quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Catequese e pastoral de conjunto

             A catequese é um instrumento fundamental na construção do rosto da Igreja. É o campo específico onde as pessoas aprendem a conhecer melhor o que significa ser cristão e ser Igreja. É também o espaço onde cada um deve poder perceber melhor a identidade católica, ouvindo o que a nossa Igreja pede e sendo estimulado se comportar de maneira coerente com a adesão eclesial que vai marcar seu modo de viver a fé cristã.
            Às vezes ouvimos dizer que a Igreja é, ao mesmo tempo, nossa mãe e nossa filha. Como mãe ela nos educa, nos faz herdeiros de suas características, de sua tradição. Como filha ela acaba recebendo de nós também um jeito de ser: nosso comportamento, nossas atitudes e sentimentos fazem parte do rosto que ela apresentará aos de fora. Podemos torná--la mais bonita ou podemos comprometer sua imagem.
            Um rosto é formado por um conjunto bem combinado de características. Imagine um retrato seu  em que olhos e boca estivessem pintados de forma artisticamente irrepreensível mas estivesse faltando o nariz... Seria uma imagem deturpada, mesmo com alguns detalhes bem trabalhados. É isso que acontece com a imagem da Igreja se a catequese cuidar bem de certas dimensões da pastoral e deixar outras no esquecimento. É claro que a catequese tem que educar os catequizandos para uma boa leitura bíblica, um conhecimento da tarefa missionária, uma participação consciente na liturgia e na comunidade. É fácil perceber como uma falha nessas áreas deixaria incompleto o trabalho catequético. Depois de tantos anos trabalhando a ligação entre fé e vida, que era uma preocupação central do documento Catequese Renovada, também se percebe a necessidade de termos, nos materiais catequéticos, uma preocupação com problemas pessoais, comunitários e sociais, como decorrência indispensável do compromisso cristão.
            No meio de tudo isso, porém, não é raro que a dimensão ecumênica seja simplesmente omitida. É como se isso não fizesse parte do conjunto da mensagem, como se fosse uma atividade isolada que somente interessa aos grupos que costumam participar de eventos ecumênicos. Aí fica faltando algo no rosto da Igreja que é apresentado ao público atingido pela catequese, a imagem estará deturpada por estar incompleta. O ecumenismo e o diálogo inter-religioso costumam ser contemplados mais nos materiais e documentos que tratam da dimensão missionária. Isso é compreensível porque os missionários estarão sendo enviados aos que não são cristãos e estarão necessariamente em contato com sistemas religiosos diferentes. Mas hoje, no mundo pluralista em que estamos envolvidos, todo católico precisa saber como a sua Igreja deseja que aconteça o relacionamento com os que pertencem a Igrejas ou religiões diferentes. Esse conjunto de pessoas não católicas certamente marca presença na família, no ambiente de trabalho e na vizinhança dos que estão sendo educados na catequese. Além disso, a própria compreensão do mundo exige que as religiões sejam entendidas sem preconceito. O medo aparece quando alguém acha que isso pode ser uma ameaça à construção da identidade católica. Então, é preciso compreender que uma atitude de diálogo ecumênico e de respeito às convicções religiosas de outros faz parte da identidade católica. Não é algo que se faz contrariando a Igreja, é um jeito de por em prática o que a Igreja mesma ensina. É também um aspecto que torna ainda mais bonita a face da nossa Igreja. Saber dialogar é uma grande qualidade e um sinal de maturidade.  E essa maturidade deve ser trabalhada na catequese. Educando para o ecumenismo e para o diálogo inter-religioso  estaríamos formando pessoas capazes de lidar com o diferente também em outras áreas, aprendendo que respeito não significa concordar com tudo nem abrir mão da sua identidade. É difícil perceber como nosso mundo de hoje está necessitando da arte do diálogo amadurecido, firme em relação ao que cremos ser o melhor e, ao mesmo tempo, respeitoso?
 
