segunda-feira, 10 de março de 2014

“Não dialoguemos com Satanás mas defendamo-nos com a Palavra de Deus”: Papa Francisco durante o Angelus




Hoje, primeiro domingo da Quaresma, o Papa recordou no Angelus, que o Evangelho deste dia apresenta a tentação de Jesus, quando, depois do baptismo no Rio Jordão, o Espírito Santo desceu sobre Ele, levando-O a enfrentar Satanás no deserto ao longo de quarenta dias, antes de iniciar a sua missão pública…


O tentador procura distrair Jesus do projecto do Pai, ou seja a via do sacrifício, do amor que se oferece em expiação , para o levar a empreender um caminho fácil, de sucesso, de potencia.

O Papa frisou depois que no duelo entre Jesus e Satanás nota-se o estilo espectacular e miraculístico com que Satanás tenta afastar Jesus da via da Cruz, falando-lhe de falsas promessas messiânicas, indicando-lhe vias breves de poder e domínio, em troca de uma adoração a ele. São os três grupos de tentações que nós também conhecemos disse o Papa acrescentando que Jesus não cede a essas tentações…

Jesus recusa decididamente todas essas tentações e volta a sublinhar a sua firme vontade de seguir a via estabelecida pelo Pai, sem nenhum compromisso com o pecado e com a lógica do mundo.”

O Papa fez ainda notar que contrariamente a Eva, Jesus não entra em diálogo com Satanás...

“Ele não dialoga com Satanás como fizera Eva no paraíso terrestre. Jesus sabe bem que com Satanás não se pode dialogar, porque é muito astuto. Por isso Jesus, em vez de dialogar como tinha feito Eva, prefere refugiar-se na Palavra de Deus e responder com a força dessa Palavra. Recordemo-nos disto no momento das nossas tentações: nada de argumentações com Satanás, mas sempre defendidos pela Palavra de Deus e isto nos salvará”.

Nas suas respostas – prosseguiu o Papa Francisco perante os milhares de fiéis que o escutavam na Praça de São Pedro – o Senhor recorda-nos antes de mais que não só de pão vive o homem, mas sim da Palavra de Deus que nos dá força e nos apoia na luta contra a mentalidade mundana que abaixa o homem a nível das suas necessidades primárias, desviando-o do que é belo, da fome de Deus, do amor.

E o Papa concluiu recomendando que façamos da Quaresma um tempo de conversão….

Caros irmãos, o tempo de Quaresma é uma ocasião propícia para todos nós percorrermos o caminho da conversão, confrontando-nos sinceramente com esta página do Evangelho. Renovamos as promessas do nosso Baptismo: renunciamos a Satanás e a todas as suas obras de sedução, para caminharmos nas sendas de Deus e “chegarmos à Páscoa na Alegria do Espírito”.

*

Depois da oração mariana do Angelus, o Papa saudou diversos grupos da Itália e Espanha e chamou atenção para a campanha da Caritas sobre a fome no mundo.

Durante esta Quaresma queremos recordar o convite da Caritas Iternationalis na sua campanha contra a fome no mundo”.

O Papa concluiu pedindo orações para ele e os colaboradores da Cúria Romana que neste domingo à noite iniciam a semana de Exercícios espirituais…

Desejo a todos que o caminho quaresmal há pouco iniciado seja rico de frutos; e peço orações para mim e para os colaboradores da Cúria Romana pois que esta noite iniciaremos a semana dos Exercícios espirituais. Obrigada. Bom domingo e bom prazo. Até à próxima”


Com efeito, neste domingo 9 de Março, às 18 horas, tem inicio na Casa do Divino Mestre em Arricia, arredores de Roma, os Exercícios espirituais da Cúria Romana, nas quais participam o próprio Papa. As meditações serão propostas por D. Ângelo de Donatis, Pároco na Igreja de São Marcos Evangelista junto ao Capitólio de Roma. Os Exercícios prolongam-se até 14 deste mês.
O Papa partirá de camioneta às 16 horas juntamente com 83 pessoas – referiu o porta-voz da Santa Sé, P. Federico Lombardi.

