segunda-feira, 15 de abril de 2013

Francisco: são muitos os mártires na Igreja vítimas de calúnia, um ato que vem de Satanás



papa.missa.15.04"A calúnia destrói a obra de Deus nas pessoas." Foi o que afirmou o Papa Francisco na homilia da missa presidida na manhã desta segunda-feira na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, da qual participaram, entre outros, os funcionários do Serviço telefônico vaticano e do Setor internet vaticano.
O Santo Padre convidou a rezar pelos muitos mártires que hoje são falsamente acusados, perseguidos e assassinados por ódio à fé.
Estevão, o primeiro mártir da Igreja, é uma vítima da calúnia. E a calúnia é pior do que um pecado: a calúnia é uma expressão direta de Satanás.
O Papa não usou meios termos para estigmatizar um dos mais desprezíveis comportamentos humanos. A leitura dos Atos dos Apóstolos apresenta Estevão, um dos diáconos escolhidos pelos Apóstolos, que é levado ao Sinédrio por causa de seu testemunho do Evangelho, acompanhado de sinais extraordinários.
E diante do Sinédrio – lê-se no texto – aparecem "falsas testemunhas" que acusaram Estevão.
Francisco foi incisivo sobre este ponto: porque – observou – "não bastava o combate honesto, a contenda entre homens de bem", os inimigos de Estevão embocaram "o caminho da luta suja, a calúnia":
"Todos nós somos pecadores: todos. Temos pecados. Mas a calúnia é outra coisa. É claro que é um pecado, mas é outra coisa. A calúnia quer destruir a obra de Deus; a calúnia nasce de uma coisa intrinsecamente ruim: nasce do ódio. E quem faz o ódio é Satanás. A calúnia destrói a obra de Deus nas pessoas, nas almas. A calúnia utiliza a mentira para seguir adiante. E não duvidemos: onde há calúnia está Satanás, ele mesmo."
Em seguida, o Papa passou da atenção para o comportamento dos acusadores para a atenção ao comportamento do acusado. Estevão, observou, não retribuiu a mentira com a mentira, "não quis seguir por aquele caminho para salvar-se. Ele olhou para o Senhor e obedeceu à lei", permanecendo na paz e na verdade de Cristo. E é o que "acontece na história da Igreja" – reiterou –, porque do primeiro mártir até hoje são numerosos os exemplos de quem testemunhou o Evangelho com extrema coragem:
"Mas o tempo dos mártires não acabou: também hoje podemos dizer, na verdade, que a Igreja tem mais mártires do que no tempo dos primeiros séculos. A Igreja tem muitos homens e mulheres que são caluniados, que são perseguidos, que são assassinados por ódio a Jesus, por ódio à fé: um é assassinado porque ensina catecismo, outro porque carrega a cruz... Hoje, em muitos países, os caluniam, os perseguem... são irmãos e irmãs nossos que hoje sofrem, neste tempo de mártires."
O nosso tempo – repetiu o Papa Francisco – "é uma época com mais mártires do que nos primeiros séculos". E uma época de "muitas turbulências espirituais" trouxe à mente do Pontífice a imagem de um antigo ícone russo: o ícone de Nossa Senhora que com o seu manto cobre o povo de Deus:
"Peçamos à Virgem Maria que nos proteja, e nos tempos de turbulência espiritual o lugar mais seguro é sob o manto de Nossa Senhora. É a mãe que cuida da Igreja. E neste tempo de mártires é ela, de certo modo, a protagonista da proteção. É a mãe. (...) Digamos a ela com fé: 'A Igreja está sob a tua proteção, ó mãe. Cuida da Igreja'."

Comissão de Juventude cria página especial para a Semana Missionária



Semana Missionária

Uma semana antes de a juventude do mundo todo se encontrar com o papa Francisco, na cidade do Rio de Janeiro, várias dioceses e arquidioceses do País acolherão esses jovens com uma programação especial. Será a Semana Missionária, período de preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), onde os participantes terão a oportunidade de vivenciar momentos de fraternidade e experiências de fé.
A fim de preparar as paróquias para aproveitarem melhor esses dias intensos e manter todos bem informados, a Arquidiocese de Olinda e Recife lançou a fan page “Semana Missionária AOR“.
Por meio da página do Facebook, administrada pela Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Juventude, será possível ficar atualizado com informações sobre toda a preparação para a Semana Missionária. Basta curtir, para que as atualizações apareçam na time line da rede social. Uma ferramenta importante, já que a arquidiocese vai receber cerca de 200 jovens, principalmente do México e da França.
“Durante a Semana Missionária as paróquias que receberão os jovens estrangeiros realizarão eventos de acordo com a programação geral definida pela CNBB. Eles terão que respeitar três pilares: espiritualidade, ação social e cultura”, explicou o presidente da comissão, padre Gimesson Silva.
Da Assessoria de Comunicação AOR

