sábado, 13 de abril de 2013

Presidente da CNBB lembra os 50 anos da encíclica Pacem Terris do Papa João XXIII

Papa Joao XXIII 















Ao dar as boas-vindas aos participantes da 51a assembleia geral da CNBB, nesta quinta-feira, 11 de abril, cardeal dom Raymundo Damasceno Assis lembrou o aniversário de 50 anos de publicação da Encíclica Pacem in Terris do papa João XXIII.
Recorde algumas passagens da Carta Encíclica:
“A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus” (n.1).
“O avanço da ciência e os inventos da técnica demonstram, antes de tudo, a infinita grandeza de Deus, criador do universo e do homem. Foi ele quem tirou do nada o universo, infundindo-lhe os tesouros de sua sabedoria e bondade. Por isso, o salmista enaltece a Deus com estas palavras: "Senhor, Senhor, quão admirável é o teu nome em toda a terra" (Sl 8, 1). "Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Fizeste com sabedoria todas as coisas" (Sl 103, 24). Foi igualmente Deus quem criou o homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), dotado de inteligência e liberdade, e o constituiu senhor do universo, como exclama ainda o Salmista: ‘Tu o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos sob seus pés tudo colocaste’ (Sl 8,5-6) (n.3)”
“Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, e inalienáveis”(n.9).
“Todo o ser humano tem direito natural ao respeito de sua dignidade e à boa fama; direito à liberdade na pesquisa da verdade e, dentro dos limites da ordem moral e do bem comum, à liberdade na manifestação e difusão do pensamento, bem como no cultivo da arte. Tem direito também à informação verídica sobre os acontecimentos públicos”(n.12).
“Compete outrossim à pessoa humana a legítima tutela dos seus direitos: tutela eficaz, imparcial, dentro das normas objetivas da justiça. Assim Pio XII, nosso predecessor de feliz memória, adverte com estas palavras: "Da ordem jurídica intencionada por Deus emana o direito inalienável do homem à segurança jurídica e a uma esfera jurisdicional bem determinada, ao abrigo de toda e qualquer impugnação arbitrária (n.27)".
“Todo o cidadão e todos os grupos intermediários devem contribuir para o bem comum. Disto se segue, antes de mais nada, que devem ajustar os próprios interesses às necessidades dos outros, empregando bens e serviços na direção indicada pelos governantes, dentro das normas da justiça e na devida forma e limites de competência. Quer isso dizer que os respectivos atos da autoridade civil não só devem ser formalmente corretos, mas também de conteúdo tal que de fato representem o bem comum, ou a ele possam encaminhar”(n.53).
“As nações fomentem toda espécie de intercâmbio quer entre os cidadãos respectivos, quer entre os respectivos organismos intermediários. Existe sobre a terra um número considerável de grupos étnicos, mais ou menos diferenciados. Não devem, porém, as peculiaridades de um grupo étnico transformar-se em compartimento estanque de seres humanos impossibilitados de relacionar-se com pessoas pertencentes a outros grupos étnicos. Isto estaria, aliás, em flagrante contraste com a tendência da época atual em que praticamente se eliminaram as distâncias entre os povos. Tampouco se deve esquecer que, embora seres humanos de raça diferente apresentem peculiaridades, possuem, no entanto, traços essenciais que lhes são comuns. Isso os inclina a encontrar-se no mundo dos valores espirituais, cuja progressiva assimilação abre-lhes ilimitadas perspectivas de aperfeiçoamento (N.100)”.
“Não se deverá jamais confundir o erro com a pessoa que erra, embora se trate de erro ou inadequado conhecimento em matéria religiosa ou moral. A pessoa que erra não deixa de ser uma pessoa, nem perde nunca a dignidade do ser humano, e portanto sempre merece estima. Ademais, nunca se extingue na pessoa humana a capacidade natural de abandonar o erro e abrir-se ao conhecimento da verdade. Nem lhe faltam nunca neste intuito os auxílios da divina Providência. Quem, num certo momento de sua vida, se encontre privado da luz da fé ou tenha aderido a opiniões errôneas, pode, depois de iluminado pela divina luz, abraçar a verdade. Os encontros em vários setores de ordem temporal entre católicos e pessoas que não têm fé em Cristo ou têm-na de modo errôneo, podem ser para estes ocasião ou estímulo para chegarem à verdade”(n.157).
“Como representante – ainda que indigno – daquele que o anúncio profético chamou o ‘Príncipe da Paz’ (cf. Is 9,6), julgamos nosso dever consagrar os nossos pensamentos, preocupações e energias à consolidação deste bem comum. Mas a paz permanece palavra vazia de sentido, se não se funda na ordem que, com confiante esperança, esboçamos nesta nossa carta encíclica: ordem fundada na verdade, construída segundo a justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade”(n. 166).
Papa João XXIII
Roma, 11 de abril de 1963

PENTECOSTES 2013


Babel nos consensos

                    

A exigência inegociável de construir um mundo melhor a partir da força própria dos consensos constitui a natureza da sociedade contemporânea. Compreende-se esse desafio quando se considera, entre os vários aspectos complexos que caracterizam a pós-modernidade, a natural rejeição às tentativas de domínio que trazem como consequência uma redução ao direito de participação cidadã. Forte também é o que caracteriza os ideais democráticos e o respeito às diferenças, particularmente às minorias. Contudo, na contramão dessa busca por entendimentos, o que se verifica, com muita frequência, é uma verdadeira Babel que nos remete à narrativa do Livro do Gênesis.