Liturgia Diária

Dia 10 de Março - Segunda-feira

I SEMANA DA QUARESMA
(Roxo – Ofício do Dia)

Antífona da entrada: Como os olhos dos servos estão voltados para as mãos de seu Senhor, assim os nossos para o Senhor nosso Deus, até que se compadeça de nós. Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós! (Sl 122,2s)
Oração do dia
Convertei-nos, ó Deus, nosso salvador, e, para que a celebração da Quaresma nos seja útil, iluminai-nos com a doutrina celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Levítico 19,1-2.11-18)
Leitura do livro do Levítico.
19 1 O Senhor disse a Moisés:
2 “Dirás a toda a assembléia de Israel o seguinte: sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo.
11 Não furtareis, não usareis de embustes nem de mentiras uns para com os outros.
12 Não jurareis falso em meu nome, porque profanaríeis o nome de vosso Deus. Eu sou o Senhor.
13 Não oprimirás o teu próximo, e não o despojarás. O salário do teu operário não ficará contigo até o dia seguinte.
14 Não amaldiçoarás um surdo; não porás algo como tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor.
15 Não sereis injustos em vossos juízos: não favorecerás o pobre nem terás complacência com o grande; mas segundo a justiça julgarás o teu próximo.
16 Não semearás a difamação no meio de teu povo, nem te apresentarás como testemunha contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor.
17 Não odiarás o teu irmão no teu coração. Repreenderás o teu próximo para que não incorras em pecado por sua causa.
18 Não te vingarás; não guardarás rancor contra os filhos de teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 18/19
Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!

A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
sabedoria dos humildes.

Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,
para os olhos é uma luz.

É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.

Que vos agrade o cantar dos meus lábios
e a voz da minha alma;
que ela chegue até vós, ó Senhor,
meu rochedo e redentor!
Evangelho (Mateus 25,31-46)
Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!
Eis o tempo de conversão; eis o dia da salvação (2Cor 6,2).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 25 31 "Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32 Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33 Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
34 Então o Rei dirá aos que estão à direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
35 porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;
36 nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim’.
37 Perguntar-lhe-ão os justos: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38 Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
39 Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?’
40 Responderá o Rei: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes’.
41 Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: ‘Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.
42 Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
43 era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes’.
44 Também estes lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?’
45 E ele responderá: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’
46 E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
A MIM O FIZESTES!
Dentre os muitos desafios apresentados por Jesus aos seus discípulos, está o de identificá-lo com os sofredores deste mundo. Os famintos, os sedentos, os forasteiros, os carentes, os doentes e os encarcerados foram constituídos como mediadores do encontro com o Senhor. Que motivos teve Jesus para constituí-los em sinal de sua presença na história humana?
O ponto alto da encarnação de Jesus aconteceu, exatamente, quando ele desceu ao mais profundo do sofrimento humano. Quando, na paixão, Jesus sofreu os horrores da fome, da sede, da nudez, do encarceramento, sem contar os ultrajes e as humilhações de seus inimigos, a negação, a traição e o abandono de seus amigos, ele expressou, em grau eminente, sua condição de Filho de Deus, fiel até a morte. Por isso, escolheu a todos quantos se encontram em situação semelhante, para interpelarem os cristãos, exigindo deles uma resposta concreta de amor. Aquilo que os cristãos não fizeram pelo Senhor, quando padeceu as agruras da paixão, podem fazê-lo agora, servindo ao irmão sofredor. O próprio Jesus garante que quem serve ao sofredor está servindo a ele mesmo. O Evangelho não aponta outro caminho de servir a Jesus, pois o Senhor quis identificar-se com quem padece o que ele mesmo padeceu.
Confrontar-se com o irmão sofredor é confrontar-se com o próprio Jesus que sofre e nos desafia a sermos solidários com ele, em sua paixão.

