sábado, 22 de fevereiro de 2014

Consistório: "A Igreja precisa de artesãos da paz". Bento XVI presente à cerimônia




Cidade do Vaticano (RV) – O Colégio Cardinalício ganhou neste sábado 19 novos membros e o Brasil, mais um Cardeal: Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro.

O Consistório realizou-se na Basílica Vaticana, numa cerimônia rica não só de tradições e símbolos, mas também de uma surpresa inédita: a presença durante toda a celebração do predecessor de Francisco, Bento XVI. Depois da procissão de entrada, os dois Pontífices se abraçaram.

O primeiro dos novos purpurados, Pietro Parolin, Secretário de Estado, dirigiu em nome de todos os outros cardeais a saudação ao Pontífice.

Diante dos novos e antigos membros do Colégio Cardinalício, de autoridades (como a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff), delegações oficiais e inúmeros fiéis, o Pontífice inspirou toda a sua homilia no Evangelho de S. Marcos. Comentando a frase “Jesus ia à frente deles”, o Papa afirmou que também neste momento Jesus caminha diante de nós, Ele nos precede e nos abre o caminho.

“Isto é uma coisa que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus discípulos ao longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar uma filosofia, uma ideologia... mas um «caminho», uma estrada que se deve percorrer com Ele.”

A estrada, acrescentou, se aprende percorrendo-a, caminhando. “Esta é a nossa alegria: caminhar com Jesus.”

Mas isso não é fácil, não é cômodo, advertiu o Pontífice, pois a estrada que Jesus escolhe é a da cruz. Ao contrário dos discípulos de então, “nós sabemos que Jesus venceu e não deveríamos ter medo da cruz, ou melhor, na cruz depositamos a nossa esperança. E, contudo, sendo também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar à maneira dos homens e não de Deus”.

E quando se pensa de maneira mundana, prosseguiu o Papa, há indignação. “Se prevalece a mentalidade do mundo, sobrevêm as rivalidades, as invejas, as facções.... Por isso, a Palavra que hoje o Senhor nos dirige é tão “saudável! Nos purifica interiormente, ilumina as nossas consciências e nos ajuda a nos sintonizar plenamente com Jesus, e a fazê-lo juntos, no momento em que o Colégio de Cardeais aumenta com o ingresso de novos membros”.

Outro gesto de Jesus é chamar os discípulos a Si. “Deixemo-nos ‘con-vocar’ por Ele”, disse o Papa dirigindo-se aos novos cardeais e acrescentando que a Igreja necessita deles, de sua colaboração, de sua coragem para anunciar o Evangelho, de sua oração e compaixão, “sobretudo neste momento de dor e de sofrimento em tantos países do mundo”.

Francisco expressou solidariedade às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições. “A Igreja necessita de nossa oração por eles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta nossa oração estende-se a todo o homem e mulher que sofre injustiça por causa das suas convicções religiosas”.

Por fim, uma menção à paz e um convite à união: “A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas obras, os nossos desejos, as nossas orações. Fazer a paz. Artesão da paz. Por isso invocamos a paz e a reconciliação para os povos que, nestes tempos, vivem provados pela violência e a guerra. Caminhemos juntos atrás do Senhor e deixemo-nos cada vez mais convocar por Ele, no meio do povo fiel, da Santa Mãe Igreja”.

Na sequência, houve um dos momentos mais característicos da cerimônia: o Santo Padre nomeou os Cardeais e anunciou a Ordem Presbiteral ou Diaconal que lhes foi atribuída.

Os novos purpurados juraram fidelidade e obediência ao Santo Padre e aos seus sucessores, com a fórmula: “Prometo e juro permanecer, a partir de agora e para sempre enquanto tiver vida, fiel a Cristo e ao seu Evangelho, constantemente obediente à Santa Apostólica Igreja Romana”, diz um trecho.

No momento da imposição do barrete, o Santo Padre lembrou aos cardeais que se trata de um símbolo de compromisso, de “estar prontos a agir com fortaleza, até à efusão do sangue, pelo aumento da fé cristã, pela paz e a tranquilidade do povo de Deus e para a liberdade e a propagação da Santa Igreja Romana”.