Therezinha Cruz 

EVITAR EXAGEROS NA LEITURA BÍBLICA (I)


Frei Gilberto Siqueira Alves, OFMCap.©

A Bíblia é a “Carta” de amor por excelência que Deus manifestou para a humanidade. Foi escrita por muitos autores que partiram da mesma fé, ou seja, muitas experiências bem peculiares relatadas em cada conjunto de livros: Pentateuco, Livros Históricos, Livros Sapienciais, Livros Proféticos, Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Cartas Paulinas, Epístolas Católicas e o Livro do Apocalipse. Temos aí o conjunto do Primeiro e Segundo Testamento. São situações permeadas e registradas à luz do Espírito Santo. Ao ser conservada a história do povo de Deus para nossos dias percebemos que também nós somos chamados à superação de tantas dificuldades que enfrentamos em nosso cotidiano. Mesmo que sejam muitas as provações Deus caminha conosco. Isso é fato! A Revelação de Deus à humanidade foi transmitida e registrada na Bíblia em dois estágios diferentes e complementares: Tradição oral e escrita. Tais experiências salvíficas não eram para ficar em um único período da história. Quando meditamos a Palavra de Deus nos transportamos para a situação vivida pela comunidade e nos indagamos acerca da mensagem que anima e estimula as pessoas. Rezar com a Bíblia é um dos presentes que devemos dar ao nosso coração. Como já dizia Santo Agostinho:“Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”.[1] É claro que esse processo de memória e escrita foi realizado na parceria de Deus com a humanidade. Por isso que chamamos história da salvação, dirigida a todos nós seus filhos e filhas, muitas vezes ingratos e insensíveis.
A prudente mediação divina nos orienta: quando lemos algo devemos estabelecer critérios para um melhor desempenho e assimilação do que nos é fornecido no texto e sua aplicação na nossa história. No campo religioso é de bom tom atitudes de oração, ruminação e assimilação das inquietações propostas no texto sagrado, sempre guardadas as devidas proporções. A partir dessas perspectivas vemos que quando a Palavra de Deus vem ao nosso encontro não cabe a nós guardá-la, mas socializar as benesses advindas de tão providencial gesto amoroso de Deus que nos quer cônscios de sua vontade e plenos de seu amor. Estamos situados em uma determinada comunidade de fé. Para facilitar elencamos algumas modalidades de leituras a serem evitadas para não tirarmos a originalidade do texto sagrado, com suas respectivas intuições existenciais e pastorais para os dias de hoje.

1   Leitura Fundamentalista: o texto genuinamente como se apresenta, literal
§  Só na Bíblia existe a ação única de Deus e pronto
§     Só nela existe o conjunto de verdades sobre Deus
§  De cunho anti-histórico, ou seja, tomado ao pé da letra sem a situação atual do seu contexto. Quando se fecha aos sinais de Deus no cotidiano. Se mostra anti-ecumênica
·           Atitudes: alimenta o autoritarismo, cria clima sectário, fechamento eintolerância religiosa: Mt 12,46-50; Mt 13,53-58.



2   Leitura Doutrinarista: o texto usado para justificar normas religiosas
Ø  Busca de doutrinas religiosas que eu preciso saber para me salvar
Ø  Imagem de Deus racional, regulador, alguém impositivo
Ø  Exacerbada preocupação em saber o que é a doutrina
Ø  Primeiramente a “doutrina” e depois a vida humana
·        Atitudes: a Bíblia se torna elemento de salvação de um grupo apenas, zelo exagerado pelas normas religiosas, esse tipo de mentalidade pode gerar hipocrisia e de certeza única: Lc 6,1-5; Jo 8,57-59; (Jo 10,22-39).
3   Leitura Moralista: o texto para fins de julgamentos externos
*      Visão reducionista da realidade: boa ou má
*      A Bíblia como manual de conduta religiosa que todos os cristãos devem observar para não se condenarem
·        Atitudes: a imagem de Deus é como alguém: rígido, castigador, fiscal. Condenar / salvar. Isso gera deturpação dos valores: Lc 5,27-32; Mt 9,9-13; (Mc 3,1-5).

