domingo, 6 de outubro de 2013

Papa aconselha casais a pedir desculpas após brigas


Assis - O papa Francisco deu conselhos sobre relacionamentos amorosos e disse que os casais "precisam aprender a pedir desculpas", em um discurso feito nessa sexta-feira (4) a jovens italianos na cidade de Assis.
"A sociedade em que vocês nasceram privilegia os direitos individuais em vez dos familiares. Privilegia apenas as relações que duram enquanto não surgem dificuldades. E é por isso que se fala de maneira superficial e equívoca sobre casais, família e matrimônio. É só olhar alguns programas televisivos para constatar", afirmou Francisco.
Ressaltando que o matrimônio é "uma verdadeira vocação", o papa disse que os jovens não precisam ter "medo" das uniões estáveis. "Quero dizer a vocês para não terem medo de dar passos definitivos na vida, como o do casamento", aconselhou. "Às vezes, penso nos casamentos que, depois de tantos anos, passam por uma separação. Alguns dizem ´não nos entendemos mais´, ´nos afastamos´. Na verdade, talvez os casais não souberam pedir desculpas em tempo. Talvez não tenham sabido perdoar em tempo", afirmou o papa.
"Sempre digo isso aos jovens casais: Briguem quando quiserem, deixem os pratos voarem se for preciso, mas nunca terminem o dia sem fazer as pazes", recomendou. Em tom de brincadeira, Francisco também contou que, "quando uma mãe vem até mim e diz que tem um filho de 30 anos que não se casa, mesmo tendo uma bela namorada, eu repondo: ´Senhora, então não passe mais as camisas dele!".
SIR/ANSA

Roteiro Homilético

    06 de outubro / 2013 - 27º domingo do tempo comum/C



    Liturgia do domingo. 

