sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A doce e reconfortante alegria de evangelizar


Por Dom Roberto Francisco Ferreria Paz*
Foi divulgada recentemente a nova Exortação Apostólica do papa Francisco: "Evangelii Gaudium", sobre o Anuncio do Evangelho no mundo atual. Trata-se de uma exortação apostólica pós-Sinodal que reúne e sintetiza os trabalhos da XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos acontecida em outubro de 2012.

Está estruturada em cinco capítulos e 288 pontos, abordando como temas: a reforma da Igreja em saída missionária, as tentações dos agentes pastorais, a Igreja vista como a totalidade do povo de Deus que evangeliza, a homilia e a sua preparação, a inclusão social dos pobres, a paz e o diálogo social, as motivações espirituais para o compromisso missionário. O capitulo I se denomina:

A transformação missionária da Igreja; contem basicamente a nova direção que o Papa Francisco quer imprimir a comunidade eclesial, "Uma Igreja em saída". Para chegar a esta meta se propõe uma Pastoral em conversão e uma renovação eclesial inadiável. O capítulo II  intitula-se: Na crise do compromisso comunitário; faz a abordagem dos desafios do mundo atual,  denunciando uma economia de exclusão e a nova idolatria ao dinheiro e a desigualdade social que gera violência, termina apresentando alguns desafios culturais e as tentações dos agentes pastorais.

No capítulo III se focaliza no Anuncio do Evangelho; considerando Todo o Povo de Deus como sujeito do anuncio, se valoriza a homilia, se destaca a preparação da pregação e finalmente, se promove uma evangelização para o aprofundamento do querigma (primeiro anuncio). No capitulo  IV se assume claramente a dimensão social da evangelização; fundamentando a ligação profunda entre a confissão da fé e o compromisso social, se promove a inclusão social dos pobres, se defende a articulação do bem comum com a paz social, e se afirma o diálogo social como contribuição para a paz.

O capitulo V se centra sobre o perfil dos protagonistas da evangelização: Evangelizadores com Espirito; propondo motivações para um renovado impulso missionário e se coroa toda a reflexão apresentando a Maria, a Mãe da evangelização.   Que Maria a "Estrela da nova evangelização, nos ajude a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço  da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até os confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz ". Deus seja louvado!
CNBB, 02-12-2013.
*Dom Roberto Francisco Ferreria Paz é bispo de Campos.

Sínodo católico, a primavera da Igreja

Se o papa não for ajudado pelos bispos, pelos presbíteros e pelo povo, não haverá reforma.

Francisco e os bispos: reformas precisam de apoio.
Por Enzo Bianchi*
O papa Francisco nos deu sem muitos atrasos a exortação pós-sinodal segundo os votos dos padres do Sínodo sobre a nova evangelização (outubro de 2012), do qual eu participei como especialista chamado por Bento XVI. A evangelização é apresentada nela na ótica da alegria cristã, porque o Evangelho é sempre um alegre anúncio.

No texto, há, sim, ecos das proposições do Sínodo, mas os conteúdos respondem acima de tudo à visão do papa Francisco, à sua leitura da atual situação da Igreja no mundo.

Acima de tudo, é reafirmado mais uma vez o primado do perdão de Deus, que não se deve merecer, mas apenas acolher como um dom, para que nós, homens e mulheres – operadores do mal, mesmo que não o queiramos –, possamos levantar a cabeça e recomeçar com esperança o seguimento do Senhor. Se o cristianismo realmente é um "ir de começo em começo, por começos que não têm fim" (Gregório de Nissa), então a vida cristã é alegre, sabe esperar também no desespero. Aqui o Papa Francisco se faz "servidor da alegria dos fiéis" (Paulo VI) e consegue restaurar força à fé como convicção, a dar novamente impulso ao movimento do Evangelho no mundo.

Mas o bispo de Roma também coloca limites à sua exortação: ela é dirigida a toda a Igreja, mas não pretende ser exaustiva. Por isso, ele renuncia a tratar de modo específico muitos temas que precisam de aprofundamento por parte das Igrejas individuais. Não por acaso, nas notas, aparecem – dado incomum para um documento papal – textos de algumas conferências episcopais. A voz do papa não esgota as dos bispos, nem as encobre: isso já é um princípio da descentralização.

