quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vou ao cemitério no Dia de Finados

Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo de Palmas (TO)
“Esta é a morada de Deus-com-os-homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,3-4).
Aproxima-se um dos dias mais emblemático de todo calendário civil e religioso: o dia de finados - dia de sentimento de perda e de saudade, dia de recolhimento, de silêncio e de oração, dia de esperança e de fé na ressurreição dos mortos.
Com espírito pastoral, gostaria de condividir com vocês os sentimentos mais profundos, as emoções mais verdadeiras e a fé mais autêntica e sincera que invadem o meu coração de irmão, de amigo e de pastor: Um autor desconhecido escreveu recentemente o seguinte: “tudo no mundo morre. O tempo todo. A cada segundo, folhas caem, flores murcham, você pisa numa formiga, a leoa acerta um pulo letal no cervo, 20 pessoas morrem em uma enchente, criança leva bala perdida em tiroteio, motorista dorme ao volante e caminhão choca-se com carro, matando toda uma família. É cientificamente comprovado. Tudo que está vivo pode morrer. Mas quando alguém que você ama morre, não há ciência, razão. O coração desliga-se do cérebro e grita sua dor na única linguagem que conhece: a cada batida...”
A morte é a nossa companheira de viagem. Ela está presente em toda a fase da nossa existência. A morte é certa; mas não há somente morte; a morte é vida no além. Santa Teresinha já dizia: “não morro, entro na vida”. Jesus Cristo é nossa páscoa, vida e ressurreição. Nossas vidas estão nas mãos de Deus. No céu o veremos face a face e saberemos como Ele é.
No dia de finados é comum irmos ao cemitério para rezar pelos defuntos. A oração por eles é tradição da Igreja católica. Outro dia, numa visita pastoral, no cemitério, encontrei a seguinte frase, meio empoeirada, amarelada pelo tempo, pouco observada, mas que continha uma grande verdade: “homenagem dos que vão morrer aos que já morreram”. Somente os que ainda não morreram podem homenagear os que já morreram. Visitar o cemitério, mesmo sendo um costume antigo, é ainda hoje uma atitude cristã louvável, quando nasce da fé e se alimenta da ressurreição. Não podemos deixar que se percam nem o seu valor e nem a sua beleza. Mas como visitar um cemitério? Como se comportar numa vista como esta? O que fazer? Como rezar? O que levar e o que deixar?
A Igreja quando reza pelos defuntos tem em mente três motivos: - primeiro, a comunhão existente entre todos os membros de Cristo, vivos e mortos: na morte, como na vida, somos todos irmãos; - segundo, consolar, confortar e prestar ajuda espiritual a quem está triste e enlutado pela morte de um ente querido; - terceiro, ajudar espiritualmente a quem morreu, de modo que, se for da vontade de Deus a oração ajude a se purificar e chegar a Deus.
Portanto, diante do desespero e do relativismo, que fazem ver a morte como o final da existência, Jesus oferece a esperança da ressurreição e da vida eterna, a fim de Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). É Ele quem nos faz passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o sentido da vida, das trevas para a luz, da descrença para a fé, do desalento para a esperança que não engana.
Permitam-me, por gentileza, sugerir-lhes algumas atitudes para acompanhá-los ao cemitério: - momento de oração: reservem um tempo para a oração pessoal; - acendam velas para que seus entes queridos fiquem iluminados pela luz de Cristo; - cubram suas sepulturas com os mantos das flores para a beleza dos olhos e o encanto da alma; - ajudem nas limpezas do ambiente e dos túmulos dos seus entes queridos; - participem das celebrações, eucarística ou da palavra, escutem a Palavra de Deus e comunguem, se puderem; - e creiam na ressurreição da carne e na vida eterna. Cristo ressuscitado, vida e esperança, estará lá e se colocará no nosso meio para enxugar nossas lágrimas, fortalecer nossa fé e aumentar a nossa esperança.
Neste Ano da Fé, eu, pessoalmente, “creio na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna; e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
Por todos os defuntos, rezemos juntos: “Descanso eterno, dai-lhes, Senhor. E a luz perpétua os iluminem. Descansem em paz. Amém!

Falecidos, não mortos

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
No próximo dia 2 celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero pensando que tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente.
Os pagãos chamavam o local onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem no sono da paz”.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal. Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade. A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S. Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha o Apóstolo São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31).
Diz o célebre livro A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Não confies em amigos e parentes, nem deixes para mais tarde o negócio de tua salvação; porque, mais depressa do que pensas se esquecerão de ti os homens. Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imit. I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.
Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas que é o inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém

O que aconteceu com o Sínodo?