    A SOBERANIA DE DEUS E NOSSA FÉ 

    1ª leitura: (Hab 1,2-3; 2,2-4) O profeta pede explicação a Deus – Hab 1,2–2,4 é um diálogo entre Deus e o profeta. O profeta se queixa, porque a impiedade está vencendo. O direito e o próprio justo são pisados ao pé. Resposta: vem coisa pior ainda! Deus não precisa prestar contas para o homem. Este é que lhe deve obediência, também nas horas difíceis: “fé/fidelidade” que faz viver o justo (Hab 2,4). * 1,2-3 cf. Sl 13[12],2-3; 22[21],2-3; 55[54],10-12; Jr 9,2-3; Am 3,9-10 * 2,2-3 cf. Is 8,10; 30,8; Dn 8,26; 10,14; 2Pd 3,4-10; Hb 10,37 * 2,4 cf. Sl 37[36],3,-6; Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38.
    2ª leitura: (2Tm 1,6-8.13-14) Não se envergonhar do Evangelho e guardar o bem depositado – Em Rm 1,16, Paulo escreveu que não se envergonhava por causa do Evangelho. 2Tm repete a mesma coisa como exortação aos pastores, que precisam lembrar-se de que estão servindo ao Cristo aniquilado. O “bom depósito” (o bem depositado neles) é a plena verdade do Evangelho. Repletos dela, poderão distribuí-la aos outros. O cristão é responsável não só por sua própria fé, como também pela do seu irmão. * 1,6-8 cf. 1Tm 4,14; Rm 8,15; 1,16 * 1,13-14 cf. 2Tm 4,3; 1Tm 6,20.
    Evangelho: (Lc 17,5-10) Somos simples servos – A palavra de Jesus precisa às vezes de muita fé para ser acolhida. Daí os discípulos disserem: “Dá-nos mais fé”. Pois o evangelho não é tão evidentemente gratificante. Somos como peões de fazenda, que, depois de ter executado seu longo e cansativo serviço, não podem reclamar, pois apenas cumpriram seu dever (cf. 1Cor 9,16). Deus não precisa prestar contas a nós. * 17,5-6 cf. Mc 9,24; Mt 17,20; 21,21 * 17,8 cf. Lc 12,37; 22,27; Jo 13,1-16. 
    ***   ***   *** 
    O mote da liturgia de hoje é: fé-fidelidade (o termo bíblico tem os dois sentidos). Quando Habacuc (1ª leitura), diante da desordem em Judá, nos últimos anos antes do exílio, grita a Deus com impaciência, quase com desespero, Deus anuncia que ele tratará o mal por um remédio mais tremendo ainda: os babilônios. À objeção de Habacuc contra esta solução, Deus responde: “Eu sei o que faço; não preciso prestar contas; mas os justos se salvarão por sua fidelidade” (2,2-4). O evangelho começa com a prece dos Apóstolos: “Senhor aumenta-nos a fé”. O sentido de “fé” é um pouco diferente daquilo que Habacuc quer dizer. No A.T., trata-se da autenticidade e lealdade para com Deus, a fidelidade; no N.T., da adesão a Jesus Cristo (ambas as atitudes são indicadas pelo mesmo termo em grego, pistis, e em latim, fides). De fato, a adesão de fé implica também a lealdade e a fidelidade. A resposta de Jesus é uma admoestação para que tenham mais fé, fé que transporta montanhas! Jesus utiliza aqui o estilo hiperbólico dos orientais, mas não deixa de ser verdade que, quem se entrega em confiança a Deus em Jesus Cristo, faz coisas que outros não fazem e que ele mesmo não se julgava capaz de fazer.
    Assim como, em Hab, Deus não presta contas ao profeta, vemos, no evangelho, Deus como um senhor que não precisa prestar contas a seus escravos. Depois do longo trabalho no campo, ele pode ainda pedir que eles preparem a comida e lha sirvam sem reclamar, pois fizeram somente seu dever. Claro que Jesus não está justificando este modo de agir; apenas descreve a realidade de seu tempo para expressar uma ideia religiosa: que Deus não precisa prestar contas: quando o servimos, fazemos apenas o que devemos fazer.
    Mensagem chocante em nosso mundo, onde a mínima prestação de serviço exige uma gratificação específica. Ainda que, muitas vezes, a gratificação não valha o serviço, essa mentalidade exclui todo o espírito do serviço gratuito. Ora, no Reino de Deus somos participantes; nossa recompensa existe no participar, como Paulo diz a respeito do anunciar o evangelho gratuitamente (1Cor 9,16). Na realidade Jesus usa um exemplo tirado de uma sociedade paternalista. Ao interpretar, devemos excluir esses traços paternalistas. O que Jesus quer mostrar é que participamos no projeto de Deus não em função de uma compensação extra, mas porque é a obra de Deus. Pois o próprio Deus é nossa recompensa, a realização de seu amor supera qualquer recompensa que poderíamos imaginar.
    Na 2ª leitura Paulo admoesta seu amigo Timóteo a manter plena fidelidade ao Senhor. Pois também o ministro da fé deve firmar-se na fidelidade, para poder firmar seus irmãos na fé. Não se envergonhar (o cristianismo era ridicularizado e perseguido nas cidades do mundo “civilizado” de então), observar a doutrina sadia recebida do Apóstolo (contra as fantasias gnósticas e outras que se introduziram no cristianismo primitivo), guardar o “bom depósito”, ou seja, o bem a ele confiado, o evangelho. Nas circunstâncias daquele tempo e de todos os tempos, isso só é possível com a força do Espírito Santo.
    Recebemos hoje, portanto, uma mensagem para valorizar a fé, inclusive, como base da oração. Mas nossa fé não é uma espécie de fundo de garantia para que Deus nos atenda. Assim como ele não precisa prestar contas, também não é forçado por nossa fé. Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus em Jesus Cristo. Deus mesmo, porém, é soberano, e soberanamente nos dá mais do que ousamos pedir (oração do dia). 