Evangelho do dia


Ano C - 15 de abril de 2013

João 6,22-29

Aleluia, aleluia, aleluia.
O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
6 22 No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido com seus discípulos na única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos.
23 Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças.
24 E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua procura.
25 Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: "Mestre, quando chegaste aqui?"
26 Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos.
27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal".
28 Perguntaram-lhe: "Que faremos para praticar as obras de Deus?"
29 Respondeu-lhes Jesus: "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou".
Palavra da Salvação.

Leitura
Atos 6,8-15
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 6 8 Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo.
9 Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos cirenenses, dos alexandrinos e dos que eram da Cilícia e da Ásia, levantaram-se para disputar com ele.
10 Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava.
11 Então subornaram alguns indivíduos para que dissessem que o tinham ouvido proferir palavras de blasfêmia contra Moisés e contra Deus.
12 Amotinaram assim o povo, os anciãos e os escribas e, investindo contra ele, agarraram-no e o levaram ao Grande Conselho.
13 Apresentaram falsas testemunhas que diziam: "Esse homem não cessa de proferir palavras contra o lugar santo e contra a lei.
14 Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré há de destruir este lugar e há de mudar as tradições que Moisés nos legou".
15 Fixando nele os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um anjo.
Palavra do Senhor.


Salmo 118/119
Feliz é quem na lei do Senhor Deus vai progredindo.

Que os poderosos reunidos me condenem;
o que me importa é o vosso julgamento!
Minha alegria é a vossa aliança,
meus conselheiros são os vossos mandamentos.

Eu vos narrei a minha sorte e me atendestes,
ensinai-me, ó Senhor, vossa vontade!
Fazei-me conhecer vossos caminhos
e então meditarei vossos prodígios!

Afastai-me do caminho da mentira
e dai-me a vossa lei como um presente!
Escolhi seguir a trilha da verdade,
diante de mim eu coloquei vossos preceitos.

Comentário do Evangelho
A FÉ EM JESUS
Não foi fácil para Jesus levar o povo a estabelecer com ele um relacionamento correto. Muitas vezes, seus gestos poderosos despertavam sentimentos inoportunos, com os quais não ele estava de acordo. Jamais o Mestre se deixava aliciar!
A multiplicação dos pães prestou-se para mal-entendidos. Depois de ter sido alimentada, a multidão foi, novamente, ao encalço de Jesus. Não por reconhecer sua qualidade de enviado do Pai, mas por ter comido e se saciado, interessada na repetição do milagre.
No entanto, não interessava a Jesus ser procurado na qualidade de milagreiro. Ele esperava ser reconhecido como Filho do Homem, portador de um alimento especial para a humanidade, penhor de vida divina. O seu era um pão diferente: ele próprio.
A apropriação deste pão dar-se-ia por meio da fé, ou seja, da adesão a Jesus. Ao aderir a ele, o discípulo afasta de si tudo quanto gera morte, e assimila o dinamismo vital que o animava, cuja fonte era o próprio Pai.
Jesus estava interessado em saciar, em primeiro lugar, não a fome física, mas uma outra muito mais fundamental. Saciado com o pão do céu, o discípulo estaria apto para promover a partilha do pão material que sacia a fome do povo.
A fé em Jesus não se expressa num intimismo estéril. Pelo contrário, ela deve ser expressa através de gestos, à semelhança daqueles realizados por Jesus. Também o discípulo é chamado a multiplicar os pães.

Oração

Espírito de adesão, transforma minha fé numa assimilação sincera da vida do Ressuscitado, que me leve a transmitir esta mesma vida a quem está faminto de Deus.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).