Oração

Espírito de amor, ensina-me a descobrir, no irmão sofredor, o apelo de Jesus a quem devo servir.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, esta oferenda, sinal de nossa dedicação. Fazei que ela santifique a nossa vida e obtenha para nós vosso favor. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Em verdade eu vos digo, tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes, diz o Senhor. Vinde, benditos do meu Pai: tomai posse do reino preparado para vós desde o princípio do mundo (Mt 25,40.34).
Depois da comunhão
Ó Deus, pela recepção deste sacramento, experimentamos vosso auxílio na alma e no corpo e assim, salvos em todo o nosso ser, nos alegremos com a plenitude da redenção. Por Cristo, nosso Senhor.

Evangelho do Dia

Ano A - 10 de março de 2014

Mateus 25,31-46

Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!
Eis o tempo de conversão; eis o dia da salvação (2Cor 6,2).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 25 31 "Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32 Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33 Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
34 Então o Rei dirá aos que estão à direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
35 porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;
36 nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim’.
37 Perguntar-lhe-ão os justos: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38 Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
39 Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?’
40 Responderá o Rei: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes’.
41 Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: ‘Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.
42 Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
43 era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes’.
44 Também estes lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?’
45 E ele responderá: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’
46 E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
A MIM O FIZESTES!
Dentre os muitos desafios apresentados por Jesus aos seus discípulos, está o de identificá-lo com os sofredores deste mundo. Os famintos, os sedentos, os forasteiros, os carentes, os doentes e os encarcerados foram constituídos como mediadores do encontro com o Senhor. Que motivos teve Jesus para constituí-los em sinal de sua presença na história humana?
O ponto alto da encarnação de Jesus aconteceu, exatamente, quando ele desceu ao mais profundo do sofrimento humano. Quando, na paixão, Jesus sofreu os horrores da fome, da sede, da nudez, do encarceramento, sem contar os ultrajes e as humilhações de seus inimigos, a negação, a traição e o abandono de seus amigos, ele expressou, em grau eminente, sua condição de Filho de Deus, fiel até a morte. Por isso, escolheu a todos quantos se encontram em situação semelhante, para interpelarem os cristãos, exigindo deles uma resposta concreta de amor. Aquilo que os cristãos não fizeram pelo Senhor, quando padeceu as agruras da paixão, podem fazê-lo agora, servindo ao irmão sofredor. O próprio Jesus garante que quem serve ao sofredor está servindo a ele mesmo. O Evangelho não aponta outro caminho de servir a Jesus, pois o Senhor quis identificar-se com quem padece o que ele mesmo padeceu.
Confrontar-se com o irmão sofredor é confrontar-se com o próprio Jesus que sofre e nos desafia a sermos solidários com ele, em sua paixão.

Oração

Espírito de amor, ensina-me a descobrir, no irmão sofredor, o apelo de Jesus a quem devo servir.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Leitura
Levítico 19,1-2.11-18
Leitura do livro do Levítico.
19 1 O Senhor disse a Moisés:
2 “Dirás a toda a assembléia de Israel o seguinte: sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo.
11 Não furtareis, não usareis de embustes nem de mentiras uns para com os outros.
12 Não jurareis falso em meu nome, porque profanaríeis o nome de vosso Deus. Eu sou o Senhor.
13 Não oprimirás o teu próximo, e não o despojarás. O salário do teu operário não ficará contigo até o dia seguinte.
14 Não amaldiçoarás um surdo; não porás algo como tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor.
15 Não sereis injustos em vossos juízos: não favorecerás o pobre nem terás complacência com o grande; mas segundo a justiça julgarás o teu próximo.
16 Não semearás a difamação no meio de teu povo, nem te apresentarás como testemunha contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor.
17 Não odiarás o teu irmão no teu coração. Repreenderás o teu próximo para que não incorras em pecado por sua causa.
18 Não te vingarás; não guardarás rancor contra os filhos de teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.
Palavra do Senhor.
Salmo 18/19
Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!

A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
sabedoria dos humildes.

Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,
para os olhos é uma luz.

É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.