    SOMOS SIMPLES SERVOS 

    Quem não gosta de um elogio? Não estão nossas igrejas tradicionais cheias de inscrições elogiando os generosos doadores dos bancos, dos vitrais ou da imagem de Sta. Filomena?
    Ora, o evangelho nos propõe uma atitude que parece inaceitável a uma pessoa esclarecida, hoje em dia: o empregado não deve reclamar quando, depois de todo o serviço no campo, em vez de ganhar elogio, ele ainda deve servir a janta. Ele é um empregado sem importância; tem de fazer seu serviço, sem discutir.
    Jesus nos quer ensinar a estar a serviço do Reino sem darmos importância a nós mesmos. Ele mesmo dará o exemplo disso, apresentando-se, na Última Ceia, como aquele que serve (Lc 22,27). Isto não rima com a mentalidade calculista e materialista da nossa sociedade, que procura compensação para tudo o que se faz – aliás, compensação superior ao valor daquilo que se fez...
    Se levarmos a sério a parábola de Jesus, como então ensinamos aos empregados e operários reivindicarem sempre mais (porque, se não reivindicam, são explorados)? Certamente, Jesus não quer condenar os movimentos de reivindicação. A questão é outra. Ele quer apontar a dedicação integral no servir. Interesse próprio, lucro, reconhecimento, fama, poder... não são do nível do Reino, mas apenas da sobrevivência na sociedade que está aí. A parábola não serve para recusar as reivindicações de justiça social, mas para declarar impróprios os interesses pessoais no serviço do Reino.
    Convém fazer um sério exame de consciência sobre a retidão e a gratuidade de nossas intenções conscientes e de nossas motivações inconscientes. Na Igreja, tradicional ou progressista, quanta ambição de poder, quanto querer aparecer, quantas compensaçõezinhas!
    E mesmo com relação às estruturas da sociedade, a parábola de Jesus hoje nos ensina a não focalizarmos única e exclusivamente as reivindicações. Estas são importantes, no seu devido tempo e lugar, para garantir a justiça e conseguir as transformações necessárias. Mais fundamental, porém, na perspectiva de Deus, é criar o espírito de serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago. Quem vive no espírito de comunhão nunca achará que está fazendo demais para os outros.
    “Somos simples servos”. Antigamente se traduzia: “Somos servos inúteis”. Tal tradução era psicológica e sociologicamente nefasta, pois fomentava a acomodação, além de contraditória, pois servo inútil não serve... Servindo com simplicidade, não em função de compensações egoístas, mas em função da fidelidade e da objetividade, somos muito úteis para o projeto de Deus.
    (O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)

Somos simples servos

Roteiro Homilético

A proposta de reflexão para a liturgia de domingo é de autoria do Pe. Johan Konings SJ, com a contribuição do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Professor e Reitor da FAJE.

Quem não gosta de um elogio? Não estão nossas igrejas tradicionais cheias de inscrições elogiando os generosos doadores dos bancos, dos vitrais ou da imagem de Sta. Filomena?
Ora, o evangelho nos propõe uma atitude que parece inaceitável a uma pessoa esclarecida, hoje em dia: o empregado não deve reclamar quando, depois de todo o serviço no campo, em vez de ganhar elogio, ele ainda deve servir a janta. Ele é um empregado sem importância; tem de fazer seu serviço, sem discutir.
Jesus nos quer ensinar a estar a serviço do Reino sem darmos importância a nós mesmos. Ele mesmo dará o exemplo disso, apresentando-se, na Última Ceia, como aquele que serve (Lc 22,27). Isto não rima com a mentalidade calculista e materialista da nossa sociedade, que procura compensação para tudo o que se faz – aliás, compensação superior ao valor daquilo que se fez...
Se levarmos a sério a parábola de Jesus, como então ensinamos aos empregados e operários reivindicarem sempre mais (porque, se não reivindicam, são explorados)? Certamente, Jesus não quer condenar os movimentos de reivindicação. A questão é outra. Ele quer apontar a dedicação integral no servir. Interesse próprio, lucro, reconhecimento, fama, poder... não são do nível do Reino, mas apenas da sobrevivência na sociedade que está aí. A parábola não serve para recusar as reivindicações de justiça social, mas para declarar impróprios os interesses pessoais no serviço do Reino.
Convém fazer um sério exame de consciência sobre a retidão e a gratuidade de nossas intenções conscientes e de nossas motivações inconscientes. Na Igreja, tradicional ou progressista, quanta ambição de poder, quanto querer aparecer, quantas compensaçõezinhas!
E mesmo com relação às estruturas da sociedade, a parábola de Jesus hoje nos ensina a não focalizarmos única e exclusivamente as reivindicações. Estas são importantes, no seu devido tempo e lugar, para garantir a justiça e conseguir as transformações necessárias. Mais fundamental, porém, na perspectiva de Deus, é criar o espírito de serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago. Quem vive no espírito de comunhão nunca achará que está fazendo demais para os outros.
“Somos simples servos”. Antigamente se traduzia: “Somos servos inúteis”. Tal tradução era psicológica e sociologicamente nefasta, pois fomentava a acomodação, além de contraditória, pois servo inútil não serve... Servindo com simplicidade, não em função de compensações egoístas, mas em função da fidelidade e da objetividade, somos muito úteis para o projeto de Deus.