Oração
Ó Deus, vós que mostrais a luz da verdade aos que erram para que possam voltar ao bom caminho, concedei a todos os que se gloriam da vocação cristã rejeitem o que opõe a este nome e abracem quanto possa honrá-lo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Roma: Família, primeiro empreendimento



Cidade do Vaticano - O Pontifício Conselho para a Família promove em sua sede, em Roma, um ciclo de "Diálogo para a Família". Trata-se de quatro dias de encontro sobre temas específicos da vida familiar confiados a juristas, sociólogos, economistas, educadores, pedagogos, médicos e psicólogos. Segundo o presidente desse organismo vaticano, Dom Vincenzo Paglia, o primeiro ciclo se realiza na próxima quarta-feira, 17, sobre o tema "Família, primeiro empreendimento". Os temas dos próximos ciclos são: "Educação dos filhos", "Família e idosos", e "Intergeracionalidade".
"A família é o coração da sociedade. É o pilar fundamental, o recurso mais precioso. Por esta razão, é indispensável colocá-la no centro das reflexões e ações da Igreja e sociedade, da política e economia, da educação e cultura", frisa numa nota Dom Paglia. "O ciclo de diálogo é uma ocasião para chamar a atenção sobre esse patrimônio da humanidade. A ignorância é a causa da degeneração, especialmente neste momento de crise profunda em todos os níveis, onde o tesouro da família é muitas vezes incompreendido", conclui o presidente do Pontifício Conselho para a Família.
SIR

Profecia de Paz



“O problema da guerra e da paz, do conflito e da amizade entre os povos são problemas que a humanidade carrega há um longo tempo e talvez para sempre. A dificuldade é a de ser fiel ao ajuste evangélico que se põe como inovador a respeito da tradição judaica da guerra combatida em nome de Javé.”

O artigo é de Christian Albini, teólogo leigo, publicado no blog Sperare per Tutti, 10-04-2013. A tradução é de Anete Amorim Pezzini.

Eis o artigo.

Celebramos os cinquenta nos da Pacem in Terris, a última encíclica de João XXIII, um texto que fez história. A Paz não estava na ordem do dia do Concílio Vaticano II. Nem o diálogo com o mundo contemporâneo. A contribuição corajosa de Lercaro. E de Dosseti. Uma contribuição de Giuseppe Alberigo (diretor do Instituto para a Ciência Religiosa João XXIII, de Bolonha).

Pode parecer paradoxal para quem recorda do clima dos anos 1960, mas no programa do Concílio não estava o tema da paz. Isso para quem conhece a preparação do Vaticano II não surpreende muito. Hoje deixa-nos consternados. O tema era caro a João XXIII, como homem que tinha vivido a experiência das duas guerras mundiais. Em particular, na última delas ajudando os judeus, como delegado apostólico na Turquia.

Homem de paz, portanto, mas que, de repente, encontra-se junto aos padres do Concílio naquele outubro de 1962, quando evento está se iniciando frente àquela que os mais velhos recordam como a última grande crise atômica do mundo contemporâneo, a crise de Cuba. É aqui que se situa a mudança de compromisso de João XXIII e, em certa medida, do Concílio Vaticano II sobre o tema da paz.

O papa decide intervir com um apelo tanto nos confrontos de Kennedy, presidente dos Estados Unidos, como nos de Khrushchev, líder da União Soviética. É um apelo que tem alguns efeitos incríveis. Que o pontífice faça um apelo pela paz é, de todo o modo, um costume, mas geralmente esses apelos caem no vazio. Naquele caso, o efeito foi diferente porque se mesclou ao final do bloqueio que os EUA havia imposto aos navios soviéticos que transportavam os mísseis para Cuba e à retirada de parte da União Soviética desses mesmos navios.

Tudo isso desencadeia no papa João uma mudança inesperada e sem precedentes: precisa que a Igreja intervenha na questão da paz de um modo novo; aqui nasce a ideia, a formulação, a preparação da encíclica Pacem in Terris, que sairá alguns meses mais tarde, na véspera da morte do papa no abril de 1963.

Finalmente uma guerra injusta

É a encíclica que ainda é sinal de contradição, porque sustenta que na idade atômica não é mais possível admitir uma guerra justa. Foi a partir de Santo Agostinho que o cristianismo, e depois o catolicismo romano, afirmava exatamente o contrário: havia muitas guerras injustas, mas também as guerras justas.

Na Pacem in Terris lê-se: “Nesta nossa era que se orgulha da força atômica, é contrária à razão” – e é interessante que o papa não houvesse escolhido dizer: “é contrária à fé cristã”, mas à razão – “que a guerra possa ser ainda apropriada para restaurar os direitos violados”.