O papa, depois, passa a delinear a reforma da Igreja e a indicar a modalidade, o estilo do seu testemunho no mundo. Entre os muitos temas, os pontos mais decisivos são a conversão do papado, a hierarquia das verdades, o senso dos limites eclesiais e a mundanidade. Certamente, um grande espaço é dado ao tema da pobreza da Igreja e da sua ação pelos pobres do mundo, os primeiros clientes de direito da palavra de Deus.

A "conversão do papado" está no espaço da conversão pedida a toda a Igreja. Se o papa convida todos – bispos, padres e fiéis – a se converterem, repudiando toda forma de idolatria para voltar ao Evangelho, o apelo também diz respeito ao papado como forma de exercício do ministério petrino.

João Paulo II, na encíclica sobre a unidade dos cristãos (Ut unum sint, 1995), tivera a audácia de pôr em discussão a forma do exercício do ministério petrino, convidando ortodoxos e protestantes a fazer sugestões para uma maior fidelidade ao Evangelho e à intenção do Senhor no exercício do bispo de Roma. O então cardeal Joseph Ratzinger, a esse respeito, também tinha dito que as Igrejas ortodoxas não deveriam ter aceitado uma forma de ministério petrino diferente da exercida no primeiro milênio. Mas, então, um forte silêncio caiu sobre esse convite de João Paulo II.

O papa Francisco sabe que o caminho da reconciliação entre as Igrejas não pode ignorar que a forma atual do exercício do papado constitui um obstáculo decisivo para ortodoxos e protestantes... É preciso a audácia de ouvir todos juntos o Evangelho e a grande Tradição, é preciso não ter medo.

Mas é significativo que o papa retome outro tema conciliar, o da hierarquia das verdades. Ele convida, tanto para as verdades de fé, quanto para os ensinamentos da Igreja e da moral, a não se achatar tudo, mas a reconhecer o que é primário, fundamental, e que, ao invés, é derivado; o que é essencial e o que deixa possível a liberdade de adesão ou não. Não basta a obsessão da ortodoxia para estar de acordo com o pensamento de Jesus Cristo. As expressões da fé devem ser plurais, porque "multicolorida é a sabedoria de Deus" (Ef 3, 10), adverte o Apóstolo.

E, por fim, o papa – agora já entendemos – gosta de expulsar os hipócritas, ou seja, aqueles cristãos que amam a mundanidade travestida de atitudes espirituais. Aparentemente são muito religiosos, mas não se preocupam com os pobres cristãos confiados a eles. Eles pensam que são solidários com a humanidade através da sua "presença" em jantares e em recepções, ou imergindo em um funcionalismo empresarial, cujo beneficiário não é a Igreja dos fiéis, mas sim a instituição eclesiástica. Palavras duras como as de Jesus aos homens religiosos do seu tempo!

Para o papa Francisco, a mundanidade é o ordenamento injusto deste mundo, as suas estruturas de escravidão, violência e mentira, os poderes invisíveis e ocultos que Paulo chama de árchontes, "poderosos deste mundo" (1Cor 2, 6.8). Por isso, ele lembra que a potestade de quem é ministro na Igreja também deve se inscrever apenas ao espaço da função, não da dignidade e da santidade, porque a dignidade vem do batismo e pertence a todos os cristãos, assim como o chamado à santidade.

Eu destaquei apenas alguns pontos da exortação que parecem inéditos e autônomos com relação às vozes do Sínodo de 2012: são o pensamento e o projeto de Francisco, atualmente bispo de Roma. É claro que esse início de pontificado, as palavras e os gestos desse papa e, por fim, essa exortação alegram muitos católicos e não só. Há grande alegria e expectativa, há um clima de primavera às vezes exaltante e maravilhado. Nunca pequei por papolatria, mas não posso deixar de reconhecer que eu também participo dessa alegria eclesial. No entanto, sem querer ser o "profeta da desgraça" (e eu me guardo bem disso, mêmore da advertência de João XXIII na abertura do Concílio), gostaria de lembrar apenas aquilo que um olhar cristão sabe prever.