Em Assis, papa critica 'cristãos de confeitaria'


Assis - O papa usou a palavras muito duras, na manhã desta sexta-feira (5), na cidade de Assis, para criticar aqueles que se dizem cristãos sem querer abraçar a cruz que acompanha sempre essa fé. Depois de uma manhã intensiva, que incluiu a visita a um hospital de crianças e adultos com múltiplas deficiências e a um lar da Cáritas que auxilia pobres, o papa chegou à sede do Bispado, construída no local onde São Francisco começou o seu ministério, despojando-se dos seus bens materiais.
Recorrendo ao texto preparado, do qual o papa não leu, mas cujo conteúdo o Vaticano disponibilizou para publicação, pode-se ver exatamente o que pensa Francisco sobre o que os cristãos devem largar: "De que é que a Igreja se deve despojar? De toda a mundanidade espiritual, que é uma tentação para todos: de toda a ação que não é para Deus, não é de Deus; do medo de abrir as portas e sair ao encontro de todos, especialmente dos mais pobres, necessitados, afastados, sem esperar nada; certos não para se perderem no naufrágio do mundo, mas para levar com coragem a luz de Cristo, a luz do Evangelho, mesmo na escuridão onde não se vê e onde se pode tropeçar; despojar-se da tranquilidade aparente que dão as estruturas, certamente necessárias e importantes, mas que nunca devem ofuscar a única força verdadeira que traz em si: Deus. Ele é a nossa força! Despojar-se daquilo que não é essencial, porque a referência é Cristo: A Igreja é de Cristo."
Nas suas primeiras palavras na Sala chamada do despojamento, o papa voltou a deixar de lado o seu discurso preparado e ergueu a voz contra aqueles que querem agarrar-se apenas às coisas boas do Cristianismo. Falando naqueles sala onde que São Francisco, séculos atrás, se despojou dos seus bens materiais o papa disse: “Esta é uma boa ocasião para fazer um convite à Igreja a despojar-se. Mas a Igreja somos todos nós. Todos somos Igreja. E, se nós queremos ser cristãos, não há outro caminho. Não podemos fazer um cristianismo mais humano, por assim dizer, sem a cruz, sem Jesus, sem despojamento.” Quem não o faz arrisca-se a ser um “cristão de confeitaria”, que escolhe apenas a parte mais doce, afirmou o papa.
“Aí, tornamo-nos ‘Cristãos de confeitaria’, como bonitos bolos, bonitos doces, mas não cristãos verdadeiros", sublinhou Francisco. O papa voltou ainda a criticar a tentação da mundanidade, algo que considera incompatível com a missão da Igreja, ao ponto de ter dito mesmo que a mundanidade é o “câncer da Igreja”.
Ao despojarem-se, os cristãos devem despojar-se também da mundanidade, defendeu: "A igreja deve despojar-se hoje de um perigo gravíssimo, que ameaça todas as pessoas da Igreja: o perigo da mundanidade. A mundanidade que reporta à vaidade, à prepotência, ao orgulho. É ridículo que um cristão verdadeiro, que um padre, uma irmã, um bispo, um cardeal, um papa queiram seguir a estrada da mundanidade, que é uma atitude homicida. A mundanidade espiritual mata. Mata a alma, mata a pessoa, mata a Igreja".
Antes de seguir para a missa campal, o Papa encontrou alguns sobreviventes do holocausto, escondidos pelo então Bispo de Assis e pelos frades franciscanos, precisamente, na sala do despojamento.
SIR

Católicos norte-americanos aprovam reformas de Francisco


Os comentários do papa Francisco, de que a Igreja não deveria se centrar na homossexualidade, o aborto e os anticonceptivos contaram com importante apoio dos católicos dos Estados Unidos, segundo uma pesquisa da Universidade de Quinnipiac, divulgada na sexta-feira (4).