Assim, não somente a guerra de agressão, mas também a que pretende restaurar direitos não é mais admissível.

Esse é o pano de fundo do debate naquele Concílio que não tinha entre seus argumentos a questão da paz que, depois, todavia, enfrenta. Assim como não havia na sua ordem do dia toda a temática das relações da Igreja com o mundo contemporâneo, tema que, no entanto, depois se revela central nos documentos do Concílio, sobretudo graças à contribuição do cardeal Lercaro e de Giuseppe Dossetti.

O Concílio está prestes a ser concluído, espremido por milhares de temas, precisamente aqueles que a preparação havia enfeixado confusamente, porque cada um dos membros da Cúria Romana havia tomado como ponto de honra inserir no mínimo três ou quatro itens na ordem do dia. O Concílio arrasta, portanto, esse lastro, e, nos meses de setembro a novembro de 1965, os trabalhos estão sobrecarregados por uma quantidade inumerável de textos, de assuntos frequentemente secundários para se discutir e eliminar.

E nesse emaranhado de temas estão alguns cruciais: há a relação da Igreja com a Palavra de Deus, que levará à constituição de Dei verbum; há um tema delicado e complicado ao mesmo tempo, o do relacionamento com a sociedade contemporânea que o Concílio enfrenta sem nenhuma preparação remota; excetua-se a Doutrina Social da Igreja, que pretendia derivar mecanicamente do Evangelho a resposta aos problemas contemporâneos sem chegar a qualquer solução.

Um estranho

A Pacem in Terris havia afirmado não somente a impossibilidade de uma guerra justa, mas também que se necessitava enfrentar os problemas da sociedade contemporânea a partir dela mesma. É ali que a Igreja deve ser capaz de ler os sinais dos tempos que não são uma fórmula milagrosa ou mágica, mas o reconhecimento dos elementos evangélicos na vida dos homens e das mulheres de nosso tempo.

O Esquema 13 – que se tornará a constituição Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo contemporâneo – é o recipiente de uma tentativa exaustiva que o Concílio fez para expressar-se sobre os temas da humanidade contemporânea.

Lercaro e Dossetti estavam convencidos da necessidade desse compromisso, mas também alarmados pela forte abordagem sociológica que o tema estava tomando.

Perto do final de setembro de 1965, criou-se a ocasião de expressar as incertezas e perplexidade sobre a abordagem do Esquema 13 durante a intervenção do monsenhor Amici, bispo de Modena. Lercaro propunha-se a uma intervenção explícita, direta, sobre o tema da paz que dividia de modo claro o Concílio e que via os bispos norte-americanos não disponíveis às formulações que retomassem a carta Pacem in Terris, isto é, que colocasse o problema dos armamentos e dos arsenais atômicos, a dissuasão nuclear e, portanto, a possibilidade de uma guerra justa.

Lercaro tem esta orientação e pede que se prepare um texto, mas uma complicação imprevista intervém: o Papa Paulo VI decide fazer uma viagem à ONU, e, ali, durante o discurso oficial sobre a guerra sustenta de alguma forma uma legitimidade.

Àquela altura o texto que Lercaro tinha em mãos era “fervente”, porque retomava e desenvolvia a tese da encíclica de João XXIII. Nele se lê: “a Igreja, hoje, não deve somente falar sobre a paz, rezar pela paz, evitar que os homens façam a guerra, mas façam a paz (isso também o fizeram Bento XV e Pio XII), mas deve ser feita com imensa coragem, com a audácia de João XXIII, profeta da paz, essa mesma feitura da paz pelos caminhos não humanos, mas puramente espirituais que lhe são próprios, e somente essa pode dar ao mundo a paz do próprio Cristo, que estabeleceu e estabelece a paz não por meio dos compromissos ou dos bons ofícios, mas por meio do sangue de Sua cruz. Mas, para fazer isso, a Igreja deve começar por julgar o mundo contemporâneo com a humildade mais sincera, na conscientização de seus próprios erros, de sua própria culpa, especialmente da sua política temporal no passado, no desinteresse mais puro na solidariedade mais amorosa com o próprio mundo, a Igreja deve, no entanto, levar isso ao seu juízo. Deve, segundo a palavra de Isaías, retomada por Mateus, anunciar a boa nova para o povo”.

Esse era o cenário do discurso de Lercaro, claramente não alinhado com o que, poucas horas antes, havia dito Paulo VI nas Nações Unidas. Esse discurso jamais foi pronunciado.