 

Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade. A análise é do cientista político e leigo católico italiano Christian Albini, em nota publicada no blog Sperare per Tutti,.



Sessão Plenária do Sínodo/2012(Foto: )
Encerrou-se no dia 28 o XIII Sínodo dos Bispos sobre "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", que durou três semanas. Mas o que aconteceu nesse encontro que reuniu 262 bispos de todo o mundo, juntamente com 45 especialistas e 50 auditores e auditoras? Foi uma representação significativa do catolicismo, que não deve ser subestimado.
Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade. Embora, como destacou um artigo de Alberto Melloni, a livre discussão em sala foi muito restrita, e o encontro teve somente um valor consultivo. É um pouco um emblema de algumas contradições da Igreja de hoje. Em todo caso, o fato de que esses encontros já ocorram regularmente é, contudo, uma riqueza que favorece o intercâmbio e o encontro dentro do vasto corpo da Igreja Católica.
Os padres sinodais redigiram uma Mensagem ao Povo de Deus, da qual eu lembro alguns aspectos fundamentais (o texto completo pode ser lido aqui, em italiano).
A mensagem usa como imagem da experiência de fé o encontro de Jesus com a samaritana no poço (João 4, 5-42). A evangelização não é propaganda ideológica, mas sim uma experiência de relação que vai tocar os desejos mais profundos e autênticos do ser humano. Nova evangelização não é recomeçar tudo do início, mas sim um empenho, que recorre em todos os tempos, para que os fiéis evangelizem acima de tudo a si mesmos e façam dos espaços eclesiais poços nos quais todos possam se saciar livremente.
É indispensável aproximarmo-nos, a seguir, do alimento que vem da Palavra de Deus e ficar no nosso tempo e n nossa cultura sem contraposições e sem pessimismo. Isso significa que a Igreja "cultiva com particular cuidado o diálogo com as culturas, na confiança de poder encontrar em cada uma delas as ´sementes do Verbo´, das quais já falavam os antigos Padres".
São fundamentais o estilo, a atitude dos cristãos, como evidencia esta importante passagem:
"Alguém perguntará como fazer tudo isso. Não se trata de inventar sabe-se lá quais novas estratégias, quase como se o Evangelho fosse um produto a ser colocado no mercado das religiões, mas sim de redescobrir os modos pelos quais, na história de Jesus, as pessoas se aproximaram dele e por ele foram chamadas , para introduzir essas mesmas modalidades nas condições do nosso tempo.
"Recordemos, por exemplo, como Pedro, André, Tiago e João foram interpelados por Jesus no contexto do seu trabalho, como Zaqueu pôde passar de simples curiosidade ao calor da partilha da mesa com o Mestre, como o centurião romano pediu a sua intervenção por ocasião da doença de um ente querido, como o cego de nascença o invocou como libertador da sua marginalização, como Marta e Maria viram premiada pela sua presença a hospitalidade da casa e do coração. Poderíamos continuar ainda, traçando as páginas dos Evangelhos e encontrando sabe-se lá quantos modos com os quais a vida das pessoas se abriu nas mais diversas condições à presença de Cristo".
Nessa perspectiva, capta-se o eco do que propõe Enzo Bianchi, que, de fato, estava presente no Sínodo como especialista no seu Nuovi stili di evangelizzazione. Assim o prior de Bose sintetizou o andamento dos trabalhos:
"A Igreja realmente mudou nesses últimos 50 anos: não mais hostilidade contra os ´infiéis´, mas sim diálogo, responsabilidade comum pelo bem da sociedade, busca da paz entre as religiões, liberdade de consciência, afirmação da necessária ´razão humana´ em toda doutrina religiosa.
"A Igreja não quer promover um proselitismo que imponha o evangelho ou seduza os homens, mas quer que a boa notícia possa ser ouvida por todos, porque todo o ser humano tem direito a isso. Por isso, ela se empenha a evangelizar acima de tudo a si mesma e, portanto, a oferecer uma vida que tenha sentido, uma mensagem que afirme que o amor vivido pode vencer a morte. Mas a Igreja na sua obra evangelizadora está ciente de que o mundo não é um deserto, um vazio sem bem e sem valores, mas sim um mundo à espera de respostas adequadas, um mundo habitado e moldado a cada dia pelo ser humano que é sempre um filho de Deus, uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, capaz, portanto, do bem, mesmo se às vezes o mal a fira e a torne desumana. Para anunciar o Evangelho, os cristãos devem então ouvir o mundo, conhecê-lo, ler as suas alegrias e os sofrimentos e, acima de tudo, discernir nele os ´pobres´, os últimos, as vítimas do poder e daqueles que dispõem da riqueza e não se importam com os outros. Se Jesus declarou que veio para trazer a boa notícia do Evangelho aos pobres, a Igreja não pode fazer o contrário, porque, no seguimento do seu Senhor, é chamada a ser, principalmente, Igreja pobre e de pobres.
"Se alguém esperava do Sínodo palavras de esperança e de bondade para as histórias cotidianas de amor que hoje parecem cansativas, contraditas e nem sempre adequadas ao ideal de fidelidade e de união proposto pelo Evangelho, essas palavras foram ditas e ouvidas: reiterou-se diversas vezes que o amor do Senhor permanece fiel, mesmo quando há situações de infidelidade, porque a Igreja é a casa de todos os batizados, também daqueles que vivem situações de contradição com o Evangelho". (Leia aqui o texto na íntegra do artigo de Enzo Bianchi sobre o Sínodo.)
Os padres sinodais sintetizaram os trabalhos em 58 propostas enviadas ao papa, cujo texto está disponível de forma oficiosa somente em inglês (de fato, o "novo latim" da Igreja Católica).
As propostas atribuem uma importância fundamental à inculturação do Evangelho, que deve se encarnar na cultura de todo povo (n. 5). No anúncio do Evangelho, deve ser sublinhada a necessidade de escuta constante da Palavra de Deus através da lectio divina (n. 11) e a vitalidade dos ensinamentos do Vaticano II (n. 12). A missão cristã é indissociável da promoção dos direitos humanos (n. 15), da liberdade religiosa (n. 16), do desenvolvimento (n. 19), da acolhida dos migrantes (n. 21).
São só alguns elementos. Na base, há o fato de que a fé pode ser transmitida não como uma ideia a ser difundida, mas só modelando a própria vida sobre o Evangelho que deve ser "lido" nas pessoas e nas suas relações (n. 57). Isso significa, como disse Bento XVI no Angelus do dia 28, a necessidade de um "compromisso com a renovação espiritual da própria Igreja".
 