Cada cardeal, de acordo com a ordem da criação, se ajoelhou diante do Pontífice para receber o solidéu e o barrete vermelhos.

Por sua vez, a entrega do anel foi acompanhada pelas palavras: “Recebe o anel das mãos de Pedro e saiba que, com o amor do Príncipe dos Apóstolos, se reforça o teu amor para com a Igreja”.

O Santo Padre atribuiu a cada cardeal uma igreja em Roma, como um sinal de participação no cuidado pastoral do Papa na cidade. Ele entregou a bula de criação cardinalícia e o título correspondente a cada um, antes de trocar com o novo cardeal um abraço de paz.

Ao Card. Orani foi atribuída a Igreja Santa Maria Mãe da Providência, no bairro de Monteverde (parrocchiaprovvidenza.it)

A celebração se encerrou com o Pai-Nosso e a bênção apostólica, seguida da antífona mariana.

(BF)



Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano

Evangelho do Dia

Ano A - 22 de fevereiro de 2014

Mateus 16,13-19

Aleluia, aleluia, aleluia.
Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu irei construir minha Igreja, e as portas do inferno não irão derrotá-la (Mt 16,18).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 16 13 chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: "No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?"
14 Responderam: "Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas".
15 Disse-lhes Jesus: "E vós quem dizeis que eu sou?"
16 Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!"
17 Jesus então lhe disse: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.
18 E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19 Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
FÉ E MISSÃO
A missão de liderança confiada a Pedro exigiu dele uma explicitação de sua fé. Antes de assumir o papel de guia da comunidade, foi preciso deixar claro seu pensamento a respeito de Jesus, de forma a prevenir futuros desvios.
Se tivesse Jesus na conta de um messias puramente humano, correria o risco de transformar a comunidade numa espécie de grupo guerrilheiro, disposto a impor o Reino de Deus a ferro e fogo. A violência seria o caminho escolhido para fazer o Reino acontecer.
Se o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, transformaria a Boa-Nova do Reino numa proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo medo e terror. De fato, pensava-se que, no final dos tempos, muitos profetas do passado haveriam de reaparecer.
Se a fé de Pedro fosse imprecisa, não sabendo bem a quem havia confiado a sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa, e levar a comunidade a ser como um sal que perdeu seu sabor, ou uma luz posta no lugar indevido.
Só depois que Pedro professou sua fé em Jesus, como o “Messias, o Filho do Deus vivo”, foi-lhe confiada a tarefa de ser “pedra” sobre a qual seria construída a comunidade dos discípulos: a sua Igreja. Entre muitos percalços, esse apóstolo deu provas de sua adesão a Jesus, selando o seu testemunho com a própria vida, demonstração suprema de sua fé. Portanto, sua missão foi levada até o fim.

Oração
Pai, consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em meio às provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de adesão a Jesus.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Leitura
1 Pedro 5,1-4
Leitura da primeira carta de são Pedro.
Carríssimos, 5 1 eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós; porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei participante com eles daquela glória que se há de manifestar.
2 Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação;
3 não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho.
4 E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.
Palavra do Senhor.
Salmo 22/23
O Senhor é o pastor que me conduz,
não me falta coisa alguma.

O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha
e restaura as minhas forças.

Ele me guia no caminho mais seguro,
pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
nenhum mal eu temerei.
Estais comigo com bastão e com cajado,
eles me dão a segurança!

Preparais à minha frente uma mesa,
bem à vista do inimigo;
com óleo vós ungis minha cabeça,
e o meu cálice transborda.

Felicidade e todo bem hão de seguir-me
por toda a minha vida;
e na casa do Senhor habitarei
pelos tempos infinitos.
Oração
Concedei, ó Deus todo-poderoso, que nada nos possa abalar, pois edificastes a vossa Igreja sobre aquela pedra que foi a profissão de fé do apóstolo Pedro. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Liturgia Diária

Dia 22 de Fevereiro - Sábado

CÁTEDRA DE SