terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fazer o bem é sempre permitido


"Minhas ovelhas escutam minha voz e eu as conheço e elas me seguem" (Jo 10,27).


“Estende tua mão´. Ele a estendeu, e foi-lhe restabelecida a mão." (Foto: )
Lucas 6,6-11
A mão direita simbolizava, nas culturas antigas, o poder de fazer o bem; a mão esquerda, pelo contrário, o poder de fazer o mal. Ter a mão direita seca era uma experiência terrível. Significava que o indivíduo estava impossibilitado de realizar o bem. Só podendo agir com a mão esquerda, as obras de suas mãos não eram bem vistas.

Por isso, quando Jesus se defrontou, na sinagoga, com um homem cuja mão direita estava seca, antecipou-se e se propôs a curá-lo antes que lhe fosse feito o pedido. Assim como  conhecia o pensamento de seus adversários, Jesus conhecia também o drama pessoal daquele homem. Sem dúvida, sua limitação física era humilhante e o identificava como portador de maus augúrios. É bem possível que as pessoas o evitassem.

Embora fosse sábado, Jesus sentiu-se na obrigação de curar aquele homem. E o fez, contrariando os mestres da Lei e os fariseus, para os quais o repouso sabático era uma exigência absoluta. Jesus não pensava assim. Quando se tratava de fazer o bem, não se importava com nada, nem mesmo com o fato de violar a lei do sábado. O amor era a exigência absoluta de sua vida, não as tradições religiosas. Este princípio de vida norteava sua ação, mesmo sabendo que se tornaria objeto do ódio de seus adversários.

 Oração

Senhor Jesus, não permitas que eu deixe de fazer o bem, por estar apegado a costumes e a preconceitos que não correspondem à tua vontade.

 (O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)

Dom José Rodrigues: um Profeta da Justiça

"Por conta de seu destemor na defesa dos pobres, explorados e oprimidos, esteve por várias vezes sob risco de violência e morte, mas não retrocedeu, impávido, às vezes contra nossa vontade", testemunha a Comissão Pastoral da Terra - CPT, em nota sobre o falecimento de D. José Rodrigues de Souza.