4   Leitura Intimista: o texto exclusivamente à luz de minha experiência “mística”
v  Prevalecimento exagerado do sentimento pessoal
v  Vontade direcionada através do sentimentalismo sem senso de razoabilidade
·         Atitudes: minha imagem de Deus é triunfalista, light, sou o centro do amor de Deus, visão única e pessoal de Deus. “Ele me revelou...” Mt 17,4.

5 Leitura Academicista: Justificar conhecimento intelectual ou defender racionalmente um ou vários pontos de vista que me agrada
·                               A Bíblia como fonte de conhecimento intelectual apenas
·                               Racionalização do religioso em detrimento do espiritual
·                               Tirar dúvidas e satisfazer curiosidade intelectual para justificar algo
·        Atitudes: limites sérios para atualizar a Palavra de Deus, Bíblia como elemento prático, objetivo, mentalidade subjetiva ou conceitual da realidade: Mt 11,25-26.



PERGUNTAS PARA MEDITAÇÃO PESSOAL:

Minhas leituras bíblicas são condicionadas por alguma dessas maneiras?
A meditação nos faz colocar a caminho do que Deus pede de nós. Conseguimos fazer essa meditação diária?




©Pós-graduando em Pedagogia Catequética pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e Vigário Paroquial da Paróquia São Benedito em Teresina- PI.




[1] AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1999, p. 37. (Coleção os Pensadores).

Audiência: "A Igreja não é um grupo de elite, mas a casa de toda a humanidade"


Cidade do Vaticano (RV) – Milhares de fiéis e peregrinos, mais de 80 mil, lotaram a Praça S. Pedro desde as primeiras horas da manhã para participar da Audiência Geral com o Papa Francisco – a 20ª de seu pontificado.

Antes das 10h, o Pontífice já estava na Praça, com o seu jipe, para receber e retribuir o carinho dos fiéis, apesar da chuva que caiu naquele momento. De fato, ao tomar a palavra, o Papa parabenizou a “coragem” dos presentes frente a este mau tempo. Na catequese sobre o Credo neste Ano da Fé, o Papa discorreu sobre uma das características da Igreja, a catolicidade.

Confessamos que a Igreja é católica, primeiro porque a todos oferece a fé por completo. A Igreja nos faz encontrar a misericórdia de Deus, que nos transforma. Nela está presente Jesus Cristo, que lhe dá a verdadeira confissão de fé, a plenitude da vida sacramental, a autenticidade do ministério ordenado. Na Igreja, como acontece numa família, encontramos tudo o que nos permite crescer, amadurecer e viver como cristãos. Não se pode caminhar e crescer sozinhos, mas sim em comunidade.

Ir à Igreja, disse o Santo Padre, não é como ir ao estádio para ver um jogo de futebol ou ir ao cinema. É preciso nos interrogar sobre como acolhemos os dons que a Igreja oferece: “Participo da vida da comunidade ou me fecho nos meus problemas, isolando-me? Nesse sentido a Igreja é católica porque é a casa de todos. Todos são filhos da Igreja.

Em segundo lugar, a Igreja é católica, porque é universal, espalhada em todas as partes do mundo.

A Igreja não é um grupo de elite, não diz respeito somente a algumas pessoas, a Igreja não faz restrições. Ela é enviada à totalidade do gênero humano e está presente em todo o lado mesmo na menor das paróquias, porque também ela é parte da Igreja universal, tem a plenitude dos dons de Cristo, vive em comunhão com o Bispo, com o Papa e está aberta a todos sem distinção. A igreja não está somente na sombra do nosso campanário, mas abraça uma vastidão de pessoas, de povos que professam a mesma fé. Todos estamos em missão, temos que abrir as nossas portas e sair para anunciar o Evangelho.
Por fim, a Igreja é católica, porque é a casa da harmonia. Nela, se conjugam numa grande riqueza unidade e diversidade; como numa orquestra, onde a variedade dos instrumentos não se contrapõe, assim na Igreja, há uma variedade que se deixa harmoniosamente fundir na unidade pelo Espírito Santo.

