa e vão pela estrada: um acidente. Mas eu digo-vos: Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí!”.
Nesta saída para o mundo, Francisco não demonstra qualquer intencionalidade de reconstruir a "Cristandade", onde a Igreja dite regras e valores do viver social. Seu projeto vai noutra linha: ir ao encontro do outro, mesmo que diferente de nós. “Porque a fé é um encontro com Jesus, e nós devemos fazer o mesmo que Jesus: encontrar os outros. Vivemos numa cultura do desencontro, uma cultura da fragmentação, uma cultura na qual o que não me serve jogo fora, a cultura do descartável. Nós, pelo contrário, devemos ir ao encontro e devemos criar, com a nossa fé, uma ‘cultura do encontro’, uma cultura da amizade, uma cultura onde encontramos irmãos, onde podemos conversar mesmo com aqueles que pensam diversamente de nós, mesmo com quantos possuem outra crença, que não têm a mesma fé. Todos têm algo em comum conosco: são imagens de Deus, são filhos de Deus. Ir ao encontro de todos, sem negociar a nossa filiação eclesial”.
Assim, o que podemos vislumbrar é que, pelo que vimos e ouvimos destes 100 dias, a “nova evangelização” empreendida pelo papa Francisco carrega em si um projeto eclesiológico e missionário bem diferente do que se vinha sendo implementado até aqui e que os resultados eram pífios. Vejamos, daqui para frente, quais serão as ações concretas para que o mesmo projeto se realize.
Instituto Humanitas Unisinos