domingo, 26 de maio de 2013

Papa Francisco pede Igreja de "portas abertas"



O Papa citou o exemplo de um padre que se recusou a batizar o filho de uma mãe solteira.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco pediu nesta sábado para que a Igreja se mantenha "de portas abertas", citando o exemplo de padres que se recusam a batizar crianças nascidas fora do casamento. "Nós, muitas vezes, acabamos por ser controladores da fé ao invés de facilitadores", lamentou em sua missa diária na residência de Santa Marta, no Vaticano, onde vive desde a sua eleição. O Papa citou o exemplo de um padre que se recusou a batizar o filho de uma mãe solteira, de acordo com uma passagem de sua homilia transmitida pela Rádio Vaticano. "Esta mulher teve a coragem de continuar a gravidez e de não devolver a criança a seu remetente. E o que ela encontrou? Uma porta fechada", declarou, em linguagem muito direta."Isto não é zelo, é colocar distâncias com Deus! Quando vamos por este caminho não ajudamos o povo de Deus", frisou, acrescentando: "Jesus instituiu sete sacramentos e com este tipo de atitude criamos um oitavo: o sacramento da alfândega pastoral!".

Em setembro de 2012, então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio já havia criticado os padres que se recusavam a batizar as crianças nascidas fora do casamento, chamando-os de "hipócritas". Desde sua eleição, o Papa Francisco atinge os espíritos com sua linguagem simples e direta e sua proximidade com os fiéis, mantendo-se na linha de seus antecessores em termos de moralidade. Ele não hesita em repreender o clero: na quinta-feira convidou os bispos italianos a não se deixarem "seduzir pela perspectiva de uma carreira, a tentação do dinheiro".

Nesse sábado, durante audiência à assembleia plenária da Fundação vaticana “Centesimus Annus – Pro Pontífie”, o Papa também tratou a crise econômica e o desemprego, que ele descreveu como "uma mancha de óleo que se estende pelo ocidente... fazendo as fronteiras da pobreza diminuírem". Para ele, a palavra "solidariedade" não deve ser entendida como "uma mera assistência aos pobres, mas como um desafio para alimentar todo o sistema global".
SIR

"Colocar a família no centro da vida social e religiosa"



Dom Paglia diz que não é a ideia de família que está em crise, mas a ideia de sua necessidade social.
Buenos Aires, Argentina - O Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Dom Vincenzo Paglia, foi convidado para dar uma palestra, esta semana, na Universidade Católica Argentina (UCA), em Buenos Aires, sobre o 30° aniversário da Carta dos Direitos da Família. "A família, como dinâmica social, parece confusa. Não é a ideia de família que está em crise, mas a ideia de sua necessidade social. A situação que foi se consolidando nas últimas décadas, especialmente no mundo ocidental, nos obriga a tomar nota de um fenômeno novo. A família não é negada ou rejeitada como tal, mas se aceita que unidas a ela existam formas de vida e experiências relacionais aparentemente compatíveis, que na realmente a desconcertam", frisou o arcebispo em seu discurso.

Durante a visita ao país, o prelado visitou a Arquidiocese de La Plata, onde a delegação do Pontifício Conselho para a Família encontrou-se com o arcebispo dessa cidade, Dom Héctor Rubén Aguer, com os bispos auxiliares, seminaristas e agentes da pastoral familiar. O evento mais significativo foi o encontro com as famílias atingidas pelas enchentes de abril passado, que causaram mais de sessenta mortos e danos graves, sobretudo nos bairros mais pobres da cidade. Dom Paglia entregou uma ajuda econômica em favor do projeto "Voltar a fazer as refeições com a família reunida", destinado a incentivar os membros da família a almoçarem juntos pelo menos uma vez por dia, graças à compra de novos objetos para as casas de famílias mais pobres e a distribuição de alimentos feita pela Caritas local.