Entre os católicos dos Estados Unidos, 68% concordam com os comentários feitos pelo Papa numa entrevista publicada, no mês passado, pela revista jesuíta Civiltà Cattolica, ao passo que 23% não concordam com suas opiniões, segundo a pesquisa. Havia poucas diferenças entre católicos mais ou menos praticantes, entre homens e mulheres e entre diferentes grupos de idade, acrescentou a pesquisa.

Os católicos dos Estados Unidos também gostam de seu novo papa, e 89% possuem uma opinião favorável ou muito favorável e apenas 4% contam com uma opinião desfavorável, segundo a pesquisa.
"Talvez, simplesmente, estivessem esperando um jesuíta", disse Maurice Carroll, diretor do Instituto Universitário Quinnipiac. Francisco é o primeiro papa jesuíta, uma ordem conhecida por seus intelectuais e iconoclastas.

Na entrevista, Francisco reafirmou os ensinamentos tradicionais da Igreja, mas disse que se deve “encontrar um novo equilíbrio” ou corre-se o risco de que todo o edifício moral seja derrubado, “como um castelo de cartas”.

A pesquisa também avaliou que 60% dos católicos estadunidenses apoiam que as mulheres possam ser ordenadas, apesar do Papa ter repetido, recentemente, a impossibilidade de que isso seja aconteça. O apoio é mais alto entre aqueles que vão à missa com menor frequência e entre os maiores de 65 anos.

A pesquisa também revelou que a opinião dos católicos sobre o aborto é semelhante a da maioria dos adultos estadunidenses. Para 52% dos católicos o aborto deveria ser legal para a maioria dos casos, frente a 53% do público em geral.
Religión Digital, 04-10-2013.

Congresso Internacional comemora os 50 anos da Pacem in Terris


O papa Francisco remarcou que “não apenas os principais direitos civis e políticos devem ser garantidos, mas que é preciso oferecer a cada um a possibilidade de ter efetivamente acesso aos meios essenciais de subsistência, à alimentação, água, moradia, saúde, educação e à possibilidade de formar e manter uma família”. “Estes são os objetivos que têm prioridade impostergável na ação nacional e internacional”, destacou.

Na sua audiência com os participantes do Congresso Internacional por ocasião dos 50 anos da publicação da encíclica Pacem in Terris, promovido pelo Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz, recalcou que este texto eclesial ressalta precisamente que o valor e a dignidade de cada ser humano “deve ser promovido, respeitado e tutelado sempre”.

Neste sentido, advertiu que não pode haver paz em uma sociedade que não trabalha pela justiça e pela solidariedade. Assim, o Pontífice precisou que esta encíclica escrita pelo beato João XXIII, que será canonizado no próximo dia 27 de abril de 2014 junto com João Paulo II, recorda que “não pode haver verdadeira paz e harmonia se não se trabalha por uma sociedade mais justa e solidária, se não se superam os egoísmos, os individualismos e os interesses de grupo em todos os níveis”.

Além disso, o papa destacou que a encíclica Pacem in Terris não propõe que a Igreja tem como tarefa dar indicações concretas em matérias políticas, econômicas e sociais “nem indicar soluções práticas, mas o diálogo, a escuta, a paciência, o respeito pelo outro, a sinceridade”.

O Congresso reuniu 250 especialistas de diversos países em de quarta-feira até sexta-feira para abordar também a reforma da ONU, a cargo do professor Joseph Deiss, que foi presidente da Assembleia Geral da ONU, e o tema da paz do ponto de vista da educação, ciências e cultura, a cargo da Diretora Geral da UNESCO, Irina Bokova.

Assim mesmo, no Congresso são abordadas outras questões, como o trabalho, o desemprego e a proteção dos direitos humanos, tratados por acadêmicos em nível internacional. Em particular, o secretário deste dicastério, o bispo Mario Toso, indicou a importância do direito ao trabalho “que é um bem fundamental para a pessoa, para sua socialização, formação de uma família, contribuir para o bem comum e a realização da paz”. Por isso, concluiu que a tal bem “correspondem deveres e direitos que exigem corajosas e novas políticas do trabalho para todos”.
Religión Digital, 03-10-2013.

