quinta-feira, 6 de junho de 2013

Francisco: 'Quem crê em Deus não tem ídolos nem segue modas'


Cidade do Vaticano - “Vivemos pequenas ou grandes idolatrias, mas o caminho que leva a Deus passa pelo amor exclusivo por Ele, como Jesus nos ensinou”. Este foi o fulcro da homilia de papa Francisco na missa celebrada na manhã desta quinta-feira (6), na capela da Casa Santa Marta.
 O arcebispo de Curitiba, Dom José Vitti, foi um dos concelebrantes.  Quando o escriba se aproximou de Jesus para perguntar qual era, segundo Ele, o primeiro mandamento, “provavelmente sua intenção não era tão inocente”, disse Francisco, comentando a leitura do Evangelho.
Jesus respondeu que “o Senhor é o nosso Deus”, que não é suficiente dizer “acredito em Deus; Deus é o único Deus”, mas é preciso viver realmente como se Ele fosse o único, e não ter outras divindades a nossa disposição. “Existe o risco da idolatria!”. Jesus foi claro, e pediu ao Pai que nos defendesse do espírito mundano, que nos conduz à idolatria.
O papa prosseguiu afirmando que a idolatria é sutil, que “todos temos nossos ídolos escondidos”, mas que devemos procurá-los e destruí-los, porque o único caminho para seguir Deus é o da fidelidade: “Os ídolos escondidos fazem com que nós não sejamos fiéis no amor. O caminho para seguir avante no Reino de Deus é um caminho de fidelidade que se assemelha ao amor nupcial”.
Como é possível não ser fiel a um amor tão grande? - questionou Francisco, concluindo que é necessário confiar em Cristo, “que é fidelidade plena e que nos ama tanto”: “Hoje, podemos pedir a Jesus: ‘Senhor, você é tão bom, ensina-me o caminho para estar sempre perto de Deus e afastar sempre todos os ídolos. É difícil, mas temos que começar, porque eles nos tornam inimigos de Deus”.
SIR