"Um gesto respeitoso com o qual indicamos uma das formas mais significativas para colocar a família no centro da vida social e religiosa", disse ainda Dom Paglia. A visita do prelado à Argentina foi uma ocasião para encontrar o novo Arcebispo de Buenos Aires, Dom Aurelio Poli, sucessor do Papa Francisco, e os responsáveis pela família da Conferência Episcopal Argentina e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), as autoridades acadêmicas, vários estudantes da UCA e jornalistas do país.
SIR

Arcebispo quer maior cuidado na preparação da iniciação cristã




Braga – O arcebispo de Braga diz que o futuro da Igreja Católica, numa época marcada por um decréscimo no número de fiéis em Portugal, depende, sobretudo, de uma abordagem mais “séria” à iniciação cristã. Numa nota publicada através da internet nessa sexta-feira, D. Jorge Ortiga realça que a “mudança” de paradigma religioso na sociedade portuguesa aponta para a necessidade de formar “cristãos mais conscientes nas suas motivações”. Um objetivo que, de acordo com o prelado, só será atingido através da promoção de “uma nova mentalidade” entre aqueles que têm a responsabilidade de educar as comunidades na fé.

D. Jorge Ortiga teve ocasião de sensibilizar os sacerdotes para esta questão na quinta-feira, durante o último Conselho Presbiteral da Arquidiocese. O encontro reforçou a importância de se “promoverem” novas formas de iniciação cristã, que favoreçam por exemplo uma maior “acompanhamento dos pais que pedem o batismo para os seus filhos”. Para agilizar a definição de soluções, a Igreja Católica bracarense está neste momento a desenvolver “uma reflexão alargada ao nível de foranias e dos diversos departamentos pastorais” do território. A revelação foi feita pelo secretário do Conselho Presbiteral, padre Luís Marinho, que adiantou também que todas as reflexões e propostas recolhidas serão depois devidamente compiladas e publicadas.
No âmbito do próximo ano pastoral em Braga, que vai privilegiar o tema da “Fé celebrada”, o sacerdote deixou algumas sugestões para o reforço da dinâmica da iniciação cristã, como a aposta em “percursos de iniciação à oração” e em “retiros, quer ao nível de foranias, quer nos santuários arquidiocesanos”. Entre as outras questões abordadas durante a reunião, destaque para a realização de um ponto de situação relativamente ao fundo “Partilhar com Esperança”, que o Conselho Presbiteral criou há dois anos para apoiar famílias mais carentes.
De acordo com o padre Luís Marinho, entre janeiro e março deste ano foram disponibilizados cerca de “25 mil euros”, sobretudo para auxiliar as pessoas no pagamento de rendas de casa e despesas de água, gás e eletricidade. Um número que faz perspectivar uma “subida no número de pedidos” de apoio, já que em 2012 o fundo distribuiu “no total cerca de 80 mil euros”.
SIR/Ecclesia

A acolhida cristã



Os cristãos que pedem nunca devem encontrar as portas fechadas. As igrejas não são escritórios onde apresentar documentos e papelada quando se pede para entrar na graça de Deus. “Não devemos instituir o oitavo sacramento, o da alfândega pastoral!”. É o acolhimento cristão o tema da reflexão do Papa Francisco na homilia da missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae na manhã de sábado (25), entre outros com o cardeal Agostino Cacciavillan. Comentando o evangelho de Marcos (10, 13-16) o Pontífice recordou a repreensão dirigida por Jesus aos discípulos que queriam afastar dele as criancinhas que o povo lhe levava para lhe pedir uma carícia. Os discípulos propunham “uma bênção geral e depois todos fora”, mas o que diz o Evangelho? Que Jesus se indignou  - respondeu o Papa - dizendo “deixai-os vir a mim, não lho impeçais. A quem é como eles pertence o Reino de Deus”.

Para explicar melhor o conceito o Pontífice fez alguns exemplos. Em particular o que acontece quando dois noivos que se querem casar se apresentam na sacristia de uma paróquia e, em vez de apoio ou felicitações, ouvem enumerar as despesas da cerimônia ou perguntar se têm todos os documentos. Assim por vezes, recordou o Papa, eles “encontram a porta fechada”. Deste modo quem teria a possibilidade “de abrir a porta agradecendo a Deus por este novo matrimônio” não o faz, aliás, fecha-a. Muitas vezes “somos controladores da fé e não felicitadores da fé do povo”. Trata-se de algo, acrescentou o Papa, que “começou no tempo de Jesus, com os apóstolos”.

Trata-se de “uma tentação que sentimos; a de nos apropriar, de nos  apoderar do Senhor”. E mais uma vez o Papa recorreu a um exemplo: o caso de uma jovem mãe que vai à Igreja, à paróquia, pede para batizar o filho e sente-se responder “de um cristão ou de uma cristã”: não, “não podes, não és casada”. E prosseguiu: “Olhai para esta moça que teve a coragem de dar continuidade à sua gravidez” e não abortou: “O que encontra? Uma porta fechada. E assim acontece com muitas. Este não é um bom zelo pastoral. Isto afasta do Senhor, não abre as portas. E assim quando nós estamos neste caminho, nesta atitude, não fazemos o bem às pessoas, ao povo de Deus. Mas Jesus instituiu sete sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo, o sacramento da alfândega pastoral”.

“Jesus indigna-se quando vê estas coisas, porque quem sofre com  isso? O seu povo fiel, o povo que tanto ama”. Jesus, explicou o Papa Francisco ao concluir a homilia, quer que todos se aproximem dele. “Pensemos no santo povo de Deus, povo simples, que se quer aproximar de Jesus. E pensemos em todos os cristãos de boa vontade que erram e em vez de abrir uma porta a fecham. E peçamos ao Senhor que todos os que se aproximam da Igreja encontrem as portas abertas para receberem este amor de Jesus”.
L’Osservatore Romano

No limite da pobreza



Papa afirma que não há pior pobreza material do que a que não permiteganharo pão e priva da dignidade do trabalho.
O desemprego “está se alastrando” e “alargando de modo preocupante o limite da pobreza”:  é o sinal evidente que “alguma coisa não funciona” em todo o planeta e não só no “sul do mundo”. Denunciando que “não há pior pobreza material do que a que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho”, o Papa Francisco solicitou a uma “reconsideração global de todo o sistema”, procurando novos caminhos para o reformar e corrigir “de modo coerente com os direitos fundamentais do homem, de todos os homens”.

Ocasião para esta reflexão foi a audiência à Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, recebida na manhã de sábado (25). O encontro com o Papa concluiu os trabalhos do congresso internacional da Fundação sobre o tema: “Reconsiderando a solidariedade no emprego: os desafios do século XXI”. Para o Papa Francesco “reconsiderar a solidariedade” significa “conjugar o magistério com a evolução socioeconômica que, sendo constante e rápida, apresenta aspectos sempre novos”. E significa também, realçou,  “aprofundar, refletir ulteriormente para fazer emergir toda a fecundidade” do valor da solidariedade. Mas hoje, denunciou o Pontífice, é preciso voltar a dar à palavra solidariedade, mal vista pelo mundo econômico, como se fosse uma palavra má, a sua merecida cidadania social”. E, acrescentou improvisando, “a solidariedade não é uma atitude a mais, não é uma esmola mas um valor social. E pede-nos a sua cidadania”.

Com efeito, explicou o Papa, “a crise actual não é só econômica e financeira, mas afunda as raízes numa crise ética e antropológica. Considerar os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, acima do valor da pessoa humana, tornou-se norma fundamental de funcionamento e critério decisivo de organização”.

Assim, prosseguiu o Pontífice, “esquecemo-nos, no passado e hoje, que acima dos negócios, da lógica e dos parâmetros de mercado, está o ser humano e algo que se deve ao homem enquanto homem, em virtude da sua dignidade  profunda: oferecer-lhe a possibilidade de viver com dignidade e  participar activamente no bem comum”.

“Qualquer atividade humana”, disse ainda o Papa citando o seu predecessor Bento XVI, “também a econômica, precisamente porque humana, deve ser articulada e institucionalizada eticamente. Devemos voltar à centralidade do homem, a uma visão mais ética das actividades e das relações humanas, sem receio de perder algo”.
L’Osservatore Romano