Esta é uma bela imagem. Não somos todos iguais e não devemos sê-lo. Todos somos diferentes, cada um com as próprias qualidades. E esta é a beleza da Igreja. Cada um contribui com aquilo que Jesus deu para enriquecer um ao outro. É uma diversidade que não entra em conflito, não se contrapõe. Onde há intriga, não há harmonia. É luta. Jamais devemos falar mal uns dos outros. Aceitemos o outro, aceitemos que exista uma justa variedade. A uniformidade mata a vida, os dons do Espírito Santo. Peçamos a ele que nos torne sempre mais católicos, ou seja, universais.
Ao cumprimentar os peregrinos de língua portuguesa, o Pontífice saudou de modo especial os fiéis de duas paróquias do Rio de Janeiro e de São José dos Campos e os religiosos brasileiros em Roma.

A seguir, recordou que após a visita, um ano atrás, de Bento XVI ao Líbano, a língua árabe foi inserida na Audiência Geral, para expressar a todos os cristãos do Oriente Médio a proximidade da Igreja. E pediu, novamente, que rezemos pela paz no Oriente Médio: na Síria, no Iraque, no Egito, no Líbano e na Terra Santa, “onde nasceu o Príncipe da Paz, Jesus Cristo”.

Dirigindo-se aos bispos da Conferência Episcopal regional do norte da África, Francisco os encorajou a "consolidarem as relações fraternas com os irmãos muçulmanos".

Ao saudar os Bispos da Igreja de tradição alexandrina da Etiópia e Eritreia, o Pontífice mais uma vez expressou sua solidariedade na oração e na dor pelos muitos filhos dessas terras que perderam a vida na tragédia de Lampedusa.
(BF)




Texto proveniente da página 
do site da Rádio Vaticano
http://pt.radiovaticana.va/news/2013/10/09/audi%C3%AAncia:_a_igreja_n%C3%A3o_%C3%A9_um_grupo_de_elite,_mas_a_casa_de_toda_a/bra-735645
 

Evangelho do dia

Ano C - 09 de outubro de 2013

Lucas 11,1-4

Aleluia, aleluia, aleluia.
Recebestes um espírito de adoção, no qual chamamos Aba! Pai! (Rm 8,15).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
11 1 Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: "Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos".
2 Disse-lhes ele, então: "Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino;
3 dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento;
4 perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação’".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
QUANDO REZAREM, DIGAM ...
A oração era um elemento importante no dia-a-dia de Jesus. Os Evangelhos observam seu costume de rezar, por exemplo, nos momentos-chaves de seu ministério, quando deveria dar passos decisivos.
Vendo o seu Mestre rezar, os discípulos interessaram-se também pela prática da oração. O testemunho de Jesus impele-os a pedir-lhe orientações a respeito do modo mais conveniente de buscar a intimidade com Deus. Foi a prática de Jesus, e não uma bela teoria sobre a oração, que motivou os discípulos.
A oração ensinada pelo Mestre deveria ter como efeito inculcar, nos seus seguidores uma série de atitudes. Em relação ao Pai: o esforço para santificar-lhe o nome, ou seja, superar toda idolatria e pôr em prática as exigências do Reino, de modo que a história humana fosse regida pela vontade divina. Em relação ao próximo: criar o sentido da partilha fraterna dos bens, superando a tentação de reter tudo para si; viver o perdão e a reconciliação, sem dar lugar ao ódio e à violência; não se deixar levar pelas sugestões do espírito mau, cuja ação principal consiste em desviar o ser humano da vontade de Deus.
Por conseguinte, a oração cristã é um caminho de compromisso e comunhão, um projeto de vida. Ela consiste na busca de conformação da própria vida com o querer divino.