A nova Constituição de Francisco

Por Giacomo Galeazzi

Adeus, Pastor Bonus. A Constituição Apostólica que regula o funcionamento da cúria será substituída dentro de pouco tempo por uma nova “Carta”. Durante o encontro, nesta quinta-feira com os jornalistas, o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, anunciou que do C8 dos cardeais-conselheiros não sairão “emendas ou mudanças marginais”, mas a “redefinição em conjunto da organização da cúria”. Será realizada em tempos racionalmente factíveis, mas o resultado foi traçado: a constituição que “aposentará” a Pastor Bonus refletirá uma “configuração nova em pontos relevantes” e estará inspirada no princípio da subsidiariedade. O resultado será uma cúria a serviço das Igrejas locais.

Acabou-se o “centralismo romano”. Além dos temas da Pastoral Familiar (que inclui também a questão da comunhão aos divorciados em segunda união), haverá discussões sobre o Sínodo dos Bispos, cujo programa já foi definido pelos cardeais. A Secretaria de Estado será transformada em uma secretaria papal e, provavelmente, terá um “moderator curiae” que facilitará a coordenação entre os diferentes entes vaticanos. O tema dos leigos na Igreja terá uma importância maior. Estas são algumas das ideias que surgiram durante os trabalhos do conselho de cardeais, que voltará a se reunir em fevereiro de 2014.

“Particularmente evidente nas considerações do Conselho foi a intenção de insistir no papel de serviço da cúria à Igreja universal e às Igrejas locais”, destacou o padre Federico Lombardi. Os oito cardeais (de onde vem a abreviação C8) conselheiros do Papa propuseram o tema da subsidiariedade, isto é, um papel não “central” do Vaticano, segundo um esquema no qual Roma desenvolve “o que é necessário para ajudar o bom trabalho” da Igreja no mundo.

O conselho dos oito cardeais, que se reuniu de segunda até quinta-feira com o Papa, dedicou o último dia principalmente ao tema da “reforma da cúria” romana. Não se caminha na direção de uma “simples atualização” da Pastor Bonus, a Constituição Apostólica de 1988 sobre a cúria romana, “com retoques cosméticos, pequenos ajustes ou revisões marginais”, mas na direção da “redação de uma constituição com novidades muito consistentes”. Segundo o padre Lombardi, “ao final do trabalho”, que “irá requer o tempo adequado”, “creio que devemos esperar uma nova constituição”.
Vatican Insider, 03-10-2013.

Francisco e o destino da modernidade


O papa parece criar um espaço de diálogo novo. Onde crentes e não crentes possam se reencontrar. A grande arte de Francisco é saber fazer isso em um nível que não é intelectual. Ele fala diretamente à vida, que é de todos, do rico e do pobre, do culto e do ignorante.

Francisco abençoa bebê: o papa cria espaço de diálogo onde crentes e não crentes podem se reencontrar.
Por Mauro Magatti

As notícias que, nestes anos difíceis, chegam do mundo suscitam grandes apreensões: focos de guerra e de violência, uma crise econômica que não se consegue domar e que afeta duramente as mulheres e os mais fracos.

Acrescentam-se democracias em dificuldade – e não só na Itália, mas também nos EUA –; fatos dramáticos, como as recentes e trágicas mortes dos jovens etíopes nas praias sicilianas; vidas esquecidas de tantos idosos que se deslocam como sobreviventes pelas ruas das nossas cidades ou de tantos jovens que, juntamente com o trabalho, têm o seu futuro negado.

O quadro não é totalmente sombrio, ainda bem. Há muitos que constroem, que trabalham pela paz e pela justiça, que reagem à perda do sentido. Mas não se pode negar que o tempo que nos toca viver está repleto de incógnitas. A crise econômica de 2008 nos inseriu, definitivamente, no século XXI, que se destaca com as suas dinâmicas tão diferentes das do período histórico às nossas costas. Para além da propaganda cotidiana, sabemos muito bem que o problema não é voltar atrás – o que, além de ser impossível, não é nem desejável –, mas sim entender como seguir em frente, como imaginar e realizar o nosso futuro.