Há 50 anos, morria o papa João XXIII


Em 3 de junho de 1963, o papa João XXIII morria em seu quarto no terceiro piso do palácio pontifício. Dir-se-á que expirou no Ite missa est da missa que era celebrada para ele na Praça São Pedro. Estamos na noite de segunda-feira de Pentecostes, uma coincidência notável para aquele papa que tinha desejado tanto um novo pentecostes para a Igreja, e que havia visto o início de sua concretização com a reunião da primeira sessão do Concílio Vaticano II, convocado por ele cinco anos antes.
A morte de João XXIII foi um acontecimento mundial experimentado ao vivo. O dominicano Yves Congar escreveu em seu diário: “Todos tinham a sensação de perder, em João XXIII, um pai, um amigo pessoal, alguém que pensava nas pessoas, e que as amava”. De fato, o mundo inteiro chorará aquele homem de pequena estatura, não particularmente agraciado e elegante, que tinha sabido ser plenamente o papa. Aquela unanimidade espantava a Cúria Romana que não entendia como aquele homem assim bom, longe dos usos arrogantes de um soberano pontífice e que, de bom grado, admitia – talvez com um pouco de faceirice – as suas lacunas em teologia, pudesse ter conquistado tantos corações.
Eleito aos 77 anos como “papa de transição”, João XXIII foi, além da esperança daqueles que o haviam elegido. Fez o catolicismo passar de uma lógica de fortaleza assediada para uma cultura de diálogo e aberta ao mundo. No entanto, ao longo de seu pontificado, aconteceu muitas vezes de decepcionar as esperanças daqueles que esperavam pelas mudanças, ao ponto de julgarem-no duramente.
A releitura histórica mostra que João XXIII, sob aquele ar de “avô” era, na verdade, um temível estrategista. Da orientação que queria levar à Igreja, jamais revelou algo antes de sua eleição. Os franceses, que mantiveram a memória da estrita obediência a Roma no período do caso dos padres operários (1953), não esperavam muito dele. E a sua postura diplomática nos confrontos da Cúria fez com frequência acreditar que ele não soubesse tomar decisões difíceis.
Qualquer semelhança com a recente e surpreendente eleição de um novo pontífice não é totalmente fortuita. Certo, a história não se repete, e Jorge Mario Bergoglio não é Angelo Roncalli. Todavia, o surgimento de um novo estilo papal, de um modo de falar que todos o compreendem e que faz torcer o nariz aos apaixonados dos altos debates teológicos, a vontade de não “bancar o papa”, mas permanecer ele mesmo são, depois de cinquenta anos de distância, características muito comuns.
Resta saber até onde andará o papa Francisco. A julgar por uma série de afirmações recentes e, em particular, pelo seu discurso em São Pedro na frente dos bispos italianos, parece que o papa argentino é muito menos diplomático do que foi João XXIII. É também verdade que Francisco tem a vantagem de ser instruído pela experiência. Conhece o peso dos hábitos, em particular daqueles maus, e a tendência da Igreja Católica de preocupar-se antes de tudo com ela própria.
Padre ordenado no período das esperanças acesas pelo Concílio, ele sabe que muitas dessas esperanças foram decepcionadas. Sonhava com uma Igreja a serviço do Evangelho, queria anunciar Jesus Cristo até os confins, até as extremidades da Terra.
Agora que se tornou papa, está sempre ávido por conhecer Jesus. É a prioridade que dá à Igreja, quase contra si própria, isto é, contra o seu narcisismo. Se há um ponto em comum entre João e Francisco, é que o seu amor pela Igreja é o amor por uma Igreja que serve a Jesus Cristo, servindo a humanidade.
Lumen Christi, lumen gentium…, “a luz de Cristo é a luz das nações”. É com essas palavras que João XXIII tinha começado uma importantíssima mensagem radiofônica que havia pronunciado um mês antes da abertura do Concílio para pedir as orações de todos os católicos. “Lumen Gentium” são as palavras que abrem a grande constituição conciliar sobre a Igreja. Mas, contrariamente a quanto se acredita normalmente, o texto permanece fiel ao pensamento do papa João. A primeira frase da Constituição diz: “Cristo é a luz das gentes”, e acrescenta que é “a luz do Cristo que resplandece no rosto da Igreja”. A sugestão merece ser sublinhada. A Igreja não se acredita a luz, ela é somente o espelho, há o dever de refleti-la. Jesus no centro! Eis o que une João XXIII e Francisco!
Témoignage chrétien, 01-06-2013.

'Alimentos jogados no lixo são alimentos roubados dos pobres'


Segundo o papa Francisco, 'a cultura do desejo tornou os homens insensíveis ao desperdício alimentar'
Diante de 80 mil pessoas, reunidas na Praça de São Pedro para a audiência da quarta-feira (5), o papa lembrou que nesse dia era celebrado o Dia Mundial da Meio Ambiente e destacou a necessidade de cuidar da natureza e de acabar com o desperdício e a destruição de alimentos. O Bispo de Roma denunciou que o homem está destruindo a natureza, a criação e as relações humanas.

"Estamos vivendo um momento de crise, percebemos isto no ambiente, mas, sobretudo, no homem. O ser humano está em perigo e o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda, não é apenas uma questão de economia, mas de ética e de antropologia", afirmou.
O pontífice destacou que a Igreja já disse isto em numerosas ocasiões: "Muitos dizem, sim, é verdade..., mas o sistema continua como antes, já que são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética que dominam”, acrescentou.

