sábado, 4 de outubro de 2014

CNBB publica texto base da Campanha da Fraternidade 2015



Cf2015Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.
O texto base utilizado para auxiliar nas atividades da CF 2015 já está disponível nas Edições CNBB. O documento reflete a dimensão da vida em sociedade que se baseia na convivência coletiva, com leis e normas de condutas, organizada por critérios e, principalmente, com entidades que “cuidam do bem-estar daqueles que convivem”.
Na apresentação do texto, o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, explica que a Campanha da Fraternidade 2015 convida a refletir, meditar e rezar a relação entre Igreja e sociedade.
“Será uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos”, comenta dom Leonardo.
Proposta do subsídio
O texto base está organizado em quatro partes. No primeiro capítulo são apresentadas reflexões sobre “Histórico das relações Igreja e Sociedade no Brasil”, “A sociedade brasileira atual e seus desafios”, “O serviço da Igreja à sociedade brasileira” e “Igreja – Sociedade: convergência e divergências”.
Na segunda parte é aprofundada a relação Igreja e Sociedade à luz da palavra de Deus,  à luz do magistério da Igreja e à luz da doutrina social.
Já o terceiro capítulo debate uma visão social a partir do serviço, diálogo e cooperação entre Igreja e sociedade, além de refletir sobre “Dignidade humana, bem comum e justiça social” e “O serviço da Igreja à sociedade”. Nesta parte, o texto aponta  sugestões pastorais para a vivência da Campanha da Fraternidade nas dioceses, paróquias e comunidades.
O último capítulo do texto base apresenta os resultados da CF 2014, os projetos atendidos por região, prestação de contas do Fundo Nacional de Solidariedade de 2013 (FNS) e as contribuições enviadas pelas dioceses, além de histórico das últimas Campanhas e temas discutidos nos anos anteriores.
Adquira o texto base da CF 2015www.edicoescnbb.org.br ou (61) 2193.3019
Fonte: CNBB

Onde se encontra o Reino de Deus?


Seu Reino não é uma dívida, mas um dom. E como todo presente, é para ser apreciado e conservado.
Por Marcel Domergue*

Comparando o Evangelho de hoje com o texto de Isaías (1ª leitura), constatamos que Jesus retoma quase exatamente a cena descrita pelo profeta. Nos dois textos, um homem possui uma vinha e cuida dela com amor. O que isto quer dizer? O que representa o dono da vinha e a própria vinha? Claro que o "amigo" da primeira leitura é o próprio Deus, que não só possui a vinha, mas também a faz existir e dá a ela todo o necessário para que dê frutos. Já a vinha pode representar várias realidades.

Nessa leitura, trata-se da "casa de Israel", o povo que Deus fundou, escolheu, acompanhou, cuidou e alimentou por toda a sua história. E este povo, que foi arrancado da escravidão, perverteu-se ao longo do tempo. O profeta prevê a sua ruína. Este esquema é por assim dizer universal e aplicável a qualquer decadência (ver versículo 7). Israel, o povo testemunha, põe em cena aos olhos de todos e em sua própria história a parábola do drama vivido por todas as sociedades que zombam "do direito e da justiça" (versículo 7).

Outros textos irão falar da restauração de Israel. No longo prazo, não podemos subsistir se não "produzimos frutos" para alimentar os que são derrubados pela fome e esmagados pela injustiça. Os versículos que seguem a este texto de Isaías traduzem esta "injustiça" como sendo a corrida à riqueza e à vontade de poder.

Dar graças a Deus

O nosso evangelho pretende também recapitular a história do Povo de Deus. Mas, depois de descrever uma cena idêntica (os cuidados dispensados à vinha), a paisagem se modifica. Eis que agora aparecem personagens que estavam ausentes em Isaías: os vinhateiros. Da mesma forma que em Gênesis 1,28-31, Deus confia aos homens o mundo que havia criado. Logo após, Ele se vai. E esta ausência de Deus deixa aos homens a responsabilidade de dominar o mundo, explorá-lo, domesticar as suas nocividades e fazê-lo produzir frutos. Por aí é que o homem se faz livremente "imagem e semelhança de Deus", aproximando-se também do seu repouso do sétimo dia.

Conforme todo dia podemos constatar, se Deus se ausentou é porque, dali em diante, será pelo homem e no homem que Ele se fará presente. Mas uma questão se põe: será que podemos comparar Deus a um proprietário que põe os empregados a trabalhar e que, no final, exige deles um preço pelos frutos que produziram? Bom, nesta parábola a questão não é de salário. E nem podemos lê-la na lógica do empregador e do assalariado, tal como a conhecemos. Aqui, os frutos todos pertencem ao Senhor! Será um egoísmo divino? O que Deus exige de nós? Uma só coisa: o reconhecimento, no sentido forte do termo. Ou seja, que entremos no universo da reciprocidade, do intercâmbio e da doação mútua. Não podemos trancar-nos no mundo que nos foi dado; temos de, a partir dele, voltarmos à Origem.

Uma história que sempre recomeça

Trata-se, pois, novamente, de estabelecermos uma relação verdadeira com quem nos faz produzir frutos. Porque, ao contrário do texto de Isaías, a vinha da parábola produz frutos. Significa não monopolizá-los, não nos fecharmos neles. De fato, a tentação de apoderar-se, de tomar posse, conduz diretamente ao contrário da verdadeira relação, ou seja, à violência. Vem daí a enumeração das brutalidades exercidas pelos vinhateiros contra os enviados do Senhor.

Lembremos que Gênesis inicia a história humana fora do paraíso por um assassinato: o de Abel por Caim. E se este assassinato deveu-se a uma rivalidade, a rivalidade é onipresente; nos escritórios, nas oficinas, nas empresas, entre os políticos… Por isso a história bíblica está marcada pelos conflitos dos irmãos inimigos: Jacó e Esaú, Davi e Saul, Israel e Judá, judeus e pagãos.