Se realmente com o papa Francisco nos encaminhamos a uma reforma evangélica da Igreja, não devemos cair em um otimismo fácil ou em uma atmosfera de canto de "vitória". Porque quanto mais a Igreja se torna conforme ao seu Senhor, mais ela conhece fadigas, sofrimentos e até mesmo dilacerações: há um necessitas passionis da Igreja que se deve àquela que foi a necessitas passionis do seu Senhor Jesus Cristo.

O que aconteceu com Jesus acontecerá para a Igreja e para cada comunidade cristã, se for conforme ao seu Senhor, porque as potências mundanas postos contra o muro pela "lógica da cruz" (1Cor 1, 18) se soltarão, e isso vai causar um "choque" com o mundo, aquela realidade que Francisco chama de mundanidade. A conversão de cada um, e mais ainda a da Igreja, comporta tudo isso.

A Igreja sempre é tentada a se render ao mundo, não mostrando mais a diferença cristã, esvaziando a cruz, diluindo o Evangelho, curvando-se às exigências mundanas; ou é tentada a enfrentar o mundo com intransigência e a se munir com as mesmas armas da mundanidade: presença gritada, vontade de contar e de ser contado, atitude de grupo de pressão. Em particular, será sempre difícil realizar "uma Igreja pobre, de pobres e para os pobres", uma Igreja que não conte com os poderosos deste mundo.

Portanto, o entusiasmo com o papa Francisco é grande e não deve ser apagado, mas devemos permanecer vigilantes e, acima de tudo, estar conscientes de que, se o papa não for ajudado pelos bispos, pelos presbíteros e pelo povo, ele não conseguirá fazer nenhuma reforma. As reformas precisam da conversão e do apoio do povo de Deus, não podem ser tarefa de um só. O papa Francisco vai ter contra ele principalmente o vento das potências adversas, porque terá que entrelaçar fatigantemente as reformas eclesiais com o princípio sinodal.

E, como todo profeta, ele será mais ouvido – como aconteceu com o Batista e com Jesus – por aqueles que se reconhecem como pecadores, "publicanos e prostitutas" (cf. Mt 21, 2; Lc 7, 34; 15, 1), "samaritanos e estrangeiros" (cf. Lc 17, 38; Jo 4, 39-40), e não por aqueles da sua própria casa.

Dizia-me Hans Urs von Balthasar: "A Igreja conheceu poucas primaveras, sempre interrompidas por geadas repentinas". Preparemos tudo para que esta primavera desabroche e dê os seus frutos.
La Repubblica, 04-12-2013.
*Enzo Bianchi é monge e teólogo.

Evangelho do dia

Ano C - 06 de dezembro de 2013

Mateus 9,27-31

Aleluia, aleluia, aleluia.
Eis que virá o nosso Deus com poder e majestade,
E ele há de iluminar os olhos dos seus servos!

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
9 27 Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: "Filho de Davi, tem piedade de nós!"
28 Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: "Credes que eu posso fazer isso?" "Sim, Senhor", responderam eles.
29 Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: "Seja-vos feito segundo vossa fé".
30 No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: "Vede que ninguém o saiba".
31 Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a região.
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
TEM COMPAIXÃO DE NÓS!
O milagre que beneficiou os dois cegos prenuncia a experiência dos discípulos do Reino, à espera do Senhor. Urge que o próprio Mestre lhes abra os olhos, de modo a poderem discernir sua presença na história humana.
Ter os olhos abertos é sinal de libertação da tirania do egoísmo, que faz o ser humano centrar-se em si mesmo e ser incapaz de perceber a maravilhosa obra de Deus acontecendo a seu redor. Desfeitas as trevas do erro e do pecado, torna-se possível ao discípulo perceber a revelação divina em acontecimentos singelos, imperceptíveis ao olhar puramente humano. Sem perfeita visão espiritual fica-se impossibilitado de reconhecer o Senhor.
A superação da cegueira começa quando o discípulo volta-se confiante para o Senhor, de quem implora compaixão. É a humildade de quem se reconhece carente da misericórdia divina.
Outro pressuposto é a fé. Ela é, em última análise, o princípio de tudo. Porque crê em Jesus, o discípulo deseja ter "olhos" para vê-lo, quer ser curado de sua cegueira, predispõe-se a fazer tudo quanto for necessário para ver realizado o seu desejo, deixa-se tocar por Jesus e sabe aproveitar do encontro com ele.
Jesus sempre está disposto a curar a cegueira de quem o desejar. Afinal, um dos sinais da presença do Messias na história humana, conforme os profetas anunciaram, consiste exatamente na restituição da vista aos cegos.