A CPT –- Comissão Pastoral da Terra de Juazeiro, da Bahia e do Brasil, com fé e amor, celebra a Páscoa de dom José Rodrigues de Souza CSSR. A gratidão supera a dor desta hora de sua partida, para rogarmos a Deus por seu merecido descanso e pela continuidade por nós de sua obra redentora.
Bispo de Juazeiro entre 1975 e 2003, dom José foi um dos fundadores da CPT Regional Nordeste III (Bahia/Sergipe), em 1976, da qual foi bispo acompanhante por muitos anos. Criou logo em seguida a CPT de Juazeiro, como resposta pastoral ao sofrimento do povo expulso pela barragem de Sobradinho e aos camponeses vítimas da grilagem de terra, no início da irrigação agrícola no submédio São Francisco.
A todas as demandas do povo sertanejo, multiplicadas e prementes, sua sensibilidade humana e pastoral soube responder, ao criar (ou reforçar) outras sete pastorais sociais (juventude do meio popular, pescadores, mulher marginalizada, saúde, reassentados, carcerária, criança), “círculos de cultura” (com Paulo Freire), um setor diocesano de comunicação, uma biblioteca de 45 mil volumes, uma campanha pioneira pelas cisternas familiares de água de chuva, pilar da Convivência Com o Semiárido, e uma destinação social ao patrimônio da diocese em terras na cidade de Juazeiro.
Como uma Igreja Nordestina, atuou sempre articulado com as dioceses e bispos vizinhos: Senhor do Bonfim (d. Jairo), Rui Barbosa (d. Matthias e d. André), Paulo Afonso (d. Mário e d. Esmeraldo), Petrolina-PE (d. Paulo) e Propriá-SE (d. José Brandão, redentorista como ele).
Favoreceu a articulação sindical de todo o vale do São Francisco, que se reunia no centro de encontros da diocese, em Carnaíba do Sertão. Em tempos de silenciamento, foi porta-voz dos pobres nas igrejas e capelas, no rádio, no boletim mensal da diocese (“Caminhar Juntos”), na Assembléia Legislativa, na Câmara Federal e em viagens pela Europa. À tardinha das sextas-feiras, parava-se nas estradas para ouvir seu “Semeando a verdade”, na Emissora Rural, e as comunidades reuniam-se ao redor do rádio para ouvi-lo. Todos os meios disponíveis à época ele soube lançar mão pela libertação do povo.
Não se intimidou com a repressão militar, os quatro municípios atingidos pela barragem de Sobradinho transformados em “área de segurança nacional”. Sua casa foi invadida e vasculhada, os muros e portas da catedral pichados pelo Comando de Caça aos Comunistas. Toda reação popular aos desmandos públicos e privados lhe era atribuída, como as mortes de fazendeiros no vale do Salitre em confronto com lavradores que defendiam sua água sugada pelas motobombas de grandes irrigações.
As conquistas do povo nos reassentamentos dos atingidos pela barragem de Sobradinho devem muito à sua voz destemida e ao trabalho que encomendava à CPT. A organização eclesial (CEBs), sindical e política do povo sertanejo teve grande impulso sob sua inspiração e incomodou os coronéis locais e os donos do poder na Bahia.
Por conta de seu destemor na defesa dos pobres, explorados e oprimidos, esteve por várias vezes sob risco de violência e morte, mas não retrocedeu, impávido, às vezes contra nossa vontade. A entrega de si aos outros se tornou definitiva quando se fez refém de assaltantes em lugar da família do gerente do Banco do Brasil e esteve por dias com um revolver apontado para sua cabeça, perdoou os criminosos, escrevia-lhes e ajudava a se recuperarem.
Ao deixar a diocese, quando completou 77 anos de idade, disse como da essência de um testamento: “nunca traí os pobres”. Sem dúvida alguma, sua fidelidade mais profunda era a Jesus de Nazaré. E foi-se como veio, praticamente com a roupa do corpo. Nestes sertões, neste país, e mesmo nesta Igreja, não é pouco... Diante das sugestões para produzir suas memórias, dizia: “memória só tem uma, a Eucaristia”.
Sua morte a menos de um dia após a festa da padroeira, Nsa. Sra. das Grotas, que celebrou também os 50 anos da diocese, a qual ele, firme e humilde, dirigiu por 28 anos, nos faz pensar no quanto sua vida estava intimamente ligada à trajetória desta Igreja de Cristo nos sertões do São Francisco. “Mãe das Grotas... em teus braços vê se acolhe... os que lutam, os que vivem e os que morrem”.
Dom José Rodrigues, Dom José, Dom Rodrigues, Rodriguinho, grão fértil de trigo morto, produtivo (cf. João, 12,24), você nos deixa para habitar misteriosa e mais fortemente nossos espíritos e nossas lutas. Com esperança, nós da CPT nos comprometemos em preservar sua memória e ser fiel a seu exemplo e inspiração, na continuidade do serviço incansável aos pobres do campo de hoje, causa do Reino de Deus de sempre. Homem de fé e ação, de espírito e coração, de pouco corpo e muita alma, profeta do nosso tempo, pastor dos pobres da terra, homem santo, cuida de nós! Amém!

Juazeiro / Salvador / Goiânia, 10 de setembro de 2012.

Comissão Pastoral da Terra

Santa Sé: humilhados pelo naufrágio em Lampedusa


Sarajevo, 11 set (SIR) – “Diante destas tragédias, sentimo-nos humilhados. Estas mortes questionam as consciências e nos perguntamos: o que fazemos? O que fazemos por estas pessoas antes que moram ou para evitar que morram?”
Pergunta assim o card. Antonio Maria Vegliò, presidente do Pontifício Conselho para a pastoral dos migrantes e dos itinerantes, comentando em entrevista mais um naufrágio que aconteceu na semana passada perto da ilha de Lampione, no extremo sul da Itália, em pleno Mar Mediterrâneo.
Durante o Encontro mundial das religiões pela paz (Sarajevo, 7-11 setembro), o cardeal afirmou que, apesar de não serem ainda claras “as dinâmicas desta última tragédia no mar”, “é triste conhecer que acontecem estes fatos no terceiro milênio, que haja pessoas que morrem para encontrar um trabalho, para manter uma família, ou que para garantir para si e seus filhos uma vida segura, é obrigada a deixar tudo”.
“Quando há pessoas que morrem no mar para fugir de situações péssimas, em busca de uma vida melhor, quando existem pessoas que deixam a pátria para encontrar trabalho, quando há pessoas que são obrigadas a fugir de seu País porque se vive uma guerra civil, quando acontecem desastres naturais, não podemos fechar os olhos e dizer que não nos interessa”.