Christian Albini, em nota publicada no blog Sperare per Tutti, 29-10-2012 e reproduzido pelo IHU-Unisinos.

A religião que se constitui na internet

Publicamos aqui um trecho da apresentação de Antonio Fausto Neto, pós-doutor em comunicação e professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), ao livro E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet (Ed. Santuário, 2012), de Moisés Sbardelotto.

As novas tecnologias, transformadas em meios de comunicação, não ficam restritas à ambiência da midiatização, seguindo apenas os postulados das lógicas dos seus “inventores”. São apropriadas pelas estratégias dos diferentes campos sociais, lhes impondo destinos que obedecem outras racionalidades, permeadas pelas singularidades de suas práticas (políticas, culturais, científicas, associativas, religiosas etc.). Este dado empírico que cresce celeremente, no âmbito da organização social, está atravessado por muitas questões, revelando surpresas e pondo em questão paradigmas e discursos determinísticos, através dos quais fenômenos emergentes, como a internet, estão sendo analisados. (...)
É neste contexto de “contatos” e de formulações de novas hipóteses, para além do postulado determinístico que aparece – numa primeira versão como pesquisa para a produção de uma dissertação de mestrado – o livro aqui apresentado. Esta pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação – PPGCom – da Unisinos (Rio Grande do Sul), estuda as relações do campo religioso com a internet. O autor se interessa pelo ambiente católico brasileiro online, no qual se promove e se incentiva a relação e o vinculo do fiel com seu Deus.
Mostra-se, aqui, a relação dos fieis com uma oferta de práticas de religiosidades, que extrapola os templos e que escapa das mãos dos atores religiosos, se manifestando na ambiência da internet, segundo o trabalho dos próprios fiéis.
Sua proposta não visa a analisar o que há de teológico no tecnológico, nem analisar as bases teológicas ou filosóficas do tecnológico. Nem examinar uma prática pastoral por parte de agentes religiosos, mas sim uma realidade nova para a Igreja Católica e que se manifesta através de um complexo processo de midiatização. Para tanto, descreve processos através dos quais emerge um novo fiel, o “fiel-internauta” que, por força dos protocolos ensejados por novas tecnologias convertidas em meios, fiel desponta como um “coconsagrador”, ao assumir um novo trabalho simbólico, numa ambiência até então reservada e regulada por protocolos da Igreja .
Trata-se de uma publicação que se insere na nova onda de estudos sobre os processos de midiatização das práticas religiosas no Brasil, chamando atenção para as possibilidades de apropriação da internet no âmbito das práticas religiosas de inspiração católica, particularmente na configuração de um novo “Verbo”, de um novo tipo de “interação comunicacional fiel-igreja”.
Ao se definir por este caminho investigativo, a pesquisa transformada em livro, aponta para questões contemporaneamente importantes. Reconhece a internet como dispositivo dinamizador de novas possibilidades de organização de práticas religiosas, esquivando-se de um discurso abstrato e/ou generalizador. Contrariamente a esta perspectiva, prioriza as relações das tecnologias com seus modos de existências, que são atribuídos por lógicas e postulados advindos das práticas sociais e do seus respectivos funcionamentos. A internet é, neste caso, um objeto referido pelas motivações e demandas de prática de um determinado campo social (o religioso), e suas operações dependem de injunções de várias lógicas: as do sistema tecnológico, as do campo religioso (em termos institucionais) e, também, as dos atores-fiéis.