Até ouvirmos Paulo afirmar que "não há mais Judeu nem Grego", foi preciso esperar o assassinato do Filho. Os irmãos inimigos puseram-se de acordo, primeiro, para matar o Filho; depois, para "olhar para aquele que traspassaram". A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular (versículos 42-43). A pedra angular de uma nova casa, de um novo povo.

É preciso compreender que estamos aqui num sobrevoo da história de Israel. Mas não só, é um sobrevoo também da história de toda a humanidade. E seria um erro acreditar que isto tudo seria coisa do passado: o mistério da recusa do Filho não cessa de estar sempre recomeçando na história de todos e de cada um de nós. Temos inumeráveis maneiras de matar em nós o Filho de Deus: sentimentos de superioridade, palavras enganosas, hipocrisias diversas. Mas Ele, a Palavra primeira, é que terá em nós e no mundo a última palavra.
Croire
*Marcel Domergue é sacerdote jesuíta. O texto é baseado na leitura do 27º Domingo do Tempo Comum (05 de outubro de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.

Por que Deus pede um casamento para sempre?


Quando se perde a noção de Deus, dissolve-se a concepção do amor.
Por Juan Ávila Estrada

Existem ensinamentos de Jesus que provocam desconforto porque seriam limitadores da liberdade e do desejo de construir a felicidade. "Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?" (Mateus 19,4-6).

Essa frase pronunciada com autoridade por Jesus, contradizendo também a lei mosaica, suscitou debates, divisões, cismas no interior da Igreja. E também dor por parte de muitos que, tendo fracassado no próprio casamento, buscaram refazer-se na vida afetiva e hoje se sentem excluídos ou rejeitados pela Igreja porque não podem comungar.

Trata-se de um dos ensinamentos que não é facilmente compreendido. Como pode Deus reivindicar que uma união conjugal seja para sempre, se nós somos vulneráveis, tão inclinados ao mal, frágeis, sentimo-nos frequentemente incapazes de ser fiéis aos nossos compromissos perenes? Pode existir uma união para sempre? E se errarmos?

Por outro lado, muitos defendem a possibilidade de dissolver o matrimônio levando em consideração o fato de que o amor seria inconstante, ou que não exista um afeto que possa ser duradouro por causa da contingência do homem. Por que Deus pede união matrimonial para sempre e com apenas uma pessoa? Talvez não nos conheça, ou não sabe do que somos feitos?

A defesa da indissolubilidade está na argumentação da sua negação. Deus sabe do que somos feitos e por isso acredita em nós. Ele conhece perfeitamente tudo o que somos capazes, nós, porém, por causa do nosso pecado, pouco a pouco nos esquecemos. Somos pecadores, Ele sabe muito bem, mas somos também seres redentores, e esta redenção é o que permite fazer de nós novas criaturas. Somos feitos para o amor, que não é somente uma possibilidade humana, mas também um dever metafísico. Quem não ama perdeu a sua humanidade e o sentido daquilo que é.

Para acreditar na indissolubilidade matrimonial, é necessário acreditar na fidelidade, e para acreditar na fidelidade é necessário acreditar no amor. Mas para acreditar no amor é fundamental acreditar em Deus. Não se pode acreditar no amor verdadeiro se não acreditarmos em Deus.

Para que o amor seja eterno e perene depende do fato de acreditar que existe um Deus que é amor. Isso porque as definições “para sempre” (caráter infinito), “desde sempre” (eternidade), perfeição e transcendência, são ligadas ao Criador. Quando se perde a noção de Deus, dissolve-se a concepção do amor.

Ninguém crê tanto no amor humano como Deus, que sabendo como somos, permitiu nos dar sempre através de todas as gerações a oportunidade de aprender Dele que é o nosso melhor Mestre. E nos propõe um modelo de trindade terrena na qual a experiência amorosa possa ser vivida nesta vida.

Negar Deus é negar a eternidade, e com isso sucumbe a ressurreição e seremos condenados ao nada.

Se deixarmos o amor como puro mecanismo fisiológico, estaremos expondo-o à sensibilidade da pele que quer sempre dar prazer a si mesma. Somente quando compreendemos que Deus existe, que “é amor” e que nos amou com amor eterno, podemos viver a experiência da doação, do “sim” para sempre sem medo de errar. Mas sobretudo sem deixar aquele “sim” à mercê dos instintos viscerais que pedem cada dia mais como uma enorme serpente que devora a si mesma pela cauda.

O amor humano está ligado a Deus. A incredulidade, o ateísmo, são a morte do “amor para sempre”; e se não existe este amor para sempre, estamos condenados a viver desejando o que não é possível. Aquilo que nos espera é a ausência de sentido.
SIR

A Igreja subjetiva


O pensamento contemporâneo se esforça para rejeitar os conceitos objetivos de certo e errado.
Por James V. Schall, S,J.

Em certa época passada, a famosa frase "Pelos seus frutos os conhecereis", do Evangelho de Mateus, 7,16, parecia óbvia o suficiente para todos. Ela significava que os atos e as palavras de uma pessoa manifestavam o seu caráter. Todo mundo sabia que os nossos atos externos eram produto dos nossos entendimentos internos e das nossas escolhas. As leis eram externas a nós, no sentido de que não impúnhamos o seu conteúdo a nós mesmos; obedecer a elas ou rejeitá-las era uma decisão interna. Publicanos e pecadores apresentavam certa posição visível, assim como os hipócritas. Eram eles os que obedeciam à letra externa da lei, mas não as internalizavam.