Oração
Espírito de intimidade com o Pai, dá-me a graça da oração, pela qual descubro o caminho do compromisso e da comunhão, como projeto de vida.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Jonas 4,1-11
Leitura da profecia de Jonas.
4 1 Jonas ficou profundamente indignado com isso e, muito irritado, dirigiu ao Senhor esta prece: "Ah, Senhor, era bem isto que eu dizia quando estava ainda na minha terra! É por isso que eu tentei esquivar-me, fugindo para Társis,
2 porque sabia que sois um Deus clemente e misericordioso, de coração grande, de muita benignidade e compaixão pelos nossos males.
3 Agora, Senhor, toma a minha alma, porque me é melhor a morte que a vida".
4 O Senhor respondeu-lhe: "Julgas que tens razão para te afligires assim?"
5 Então saiu Jonas da cidade e fixou-se a oriente da mesma cidade. Fez uma cabana para si e lá permaneceu, à sombra, esperando para ver o que aconteceria à cidade.
6 O Senhor Deus fez crescer um pé de mamona, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e curá-lo de seu mau humor. Jonas alegrou-se grandemente com aquela mamoneira.
7 Mas, no dia seguinte, ao romper da manhã, mandou Deus um verme que roeu a raiz da mamona, e esta secou.
8 Quando o sol se levantou, Deus fez soprar um vento ardente do oriente, e o sol dardejou seus raios sobre a cabeça de Jonas, de forma que o profeta, desfalecido, desejou a morte, dizendo: Prefiro a morte à vida.
9 O Senhor disse a Jonas: "Julgas que fazes bem em te irritares por causa de uma planta?" Jonas respondeu: "Sim, tenho razão de me irar até a morte".
10 "Tiveste compaixão de um arbusto", replicou-lhe o Senhor, "pelo qual nada fizeste, que não fizeste crescer, que nasceu numa noite e numa noite morreu.
11 E então, não hei de ter compaixão da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e uma inumerável multidão de animais?"
Palavra do Senhor.
Salmo 85/86
Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.

Piedade de mim, ó Senhor,
porque clamo por vós todo o dia!
Animai e alegrai vosso servo,
pois a vós eu elevo a minha alma.

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,
sois perdão para quem vos invoca.
Escutai, ó Senhor, minha prece,
o lamento da minha oração!

As nações que criastes virão
adornar e louvar vosso nome.
Sois tão grande e fazeis maravilhas:
vós somente sois Deus e Senhor!
Oração
Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis, no vosso imenso amor de Pai, mais do que merecemos e pedimos, derramai sobre nós a nossa misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

A prudência do Vaticano com relação aos divorciados


Segundo casamento é tratado com prudência pelo Vaticano
Formalmente, a "brecha de Friburgo" é fechada com toda a pressa pela Santa Sé. Ou, ao menos, esse é o rumor oficial nos Sagrados Palácios. Nos bastidores, no entanto, convida-se à prudência, porque a questão está entre as abordadas pelo "G8" dos cardeais-conselheiros. Está sendo preparado um sínodo dos bispos sobre a pastoral familiar, e não se excluem desdobramentos surpreendentes.
O porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, joga água fria sobre o fogo: "Não muda nada. Não há nenhuma novidade para os divorciados em segunda união". O documento, de fato, "provém de um escritório pastoral local e não investe contra a responsabilidade do bispo". Em suma, se trataria de uma "medida independente", que faz barulho, mas que "não é oficialmente expressão da autoridade diocesana".