Oração
Pai, cura-me da cegueira que me impede de reconhecer a presença de tua salvação na minha vida, realizada pela ação misericordiosa de teu Filho Jesus.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Leitura
Isaías 29,17-24
Leitura do livro do profeta Isaías.
Assim fala o Senhor Deus: 29 17 "Acaso, dentro de mui pouco tempo, não será o Líbano convertido em vergel, e o vergel não passará por floresta?
18 Naquele tempo os surdos ouvirão as palavras de um livro; e, livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão.
19 Os humildes encontrarão cada vez mais ventura no Senhor e os homens mais pobres, graças ao Santo de Israel, estarão jubilosos.
20 Pois não haverá mais tiranos, já terá desaparecido o cético, e todos os que planejavam o mal serão exterminados;
21 os que, por uma palavra, acusam os outros; os que, à porta, procuram enganar o juiz e por um nada fazem o inocente perder sua causa".
22 Por isso eis o que disse o Senhor, o Deus da casa de Jacó, que resgatou Abraão: "Daqui em diante Jacó não será mais confundido, e seu rosto não mais empalidecerá,
23 porque, quando virem nele minha obra, bendirão o meu nome. Glorificarão o Santo de Jacó e temerão o Deus de Israel.
24 Os espíritos desencaminhados aprenderão sabedoria, e os que murmuravam receberão instrução".
Palavra do Senhor.
Salmo 26/27
O Senhor é minha luz e salvação.

O Senhor é minha luz e salvação;
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;
perante quem eu tremerei?

Ao Senhor eu peço apenas uma coisa,
e é só isto que eu desejo:
habitar no santuário do Senhor
por toda a minha vida;
saborear a suavidade do Senhor
e contempla-lo no seu templo.

Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver
na terra dos viventes.
Espera no Senhor e tem coragem,
espera no Senhor!
Oração
Despertai, Senhor, vosso poder e vinde, para que vossa proteção afaste os perigos a que nossos pecados nos expõem e a vossa salvação nos liberte. Vós que sois Deus como Pai, na unidade do Espírito Santo.

Fala, Frei Rosário


O centenário de nascimento de um ícone da mais alta relevância no cenário religioso, cultural, político e social de Minas Gerais é celebrado em 2013. Frei Rosário Joffily, que morreu em 2000, frade dominicano, sacerdote, eremita, construtor, referência de cultura, desenhista de horizontes largos e ricos, era um defensor extraordinário da Serra da Piedade, sentinela imortal do Santuário Nossa Senhora da Piedade, a Padroeira de Minas Gerais. Nasceu no dia 6 de janeiro de 1913 e dedicou meio século de sua vida na defesa, promoção e consolidação do conjunto paisagístico, arquitetônico, religioso, histórico e cultural da Serra da Piedade.

Frei Rosário chegou ao Santuário nos idos de 1950, convidado pelo Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, um filho apaixonado desta terra mineira. Dedicando sua vida à defesa do Santuário e da Serra da Piedade, frei Rosário fortaleceu a chama do seu amor por esta dádiva de Deus, herança nossa que vamos sempre preservar e defender. Premiada a Arquidiocese de Belo Horizonte com a tarefa de ser guardiã desse território sagrado,  está sempre atenta a ouvir a voz de frei Rosário  para fortalecer o compromisso com a proteção do Santuário da Padroeira de Minas e da Serra da Piedade. Ouvi-lo é reconhecer e assumir seu legado na defesa desse território sagrado.