A própria Igreja, ao se identificar com o corpo de Cristo, apresentava certas manifestações externas. Ela não era uma Igreja invisível, só dos salvos. Ela se manifestava através de elementos visíveis como hierarquia, sacramentos, edifícios, leis e palavras. Era retratada como construída sobre a rocha. Os movimentos que queriam interiorizar a Igreja para que ela não tivesse nenhuma presença visível foram declarados heréticos. Os inimigos da Igreja trabalharam para lhe negar qualquer lugar no fórum público, qualquer verdadeira liberdade de ação para se fazer presente no meio dos homens.

O mais difícil dos ensinamentos cristãos não era, assim, a existência de Deus, mas a Encarnação do Filho de Deus. O ateísmo é um problema relativamente pequeno em comparação com a Encarnação. Este fato significava que, não sendo visível para nós, o Pai poderia tornar-se visível através do Seu Filho, o Verbo feito carne, o que é uma frase gráfica. "Quem vê a mim vê o Pai" (João 14,9). O Verbo "habitou entre nós" é outra frase gráfica. A noção de Deus entrando em nossa história como homem parecia, para muitos, uma rejeição da alteridade absoluta de Deus, quando, na verdade, era uma confirmação dela.

Mas, desde que o papa Francisco pronunciou o seu famoso "Quem sou eu para julgar?" e que os bispos escolheram um jeito menos claro de lidar com quem se diz católico, mas não concorda com a posição da Igreja em muitas questões, tornou-se digna de nota uma mudança de critérios que passou da objetividade para a subjetividade. Se nem o papa nem os bispos querem "julgar", temos uma Igreja da qual não podemos realmente dizer quem é membro e quem não é. Podemos dizer que qualquer um que foi batizado é católico ou cristão. Mas nunca sabemos o que há no interior de alguém ou como Deus julga o lado interno ou subjetivo da vida. A distinção entre santo e pecador se torna turva.

Agostinho já tinha salientado que a Cidade de Deus não podia ser identificada com a visível pertença à Igreja. Havia membros da Cidade dos Homens que acabariam sendo salvos, e membros da Igreja visível que se perderiam. Tomás de Aquino, por outro lado, considerava que é preciso obedecer à consciência mesmo que ela esteja objetivamente errada. Este princípio não queria dizer que não precisamos formar cuidadosamente a consciência, mas que não queríamos que alguém atuasse contra a sua consciência, mesmo ela sendo errônea. Essa posição implicava que alguém que fizesse algo objetivamente errado não seria culpado se acreditasse sinceramente estar certo.

Além disso, temos a admoestação do Antigo Testamento: "Meus caminhos não são os teus caminhos" (Isaías 55,8). A Igreja sempre nos ensinou que não conhecemos o julgamento final de Deus sobre o estado eterno de alguém. Canonizamos santos, mas nunca sem algum sinal final de santidade. Hesitamos em dizer se Judas, Ivan, o Terrível, os homens-bomba muçulmanos, Hitler, Stalin e outros assassinos famosos da história estão eternamente perdidos ou não. E não são poucas as pessoas que negam a possibilidade de qualquer vida após a morte, para não terem que encarar essa questão.

Sempre ressurgem, é claro, aquelas histórias do homem santo enterrado vivo: ele poderia ter se desesperado no último instante. Também temos as histórias de terríveis pecadores e assassinos que se arrependeram no trajeto para a forca; os bons ladrões da história. "Só quem persevera até o fim será salvo" (Mateus 24,13). Sabemos que a misericórdia divina pode salvar "quem quer que seja salvo", como João Paulo II colocou.

Neste contexto, permitam-me uma palavra sobre os terroristas suicidas muçulmanos, como eles são chamados. Incluo nessa consideração, também, os católicos que atuam na vida pública e que não concordam "em consciência" com os ensinamentos da Igreja, agindo divergentemente como se tudo estivesse certo. Na teologia muçulmana, um homem-bomba é um mártir. Ao matar infiéis junto consigo, ele está oferecendo a sua vida à causa de Deus. As pessoas que os terroristas matam não são muçulmanas. São pessoas que, por definição, estão em guerra com o islã. Além disso, elas nasceram muçulmanas, assim como todas as pessoas, mas foram corrompidas. Sua situação é a de inimigos do islã. Portanto, matá-las é um ato de virtude.

Uma doutrina dessas, sem dúvida, é difícil de engolir. E, mesmo assim, segundo os princípios católicos, devemos dizer que, se a consciência tem certeza de que esta é a coisa certa a se fazer, então é um ato de virtude. Quando aceitamos esta posição, toda a ordem objetiva do certo e do errado fica obscurecida. Podemos nos interrogar se existe mesmo uma consciência tão errônea a ponto de aceitar estas consequências. Mas, superficialmente, parece possível.

Os políticos católicos que dizem que a sua consciência os leva a apoiar uma legislação objetivamente má porque esta seria a coisa certa a se fazer estão na mesma situação do muçulmano. Se não é excomungado, esse político pode entender que ainda está em situação normal dentro da Igreja. Os bispos silenciam ou não lhe proíbem explicitamente os sacramentos. O homem pode concluir que deve haver algo de válido na sua posição. Do contrário, ele seria excomungado. Mais uma vez, temos o subjetivo se tornando a realidade, e não o objetivo da regra ou da lei.

A mesma situação existe no caso do homem visto como bom. A parábola do publicano e do pecador (Lucas 18,13) destaca graficamente que a piedade externa não é suficiente. Da mesma forma, foi o pecador quem realmente mostrou o amor de Deus. Nenhuma dessas considerações se destina a sugerir que a ordem objetiva não é importante. Ela continua a ser o padrão. Além disso, não podemos saber se alguém, como o homem-bomba ou o político, não estão, conscientemente, tentando enganar a si mesmos. Esta situação também seria invisível para nós.