O arcebispo Robert Zollitsch, já de saída por ter alcançado os limites de idade, mas ainda no comando como administrador apostólico de Friburgo e firme no leme da Igreja alemã até março de 2014, "não foi consultado e não endossou o documento". Em suma, claramente, do outro lado do Tibre, a palavra de ordem é "redimensionar" o que aconteceu na Alemanha, para evitar um "efeito de contágio" sobre uma matéria incandescente.

"É surpreendente que uma proposta desse tipo venha de uma diocese de grande relevância como Friburgo, liderada pelo presidente da Conferência Episcopal Alemã". O cardeal canonista Velasio De Paolis, comissário papal dos Legionários de Cristo, membro do Supremo Tribunal vaticano e jurista de confiança da Cúria, não esconde a sua surpresa com a "cisão" com relação aos divorciados em segunda união.

Especifica o purpurado: "Com o tempo, vários bispos foram repreendidos por terem emitido disposições contrárias aos fundamentos doutrinais reafirmados várias vezes pelo ex-Santo Ofício nos anos de Joseph Ratzinger". Por isso, "as normas em vigor continuam proibindo os sacramentos aos divorciados em segunda união".

De fato, "para obter a absolvição na confissão e, portanto, ter acesso à Eucaristia, é preciso estar na graça de Deus", enquanto "os divorciados em segunda união estão em uma situação que contrasta com a lei de Deus sobre o matrimônio". Por isso, destaca De Paolis, "o sacerdote deve negar a hóstia".

As recentes palavras de Francisco na entrevista à Civiltà Cattolica ("Eu sou filho da Igreja") confirmam que "o papa age dentro de uma comunidade e aceita as suas aquisições". Portanto, "o pontífice está fazendo, sim, um caminho de busca de possíveis soluções, mas até agora as regras sobre os divorciados em segunda união não mudaram e, portanto, os posicionamentos do papa também devem ser interpretados à luz do magistério já adquirido".

Mas com um papa inovador como Francisco não é mais tempo de tons de ultimato de cruzada. O Sínodo sobre a família irá discutir sobre a nulidade matrimonial, os divorciados em segunda união, os casais que coabitam e a sua acolhida na Igreja. Na Cúria, não se excluem progressos, mas "a sede para mudar as normas certamente não é um escritório pastoral local".

Nos próximos meses, se poderá entender se o "caso Friburgo" pode ser rotulado como um deslize em uma diocese ou como "profecia" de mudança para a Igreja universal.
La Stampa, 08-10-2013

O bem do mundo e a Igreja


A ação do papa e a nova época para a Igreja que ele prefigura também têm efeitos sobre o mundo laico. Já se falou dos males da Igreja e das reformas de que ela precisa, mas eu acho que seria sábio se perguntar se também não existe algo na mente laica que precise ser reformado.

Jesus entre os apóstolos: ele não pretendia exaltar seu ego, apenas prefigurar seu estilo de vida baseado no amor como aquilo que melhor serve o Ser.
Por Vito Mancuso*
Iniciará realmente uma nova época para a Igreja e, portanto, inevitavelmente, também para a sociedade, como prefigurava Scalfari na conclusão da entrevista com o Papa Francisco?

O que surpreende nas respostas do papa é o ponto de vista assumido, um inédito olhar "extra moenia" ou "fora dos muros", que não pensa o mundo a partir da fortaleza-Igreja, mas, exatamente o contrário, pensa a Igreja a partir do mundo. Nos seus raciocínios, não há traço algum da costumeira perspectiva eclesiástica centrada no bem da Igreja e na defesa a priori da sua doutrina, da sua história, dos seus privilégios e dos seus bens tão frequentemente objeto de cuidado zeloso por parte dos eclesiásticos de todos os tempos (um monumento do pensamento católico como o Dictionnaire de Théologie Catholique dedica nove páginas ao vocábulo "Bem" e 18 ao vocábulo "Bens eclesiásticos"!).