Bispos debatem o rumo da evangelização com a juventude


Brasília, 11 set (CNBB/SIR) - Em setembro de 2013, após a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), jovens e assessores das diferentes expressões que atuam junto à Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB estarão juntos em um encontro para dar o rumo à evangelização da juventude da Igreja no Brasil.
A proposta foi decidida entre 15 dos 17 bispos referenciais da juventude nos 17 regionais, reunidos na última terça e quarta-feira (4 e 5) em Brasília. O encontro deverá ser na Capital Federal. Segundo o presidente da comissão e bispo auxiliar de Campo Grande, dom Eduardo Pinheiro, esse evento vai amarrar propostas concretas para dinamizar a pastoral juvenil nas dioceses. Os bispos regionais já estão levantando sugestões para se trabalhar o caminho de evangelização após a jornada. “A ação evangelizadora da juventude é a grande meta da JMJ em um país. Já estamos vivendo essa meta com a peregrinação da Cruz e do Ícone nas dioceses, que desafia a ação para novas posturas”, disse dom Eduardo Pinheiro. A pesquisa dos bispos deve continuar com um questionário para todas as dioceses.

Metas

Além desse encontro, outras metas para 2013 traçadas pela Comissão Episcopal, que são: Implementar o projeto de revitalização da Pastoral Juvenil; aprofundar e vivenciar a Campanha da Fraternidade 2013; aprofundar o Documento 85 e o Documento Civilização do Amor e continuar acompanhando a organização do Setor Juventude na instância diocesana.
O bispo de Caxias (MA), referencial para a juventude do Regional Nordeste 5 da CNBB (Maranhão) e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, dom Vilson Basso, lembrou que a Igreja no Brasil sempre esteve ligada ao trabalho com a juventude na dimensão latino-americana. ”Desde Medelín e Puebla, o Brasil tem participado de todos os encontros latino-americanos de pastoral juvenil, dos congressos e outros eventos. A Igreja no Brasil tem trabalhado junto com o Conselho Episcopal Latino-americano (Celam) nesse serviço bonito”. Durante a reunião, foi feita uma retrospectiva da caminhada da atual Coordenação Nacional de Pastoral Juvenil, em particular sobre a sua comunhão com as atividades e projetos do Cone Sul e da Pastoral Juvenil Latino-americana.

Semana Missionária

A preparação para a Semana Missionária, atividade em todas as dioceses que antecederá a Jornada Mundial da Juventude, e os subsídios elaborados em preparação para esse momento e para o Dia Nacional da Juventude foram apresentados pelos bispos. Segundo o assessor da Comissão, padre Antônio Ramos do Prado, a reunião foi uma das mais produtivas por aprofundar o projeto da identidade da pastoral juvenil. De acordo com ele, a peregrinação da Cruz e o Bote Fé têm ajudado gerar unidade na juventude e a aproximação do clero.

Evangelho do dia

Ano B - Dia: 11/09/2012



Escolha dos doze apóstolos
Leitura Orante


Lc 6,12-19

Naquela ocasião Jesus subiu um monte para orar e passou a noite orando a Deus. Quando amanheceu, chamou os seus discípulos e escolheu doze deles. E deu o nome de apóstolos a estes doze: Simão, em quem pôs o nome de Pedro, e o seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Simão, o nacionalista; Judas, filho de Tiago; e Judas Iscariotes, que foi o traidor.


