quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir


Que eu prossiga no meu esforço de 'Fazer-me tudo para todos’.
Por Padre Geovane Saraiva*

No dia 14 de agosto de 1988, ao lado da igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré, na minha terra natal, Capistrano – Ceará, numa celebração campal, recebi a ordenação presbiteral, pela imposição das mãos do nosso querido e saudoso Dom Aloísio, Cardeal Lorscheider. Neste ano de 2013, ao completar 25 anos de ministério sacerdotal, gostaria agradecer ao bom Deus, numa profunda gratidão, especialmente, através das pessoas com as quais fui sacerdote, além de procurar ser irmão e amigo.

Logo no início, além do meu lema escolhido: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20, 7), guardei na mente e no coração o lema de São Francisco de Sales, grande místico e mestre na escola de espiritualidade: “Fazer-se tudo para todos’”. Tenho consciência de que, nestes 25 anos padre, poderia ter feito muito mais. Mas ao mesmo tempo, como diz tão bem Charles Chaplin: “a vida me ensinou a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi (...)”, dádiva de Deus.

Quero me dirigir ao bom povo da paróquia São Pio X, início de minha vida de padre como Vigário Paroquial - Bairro Pan Americano, por poucos meses. Já em primeiro de janeiro de 1989 assumi a função de Pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, no Bairro Dias Macedo, permanecendo ali por 11 anos. Na Paróquia da Paz, como Vigário Paroquial, fundei o Apostolado da Oração, implantei a Pastoral Vocacional, colaborei com o Encontro de Casais com Cristo (ECC) e ainda estive presente nas Comunidades da Mãe-Rainha - Varjota, no Campo do América e na Trilha do Senhor, sem esquecer a Conferência de São Vicente de Paulo.

Agradecido, igualmente, me volto para o bom povo da Parquelândia, por ter me acolhido desde o dia 30 de novembro de 2003, nesta comunidade Paroquial de Santo Afonso. Não posso esquecer jamais as queridas Irmãs Carmelitas do Carmelo Santa Teresinha de Fortaleza, com minha presença para celebrar a eucaristia, ao mesmo tempo em que experimentei uma generosa acolhida da parte delas. Agradeço também as Irmãs Doroteias, nos seis anos em que fui Capelão das mesmas. Por onde passei, dentro das minhas limitações, pude contribuir, procurando animar os desanimados, na esperança de que somos peregrinos do absoluto em meio às coisas passageiras, a caminho do definitivo, da glória futura, da vida junto de Deus.

Nunca esqueço este belíssimo pensamento de Dom Helder: "É graça divina começar bem, graça maior é persistir na caminhada, mas a graça das graças é não desistir nunca". E é a partir do pastor dos empobrecidos que gostaria de registrar também, como ação de graças ao bom Deus, nossa simples e humilde lavra literária, credenciando-me integrar à Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará (ALMECE) e à Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF). Além de tornar-me cidadão de Fortaleza, ainda fui condecorado com três Medalhas, a saber: Boticário Ferreira, De Defesa dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara (da Câmara Municipal de Fortaleza) e Dom Helder Câmara, o Artesão da Paz (da ALMECE).

Não posso esquecer neste Ano da Fé (11/10/2012–24/11/2013) a pessoa de Maria, mulher “feliz porque acreditou”, nas palavras do Papa Paulo VI, ao encerrar o Concílio Vaticano II, no dia 08 de dezembro de 1965: “Enquanto encerramos o Concílio Ecumênico, nós festejamos Maria Santíssima, mãe de Deus e, por isso, como outra vez dissemos, Mãe de Deus e nossa mãe espiritual. Maria Santíssima, a imaculada, isto é, a inocente, a estupenda, a perfeita; isto é, a Mulher, a verdadeira Mulher ideal e real ao mesmo tempo; a criatura na qual a imagem de Deus se espelha com limpidez absoluta, sem nenhuma turbação, como sucede, pelo contrário, em todas as criaturas humanas”.

Espero contar com a oração, a amizade e a solidariedade do todos, neste ano dos meus 25 anos padre aqui na Arquidiocese de Fortaleza, para que “seduzido” por Deus, prossiga no meu esforço de “Fazer-me tudo para todos’”, parafraseando São Francisco de Sales.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e vice-presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com.

O elogio da bondade


A bondade não se prega, nem se ensina, nem se impõe. A bondade se contagia.

Quem é bondoso, cria um clima de bondade. E isso muda a vida.
Por José María Castillo
O que mais me impressiona no papa Francisco é a sua bondade. A bondade não é fazer "o bem". É mais do que isso. Porque, afinal de contas, o que significa fazer o bem? Isso depende de quem dita o que é bom e o que é mau. Na Espanha, até 1975, era ruim votar nos governantes. E o que era bom era ficar calado e se submeter. A partir do dia em que se aprovou a vigente Constituição Espanhola, é bom ir votar, ao passo que é ruim não tomar parte ativa e se comprometer em melhorar a gestação da "coisa pública", segundo o que cada um pensa e dentro dos limites que a Constituição e a ética da gente decente permitem.

A bondade é sempre uma forma de alguém se relacionar com os demais. Há uma prova muito simples para ver até onde vai a bondade de uma pessoa. Há tempo, eu já disse: "o espelho do comportamento ético não é a própria consciência, mas o rosto daqueles que vivem comigo. Quando este rosto expressa paz, esperança, alegria e felicidade, porque meu comportamento gera tudo isto, então é evidente que minha conduta é eticamente correta".
A bondade não se prega, nem se ensina, nem se impõe. A bondade se contagia. Aquele que é bondoso, cria um clima de bondade. E isso muda a vida. A de uma pessoa e a dos outros. Ser sempre bondoso, reconhecer os próprios limites e as próprias contradições. Somente assim poderemos, passando ou não a crise, vivermos melhor. E nos sentiremos melhor.
Já sei que isso não é a panaceia universal. Seria ingênuo pensar que apenas com a "benevolência" o mundo se ajeita. Não. Entre outras razões, porque a bondade carrega consigo o não ficar calado e passivo quando se vê o sofrimento, e muito sofrimento, dos mais frágeis. Em tais condições, aquele que se cala não se distingue por sua bondade, mas por sua covardia, por seu medo, por interesses inconfessáveis. Isto não é bondade. Dá vergonha de ver, sofrer e até pensar nisto.
De qualquer modo, e aconteça o que acontecer, não nos cansemos jamais de ser bons, sempre orientados e guiados pela mais desconcertante bondade. Porque, é um fato, a bondade é o que mais nos assusta e até nos desconcerta.
Teología Sin Censura, 13-08-2013.