Que vos agrade o cantar dos meus lábios
e a voz da minha alma;
que ela chegue até vós, ó Senhor,
meu rochedo e redentor!
Oração
Convertei-nos, ó Deus, nosso salvador, e, para que a celebração da Quaresma nos seja útil, iluminai-nos com a doutrina celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Enfrentando a cultura da morte nos dias de hoje


A Campanha da Fraternidade nos coloca diante da realidade, para que nossos olhos se abram.
Por Dom Orani Tempesta*
O nosso Plano de Pastoral de Conjunto afirma o seguinte: "O serviço testemunhal à vida, de modo especial à vida fragilizada e ameaçada, é a mais forte atitude de diálogo que o discípulo missionário pode e deve estabelecer com uma realidade que sente o peso da cultura da morte. Na solidariedade de uma igreja samaritana, o discípulo missionário vive o anúncio de um mundo diferente que, acima de tudo, por amar a vida, convoca à comunhão efetiva entre todos os seres vivos".

Durante a Quaresma, a Campanha da Fraternidade sempre nos coloca diante da realidade de forma profética, para que os nossos olhos se abram e possamos perceber os tentáculos da cultura da morte que pesam sobre a nossa realidade. Neste ano, o assunto é o tráfico de pessoas. Precisamos ter clareza sobre este problema, seu alcance e seus efeitos para que, como igreja samaritana, possamos fazer com que o Evangelho se torne concreto nos nossos relacionamentos, e a obra evangelizadora e pastoral da Igreja e as nossas obras mostrem a Igreja como Sacramento de Salvação e caminho para o Reino definitivo.

O tráfico de pessoas acontece de muitas formas e diferentes tipos de pessoas são explorados. Existe o tráfico para a exploração sexual, o trabalho escravo, a adoção ilegal e outros. Não existe uma categoria ou um grupo de pessoas que não seja, de alguma forma, ameaçado por ele.

A grande causa do tráfico humano encontra-se na ganância, tão condenada por Jesus, principalmente por que coloca o econômico-financeiro acima do humano e explora o humano a partir das suas carências. Deste modo, à ganância se somam as diferentes formas de carência ou de sonhos pessoais que geram a necessidade de crescimento econômico. Carências como desemprego, subemprego, fome, saúde, educação, lazer etc., e sonhos acalentados, como ser modelo, artista ou jogador de futebol, muito sugestionados pela mídia. Assim, encontramos as principais causas do tráfico humano que precisam ser enfrentadas para que o tráfico de pessoas seja estancado nas suas raízes.

Esse estancamento exige, em primeiro lugar, políticas públicas adequadas para a superação das causas que foram apresentadas acima, pois não podemos desconsiderar o fato de que o tráfico de pessoas continua acontecendo e fazendo vítimas. Por isso, as políticas públicas também devem ser voltadas para a reinserção na vida familiar e social das pessoas que foram atingidas pelo tráfico humano e que tiveram a felicidade de serem resgatadas com vida. Precisamos de um trabalho preventivo que evite que o tráfico de pessoas promova o desrespeito à dignidade humana, aos direitos fundamentais da pessoa e à supressão da liberdade de muitos. Por outro lado, precisamos resgatar as vítimas do tráfico e lhes garantir o respeito à sua dignidade, aos seus direitos e à sua liberdade.

A proposta cristã para a superação da cultura da morte passa necessariamente pela conversão, que consiste basicamente na busca da nossa configuração a Jesus Cristo. São Paulo nos chama a esta configuração quando afirma: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2, 5). O Pe. José Fernandes de Oliveira, conhecido como Pe. Zezinho, que neste ano comemora os 50 anos de sua missão evangelizadora na Igreja, nos deu uma preciosa colaboração para a compreensão desta configuração quando fez a música que diz: “e perguntou no meio de um sorriso o que é preciso para ser feliz? Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria, e ao chegar ao fim do dia eu sei que dormiria muito mais feliz. Dormiria feliz sim, o sono dos bem-aventurados”. Esta é a vida dos verdadeiros convertidos e esta vida é transformadora do mundo, destruidora da cultura da morte, promotora da vida e da dignidade de todos.