Para estudar esta modalidade de interação entre os fiéis e o sagrado, pelo agenciamento da internet convertida em meio, o autor faz um percurso amplo e cuidadoso, que se materializa nas diversas fases de sua pesquisa. Discute o fenômeno da midiatização digital da religião, construindo quatro cenários: religião ou internet; religião e internet; religião na internet; religião pós-internet. Faz uma densa reflexão sobre a especificidade de cada um destes ângulos, estabelecendo, porém, um ponto de inflexão: o eixo da técnica convertida em meio e, especificamente, o complexo trabalho técnico-discursivo que é feito pelo fiel para construir vínculos entre o sagrado e o profano.
Descreve, a partir de sites católicos brasileiros, marcas e passos através dos quais se constitui um novo caminho, cada vez mais midiatizado, pelo qual se realizam novos contatos entre o fiel e Deus. Dos processos e de suas manifestações, resultam as “novas materialidades do sagrado”, uma vez que a construção desta modalidade de experiência de religiosidade se faz em torno de complexas operações tecnocomunicacionais, envolvendo, como por exemplo, dimensões digitais e hiperdiscursivas.
O livro é um registro de uma problemática duplamente contemporânea: a intensa transformação de tecnologias emergentes em meios de comunicação, fenômeno que desafia os instrumentos de pesquisa disponíveis para observá-lo na sua mutação e dinâmica; e um outro fenômeno que é esta “Igreja do Futuro” que se tece nas plataformas digitais online. (...)
Este livro, além do rigor da pesquisa acadêmica – especialmente a riqueza observacional e do dialogo do seu autor com outras fontes – estipula uma instigante proposta aos estudiosos sobre a temática da midiatização das práticas sociais, especialmente para as investigações que envolvem a internet e suas novas formas de funcionamento. Independentemente do caráter das instituições, a internet faz um “desembarque” no âmbito de diferentes práticas. Mas trata-se de uma “chegada” submetida a múltiplas injunções de operações de sentidos, como aquelas que os fiéis realizam nos sites aos quais têm acesso, segundo suas estratégias de apropriação. Como diz muito bem o autor, a técnica não se impõe, mas se interpõe na experiência multissensorial do sagrado. Gera-se uma complexa atividade técnico-simbólica na qual os “bits” são afetados pelos imaginários diversos, mas, também, pela complexidade do mistério.
Um livro não apenas voltado para o leitor universitário, mas que se destina a todos os leitores enquanto atores desta nova ordem complexa que envolve os mundos comunicacional e religioso. Pesquisa na forma de livro que abre horizontes para a compreensão sobre a religião (do fiel) que se constitui na internet.

O heroísmo de uma Igreja ao lado dos pobres


Belém, PA, 31 out (RV/SIR) - O Presidente da Comissão Episcopal para Amazônia, Cardeal Cláudio Hummes, realizou nestes últimos meses uma série de visitas a dioceses e prelazias nos municípios de Castanhal, Abaetetuba e a região marajoara, no Pará.
Em seu itinerário amazônico, Dom Cláudio revela ter constatado o ‘heroísmo da Igreja’, daqueles homens e mulheres que trabalham junto aos brasileiros mais esquecidos. Nesta entrevista, ele também traz o testemunho comovente do seu encontro com um sacerdote local.