Leitura Orante


Preparo-me para a Leitura, rezando:
Jesus Mestre, que dissestes:
"Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome,
eu aí estarei no meio deles",
ficai conosco,
aqui reunidos (pela grande rede da internet),
para melhor meditar
e comungar com a vossa Palavra.
Sois o Mestre e a Verdade:
iluminai-nos, para que melhor compreendamos
as Sagradas Escrituras.
Sois o Guia e o Caminho:
fazei-nos dóceis ao vosso seguimento.
Sois a Vida:
transformai nosso coração em terra boa,
onde a Palavra de Deus produza frutos
abundantes de santidade e missão.
(Bv. Alberione)

1. Leitura (Verdade)
O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na minha Bíblia, o texto: Lc 6,12-19 e observo pessoas e as atitudes de Jesus.
Lucas registra a oração de Jesus durante toda a noite. Afasta-se da multidão e dos opositores hostis, subindo à montanha para a oração. De manhã, chama seus discípulos escolhendo entre eles doze a quem chamou apóstolos. Jesus não chamou para seu grupo os mais preparados do seu tempo, mas, os mais disponíveis. Chamou simples pescadores - Pedro, André, Tiago, João. Chamou o cobrador de impostos. Chamou gente simples. Não significa que discriminou. Apenas, significa que o coração mais simples está livre de muitas preocupações e têm espaço para acolher. E os chamados receberam a missão de enviados - "apóstolos" - para anunciar o Reino, expulsar os espíritos maus e curar todas as doenças, uma missão de libertar as pessoas de todos os males.

2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
O meu Projeto de vida é o do Mestre Jesus Cristo? Pelo Batismo recebi a missão de discípulo e de missionário de Jesus. Os bispos da América Latina disseram em Aparecida: "Para não cair na armadilha de nos fechar em nós mesmos, devemos nos formar como discípulos missionários sem fronteiras, dispostos a ir "à outra margem", àquela na qual Cristo não é ainda reconhecido como Deus e Senhor, e a Igreja não está presente". (DAp 376).
Cristo me chama também pelo nome. Como é a minha disponibilidade?

3.Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo:
Jesus Mestre, disseste que a vida eterna consiste
em conhecer a ti e ao Pai.
Derrama sobre nós, a abundância
do Espírito Santo!
Que ele nos ilumine, guie e fortaleça no teu seguimento,
porque és o único caminho para o Pai.
Faze-nos crescer no teu amor,
para que sejamos, como o apóstolo Paulo
testemunhas vivas do teu Evangelho.
Com Maria,
Mãe Mestra e Rainha dos Apóstolos,
guardaremos tua Palavra,
meditando-a no coração.
Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.
(Bem-aventurado Alberione)

4. Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Vou olhar o mundo e a vida com os olhos de Deus. Vou demonstrar pela vida que caminho com Jesus Mestre para anunciar onde vivo, trabalho, estudo; por onde passo deixo os sinais da proposta de Jesus Cristo.

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
-Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.

Santo do Dia

11 de setembro

São João Gabriel Perboyre
João Gabriel Perboyre nasceu em 5 de janeiro de 1802, em Mongesty, na diocese de Cahors, França, numa família de agricultores, numerosa e profundamente cristã. Foi o primeiro dos oito filhos do casal, sendo educado para seguir a profissão do pai.

Mas o menino era muito piedoso, demonstrando desde a infância sua vocação religiosa. Assim, aos quatorze anos, junto com dois de seus irmãos, Luís e Tiago, decidiu seguir o exemplo do seu tio Jacques Perboyre, que era sacerdote. Ingressou na Congregação da missão fundada por são Vicente de Paulo para tornar-se um padre vicentino ou lazarista, como também são chamados os sacerdotes desta Ordem. Depois, também, duas de suas irmãs ingressaram na Congregação das Filhas da Caridade. Uma outra irmã, logo após entrar para as carmelitas, adoeceu e morreu.

João Gabriel recebeu a ordenação sacerdotal em 1826. Ficou alguns anos em Paris, como professor e diretor nos seminários vicentinos. Porém seu desejo era ser um missionário na China, onde os vicentinos atuavam e onde, recentemente, padre Clet fora martirizado.

Em 1832, seu irmão, padre Luís, foi designado para lá. Mas ele morreu em pleno mar, antes de chegar às Missões na China. Foi assim que João Gabriel pediu para substituí-lo. Foi atendido e, três anos depois, em 1835, estava em Macau, deixando assim registrado: "Eis-me aqui. Bendito o Senhor que me guiou e trouxe". Na Missão, aprendeu a disfarçar-se de chinês, porque a presença de estrangeiros era proibida por lei. Estudou o idioma e os costumes e seguiu para ser missionário nas dioceses Ho-Nan e Hou-Pé.