É nesse marco de profunda mudança histórica que deve ser colocada a figura de Francisco, o primeiro papa não europeu, tão distante das lógicas estreitas da nossa política e das preocupações mundanas de uma grande parte da Cúria. Com a sua eleição, aconteceu algo semelhante à eleição de Wojtyla. À época, a história do papa polonês se entrelaçou com a queda da União Soviética. Hoje, a do papa sul-americano se cruza com os destinos da globalização.

Francisco sabe que a sua tarefa é, acima de tudo, renovar a Igreja. É esse o significado do nome que ele escolheu. Ele quer renová-la não só porque conhece os muitos problemas que a deixaram doente, mas também porque, nunca como neste momento, há uma enorme necessidade de uma Igreja renovada. O mundo de hoje, de fato, parece perdido.

Parece-me encontrar aqui a chave de leitura do modo de proceder do pontífice e da sua disponibilidade ao diálogo com a modernidade. Estamos todos juntos no mesmo barco: a história do homem e da sua liberdade. A Igreja também, nessa década, sentiu dolorosamente o peso da história que avança, com as suas conquistas e os seus fracassos. Ela não é imune às transformações que investem sobre a condição humana comum. Ao contrário de outros, porém, a Igreja não se cansa de denunciar que muitos dos nossos problemas decorrem de algumas distorções que se produziram ao longo do caminho que, laboriosamente, o homem moderno está percorrendo.

À sua Igreja, Francisco parece pedir que olhe com mais amizade e envolvimento para o destino da modernidade. Que não diz respeito aos outros (os não crentes). Mas que envolve a todos nós. Justamente porque leva em consideração os destinos do humano, a Igreja não pode se limitar a julgar o mundo. Quase como se estivesse fora dele. Mas ela se sente profundamente envolvida nele, partindo naturalmente do ponto de vista que, para um cristão, é o privilegiado: o dos pobres e dos últimos, não apenas no sentido material. Desse ponto de vista, Francisco não muda, com relação aos antecessores, o seu juízo sobre o mundo. O que muda é somente a abordagem, na convicção de que isso possa se revelar mais profícuo para todos. Segundo o ensinamento do Concílio Vaticano II.

Ao mesmo tempo, àqueles que se declaram não crentes, Francisco pede que compartilhem as suas preocupações e as suas apreensões por uma humanidade perdida. E que corre o risco de ser esmagada por esses mesmos sistemas que deveriam protegê-la e colocar-se a seu serviço. Francisco quer provocar a soberba do homem que se sente completamente autônomo, que deixa de se fazer perguntas, que se fecha em uma imanência absoluta. Justamente como o seu irmão gêmeo religioso, o fundamentalista antirreligioso, ele é igualmente cego e não reconhece mas nem mesmo a realidade.

Francisco, assim, parece criar um espaço de diálogo novo. Onde crentes e não crentes possam se reencontrar, para além das barreiras ideológicas, a fim de pôr em comum a sua visão do mundo e, sem fingimentos, interrogar-se em torno da condição humana comum.

A grande arte de Francisco é saber fazer isso em um nível que não é intelectual. Francisco fala diretamente à vida, que é de todos, do rico e do pobre, do culto e do ignorante. Um plano em que todos podemos ser envolvidos como membros de um povo que caminhar pelos caminhos da história. As primeiras reações – e não podia ser de outra forma – sublinham as implicações que as ideias de Francisco parecem poder ter sobre a Igreja Católica e sobre a sua renovação. Que é mais do nunca necessária.

Mas não deve escapar de ninguém que a grande abertura de Francisco precisa encontrar igual disponibilidade também no mundo dos não crentes, em que muitas vezes prevalece um rígido fechamento com relação às perguntas latentes do nosso tempo. Aos não crentes, Francisco pede que se reflita sobre a dramaticidade da nossa condição e se reconheça que há algo de errado com as vicissitudes modernas.

Se ele tiver êxito nessa dupla intenção, Francisco alcançará um resultado extraordinário. Mas é muito difícil que ele consiga fazer isso sozinho. O seu apelo é lançado a todos os homens de boa vontade. A nós, cabe a tarefa de acolhê-lo e de responder positivamente, aceitando caminhar na mesma estrada.
L'Unità, 02-10-2013.