O regulamento do Concílio previa a possibilidade de que houvesse quaisquer intervenções escritas, e, de fato, o cardeal Lercaro decide utilizar o texto, entregando-o por escrito por volta de meados de outubro de 1965. Desse modo, uniu-se à imensa quantidade de textos escritos e apresentados, a perder o número. O texto tocava também no problema da fabricação das armas e dos arsenais nucleares.

O cardeal não se arrependeu de modo algum daquela convicção profunda expressa no documento e retomou, em diversas ocasiões, especialmente na homilia de 1.º de janeiro de 1968, por ocasião do primeiro Dia da Paz, convocado por Paulo VI. O problema da paz tornou-se um fato premente pelo agravamento da guerra do Vietnã e pela decisão dos Estados Unidos de tentar resolvê-lo com bombardeio maciço.

Colher a herança

Esta homilia custou ao cardeal o exílio da Igreja de Bolonha. De certa forma, tornou-se realidade para ele o que foi dito no documento apresentado ao Concílio: “A Cruz não se compromete com a paz mediante compromissos, mas por meio do sangue da Sua Cruz”.

Qual é a herança? Tudo foi perdido? Não acredito, mesmo se a mensagem do Concílio e a problemática da paz são, ainda, para a Igreja, de digestão difícil e laboriosa. Creio que seja justo recordar a tese das intervenções humanitárias nos Bálcãs, a qual João Paulo II muitas vezes expressou, não se sabe se como forma elegante de legitimação da guerra: é-lhe, porém, reconhecida uma inversão de tendência por ocasião da guerra do Iraque. Colocou em prática uma mudança significativa, a rejeição da intervenção armada, que se coloca em linha de continuidade com a grande ansiedade dos homens e das mulheres do nosso tempo, com a de João XXIII, e com o avanço que ele provocou mediante a encíclica Pacem in Terris.

O problema da guerra e da paz, do conflito e da amizade entre os povos são problemas que a humanidade carrega há um longo tempo e talvez para sempre. A dificuldade é a de ser fiel ao ajuste evangélico que se põe como inovador a respeito da tradição judaica da guerra combatida em nome de Javé.

O espírito do Evangelho é profundamente inovador: procuramos colher uma herança bela e fascinante, mas ainda desafiante como a que João XXIII, o Concílio,e  o cardeal Lercaro nos deixaram.
Instituto Humanitas/Unisinos

'A fé nasce da escuta e se fortalece no anúncio'



Em sua homilia, o pontífice destacou três verbos importantes: anunciar, testemunhar e adorar.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco tomou posse da Basílica de São Paulo Fora dos Muros na tarde deste domingo. Francisco manifestou a alegria de celebrar a Eucaristia nessa basílica papal localizada sobre o túmulo de São Paulo, "Apóstolo humilde e grande do Senhor, que o anunciou com a palavra, testemunhou com o martírio e adorou com todo o coração". Em sua homilia, o pontífice destacou três verbos importantes: anunciar, testemunhar e adorar. "Os apóstolos diante da ordem de não falar nem ensinar no nome de Jesus, de não anunciar mais a sua mensagem, respondem com clareza: Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. E nem o fato de serem flagelados, ultrajados, encarcerados os deteve. Pedro e os Apóstolos anunciam, com coragem e desassombro, aquilo que receberam: o Evangelho de Jesus", disse ainda o Santo Padre.
"E nós? Somos nós capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A fé nasce da escuta e fortalece-se no anúncio", frisou o Papa. Francisco disse ainda que "o anúncio de Pedro e dos Apóstolos não é feito apenas com palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a sua vida, que se modifica, recebe uma nova direção, e é precisamente com a sua vida que dão testemunho da fé e anunciam Cristo". No Evangelho, Jesus pede por três vezes a Pedro que apascente o seu rebanho. "Trata-se de uma palavra dirigida primariamente a nós, Pastores: não se pode apascentar o rebanho de Deus, se não se aceita ser conduzido pela vontade de Deus mesmo para onde não queremos se não estamos prontos a testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas nem cálculos, por vezes à custa da nossa própria vida. Mas isto vale para todos: tem-se de anunciar e testemunhar o Evangelho".
"Como testemunho Cristo com a minha fé? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apóstolos para pensar, decidir e viver como cristão, obedecendo a Deus? No grande desígnio de Deus, cada detalhe é importante, incluindo o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, mesmo o testemunho oculto de quem vive a sua fé, com simplicidade, nas suas relações diárias de família, de trabalho, de amizade. A incoerência dos fiéis e dos Pastores entre aquilo que dizem e o que fazem entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja", ressaltou ainda Francisco. O pontífice questionou: "Você, eu adoramos o Senhor? Vamos ter com Deus só para pedir, para agradecer, ou vamos até Ele também para adorá-lo? O que significa adorar a Deus? Significa aprender a estar com Ele, demorar-se em diálogo com Ele, sentindo a sua presença como a mais verdadeira, a melhor, a mais importante de todas. Cada um de nós possui na própria vida, de forma mais ou menos consciente, uma ordem bem definida das coisas que são consideradas mais ou menos importantes".
O Papa disse ainda que "adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Ele deve ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer – e não apenas por palavras – que só Ele guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que estamos diante d’Ele convencidos de que é o único Deus, o Deus da nossa vida, da nossa história". "Daqui deriva uma consequência para a nossa vida: despojar-nos dos numerosos ídolos, pequenos ou grandes, que temos e nos quais nos refugiamos, nos quais buscamos e muitas vezes depomos a nossa segurança. São ídolos que frequentemente conservamos bem escondidos; podem ser a ambição, o carreirismo, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendência a prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros." "O Senhor é o único, o único Deus da nossa vida e convida-nos a despojar-nos dos numerosos ídolos e a adorar só a Ele. Que a bem-aventurada Virgem Maria e o Apóstolo Paulo nos ajudem neste caminho e intercedam por nós", concluiu Francisco.
SIR