Ao contrário, há um pensamento que tem na mira unicamente o bem do mundo, e, por isso, o papa pode dizer que o problema mais urgente da Igreja é o desemprego dos jovens e a solidão dos idosos. Não as igrejas, os conventos e os seminários semivazios; não o relativismo cultural; não o sentir moral do nosso tempo tão diferente da moral católica; não a ameaça à vida e ao modelo tradicional de família. Não, o desemprego dos jovens e a solidão dos idosos.

O fato de ter assumido o bem do mundo como ponto de vista privilegiado levou o papa às duas seguintes afirmações capitais: 1) a Igreja não está preparada para o primado da dimensão social, ao contrário, há nela uma perspectiva vaticanocêntrica que produz uma nociva dimensão cortesã ("a corte é a lepra do papado"); 2) historicamente, ela nunca foi livre das fusões com a política – e, a esse propósito, a Igreja italiana de Ruini e Bagnasco deveria recitar muitos mea culpa por não ter denunciado a "imoralidade pública e privada de quem governava a Itália durante anos, dos quais, ao contrário, chegou até a contextualizar benignamente as blasfêmias públicas.

Mas a ação do papa e a nova época para a Igreja que ele prefigura pode não ter efeitos também sobre o mundo laico? Já se falou dos males da Igreja e das reformas de que ela precisa, mas eu acho que seria sábio se perguntar se também não existe algo na mente laica que precise ser reformado. É só a Igreja que deve mudar, ou a mudança e a reforma também interessam àqueles que se declaram laicos e não crentes? Naturalmente, que essas insígnias encontram-se os ideais mais variados, da extrema direita à extrema esquerda, e eu aqui me limito a discutir o pensamento laico progressista representado por Scalfari.

À pergunta do papa sobre o objeto do seu crer, Scalfari respondeu dizendo: "Eu acredito no Ser, isto é, no tecido do qual surgem as formas, os Entes", e pouco depois especificou que "o Ser é um tecido de energia, energia caótica, mas indestrutível e em eterna caoticidade", atribuindo a combinações casuais a emergência das formas, incluindo o homem, "o único animal dotado de pensamento, animado por instintos e desejos", mas que contém dentro de si também "uma vocação de caos".

Em suma, Scalfari se professou, como já havia feito nos seus livros, um discípulo de Nietzsche. Mas o que falta nessa visão do mundo? Tratando-se de uma herança daquele que quis ir "para além do bem e do mal", falta, obviamente, a possibilidade de fundar a ética como primado incondicional do bem e da justiça. Para Nietzsche, de fato, o Ser é um "monstro de força, sem princípio, sem fim, uma quantidade de energia fixa, como o bronze", o mundo "é a vontade de poder e nada mais".

Mas se o mundo é isso, segue-se daí que o liberalismo, como vontade de poder que só quer incrementar a si mesma, é a sua consequência mais lógica. Por que, portanto, se deveria lutar em nome da justiça, da solidariedade, da igualdade? Como não dar razão a Nietzsche que considerava esses ideais somente um truque velhaco dos fracos, incapazes de lutar com armas iguais com os fortes? Se o ser é só caos e força, a ação que busca a paz e a justiça está destinada, inevitavelmente, a permanecer sem fundamento.

Há muito tempo tenho pensado que a cultura progressista vive a grande aporia da incapacidade de fundamentar teoricamente a sua própria ideia-mãe, isto é, a justiça. Darwin substituiu Marx, e Nietzsche (atento leitor de Darwin) tornou-se o ponto de referência para muitos. O resultado é Darwin + Nietzsche, ou "o eterno retorno da força", isto é, uma visão obscura e machista do mundo, segundo a qual a força e a luta são a lógica fundamental da vida.

Se chegou o tempo de uma Igreja que dê mais espaço ao feminino, também chegou o tempo de um pensamento laico igualmente capaz de hospedar o feminino, entendendo-se com isso uma visão do mundo e da natureza que faça da harmonia e da relacionalidade o ponto de vista privilegiado.