Podemos tirar alguma conclusão dessas reflexões? Certamente, aplica-se aqui o velho adágio aristotélico: "Não chame ninguém de feliz até que ele esteja morto". Fica bastante claro, nas escrituras, que Deus reserva para Si o julgamento final. Assim, das almas dos sete bilhões de habitantes deste planeta, podemos ter certeza de que não sabemos como cada uma se encontra diante de Deus. E este fato, certamente, é uma bênção para nós. Mas é também um aviso.

Uma das coisas mais impressionantes do pensamento contemporâneo, exceto no caso dos muçulmanos que seguem outros pensares, é a relutância a julgar qualquer coisa em termos de certo e errado. O que há por trás dessa recusa? Ela nos permite fazer o que bem quisermos, mesmo que seja o mal. Se convencemos a nós mesmos de que não precisaremos prestar contas no final, podemos então ter certeza de que tudo o que fazemos é indiferente. Num mundo em que tudo é relativo, nada faz diferença. Este ponto de vista pode ser uma justificativa para a consciência errônea, de modo que qualquer um que tenha essa visão seja salvo? Em teoria, parece possível, mas, na prática, eu duvido.

Por que eu duvido disso? Porque se trata, muito obviamente, de uma recusa a prestar atenção àquilo que fazemos. Nós invocamos desesperadamente uma teoria para nos justificar. O objetivo dessa teoria é nos permitir fazer tudo o que queremos. Suspeitamos que é assim que agimos, mas tentamos não admitir. A essência do julgamento divino, sem dúvida, é ver o coração. Mas esse "ver" não sugere, de modo algum, que toda a ordem da natureza e da graça pode ser contornada se honestamente não temos a menor ideia sequer da existência de alguma ordem na natureza e na graça.

Ficamos com a certeza do julgamento, com a certeza da razão e com a certeza da graça. No final, suspeito eu, a Igreja "subjetiva" será julgada conforme os padrões da Igreja objetiva. Por que nosso Senhor teria se preocupado em criar uma instituição cuja finalidade principal é nos levar à vida eterna? Ele fez isso pedindo-nos guardar os mandamentos e nos arrependermos quando os violamos. Recebemos graça suficiente para enxergar a diferença entre o que é bom e o que é mau. Quando Sócrates, durante o seu julgamento, disse que "nunca é certo fazer o que é errado", ele estabeleceu o padrão de todos os julgamentos. A vida de Cristo reafirma este princípio. E nos ensina, também, o que acontece quando ele é violado.
SIR

A família explicada pelo papa Francisco


Livro do vaticanista Aldo Maria Valli fala do ensinamento do papa sobre o casamento e a família.
Por Roberta Sciamplicotti

Um livro que recolhe uma espécie de manual com os pontos mais significativos propostos pelo papa Francisco, um pequeno instrumento, como uma “catequese popular” sobre o tema família, com o título: “Em família com papa Francisco” (Aldo Maria Valli, Editora Ancora, publicado na Itália).

O livro descreve os problemas da família e apresenta possíveis soluções, ressalta Valli: “segundo o Papa Francisco, existe sempre um sadio realismo que emerge não apenas nas grandes decisões, como o fato de dedicar duas reuniões mundiais dos bispos às famílias, às suas riquezas, mas também se debruçar sobre suas dificuldades”.

O casamento, afirmou o papa, "conduz-nos ao coração do projeto de Deus, que é um projeto de aliança com seu povo, com todos nós: um projeto de comunhão".

A imagem de Deus, escreve Valli, é sem dúvida o casal, a união entre o homem e a mulher. O papa Francisco diz que antes de tudo “somos criados para amar, como reflexo de Deus e do Seu amor”, e que é na união conjugal entre o homem e a mulher que se realiza esta vocação, “no sinal de reciprocidade e de comunhão de vida plena e definitiva”.

Quando um homem e uma mulher se unem em matrimônio, Deus "se reflete neles". Da mesma maneira, como indica São Paulo na Carta aos Efésios, nos esposos cristãos reflete-se “a relação instaurada de Cristo com a Igreja, uma relação esponsal”.

As três características do amor que Jesus nutre pela Igreja, a Sua esposa, são a fidelidade, a perseverança e a fecundidade, que são também as características de um autêntico casamento cristão, no qual o amor se apresenta sobretudo de dois modos: como custódia recíproca e como fraternidade.

“Nunca alarmante, sempre confiante na Divina Providência, mas consciente da necessidade de colocar bem o foco nos novos desafios”, observa Valli, o papa Francisco decidiu dedicar à família um caminho sinodal articulado: um sínodo extraordinário (2014) e um ordinário (2015). “A primeira etapa tem como propósito identificar novas linhas operativas para a pastoral da família”.

Os desafios são grandes e complexos: “vai da rápida difusão das uniões de fato (que em alguns casos chegam ao casamento, mas muito mais frequentes excluem totalmente a ideia), à união entre pessoas do mesmo sexo; da busca, por parte destas pessoas, de poder adotar filhos entre pessoas de culturas de fé diferente; da família monoparental (onde está presente somente um dos pais com os filhos), à poligamia; dos casamentos combinados (com tudo aquilo que implica para a mulher, muitas vezes reduzida a objeto), para os casais que vivem distantes da própria terra por causa dos fenômenos migratórios”. No fundo, “uma mentalidade sempre mais permeada da ideia desenvolvida no Ocidente de que não vale a pena se envolver para sempre, que a fé é um mito e que a instabilidade das relações afetivas seja não um problema, mas a norma, e como tal é simplesmente reconhecida”.

Um outro dado desafia a Igreja diretamente: “o individualismo, com as suas veias hedonistas, penetrou também entre aqueles que ainda, apesar de tudo, se dizem crentes”. Se está em presença de uma fé que “em muitos casos não somente desce facilmente a um acordo com a mentalidade secundária, mas considera natural acolher somente alguns preceitos e não outros, ou reinterpretar as indicações doutrinárias dependendo das situações individuais e interesses contingentes”.