Não há como fugir da busca pelo consenso, sob pena de produzir totalitarismos, fundamentalismos ou mesmo afastamentos, que geram deserções prejudiciais para instituições e seus funcionamentos. Imprescindível é seguir no exigente caminho do diálogo, exercitando a paciência e nunca desistindo de avançar na construção da convergência em torno de temas, prioridades e assuntos importantes para a vida social, política, cultural e também religiosa.  Esse percurso que dá espaço para diferentes opiniões não pode negociar a centralidade da verdade. Só por ela se pode discernir adequadamente e alcançar a meta fundamental do bem e da justiça.

É um enorme desafio buscar a verdade que define rumos, corrige descompassos, dá prioridade ao que, naquele momento histórico e naquele lugar, é melhor e adequado. A verdade não está nunca sob o domínio de um ou de outro. Afinal, conforme bem ensina a sabedoria popular, “cada cabeça é uma sentença”. A complexidade se apresenta, justamente, em razão do inevitável confronto entre a verdade buscada, a realidade em si e as opiniões. Estas carecem de ser analisadas em suas fundamentações. Aí se encontra um infindável número de tensões e confrontos, que refletem interesses, muitas vezes não pertinentes, estreiteza de mentalidade, além da falta de uma formação cultural e humanística para subsidiar uma participação edificante na configuração do consenso.

É importante considerar que sem a construção de entendimentos, nas diferentes instâncias, modalidades e intensidades, a cultura não avança. Atrasos de todo o tipo são perpetuados e os cidadãos não usufruem dos bens e dons da natureza, da história, do seu próprio povo e das dádivas de Deus. Dessa Babel contemporânea surgem os fundamentalismos, de tipos variados, sintomas da perda do equilíbrio, que configuram a mediocridade e incapacidade para garantir o bem, a verdade e a justiça. Não menos grave é a falta de lucidez necessária aos operadores da união, por tarefa política, cultural ou religiosa. Uma carência fundamentada na falta do imprescindível embasamento humanístico. Trata-se de um problema que compromete o exercício da liderança, com decisões, posturas e escolhas que conduzem a coletividade no caminho oposto ao bem comum.

Diante de todos está esse sério desafio à conjuntura social, com suas importantes questões em pauta, como a reforma política, das instituições todas, incluindo as religiosas. Os consensos indispensáveis na construção da sociedade não podem ser reduzidos a meros processos de negociação partidária ou de interesses cartoriais. Só o compromisso com a verdade, meta a ser sempre buscada, possibilitará um qualificado processo na formação dos entendimentos construídos a partir de escolhas acertadas, rumos bem definidos e a participação indispensável de todos.

Na complexidade dessa questão de formar consensos, como força educativa e definidora de novos rumos, não poderá faltar o exercício de um caminho indicado por Jesus, em sua maestria, a partir de ditos e parábolas: a humildade. O exercício dessa virtude tem efeitos admiráveis sobre nós todos. Aos inteligentes, dá mais luminosidade. Aos governantes, a capacidade para ouvir o povo e, a partir dessa escuta, discernir as prioridades e urgências. A cada cidadão, eleva o gosto pelo diálogo e um despertar apurado quanto ao compromisso de construir a sociedade justa e solidária. No caminho da humildade indicado pelo Mestre Jesus, a Babel de consensos se tornará a sociedade de entendimentos.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.

A Igreja e os novos movimentos religiosos

             

Fiéis assistem a missa em Igreja Evangélica: novos movimentos religiosos são tema de discussão

Roma  - A Casa Bonus Pastor sedia um encontro internacional promovido pela Conferência Episcopal Alemã. O motivo é o estudo, por parte de pesquisadores, sociólogos e expoentes religiosos, dos Novos movimentos religiosos em todo o mundo, desde a África até a América. Estudioso do tema, o Frei Luis Carlos Sussin, professor de teologia sistemática da PUC de Porto Alegre fala sobre as motivações pelas quais as pessoas ingressam em novas formas de Igreja. Frei Luiz Carlos Sussin explica a partir de onde está sendo analisado o fenômeno:

“Nós temos multiplicado estudos para compreender melhor, porque é um fenômeno que nos surpreende a partir não tanto dos pregadores, dos pastores, dos líderes das diferentes formas de Igreja que temos no Brasil, mas pelo fervor, pelo dom de si, pelo sacrifício e a vontade de acreditar dos fiéis: é um fenômeno de religiosidade intensa. Evidentemente do ponto de vista das instituições, demonstra fragilidade e ao mesmo tempo, manipulação; às vezes interpretações inadequadas: é um caldeirão de coisas que precisam ser desdobradas para serem analisadas por partes”.