De Aristóteles a Spinoza a Nietzsche, a substância sempre foi pensada como prioritária com respeito à relação: antes os entes e depois as relações entre eles. Hoje, a ciência nos ensina (esse é o sentido filosófico da descoberta do bóson de Higgs) que o contrário é verdadeiro, que antes há a relação e depois a substância, no sentido de que todos os entes são o resultado de um entrecruzamento de relações e tanto mais consistem quanto mais se alimentam de relações fecundas.

Esse é o pensamento feminino, um pensamento do primado da relação, contra o pensamento masculino baseado no primado da substância, e é escusado dizer que o pensamento feminino não significa necessariamente pensamento das mulheres, porque todo ser humano contém a dimensão feminina, e há mulheres que pensam e agem no masculino (considere-se, por exemplo, Margaret Thatcher, sem falar de algumas políticas italianas), enquanto há homens que pensam e agem no feminino (pense-se, por exemplo, em Gandhi e antes ainda em Buda ou em Jesus).

Eu penso que o nosso tempo realmente precisa de um novo paradigma da mente, de uma ecologia da mente no sentido etimológico de redescoberta do logos que informa o oikos, o termo grego para "casa", do qual vem a raiz "eco" e que se refere à natureza.

Scalfari, no seu credo, insiste no caos e não se equivoca, porque o caos é uma dimensão constitutiva da natureza; não é a única, porém, há também o logos, a cuja ação organizadora se deve a emergência da poeira cósmica primordial dos entes e da sua maravilha, incluindo a mente e o coração do homem.

Os grandes sábios da humanidade sempre entenderam isso, chamando o logos também de dharma, tao, hokmà etc., dependendo da sua tradição. Cito deliberadamente um pensador não cristão, o pagão Plotino: "Mais de uma vez aconteceu de eu me reaver, saindo do sono do corpo, e de me estranhar de tudo, nas profundezas do meu eu; nessas ocasiões, eu gozava da visão de uma beleza tão grande quanto fascinante que me convencia, então como nunca, de fazer parte de um destino mais elevado, realizando uma vida mais nobre: em suma, de ser equiparado ao divino, constituído sobre o mesmo fundamento de um deus" (Enéadas IV, 8, 1).

A união de logos + caos é a dinâmica dentro da qual o mundo se move e evolui. Ela nos faz compreender que a verdade não é uma exatidão, uma fórmula, uma equação, um dogma ou uma doutrina, em suma, algo estático. A verdade é a lógica da vida enquanto estendida à harmonia, portanto é um processo, uma dinâmica, um fluxo, uma energia, um método, uma via. A verdade é o bem enquanto harmonia das relações.

Nesse sentido Jesus dizia: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida", certamente não pretendendo com isso exaltar o seu ego em um supremo narcisismo cósmico, mas prefigurando o seu estilo de vida baseado no amor como aquilo que melhor serve o Ser.

Decorre daí uma visão do mundo na qual a ontologia cede o primado à ética, isto é, na qual o verdadeiro não pode ser alcançado se não passando pelos caminhos do bem, e o amor se torna a suprema forma do pensar. Amor ipse intellectus, ensinava o místico medieval Guilherme de Saint-Thierry.

Os crentes são chamados a se renovar, e eu penso que, com humildade, sob a orientação desse papa extraordinário, muitos estão começando a fazê-lo. Mas os não crentes também são chamados a renovar a sua mente à luz do Ser não só caos, mas também logos, isto é, relacionalidade original em nível físico, que fundamenta o bem em nível ético. Talvez assim o ideal da justiça e da igualdade no centro do pensamento progressista mundial será removido das névoas do bonismo dos indivíduos e radicado em uma visão mais harmoniosa do mundo.
La Repubblica, 04-10-2013.
*Vito Mancuso é teólogo e ex-professor da Università Vita-Salute San Raffaele.