Consciente dos problemas, Francisco não se esconde quando se trata de denunciar os ataques que sofre a família, fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, mas nele prevalece sempre o desejo de, por sua vez, olhar a questão de maneira positiva.
O compromisso de todos, começando pelos pastores, deve ser o de “reconhecer quanto é bonito, verdadeiro e bom formar uma família, ser família hoje; quanto é indispensável isto para a vida do mundo, para o futuro da humanidade”, afirmou. “É-nos pedido de colocar em evidência o luminoso plano de Deus sobre a família e ajudar os cônjuges a vivê-lo com alegria em sua existência, acompanhá-los em tantas dificuldades, com uma pastoral inteligente, corajosa e plena de amor”.

Na vida conjugal, valem sempre “três palavras mágicas”: “por favor, obrigado e desculpa”. “Por favor: para não ser intruso na vida do cônjuge. Obrigado: agradecer ao cônjuge por aquilo que fez por mim. E visto que todos nós erramos, a outra palavra que é um pouco mais difícil de dizer, mas necessária: desculpa. Com estas três palavras, com a oração do esposo pela esposa e vice-versa, e com o fato de fazer as pazes sempre antes que termine o dia, o casamento vai adiante”.
SIR

Evangelho do Dia

Ano A - 04 de outubro de 2014

Lucas 10,17-24

Aleluia, aleluia, aleluia.
Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, pois revelaste os mistérios do teu reino aos pequeninos, escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 10 17 voltaram alegres os setenta e dois discípulos, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!”
18 Jesus disse-lhes: “Vi Satanás cair do céu como um raio.
19 Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do inimigo.
20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos céus”.
21 Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: “Pai, Senhor do céu e da terra, eu te dou graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-te porque assim foi do teu agrado.
22 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
23 E voltou-se para os seus discípulos, e disse: “Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes,
24 pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”.
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
A ALEGRIA DO APÓSTOLO
           A missão dos discípulos de Jesus teve seu lado bonito de eficácia e acolhida. Eles foram testemunhas da ação da palavra de Deus na vida das pessoas e como elas se transformavam. Perceberam, igualmente, como as forças demoníacas que mantinham as pessoas cativas, seja do pecado seja da doença, eram vencidas. Viram o Reino expandir-se e se implantar na vida de muita gente. Por isso, voltavam cheios de alegria para junto de Jesus.
            Jesus, porém, temperou o entusiasmo desses missionários, chamando-lhes a atenção para algo que lhes passava despercebido: sua alegria deveria consistir em saber que seus nomes estavam inscritos no céu, ou seja, que eram cidadãos do Reino, cujo Senhor era o Pai. O que faziam, portanto, só tinha sentido enquanto compreendido como serviço desinteressado e gratuito à causa do Reino. Os Apóstolos foram, também, alertados para não se deixarem enredar pela glória mundana provinda do sucesso da missão, e sim, descobrir a raiz verdadeira da alegria, que consistia em saber-se instrumento nas mãos do Pai para levar a salvação a toda humanidade.
            A alegria e a felicidade despontaram, também, no coração de Jesus. Ele exultou, porque o Pai revelou a pessoas tão simples, como eram os Apóstolos, os mistérios do Reino, e contou com eles para serem seus servidores. Eis um grande motivo para louvar e agradecer!

Oração 
            Senhor Jesus, que meu coração exulte de alegria por saber que o Pai conta comigo para ser servidor de seu Reino.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Jó 42,1-3.5-6.12-16
Leitura do livro de Jó.
42 1 Jó respondeu ao Senhor nestes termos:
2 “Sei que podes tudo, que nada te é muito difícil.
3 Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis? É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não conheço.
5 Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram.
6 É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza”.
12 O Senhor abençoou os últimos tempos de Jó mais do que os primeiros, e teve Jó quatorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas.
13 Teve também sete filhos e três filhas:
14 chamou a primeira Jêmina, a segunda Quetsia e a terceira Queren-Hapuc.
15 Em toda a terra não poderiam ser encontradas mulheres mais belas do que as filhas de Jó. E seu pai lhes destinou uma parte da herança entre seus irmãos.
16 Depois disso, Jó viveu ainda cento e quarenta anos, e conheceu até a quarta geração dos filhos de seus filhos.
Palavra do Senhor.
Salmo 118/119
Fazei brilhar vosso semblante ao vosso servo 
E ensinai-me vossas leis e mandamentos. 

Dai-me bom senso, retidão, sabedoria,
Pois tenho fé nos vossos santos mandamentos!

Para mim foi muito bom ser humilhado,
Porque assim eu aprendi vossa vontade!

Sei que os vossos julgamentos são corretos,
E com justiça me provastes, ó Senhor!

Porque mandastes, tudo existe até agora;
Todas as coisas, ó Senhor, vos obedecem!

Sou vosso servo: concedei-me inteligência,
Para que eu possa compreender vossa aliança!

Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina,
Ela dá sabedoria aos pequeninos.
Oração
Ó Deus, que fizestes são Francisco de Assis assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Liturgia Diária

DIA 4 DE OUTUBRO - SÁBADO

SÃO FRANCISCO DE ASSIS
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM OU DOS SANTOS – OFÍCIO DA MEMÓRIA)

Antífona da entrada: Francisco de Assis, homem de Deus, deixou sua casa e sua herança e se fez pobre e desvalido. O Senhor, porém, o acolheu com amor.
Oração do dia
Ó Deus, que fizestes são Francisco de Assis assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Jó 42,1-3.5-6.12-16)
Leitura do livro de Jó.
42 1 Jó respondeu ao Senhor nestes termos:
2 “Sei que podes tudo, que nada te é muito difícil.
3 Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis? É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não conheço.
5 Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram.
6 É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza”.
12 O Senhor abençoou os últimos tempos de Jó mais do que os primeiros, e teve Jó quatorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas.
13 Teve também sete filhos e três filhas:
14 chamou a primeira Jêmina, a segunda Quetsia e a terceira Queren-Hapuc.
15 Em toda a terra não poderiam ser encontradas mulheres mais belas do que as filhas de Jó. E seu pai lhes destinou uma parte da herança entre seus irmãos.
16 Depois disso, Jó viveu ainda cento e quarenta anos, e conheceu até a quarta geração dos filhos de seus filhos.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 118/119
Fazei brilhar vosso semblante ao vosso servo 
E ensinai-me vossas leis e mandamentos. 