“É um momento sempre muito bom, muito importante encontrar o bispo isolado, lá no meio da floresta... estes dias estive em Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, em Tefé, em Benjamin Constant, Atalaia do Norte, em toda aquela região, visitando os bispos, as comunidades, e ouvindo, sobretudo. E aí, a gente acaba descobrindo como na verdade ali, em primeiro lugar, há um grande heroísmo da Igreja: a Igreja ali é heróica, é pobre, é apaixonada, como todos devemos ser; levar Jesus Cristo aos mais pobres. Há muita pobreza, muita desassistência do poder público. É realmente triste como estes brasileiros, e os indígenas, estão tão desassistidos nas questões de saúde, de educação... enfim, falta assistência, falta presença do poder público, falta tudo. Dinheiro existe, só que é desviado, não chega... estas coisas todas. Então realmente a gente precisa ir lá, tentar animar, estimular e mostrar todo o apreço que a CNBB tem por esta Igrejas, por estes bispos, por estes missionários e missionárias”.

“Eu encontrei, por exemplo, missionários padres que estão ali anos e anos, envelhecidos e doentes. Um deles veio conversar comigo, um homem idoso, doente, e me disse, chorando.. “Dom Claudio, eu preciso de um substituto, eu não aguento mais, não consigo mais levar em frente a paróquia”.
A gente fica impactado ao ver um homem chorando de verdade... Estas situações são muito fortes. Nós as levamos à CNBB em relatórios, assembleias, e está havendo uma grande e boa resposta da CNBB quanto a isso”.

Quem se salvará? Evangelho do Dia


"Há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos."

Lucas 13,22-30
As exigências do Reino apresentadas por Jesus levou os discípulos a se perguntarem pelo número dos que seriam salvos. Imaginavam serem poucas as pessoas predispostas e fiéis ao projeto apregoado pelo Mestre. A dinâmica do Reino, como Jesus a entendia, rompia com os esquemas mundanos e só podia ser vivida por quem, de fato, se predispunha a enfrentar a cruz, como caminho necessário para a glória.

A questão levantada pelos discípulos pareceu ser irrelevante para Jesus. Era inútil saber se os salvos seriam poucos ou muitos. Importava, sim, empenhar-se continuamente para, com a graça de Deus, entrar no Reino, através da porta estreita. Portanto, era tempo de refletir e tomar uma decisão sábia, para evitar o risco de ser deixado do lado de fora.

A exclusão do Reino poderá ser uma experiência trágica. O choro e ranger de dentes expressam o desespero de quem desperdiçou a chance que lhe fora oferecida. A segurança fundada em elementos inconsistentes frustrar-se-á quando o cristão comparecer diante do Senhor. Ter comido e bebido na presença de Jesus e tê-lo visto ensinar nas praças não será suficiente para garantir a salvação. Jesus só reconhecerá como discípulo e salvará quem, como ele, tiver sido capaz de colocar-se a serviço do próximo, sem medo de perder tudo por causa do Reino.

 Oração
Senhor Jesus, que eu me esforce sempre para entrar no Reino pela porta estreita do serviço ao próximo e da disposição de perder tudo por causa de ti.

Evangelho do dia

Ano B - Dia: 31/10/2012



Porta estreita, o que é?
Leitura Orante


Lc 13,22-30

Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando na sua viagem para Jerusalém. Alguém perguntou:
- Senhor, são poucos os que vão ser salvos?
Jesus respondeu:
- Façam tudo para entrar pela porta estreita. Pois eu afirmo a vocês que muitos vão querer entrar, mas não poderão.
- O dono da casa vai se levantar e fechar a porta. Então vocês ficarão do lado de fora, batendo na porta e dizendo: "Senhor, nos deixe entrar!" E ele responderá: "Não sei de onde são vocês." Aí vocês dirão: "Nós comemos e bebemos com o senhor. O senhor ensinou na nossa cidade." Mas ele responderá: "Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal." Quando vocês virem Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus e vocês estiverem do lado de fora, então haverá choro e ranger de dentes de desespero. Muitos virão do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul e vão sentar-se à mesa no Reino de Deus. E os que agora são os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.


Leitura Orante


Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que se encontram neste espaço de oração:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Creio, Senhor Jesus, que sou parte de seu Corpo.
Trindade Santíssima
- Pai, Filho, Espírito Santo -
presente e agindo na Igreja e na profundidade do meu ser.
Eu vos adoro, amo e agradeço.