Papa critica 'incoerência' entre palavras e ações dos católicos



A crítica foi feita durante a homilia da primeira missa a que presidiu na Basílica de São Paulo.
Roma – O Papa Francisco alertou na noite deste domingo em Roma para a “incoerência” entre o discurso e a ação dos católicos, durante a homilia da primeira missa a que presidiu na Basílica de São Paulo. “A incoerência dos fiéis e dos pastores entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja”, alertou. O Papa argentino recordou, a este respeito, quem sofre “por causa do Evangelho” e quem dá “a própria vida para permanecer fiel a Cristo, com um testemunho que lhe custa o preço do sangue”.
“Recordemo-lo bem todos nós: não se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o testemunho concreto da vida”, acrescentou. Francisco frisou ainda a necessidade de abandonar os “numerosos ídolos, pequenos ou grandes” nos quais as pessoas colocam muitas vezes a sua “segurança”. “São ídolos que frequentemente guardamos bem escondidos; podem ser a ambição, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendência a prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros”, elencou.
O Papa apresentou uma intervenção, centrada em três verbos – “anunciar, testemunhar, adorar” – e lembrou os “santos de todos os dias, os santos ‘escondidos’, uma espécie de ‘classe média da santidade’”. “Não se pode apascentar o rebanho de Deus, se não se aceita ser conduzido pela vontade de Deus mesmo para onde não queremos, se não estamos prontos a testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas nem cálculos, por vezes à custa da nossa própria vida”, prosseguiu. Antes da missa, Francisco visitou o túmulo do apóstolo Paulo, martirizado em Roma entre os anos 65 e 67 e sepultado na basílica papal que lhe é dedicada na capital italiana.
O Papa foi acolhido no local pelo arcipreste da Basílica de São Paulo fora de muros, cardeal James Michael Harvey, tendo descido ao sepulcro do apóstolo, onde esteve em de oração, de forma privada, junto do ‘tropaion’ (memorial) para onde se dirigiram fiéis e peregrinos, ao longo dos séculos. Francisco evocou o testemunho de fé dos apóstolos, que não foi feito “apenas com palavras”. “Adorar o Senhor quer dizer dar-lhe o lugar que Ele deve ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer – e não apenas por palavras – que só Ele guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que estamos diante dele convencidos de que é o único Deus, o Deus da nossa vida, da nossa história”, precisou.
No final da celebração, o Papa deslocou-se à Capela do Crucifixo para venerar o ícone Virgem ‘Theotokos Hodigitria’ (século XIII), diante do qual, a 22 de abril de 1541, Santo Inácio de Loiola e os seus primeiros companheiros fizeram a sua profissão religiosa solene, um acontecimento tido como fundamental para o nascimento da Companhia de Jesus (jesuítas).
SIR