Fala, frei Rosário, desta etapa nova do Santuário Nossa Senhora da Piedade, um processo irreversível de ocupação dos corações de todos os mineiros, fazendo de cada um seus defensores e vigilantes. Fala com voz forte e determinante, maior mesmo que de instâncias judiciais e governamentais, devendo estas, e outras todas, escutar a voz do povo, particularmente dos mineiros, sensibilizados e conscientes defensores das áreas de preservação.

Fala, frei Rosário, com sua autoridade imortal e na celebração do centenário de seu nascimento, de sua luta incansável contra voracidades das mineradoras, de seu empenho para construir um exército de defensores, que reúne organizações não governamentais, homens e mulheres de boa vontade,  todos  amigos da Serra da Piedade. Um trabalho que conquistou, já em 26 de setembro de 1956, o tombamento do conjunto arquitetônico e paisagístico da Serra da Piedade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O zelo e defensoria do frei Rosário, em escritos, entendimentos, posicionamentos firmes e inequívocos, consolidação da devoção dos peregrinos, especialmente dos mais humildes, que sobem a Serra da Piedade em oração rumo ao Santuário, se desdobraram em luta árdua dos que proporcionaram lucidez ao Governo do Estado de Minas Gerais. Em 16 de junho de 2004, o Governo sancionou a Lei 15.178/04, definindo os limites de conservação da Serra da Piedade, de acordo com Diretrizes do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), considerada Área de Proteção Ambiental, em cumprimento do Artigo 84 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de Minas. Um passo inteligente, em confirmação ao que determina a Constituição do Estado, que define a Serra da Piedade como Unidade de Conservação Estadual na Categoria de Monumento Natural. Importantíssimo ainda foi o tombamento do Conjunto Cultural, Arquitetônico, Paisagístico e Natural da Serra da Piedade pelo município de Caeté, a partir do Decreto 2.067/04.

A história do Santuário Nossa Senhora da Piedade, a Serra e seu entorno, a partir da segunda metade do século 20 - inclusive destes últimos 13 anos - arregimentou instâncias governamentais, instituições, organizações não governamentais, devotos e amigos, todos os que sabem da urgência e delicadeza do compromisso de salvaguardar o meio ambiente. Assim, não se pode admitir que uma única instância, mesmo na sua validade jurídica institucional, determine o destino desse território sagrado.

O processo de recuperação do estrago, chaga no entorno da Serra da Piedade, verdadeira abominação da desolação, deve ser amplamente discutido, não apenas em escritórios de interesses particulares. Mesmo as instâncias judiciais devem estar abertas a escutas e ponderações da maioria absoluta, principalmente dos que defendem a natureza, a sua recuperação natural, sem lhe ferir ainda mais, com a justificativa de que é o meio para a recuperação. A Arquidiocese de Belo Horizonte, aguerrida guardiã da Serra da Piedade, inarredável na trilha de frei Rosário, vem adquirindo territórios para melhor lutar por sua preservação.  No final de 2011, readquiriu um terreno, passado a terceiros, mais de vinte anos atrás, pelo próprio frei Rosário, que na sua lucidez o trocou por outro para garantir, na época, o futuro do Santuário.

O terreno recuperado em 2011, com água corrente, hoje é denominado Retiro da Piedade. Ele representa a reconquista da inteireza do território do Santuário, na luta por sua preservação e condição intocável. Neste ano do centenário de nascimento de frei Rosário, na sua permanente escuta e inspiração por sua luta admirável, é hora de intensificar a movimentação em defesa e preservação da Serra da Piedade, lutando com toda a garra e empenhos, contando com a fidelidade à palavra dada em leis, por parte das instituições governamentais. Todos devem cultivar a coragem aguerrida pelo sentido adequado de salvaguarda do meio ambiente, com a respeitosa e consolidada presença da Igreja Católica e das confissões religiosas que incluem na sua vivência de fé o compromisso com a natureza.  Estamos em batalha, defendendo a Serra da Piedade e seu entorno, contra intervenções inoportunas, no horizonte indelével da fala do frei Rosário. Vença nesta luta a verdade, o bom senso e o respeito ao meio ambiente.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.