1. Leitura (Verdade)
O que diz o texto do dia?
Leio atentamente o texto na Bíblia: Lc 13,22-30 - A porta estreita

A vida cristã não é possível para pessoas acomodadas e medíocres. É exigente. Jesus diz isto quando nos fala da porta estreita como caminho para a vida. Porta estreita é renunciar a algo que me parece prazeroso, mas de consequências negativas que podem prejudicar a mim ou a outras pessoas. Porta estreita pode ser fechar-me a propostas fascinantes mas que não são transparentes, ocultando corrupção, desvios, más intenções. Porta estreita pode ser renunciar a querer apenas me beneficiar, excluindo outras pessoas de participar de bens que Deus concedeu a todos. Porta estreita é manter-me em silêncio para não criticar nem julgar as pessoas com quem convivo. Jesus não fala de uma grande avenida. Ele próprio é o Caminho. Olhemos para sua prática e aprenderemos por onde devemos passar. Não mudemos de Caminho para não corrermos o risco de perder o endereço e assim, também nós nos perdermos. Nem nos deixemos fascinar pelas portas amplas e escancaradas. Elas podem ser atraentes, mas nos conduzir ao engano e não, a Deus.

2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
Fala-me Jesus de atitudes cristãs que deve assumir qualquer pessoa que é batizada, entre elas, eu. Nada de mediocridade.Seguir Jesus Cristo implica também a cruz. Os bispos, na V Conferência disseram: "Hoje se considera escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte (cf. Dt 30.15). Caminhos de morte são os que levam a dilapidar os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos latino-americanos. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à "plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural". Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque "é o amor que dá a vida". Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor" (DAp 13).

3.Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, e, se for pela manhã, faço a:

Oração da manhã
Senhor, nós te agradecemos por este dia.
Abrimos nossas portas e janelas para que tu possas
Entrar com tua luz.
Queremos que tu Senhor, definas os contornos de
Nossos caminhos,
As cores de nossas palavras e gestos,
A dimensão de nossos projetos,
O calor de nossos relacionamentos e o
Rumo de nossa vida.
Podes entrar, Senhor em nossas famílias.
Precisamos do ar puro de tua verdade.
Precisamos de tua mão libertadora para abrir
Compartimentos fechados.
Precisamos de tua beleza para amenizar
Nossa dureza.
Precisamos de tua paz para nossos conflitos.
Precisamos de teu contato para curar feridas.
Precisamos, sobretudo, Senhor, de tua presença
Para aprendermos a partilhar e abençoar!

4.Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é atento aos ensinamentos de Jesus, à discernir no meu dia para escolher entre as portas que se abrirem, a porta estreita.

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.

Santo do dia

31 de outubro

Santo Afonso Rodrigues
A Companhia de Jesus gerou padres e missionários santos que deixaram a assinatura dos jesuítas na história da evangelização e na história da humanidade. Figuras ilustres que se destacaram pela relevância de suas obras sociais cristãs em favor das minorias pobres e marginalizadas, cujas contribuições ainda florescem no mundo todo.

Entretanto de suas fileiras saíram também santos humildes e simples, que pela vida entregue a Deus e servindo exclusivamente ao próximo, mostraram o caminho de felicidade espiritual aos devotos e discípulos. Valorosos personagens quase ocultos, que formam gerações e gerações de cristãos e, assim, sedimentam a sua obra no seio das famílias leigas e religiosas.

Um dos mais significativos desses exemplos é o irmão leigo Afonso Rodrigues, natural de Segóvia, Espanha. Nascido em 25 de julho de 1532, pertencia a uma família pobre e profundamente cristã. Após viver uma sucessão de fatalidades pessoais, Afonso encontrou seu caminho na fé.

Tudo começou quando Afonso tinha dezesseis anos. Seu pai, um simples comerciante de tecidos, morreu de repente. Vendo a difícil situação de sua mãe, sozinha para sustentar os onze filhos, parou de estudar. Para manter a casa, passou a vender tecidos, aproveitando a clientela que seu pai deixara.

Em 1555, aconselhado por sua mãe, casou e teve dois filhos. Mas novamente a fatalidade fez-se presente no seu lar. Primeiro, foi a jovem esposa que adoeceu e logo morreu; em seguida, faleceram os dois filhos, um após o outro. Abatido pelas perdas, descuidou dos negócios, perdeu o pouco que tinha e, para piorar, ficou sem crédito.

Sem rumo, tentou voltar aos estudos, mas não se saiu bem nas provas e não pôde cursar a Faculdade de Valência.

Afonso entrou, então, numa profunda crise espiritual. Retirado na própria casa, rezou, meditou muito e resolveu dedicar sua vida completamente a serviço de Deus, servindo aos semelhantes. Ingressou como irmão leigo na Companhia de Jesus em 1571. E foi um noviciado de sucesso, pois foi enviado para trabalhar no colégio de formação de padres jesuítas em Palma, na ilha de Maiorca, onde encontrou a plena realização da vida e terminou seus dias.