Dai-me bom senso, retidão, sabedoria,
Pois tenho fé nos vossos santos mandamentos!

Para mim foi muito bom ser humilhado,
Porque assim eu aprendi vossa vontade!

Sei que os vossos julgamentos são corretos,
E com justiça me provastes, ó Senhor!

Porque mandastes, tudo existe até agora;
Todas as coisas, ó Senhor, vos obedecem!

Sou vosso servo: concedei-me inteligência,
Para que eu possa compreender vossa aliança!

Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina,
Ela dá sabedoria aos pequeninos.
Evangelho (Lucas 10,17-24)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, pois revelaste os mistérios do teu reino aos pequeninos, escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 10 17 voltaram alegres os setenta e dois discípulos, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!”
18 Jesus disse-lhes: “Vi Satanás cair do céu como um raio.
19 Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do inimigo.
20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos céus”.
21 Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: “Pai, Senhor do céu e da terra, eu te dou graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-te porque assim foi do teu agrado.
22 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
23 E voltou-se para os seus discípulos, e disse: “Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes,
24 pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
A ALEGRIA DO APÓSTOLO
           A missão dos discípulos de Jesus teve seu lado bonito de eficácia e acolhida. Eles foram testemunhas da ação da palavra de Deus na vida das pessoas e como elas se transformavam. Perceberam, igualmente, como as forças demoníacas que mantinham as pessoas cativas, seja do pecado seja da doença, eram vencidas. Viram o Reino expandir-se e se implantar na vida de muita gente. Por isso, voltavam cheios de alegria para junto de Jesus.
            Jesus, porém, temperou o entusiasmo desses missionários, chamando-lhes a atenção para algo que lhes passava despercebido: sua alegria deveria consistir em saber que seus nomes estavam inscritos no céu, ou seja, que eram cidadãos do Reino, cujo Senhor era o Pai. O que faziam, portanto, só tinha sentido enquanto compreendido como serviço desinteressado e gratuito à causa do Reino. Os Apóstolos foram, também, alertados para não se deixarem enredar pela glória mundana provinda do sucesso da missão, e sim, descobrir a raiz verdadeira da alegria, que consistia em saber-se instrumento nas mãos do Pai para levar a salvação a toda humanidade.
            A alegria e a felicidade despontaram, também, no coração de Jesus. Ele exultou, porque o Pai revelou a pessoas tão simples, como eram os Apóstolos, os mistérios do Reino, e contou com eles para serem seus servidores. Eis um grande motivo para louvar e agradecer!

Oração 
            Senhor Jesus, que meu coração exulte de alegria por saber que o Pai conta comigo para ser servidor de seu Reino.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Sobre as oferendas
Ao apresentarmos, ó Deus, as nossas oferendas, preparai-nos para celebrar o mistério da cruz, que são Francisco abraçou com tanto amor. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Bem-aventurado os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino do céu (Mt 5,3).
Depois da comunhão
Ó Deus, pela comunhão na vossa eucaristia, dai-nos imitar o amor de são Francisco e seu zelo apostólico, para que, impregnado da vossa caridade, nos empenhemos na salvação de todos. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (FRANCISCO DE ASSIS)
Filho de comerciantes, Francisco Bernardone nasceu em Assis, na Umbria, em 1182. Nasceu em berço de ouro, pois a família tinha posses suficientes para que levasse uma vida sem preocupações. Não seguiu a profissão do pai, embora este o desejasse. Alegre, jovial, simpático, era mais chegado às festas, ostentando um ar de príncipe que encantava.

Mas mesmo dado às frivolidades dos eventos sociais, manteve em toda a juventude profunda solidariedade com os pobres. Proclamava jamais negar uma esmola, chegando a dar o próprio manto a um pedinte por não ter dinheiro no momento. Jamais se desviou da educação cristã que recebeu da mãe, mantendo-se casto.

Francisco logo percebeu não ser aquela a vida que almejava. Chegou a lutar numa guerra, mas o coração o chamava à religião. Um dia, despojou-se de todos os bens, até das roupas que usava no momento, entregando-as ao pai revoltado. Passou a dedicar-se aos doentes e aos pobres. Tinha vinte e cinco anos e seu gesto marcou o cristianismo. Foi considerado pelo papa Pio XI o maior imitador de Cristo em sua época.

A partir daí viveu na mais completa miséria, arregimentando cada vez mais seguidores. Fundou a Primeira Ordem, os conhecidos frades franciscanos, em 1209, fixando residência com seus jovens companheiros numa casa pobre e abandonada. Pregava a humildade total e absoluta e o amor aos pássaros e à natureza. Escreveu poemas lindíssimos homenageando-a, ao mesmo tempo que acolhia, sem piscar, todos os doentes e aflitos que o procuravam. Certa vez, ele rezava no monte Alverne com tanta fé que em seu corpo manifestaram-se as chagas de Cristo.

Achando-se indigno, escondeu sempre as marcas sagradas, que só foram descobertas após a sua morte. Hoje, seu exemplo muito frutificou. Fundador de diversas ordens, seus seguidores ainda são respeitados e imitados.

Franciscanos, capuchinhos, conventuais, terceiros e outros são sempre recebidos com carinho e afeto pelo povo de qualquer parte do mundo.