Como fiz questão de frisar em minha carta Pastoral, depois do Consistório, reafirmo que: "Enquanto escrevo esta carta, não cesso de ouvir as notícias de tantas situações de sofrimento que desafiam nosso amor por Jesus Cristo. Entristeço-me, por exemplo, com a situação dos encarcerados, que, em lugar de recuperação, recebem, na maioria das vezes, tratamento indigno até para as pedras que rolam soltas em nossas ruas" (Cf. Amar, unir, servir – Carta Pastoral do Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, n.34, pág. 17, 25 de fevereiro de 2014).

Estamos nos encaminhando para a Semana Santa, estamos nos aproximando da celebração do mistério da Páscoa, vamos celebrar o mistério da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. A vitória de Cristo na cruz é, antes de tudo, a vitória da vida sobre a morte. A Páscoa deve ser para nós a grande motivação para que a cultura da morte seja vencida e todas as pessoas possam ter vida em plenitude, possam ter a plenitude da vida física, afetiva, intelectual, social, política, econômica, cultural, religiosa, mística etc.

Peçamos a Deus as graças necessárias para que vivamos bem esta Quaresma, e para que a Campanha da Fraternidade seja um grande instrumento para esta vivência, de modo que possamos encontrar na celebração dos mistérios pascais as graças necessárias para vencermos a cultura da morte e promovermos a vida em plenitude.
CNBB, 07-03-2013.
*Cardeal Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

Para encontrar Jesus é preciso sair às ruas, diz Francisco

Para encontrar Jesus é preciso sair às ruas, diz Francisco

Por Gianni Valente
“O lugar em que Jesus estava mais vezes, onde era possível encontrá-lo com facilidade”, indicou, na quinta-feira passada, o Bispo de Roma aos “seus” padres da Urbe, “eram as ruas”; poderia ser confundido com um indigente, “porque sempre estava nas ruas”.

Para Bergoglio, a imagem de Jesus na rua não é apenas fonte de sugestivas reflexões. Seguindo e imitando a Jesus que sai “às ruas”, muitas paróquias (padres e leigos) de Buenos Aires basearam sua atividade normal nessa imagem quando Bergoglio era o arcebispo da capital argentina. Ali nasceram experiências pastorais que o atual sucessor de Pedro leva no coração, e que foram analisadas recentemente inclusive nas pesquisas sobre a missão no âmbito urbano realizado na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Argentina e na universidade alemã de Osnabrück.

Uma destas iniciativas é a da “tenda missionária” da Praça Constituição: a “tenda missionária da Igreja católica” que armam uma vez a cada dois meses nas paróquias da região da Praça da Constituição de Buenos Aires. Bergoglio ia quando podia, saudava um a um os sacerdotes, os jovens “missionários”, e celebrava uma missa ao ar livre para grupos de jovens, idosos, indigentes, mães com suas crianças e transeuntes que passavam casualmente. “Peçamos a Jesus”, sugeria em suas homilias breves e luminosas, “tudo de que precisamos... Como os pobres que pediam tudo a Ele, quando passava pelas ruas e eles se aproximavam dele. Para Jesus é muito importante estar com os demais, com todos nós, com todos os que passam pela rua. É uma coisa que, acima de tudo, interessa a Ele”.

A Praça da estação Constituição e o bairro no qual se encontra são espaços urbanos dos mais difíceis e potencialmente conflitivos da metrópole argentina: venda de drogas, prostituição, pobreza, marginalidade, delinquência... tudo isso em meio ao torvelinho de um milhão de pessoas que diariamente transitam pela estação. Periodicamente, os párocos e paroquianos da zona, armam a tenda amarela ao lado do monumento ao inspirador da Constituição argentina, o maçom Juan Bautista Alberdi. Levam consigo uma estátua da Virgem de Luján, a Virgem venerada no santuário nacional. E, durante um dia e meio (inclusive à noite) mantêm vivo isso que descrevem como um “santuário provisório”, uma “paróquia móvel”, um lugar “flexível” que quase encontra harmonia com a itinerância fugaz da multidão.