Entretanto foi denunciado e preso na perseguição de 1839. Permaneceu um ano no cativeiro, sofrendo torturas cruéis, até ser amarrado a uma cruz e estrangulado, no dia 11 de setembro de 1840.

Beatificado em 1889, João Gabriel Perboyre foi proclamado santo pelo papa João Paulo II em 1996. Festejado no dia de sua morte, tornou-se o primeiro missionário da China a ser declarado santo pela Igreja.

Mensagens


Os oceanos são feitos de gotas d'água

Todos aqueles e aquelas que tentam viver uma vida coerente e nova, como a aurora de cada dia, alegrem-se com o que de novo tem feito e ainda sempre fará o Deus da novidade.

Ele nos garante um novo Céu e uma Terra nova: A Terra Prometida sob a palavra de sua aliança e registrada nas Bem-Aventuranças de seu filho Jesus, nosso irmão.

Cantemos a esse Deus vivo a canção invencível da esperança, mesmo na noite neoliberal. É de noite que Abraão pode enxergar as estrelas da promessa.

Bailemos a dança da igualdade e da partilha contra os altos muros do lucro e da exclusão. As muralhas da Jericó do Capital cairão sob as trombetas dos pobres organizados.

Sentemo-nos, em roda ecumênica, na relva humilde da liberdade, orvalhada pelo suor camponês, operário e biscateiro e batizada pelo sangue de tantas testemunhas.

No campo na mata, no cerado e na caatinga, nos lagos e nos rios, violados pelo arame fapado do latifúndio, pelos agrotóxicos assassinos, pelo maquinário das madeireiras e mineradoras e pleos projetos faraônicos das monoculturas, das barragens, das hidrovias, das hidrelétricas, sejamos "o novo": o antigo jeito novo de zelar da Terra como de uma esposa-mãe.

Salvemos dos transgênicos e de toda manipulação suicidas a biodiversidade. Agasalhemos a vida e o cosmo como se agasalham, nos ninhos, as asas do futuro. Na cidade que amontoa as pessoas no anonimato, nas pressas e na violência, sejamos o shalom da nova Jerusalém, o resplendor, sem luzes falsas, da cidade do Cordeiro, a festa das bodas do Deus Amor com a humanidade noiva.

Contamos com Aquele que é eterno e justo. A terra está cheia do seu amor! Ele, no seu Dia, na hora que vem vindo do seu Reino, desbarata, pelas mãos dos pobres, os projetos dos grandes, os devoradores fundos monetários, as alcas prepotentes da dominação, os planos militares e geopolíticos, enroupados com desculpas antinarco, o verdadeiro terror estrutural dos estados, do império, do sistema.

Os grandes são diante dEle erva que murcha num dia. Não há grandes para Ele, que é Pai goel dos homens humildes e das mulheres humilhadas. Ele convoca toda a humanidade numa só família: de todas as raças, de todas as culturas, de todas as religiões. Porque Ele Deus único, de todos os nomes, seio de saída e seio de retorno para toda a sua filha, a humanidade una.

Contemos também com todos os irmãos e irmãs, que sentem a mesma dor e assumem a mesma luta e cultivam o mesmo sonho. Os povos indígenas e negros, raízes do nosso Povo, as massas revoltadas da cidade, os sem-comida, os sem-teto, os sem-terra, os sem-água, os sem-trabalho e sem-direitos, os sem-saúde e sem-segurança.

Todos os excluídos e excluídas pelo império do capital, que são os incluídos e incluídas no Reino. As tribos jovens de Seattle, de Gênova, de Porto Aelgre. Os patriarcas e matriarcas da profecia teimosa, que ainda têm visões de amanhecida nas sábias testas queimadas pela fidelidade. Todos os solidários e solidárias do Norte e do Sul, que têm apagado de seus olhos as fronteiras da segregação e as leis de estrangeiria.

Romeiros e romeiras da Utopia maior, vamos para um outro mundo, possível e necessário, para a Terra sem males, da economia da reciprocidade, para a Shekiná do acampamento de Deus, para a Casa solarenga da Vida plena.


Pedro Casaldáliga
do livro: Orações da caminhada - Verus