Morreu em 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos. Dois anos depois, o papa Gregório IX o canonizou. São Francisco de Assis viveu na pobreza, mas sua obra é de uma riqueza jamais igualada para toda a Igreja Católica e para a humanidade. O Pobrezinho de Assis, por sua vida tão exemplar na imitação de Cristo, foi declarado o santo padroeiro oficial da Itália. Numa terra tão profundamente católica como a Itália, não poderia ter sido outro o escolhido senão são Francisco de Assis, que é, sem dúvida, um dos santos mais amados por devotos do mundo inteiro.

Assim, nada mais adequado ter ele sido escolhido como o padroeiro do meio ambiente e da ecologia. Por isso que no dia de sua festa é comemorado o "Dia Universal da Anistia", o "Dia Mundial da Natureza" e o "Dia Mundial dos Animais". Mas poderia ser, mesmo, o Dia da Caridade e de tantos outros atributos. A data de sua morte foi, ao mesmo tempo, a do nascimento de uma nova consciência mundial de paz, a ser partilhada com a solidariedade total entre os seres humanos de boa vontade, numa convivência respeitosa com a natureza.

Discernimento eleitoral


Nas eleições, o povo tem a chance de compor um time que, embora possa não alcançar o patamar da seleção sonhada, seja capaz de produzir avanços
A cidadania brasileira está desafiada, mais uma vez, a viver o necessário discernimento eleitoral, para fazer escolhas qualificadas no próximo domingo. Esse exercício é de fundamental importância, pois serão definidos nomes a ocuparem os cargos eletivos, todos estratégicos para a condução do país. Não é fácil esse processo de discernimento. A primeira e importante consideração, necessariamente, é sobre o perfil e a vida de cada candidato. É difícil encontrar um nome que reúna todos os itens apontados como indispensáveis para governar e representar bem o poder que pertence ao povo; e que a ele deve ser devolvido na forma de serviços. Os eleitos precisam ser pessoas capazes de reconhecer e atender aos anseios da população, particularmente dos mais pobres. Diante dos critérios a serem observados, constata-se que processo de qualificada escolha de candidatos é laborioso, mas isso não pode produzir desânimo.

Nas eleições, o povo tem a chance de compor um time que, embora possa não alcançar o patamar da seleção sonhada, seja capaz de produzir avanços na superação urgente de graves problemas, como as desigualdades sociais. Para isso, é preciso contrabalançar elementos - trajetória, consistências pessoais, força de liderança, lastro de representatividade. Essas qualidades, e muitas outras, precisam ser observadas e identificadas nas pessoas que se submetem ao sufrágio das urnas. Eleger políticos com perfil marcado pela articulação dessas características é contribuir para a composição de um quadro, nos governos e parlamentos, com mais lucidez no trato, defesa e promoção de tudo que é público.

Vale ressaltar que mediocridades são um veneno terrível que enterra definitivamente as aspirações do povo. Elas corroem instâncias de grande importância política e social, transformando-as em palcos de interesses partidários e de grupos. A partir da presença de pessoas desqualificadas, governos e parlamentos tornam-se marcados por uma visão míope das urgências da sociedade, agravada pela incapacidade de analisar, escolher e agir com rapidez. Não se pode permitir que um mandato de quatro anos torne-se tempo para o eleito “ciscar de cá prá lá e de lá prá cá”, obrigando o gigante que é esta nação a permanecer adormecido. Bom seria contar com uma série de nomes cuja dificuldade de escolha residisse na excelência dos muitos perfis, todos sem senões, com os elementos adequados da vida pessoal, social e política. Infelizmente não é assim.

Não se crê que o ambiente político partidário vigente consiga produzir essas excelências cidadãs. Ao contrário, talvez muitas vezes seduza em direção inadequada aqueles que poderiam construir uma trajetória brilhante no mundo da política.  Mas a sabedoria popular ensina que “não adianta chorar o leite derramado”. Providências significativas e transformadoras são sonhadas e buscadas, entre elas a urgência da reforma política, que deve contracenar com um processo educativo e de configuração social capaz de revitalizar a cidadania brasileira. Agora, na lista dos nomes a serem escolhidos, com uma isenção que localiza o discernimento no território da lucidez, é preciso escolher quem pode representar melhor o povo, sem se sucumbir ao “peso pesado”, e até perverso, do mundo da política.

Há quem preferiria que se apontassem os nomes, à moda do chamado “voto de cabresto”, algo totalmente obsoleto e prejudicial que não pode mais ser o vetor das eleições. Seu contraponto é o qualificado processo de discernimento. Ainda é tempo para vivê-lo, confrontando perfis, nomes, histórias e, não menos importante, o fôlego de candidatos para dar conta de sua missão. A meta dos eleitos não pode se resumir ao sucesso nas urnas. Definidos como representantes da população nos governos e parlamentos, eles precisam permanentemente buscar o diálogo, a proximidade com o povo, disposição para trabalhar com transparência e almejar sempre as conquistas sociais.

Não é possível, a modo de cartilha, listar todos os critérios que sirvam de parâmetro para a definição dos perfis ideais de candidatos. Neste período de preparação que precede a ida às urnas, é cidadania bem vivida guiar-se também por um razoável tempo de silêncio e confrontos pessoais para chegar ao nome. Discernimento eleitoral não é simples emoção, simpatia ou antipatia, cor partidária, mero conhecimento ou amizade pessoal. O atual momento exige muito mais esforço de cada pessoa. Todos precisam partilhar a certeza de que a situação social, o desenvolvimento integral e o tratamento lúcido da sociedade civil estão no que é poder de cada cidadão: o seu discernimento eleitoral.

Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. 