No colégio, exerceu somente a simples e humilde função de porteiro, por quarenta e seis anos. Se materialmente não ocupava posição de destaque, espiritualmente era dos mais engrandecidos entre os irmãos. Recebera dons especiais e muitas manifestações místicas o cercavam, como visões, previsões, prodígios e cura.

E assim, apesar de porteiro, foi orientador espiritual de muitos religiosos e leigos, que buscavam sua sabedoria e conselho. Mas um se destacava. Era Pedro Claver, um dos maiores missionários da Ordem, que jamais abandonou os seus ensinamentos e também ganhou a santidade. Outro foi o missionário Jerônimo Moranto, martirizado no México, que seguiu, sempre, sua orientação.

Afonso sofreu de fortes dores físicas durante dois anos, antes de morrer em 31 de outubro de 1617, lá mesmo no colégio. Foi canonizado em 1888, pelo papa Leão XIII, junto com são Pedro Claver, seu discípulo, conhecido como o Apostolo dos Escravos. Santo Afonso Rodrigues deixou uma obra escrita resumida em três volumes, mas de grande valor teológico, onde relatou com detalhes a riqueza de sua espiritualidade mística. A sua festa litúrgica é comemorada no dia de sua morte.

Mensagens

Espiritualidade reconciliadora
Pe. Zezinho, scj


Apaziguar é um dom que vem do céu. Do Concílio Ecumênico Vaticano II a maioria já ouviu falar. Nem todos, porém, entendem que se trata do ato de pessoas sentarem juntas para decidirem juntas. Isto quer dizer conciliar. Há, pois, uma atitude e até mesmo uma espiritualidade conciliar que vive as propostas de algum concílio. E há também a espiritualidade conciliadora que é virtude dos que, ou se aproximam dos outros, ou vivem de aproximar as pessoas, para que resolvam seus problemas e façam as pazes.

Os pacificadores, os que vivem a serviço do diálogo, os que fazem de tudo para achar valores nos outros e descobrir as razões de cada pessoa, os que tentam relevar, perdoar, usar de misericórdia e, no ato de aplicar a justiça esmeram-se na moderação, todos eles vivem uma espiritualidade conciliadora. São mediadores, aproximadores, suavizadores, apaziguadores. Nem por isso deixam de tomar suas posições firmes, se o caso exigir tal atitude.

Uma senhora serena e forte, mãe de seis filhos fez exatamente isso. Tentadas todas as outras possibilidades para levar um filho rebelde e cruel que se alegrava em ferir os irmãos, recorreu ao silêncio. Calou-se diante dele. Não tinha mais palavras. Quando ele chegava, limitava-se a olhá-lo, tocar-lhe no rosto e depois ia cuidar de seus afazeres. Era diferente o tom com que falava a este filho. Tinha deixado claro que um dia tomaria aquela atitude, caso ele prosseguisse na sua brutalidade diante dos irmãos. Foram meses até que ele, um dia, veio sozinho até ela e pediu uma chance. Ele tinha melhorado. Ela o fez prometer que nunca mais feriria os seus irmãos com aquelas palavras e atitudes cruéis. Assim aconteceu.

Às vezes a espiritualidade conciliadora propõe atitudes de justiça e de severidade, sem ódio e sem crueldade. Mas a pessoa que abusa do espírito conciliador acaba sabendo por que a outra silenciou. Não é permissividade, nem fraqueza, nem um "tudo bem, tudo legal". É um aproximar-se de quem educa. Trato bem, mas não cedo. Nisso, não! Daqui você não passa!

Que os pais a busquem. Façam como os semáforos que permitem, alertam e proíbem! Agora, passa este, agora o outro e agora você! Administrar conflitos é dom de Deus. Caso não consiga, corra para um mosteiro, um santuário, um lugar de preces e ore ou peça orações e entregue a Deus a pessoa ou as pessoas em conflito. Há casos que só Deus consegue suavizar.