Em diálogo e missão



Exemplar é a atitude do Papa Francisco, quando dialogou abertamente com Eugenio Scalfari, fundador do Jornal La Repubblica, sobre fé e laicidade (Foto: AFP)
O Papa Francisco está configurando um horizonte ousado e profético para a Igreja no exercício da missão de anunciar a todos, indiscriminadamente, o Evangelho de Jesus Cristo. Esta grande missão que Jesus delega aos seus seguidores é desafiadora, ao se considerar as diferenças que caracterizam uma realidade multicultural. O caminho apontado pelo Papa Francisco, para o êxito dessa tarefa, é o diálogo. Por isso, o Papa frisa que “cada um de nós é chamado a ser artesão da paz, unindo e não dividindo, eliminando o ódio e não o conservando, abrindo os caminhos do diálogo e não levantando novos muros.” Dialogar, diz o Papa Francisco, é encontrar-nos para instaurar no mundo a cultura do encontro.

Aqui está um desafio enorme no tratamento adequado das verdades intocáveis da fé cristã católica. Uma intocabilidade que não pode render dogmatismos e intolerâncias, a incapacidade para o diálogo, sobretudo, com aqueles que pensam diferentemente. Não se trata de ser porta-voz de um pensamento e de argumentações conceituais na contramão das verdades da fé. Contudo, é preciso evitar o risco de um tratamento conceitual tão rígido destas verdades que impossibilite os intercâmbios de argumentação com quem pensa diferente.

Exemplar é a atitude do Papa Francisco, quando dialogou abertamente com Eugenio Scalfari, fundador do Jornal La Repubblica, sobre fé e laicidade. O pontífice responde a perguntas que lhe tinham sido feitas. Uma atitude sabiamente evangélica, na linha da dinâmica missionária do apóstolo Paulo que vai ao areópago de Atenas para dialogar, também com não crentes.  No mesmo horizonte, São Francisco de Assis, firmado e enraizado no Senhor Único, desenha um caminho de diálogo de inigualável universalidade e respeito, das criaturas todas até a grandeza encantadora da dignidade humana.

A necessidade da superação da incomunicabilidade que se instalou entre a Igreja e a cultura de inspiração cristã, de um lado, e do outro a cultura moderna, frisa o Papa Francisco, estabelece como tarefa missionária o diálogo aberto. Este é o caminho para reabrir as portas para um sério e fecundo encontro, não apenas entre aqueles que estão dentro da Igreja, mas também com os que estão distantes. A verdade da fé é conceitual e vivencialmente inegociável, mas a atitude de dialogar, sem medo, é necessária e inteligente.

É preciso superar o medo que vem da rigidez conceitual estéril, pois o cumprimento da missão da Igreja não é uma mera conservação. Na verdade, o diálogo autêntico é aquele no qual se estabelece uma relação viva entre as pessoas. Esse é o autêntico sentido da ordem que o Mestre dá a seus discípulos quando lhes diz “Ide.” Trata-se de um desafio, e também prioridade na missão da Igreja, a tarefa de multiplicar oportunidades de diálogo, tanto internamente, mas também fora, para além dos nossos muros. E neste horizonte, as academias católicas têm um papel fundamental, que inclui a coragem de atrair, por convite ou por competência reconhecida, por cientificidade ou por credibilidade, intelectuais de diferentes matizes para ouvi-los, passo primeiro e insubstituível na cultura do diálogo. Assim se estabelece um produtivo confronto. Vale lembrar a postura exemplar do Papa Emérito Bento XVI que, em diálogo com o matemático ateu Piergiorgio Odifreddi, agradece pela oportunidade do confronto, quando pôde observar ao seu interlocutor que sua religião matemática deixava de fora temas fundamentais como a liberdade, o amor e o mal.

A postura de academias católicas que buscam o diálogo com ateus e pensadores é louvável. Particularmente, quando essas instituições refletem a espinhosa temática da secularização, religião e sociedade. Assim configuram-se caminhos para que a missão da Igreja não corra o risco de se reduzir a repetições estéreis, apropriações conceituais até exatas, mas pouco incidentes para gerar discípulos de Jesus. Que a lucidez de Bento XVI e o pastoreio interpelante do Papa Francisco balizem o caminho missionário de uma Igreja em diálogo, estabelecendo caminho para que o mundo creia.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.