O voto e o programa


No próximo domingo, o povo brasileiro dará o seu voto a um/a dos candidatos/as à presidência da República e para os governos estaduais, assim como para deputados federais e uma parte do Senado. No sistema atual brasileiro, votamos em pessoas, mas, de fato, somos governados por partidos ou por associações de partidos que se unem em coalisões. Em uma democracia, de fato, deveríamos escolher o partido e o/a candidato/a de acordo com o programa que cada partido apresenta. Esse programa deveria ser pensado e proposto, não apenas com a finalidade de ganhar eleitores, mas para um projeto de Brasil, em uma visão a longo prazo. Deveria conter propostas e diretrizes concretas sobre como conduzir a economia do país. Ao votar, as pessoas deveriam escolher que proposta querem para o Brasil: a autonomia social e política para o país ou, ao contrário, uma dependência das potências estrangeiras. Com relação à saúde, o programa de cada partido deveria clarear se o governo daquele partido manterá e até ampliará as politicas distributivas e o acesso democrático aos serviços públicos de saúde ou se, ao contrário, se ocupará com os 20% dos brasileiros mais abastados, deixando a maioria da população abandonada à própria sorte. No campo da educação, o povo tem o direito de saber se o governo pensa em garantir educação para todos, em todas as etapas e se respeitará a diversidade e o direito de expressão das culturas ainda marginalizadas ou oprimidas, como a dos grupos indígenas e das comunidades afrodescendentes. Finalmente, precisamos ter claro se os candidatos e seus partidos continuarão o diálogo e a solidariedade com os países latino-americanos e caribenhos e se apoiarão os organismos de diálogo e de integração continental.  Além disso, como critério para dar o nosso voto,  precisamos ver se o candidato/a e seu partido se propõem a aprofundar relações mais diretas com a população, especialmente com os movimentos sociais organizados da sociedade civil. Cada vez mais, no mundo inteiro, assume-se a democracia parlamentar representativa, mas a ela se procura incorporar instrumentos de democracia participativa e popular. É fundamental que o povo se sinta representado pelo Congresso e não substituído.

Atualmente, na guerra pelo voto, há uma tendência de os/as candidatos/as confundirem comunicação com marketing. E o marketing vende candidato/a como se fosse produto de consumo. Os partidos políticos mantêm nomes e adjetivos de fantasia, como se fossem empresas comerciais. Termos como “socialista”, “trabalhista”, “democrático” e outros são palavras esvaziadas de qualquer significado. Nesse contexto, os/as candidatos/as preocupam-se apenas em garantir a melhor imagem e anular a argumentação do/a adversário/a. Além disso, alguns meios de comunicação transformam as eleições em show. Essa pasteurização agrava ainda mais a desilusão de muitos com relação à política.

Nesses últimos dias antes das eleições, seria importante prestarmos mais atenção aos programas e propostas dos partidos e de seus/suas candidatos/as. O Le Monde Diplomatique Brasil de setembro 2014 publicou um artigo colocando lado a lado os programas de governo de todos os/as candidatos/as à Presidência da República. De fato, são programas de governo e não projetos mais amplos de Brasil. De todo modo, seria importante que fossem mais conhecidos e avaliados. Todos os candidatos propõem mudanças estruturais, embora saibam que para realizar essas reformas, precisarão da maioria de votos favoráveis no Congresso, o que no sistema atual, é muito difícil. O artigo mostra ainda que também é importante saber o que pensam e falam os principais assessores/as e conselheiros de cada candidato/a, como também descobrir que forças econômicas estão financiando cada candidato/a. Eles terão muita influência no modelo de desenvolvimento a ser adotado”.

Além disso, é importante ver como cada candidato se comporta em relação a problemas fundamentais do país como o modelo de desenvolvimento que destrói a natureza. Nesses dias, pela primeira vez, as nascentes do rio São Francisco secaram. O rio está agonizando. Nenhum/a dos principais candidatos/as à presidência se mostra preocupado/a com isso. Nenhum/a visitou as populações ribeirinhas atingidas por essa tragédia. Nem apresenta proposta alguma para reverter essa calamidade.
Tudo isso mostra que votar corretamente não é fácil. Para quem tem fé cristã, o voto não pode ser dado apenas por conveniências de parentesco, amizade, ou interesse profissional. Temos de escolher as pessoas que julgamos mais aptas para servir a todo o povo brasileiro. O evangelho propõe um critério: escolher as pessoas mais ligadas à causa da libertação dos mais empobrecidos, nos quais quem crê é chamado a ver o rosto do próprio Jesus.

Marcelo BarrosMarcelo Barros é monge beneditino e teólogo especializado em Bíblia. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). Assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST). Tem 45 livros publicados dos quais está no prelo: "O Evangelho e a Instituição", Ed. Paulus, 2014. Colabora com várias revistas teológicas do Brasil, como REB, Diálogo, Convergência e outras. Colabora com revistas internacionais de teologia, como Concilium e Voices e com revistas italianas como En diálogo e Missione Oggi. Escreve mensalmente para um jornal de Madrid (Alandar) e semanalmente para jornais brasileiros (O Popular de Goiânia e Jornal do Commercio de Recife, além de um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e de San Juan de Puerto Rico (Claridad). 

PROCLAMAS MATRIMONIAIS


 04 e 05 de outubro de 2014

COM O FAVOR DE DEUS E DA SANTA MÃE A IGREJA, QUEREM SE CASAR:
                                                                                  



·         RENATO PETERSON RUFINO DA SILVA
E
RENATA MARIA NEVES ALVES
                                                                                                

·         MANOEL JOSÉ SOUSA DE FRANÇA
E
TAYNÁ REGINA FERREIRA LIMA


·         RAFAEL TRINDADE H. ESTEVÃO DE AZEVEDO
E
SUE ELLEN NASCIMENTO DE LUNA


·         PEDRO NICOLAS CAVALCANTI FERREIRA
E
PALOMA VELEZ DE ANDRADE LIMA SIMÕES