A gratidão faz crescer no coração de quem é grato gosto pela bondade
(Foto: Reprodução)
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O
dia de ação de graças, celebrado ontem, é oportunidade de dar graças por
tudo, reconhecendo os semelhantes e, particularmente, Deus como fonte
dos bens recebidos. Ainda que não seja uma forte tradição da cultura
brasileira, a celebração deste dia é oportunidade para a vivência de um
importante aprendizado. Inspira o cultivo da qualidade nas relações
interpessoais, transformando a vida de cada um, as dinâmicas próprias
das comunidades de fé, das famílias, do trabalho e de toda a sociedade.
Jesus, em sua maestria, tratou desse assunto no processo formativo de
seus discípulos. O evangelista Lucas, no capítulo dezessete, narra o
episódio tocante e instrutivo da cura dos dez leprosos. Todos foram
agraciados com a cura, ouvidos na sua dolente súplica: “Mestre, tem
compaixão de nós”. Um dos leprosos, ao perceber que estava curado,
voltou glorificando a Deus em alta voz, prostrou-se aos pés de Jesus e
lhe agradeceu. Jesus o interpela perguntando: “Não foram dez os curados?
E os outros nove, onde estão?” O Mestre, a caminho de Jerusalém,
observa que só um estrangeiro, o samaritano, voltara para agradecer o
bem recebido.
Ao sublinhar que aquele de coração agradecido era estrangeiro,
samaritano, Jesus ensina que a maturidade humana não é determinada pela
classe social. É uma questão de maturidade, conquistada e cultivada pela
experiência também importante e determinante de agradecer por tudo o
que se recebe. A gratidão transforma o coração e ilumina os olhos.
Permite entender a vida de modo diferente. O outro de quem se recebe um
bem, qualquer que seja, grande ou até materialmente insignificante,
ocupa um lugar de reverência. Uma reverência que modula a inteligência e
a mente, determinando rumos novos na conduta que é balizada para
pautar-se no sentido de respeito irrestrito ao outro. Cultiva-se o
compromisso de ser bom, como convicção, nascida na alegria do bem que se
recebe.
A gratidão faz crescer no coração de quem é grato gosto pela bondade. É,
portanto, um remédio que tem o poder de extirpar sentimentos que
obscurecem a mente e o coração, fecundando a capacidade moral de ser
bom. A gratidão cura a soberba, a inveja e o orgulho, venenos na vida
pessoal, articuladores de uma sociedade que adota as dinâmicas
desastrosas da disputa, do ódio e do individualismo. Dissipa os males
que enfraquecem a compaixão e fortalecem a indiferença.
A propósito da gratidão, este é um momento propício, quase ao final de
mais um ano de muito trabalho em prol da construção da Catedral Cristo
Rei, para agradecer.
No final de 2005, depois de escutas, começamos a caminhar rumo à
construção da Catedral Cristo Rei. Naquele ano, a Arquidiocese de Belo
Horizonte pediu a Oscar Niemeyer uma concepção arquitetônica. Esse
primeiro momento também ficou caracterizado por um longo percurso
interno, de reflexões, para buscar consensos e aperfeiçoar o projeto
dessa importante caminhada. Uma nova etapa foi vivida no dia 2 de julho
do ano passado, no Mineirinho, quando a comunidade eclesial conheceu o
projeto e foi chamada a apoiar sua execução via Campanha Faço Parte.
Prosseguindo, em 22 de agosto de 2011, aconteceu o importante encontro
com o empresariado mineiro e autoridades do Estado, para o acolhimento
de um projeto de grande alcance, força de sustentação da cultura e
religiosidade que caracterizam Minas Gerais.
Já neste ano, consolidamos os trabalhos das curadorias: de Captação de
Recursos, da Campanha Faço Parte, da Comunicação e Marketing, do
Acompanhamento de Projetos, da Religiosa, da Secretaria Executiva, todas
criadas para articular o complexo processo desse caminho exigente que é
construir uma catedral.
É tempo de agradecer o empenho de todos, as duas latas de tinta
oferecidas, as doações empenhadas, em dinheiro ou material, incluindo o
comprometimento dos padres, de autoridades e do povo, o apoio de
instituições variadas, inclusive aquelas da comunicação, construtoras,
órgãos governamentais do estado e do município, os escritórios de
projetos, a oração de todos e o entusiasmo de cada um. Tudo gera no
coração o mais vivo sentido de gratidão. Há muita gente trabalhando na
complexidade dos processos para, no primeiro trimestre do ano que vem,
começarmos as obras de construção da Catedral Cristo Rei. É hora de
intensificar a comunhão e apoios de todos. O caminho avança para
concretizar o sonho. Por isso, e por tudo recebido na vida, neste ano,
uma súplica: Senhor, dai-nos a graça de saber dar graças!
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira
de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade
Gregoriana, em Roma
(Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto
Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a
Doutrina da Fé.
Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a
2007 e de 2007 a 2011.
Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais
e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes
no Brasil e
desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e
artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da
PUC-Minas.