“De fato, o Brasil vem se tornando já tradicionalmente sincrético por sua história, e o Pentecostalismo no Brasil está muito sensível a novas formas de sincretismos. As pessoas se encontram ali porque geralmente conseguem interpretar o que está acontecendo com elas... é o divã do povo, é o lugar de consolação, de fortalecimento”.

“A tentação às vezes é analisar só do lado do mercado que isto representa, porque ali os pobres não vão para pedir ajudas, mas para oferecer seu dinheiro, que é oferecer seu dom, seu sacrifício. Há uma questão antropológica, de religiosidade, muito profunda nisso”.

“Há também o aspecto teatral que continua a ter lugar nestas Igrejas. Há a questão ‘templo mercado e teatro’, e também um pouco de hospital, de enfermaria, porque também é o espaço público paralelo ao espaço do Estado: é um espaço onde as pessoas buscam recursos que poderíamos esperar que buscassem em seus direitos de cidadania, na política, por exemplo. Na alma brasileira nunca houve uma separação de Igreja e Estado, neste sentido. Por isso, temos hoje alguns problemas políticos vindos deste Pentecostalismo, porque nesta sensibilidade nunca houve a separação dos aspectos religião e política”.

“O que há de melhor aqui é vermos este fenômeno em âmbito realmente global: nós nos convencemos daquilo que já líamos, ou seja, que o fenômeno se registra em todos os continentes com matizes diferenciadas, e inclusive, está acontecendo até fora do cristianismo: é um fenômeno de renovação espiritual, de fervor religioso que acontece também em outras tradições religiosas. É ligado ao movimento da história hoje, portanto é um sinal que precisa ser lido tanto positivamente, como um sinal do Espírito, como também em suas patologias e deformações, porque a religião é um ingrediente de muita energia. Esta energia pode ser muito construtiva, mas se deixada ao acaso, pode se tornar destrutiva”.

SIR

Apenas a Igreja é capaz de interpretar as escrituras, diz o papa Francisco


 

"Tudo o que está relacionado com a interpretação das Escrituras está sujeito ao julgamento da Igreja", ressaltou o papa
O Papa Francisco expressou nesta sexta-feira (12) seu compromisso com o pleno respeito à tradição da Igreja, única habilitada a interpretar corretamente as escrituras, e rejeitou "a interpretação subjetiva", em seu primeiro discurso ante o Comitê da Bíblia do Vaticano.
Nesta intervenção a "especialistas" - e não apenas para fiéis, como a maioria de seus discursos do último mês - o papa jesuíta fez uma longa referência a um texto do Concílio Vaticano II ( 1962-1965), a Constituição "Dei Verbum" ("A Palavra de Deus"), sobre o papel da Igreja.
Até o momento, ao contrário de Bento XVI, o novo papa pouco tinha mencionado o Concílio, ao qual ele é o primeiro pontífice das últimas décadas a não ter participado. Uma omissão surpreendente.
"O Concílio lembrou com grande clareza: tudo o que está relacionado com a maneira de interpretar as Escrituras está, em última análise, sujeito ao julgamento da Igreja, que realiza o seu mandato divino e o ministério de preservar e interpretar a palavra de Deus".
Para o papa, "há uma unidade indissolúvel entre Escritura e Tradição", que são "conjuntas e se comunicam entre elas", "formando, de certa maneira, uma única coisa", declarou.
"A Sagrada Tradição transmite a Palavra de Deus plenamente (....) Desta forma, a Igreja tira a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas não só nas Sagradas Escrituras. Uma como a outra devem ser aceitas e veneradas com sentimentos semelhantes de piedade e respeito", disse em um discurso que revela um papa muito respeitoso da autoridade da Igreja.
Como resultado, "a interpretação das Escrituras não pode ser apenas um esforço intelectual individual, mas deve ser sempre confrontado, inserido e autenticado pela tradição viva da Igreja", argumentou.
Esta declaração, na linha de Bento XVI, não deve agradar os protestantes ou católicos contestatórios, como o suíço Hans Küng, que reivindicam o direito de interpretar livremente as Escrituras.
Para ser claro, o papa denunciou "a insuficiência de qualquer interpretação sugestiva, ou simplesmente limitada a uma análise incapaz de acolher o significado global que tem sido construído há séculos pela tradição de todo o povo de Deus."
AFP