"Assim, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do benefício do consumo. É a cultura do desejo, do descarte. Caso estrague um computador, é uma tragédia, mas a pobreza, os necessitados, os dramas de tantas pessoas acabam entrando na normalidade", denunciou.
Sua denúncia foi mais além, e com veemência acrescentou: "no mundo não é o homem quem manda, o que manda é o dinheiro. No entanto, Deus deu ao homem a obrigação de cuidar da terra, não o deu o dinheiro”.
Nessa linha, o papa argentino acrescentou que se um homem morre de frio, numa praça, ou se muitas crianças morrem de fome, “isso entra na normalidade” e o mundo não se escandaliza, mas se a bolsa de valores de uma cidade cai dez pontos, “é uma tragédia mundial”.
Francisco acrescentou que essa “cultura do desejo, do descarte” está se tornando a “mentalidade comum que a todos contagia”.
“A vida humana, as pessoas, já não são vistas como o valor primordial, que é preciso respeitar e tutelar, sobretudo, quando são pobres ou doentes, ainda não servem – como o não nascido – ou não servem mais, como o ancião”.

"Esta cultura do desejo – continuou – também nos tornou insensível ao desperdício alimentar, que é ainda mais desprezível quando, em todas as partes do mundo, muitas pessoas passam fome e desnutrição”, denunciou.

O papa Bergoglio recordou que nossos avós tinham muito cuidado em não jogar nada da comida que sobrava, mas enfatizou que o consumismo nos levou a nos acostumarmos com o supérfluo, com o desperdício diário de comida e, muitas vezes, “já não somos nem capazes de dar o justo valor, que vai além dos parâmetros econômicos”.

“Lembremos sempre que a comida que jogamos é como se nós a tivéssemos roubado da mesa de quem é pobre, de quem tem fome”, manifestou.

Francisco exortou aos fiéis a respeitar a criação e cuidar das pessoas, a contrariar a cultura do desperdício e do descarte e a promover uma cultura da solidariedade e do encontro.

Sobre a criação, o papa citou o libro do Gênesis e disse que Deus colocou o homem e a mulher na terra para que cultivassem e cuidassem da criação, mas que o homem “conduzido pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar a terra, não cuida dela, não a respeita e não a considera uma doação gratuita a ser cuidada”.

Muitos fiéis da Espanha, Colômbia, Uruguai, Argentina, México e de outros países latino-americanos assistiram a audiência, aos quais convidou a respeitar e cuidar da criação e promover uma cultura da solidariedade.
Antes de começar a audiência, como já é habitual, Bergoglio percorreu a Praça de São Pedro no papamóvel.
Inspirado no Evangelho da solenidade de Corpus Christi, no qual Jesus dá de comer à multidão, com cinco pães e dois peixes, e que no final pede aos discípulos que nada do alimento seja desperdiçado, o Bispo de Roma afirmou que o Dia Mundial do Meio Ambiente, “convida a se opor ao desperdício de alimentos e a melhorar sua distribuição no mundo”.

O papa Francisco disse que “o egoísmo e a cultura do descarte" conduziram a tornar as pessoas mais frágeis e necessitadas”, e neste marco insistiu: “Estamos vivendo um momento de crise; percebemos isto no ambiente, mas, sobretudo, vemos isto no homem. A pessoa humana está em perigo: eis aqui a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é apenas uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. Muitas vezes, a Igreja já destacou isto. E muitos dizem: sim, é justo, é verdade... mas, o sistema continua como antes, porque são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética que dominam. Assim, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos da ganância e do consumo: é ‘a cultura do descarte’. Caso estrague um computador é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades e os dramas de tantas pessoas acabam entrando na normalidade...”.
Ele também disse que “em muitas partes do mundo, não obstante a fome e a desnutrição existentes, os alimentos são jogados”. Disse que: “Os alimentos que são jogados no lixo, são alimentos roubados da mesa do pobre, daquele que tem fome”.

Finalmente, Francisco convidou a todos para “respeitar e cuidar da criação, para prestar atenção e cuidado com toda pessoa e a enfrentar “a cultura do descarte” e do desejo, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro”.