Dicas Bíblica

"Mulheres interpelam Jesus"
outubro 2012


No Evangelho de Marcos encontramos muitas narrativas onde aparecem as mulheres, seja como agentes da ação de Jesus, seja como seguidoras e colaboradoras na sua missão. Neste mês vamos lançar um olhar mais atento sobre três narrativas, nas quais aparecem por sua vez: três mulheres e duas meninas. As três mulheres são a Hemorroissa (Mc 5,21-43), a Cananéia (Mc 7,24-30) e a viúva do óbulo (Mc 12,41-44). Uma das meninas é filha de Jairo, um dos chefes da sinagoga e a outra é a filha da Cananéia.
Marcos descreve com detalhes, a situação da mulher: sofre de um fluxo de sangue há 12 anos, já sofreu muito nas mãos dos médicos, gastou tudo o que tinha e nada havia resolvido, antes piorava cada vez mais. A mulher tinha ouvido falar de Jesus e apesar de sua timidez, colocou-se atrás de Jesus, em meio à multidão, tocou a orla do manto de Jesus e dizia consigo mesma: “se ao menos eu tocar, o seu manto serei salva.” E de fato, imediatamente ela sentiu que o sangue se estancou, sentiu-se curada da enfermidade, mas ela não podia imaginar que Jesus se dera conta dela, nem reconhecer que dele saíra uma força, perguntando alto e olhando ao seu redor: “Que me tocou?” Imaginem vocês como esta mulher terá se sentido! Pois, como os discípulos ela deverá ter pensado: quem vai saber, se há uma multidão ao seu redor? Ela jamais poderia pensar em ser descoberta, tanto é que o texto fala que ela estava amedrontada e trêmula, caiu aos pés de Jesus e contou-lhe toda a verdade. Jesus a acolheu, a escutou tudo e lhe disse: “Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fique curada desse teu mal.” Imaginem qual não foi a alegria e a gratidão que reinou no coração dessa mulher. Havia valido a pena ter interceptado o caminho de Jesus, que estava seguindo com os seus discípulos e o próprio Jairo, para a casa dele.
Marcos retoma a narrativa com os mensageiros que anunciam a Jairo uma triste notícia: “Tua filha morreu, por que ainda perturbas o mestre?” Jesus acalmou o coração de Jairo, dizendo-lhe: “Não temas; crê somente!” E chegando perto da casa, Jesus escutou muita choradeira, e novamente tenta acalmar os ânimos dizendo que a menina, apenas dormia, o que foi motivo de chacota. Jesus permitiu que somente algumas pessoas, entrassem com ele no quarto. Tomou a mão da menina e lhe disse: “Talita Kum”, ou seja, menina levanta-te. Ela se levantou e começou a caminhar pela casa. Jesus pediu que lhe dessem de comer. Todos ficaram espantados pelo que haviam visto. Leia a narrativa no Evangelho de Marcos 5,21-43.
A segunda mulher que impactou Jesus foi a Cananéia, cuja narrativa se encontra em Marcos 7,24-30. Jesus estava fora da terra de Israel, na região de Tiro e não queria que ninguém o soubesse. Mas, uma mulher ficou sabendo e foi encontrá-lo e jogou-se aos seus pés suplicando em favor da filha. Num primeiro momento, Jesus se recusa a atendê-la ao afirmar que “não é bom tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos.” A mulher logo entendeu que era uma estrangeira e que Jesus teria vindo para o seu povo, mas ela contra argumentou: “os cachorrinhos, também, comem das migalhas que caem da mesa de seus donos”, ou seja, ela também tinha o direito de ser beneficiada pela ação de Jesus. A resposta da mulher convenceu a Jesus e ele mudou de postura: “Pelo que disseste, vai: o demônio saiu de sua filha.” Ao chegar em casa a mulher encontrou a sua filha curada. A fé da mulher foi premiada.
A terceira mulher, a viúva do óbulo, provavelmente, não ficou sabendo que estava sendo observada por Jesus, diante do Tesouro do Templo, e muito menos que fora proposta como exemplo de desapego e confiança em Deus: “Em verdade eu vos digo que esta viúva que é pobre, lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao tesouro. Pois, todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.” Nas três narrativas, a atitude de fé, de confiança e determinação, tocou o coração de Jesus e ele se sentiu interpelado a realizar os anseios que cada uma carregava, até mesmo da mulher viúva, que não pronunciou uma palavra sequer. Mas o seu gesto, falou mais alto do que muitos discursos. Jairo e a mulher Cananéia experimentaram a alegria do reencontro com a vida, restabelecida em suas filhas.

Algumas perguntas que podem ajudar na reflexão:
Na leitura dessas três perícopes, o que chama mais a sua atenção?
Em que momento concreto a postura das mulheres influenciou no redirecionamento da ação de Jesus?
Concretamente, em que se apoiou a fé dessas mulheres? E a minha fé em Jesus em que se fundamenta?