Os padres e leigos não fazem sinais da cruz na Praça Constituição. Nada a ver com poses clericais de “reconquista” demonstrativa nos espaços públicos. Repetem gestos simples e concretos: distribuem santinhos e bênçãos, recolhem as intenções de oração, celebram missas, recitam o terço. Ao despertar a devoção aos santos mais populares, como São Caetano (o do “pão e do trabalho”), e Santo Expedito (o santo das “causas justas e urgentes”). Os sacerdotes dispensam na estação a graça eficaz dos sacramentos: confissões, eucaristia e inclusive o batismo para aqueles que o pedem ao se aproximarem da tenda. E depois ouvem. Tocam as chagas escondidas da humanidade ferida que, normalmente, tem pressa. Assim, para muitos, esse clássico “não-lugar” urbano (anônima conjuntura de barulho e circulação acelerada) converte-se no lugar em que se pode encontrar Cristo, quando menos se espera. Nas passagens casuais e distraídas pela estação florescem vínculos pessoais que duram no tempo. Multiplicam-se pequenos e escondidos milagres cotidianos.

Os missionários da Praça Constituição não fazem “propaganda” para a Igreja. Os dias ao redor da “tenda missionária” são apenas ocasiões para “facilitar” (e esta é a palavra chave, a que preferem) o encontro pessoal com Cristo. Abençoando, confessando, falando. E ouvindo. Sua proximidade compassiva com a multidão desencadeia inesperados agradecimentos.

“Eles – conta Esther, missionária da “tenda” – vêm e te agradecem: ‘Eu, que estava tão mal, te agradeço tudo o que fizeste por mim’. E, na verdade, não fizemos nada... os olhamos nos olhos e nada mais...”. Desta maneira, acontece que costumam sair felizes muitas pessoas que por diferentes razões não teriam posto novamente os pés na Igreja. Como testemunham as famílias de “Papeleiros”: “Graças a Deus”, dizem, “que vocês saíram às ruas. Porque a rua, a praça é o nosso lar, e vocês vieram para nos visitar... Porque nós, com nossos carros, não podemos entrar na Igreja, e tampouco do jeito que estamos vestidos, porque todas as pessoas... ou o sacerdote nos convida para nos retirarmos, porque não nos deixam entrar... As pessoas fazem voltas para não nos olhar”.

No tecido de vida que nasceu ao redor da tenda missionária nascem também obras de misericórdia para ajudar as vítimas dos criminosos da droga ou da prostituição, como as obras das irmãs do Santíssimo Redentor que libertam as prostitutas das suas condições de escravidão. As anedotas destes missionários, citados no ensaio de José Juan Cervantes e Virginia Zaquel Azcuy sobre “a tenda”, estão cheias de caminhos que recomeçam, de famílias salvas do naufrágio, de vidas descarriladas que retornam ao trilho. Para os próprios “missionários”, a precariedade da tenda no meio da praça ajuda a perceber a natureza própria da Igreja, sua dinâmica sacramental, fora das redes de proteção e da oficialidade burocrática de certos organismos paroquiais. Escreve o sacerdote Lorenzo de Vedia: “Como acontece nos acampamentos, em torno da tenda, descobrimos que podemos ser uma Igreja que se apóia no fundamental, e não em tantas coisas superficiais. A vida do acampamento nos ajuda a ser dependente do essencial para a vida. Na tenda missionária percebemos a sabedoria de muitas pessoas simples de nosso povo que coloca o seu olhar no essencial: a vida e a morte, a saúde e a doença, o teto e o abrigo, a comida e a fome, a solidão, a dor e a festa”.

Quando o Papa Francisco repete que Jesus se encontra “com mais facilidade” na rua, tem em mente as horas que ele mesmo passou na tenda missionária da Praça da Constituição. E isto vale também como leve sugestão para seus sacerdotes romanos e do resto do mundo. “No Evangelho”, repetia o já falecido cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider, “os encontros mais bonitos de Deus com a humanidade acontecem na rua. Séculos de história de cristianismo vivo não dizem o contrário”.
Vatican Insider, 07-03-2014.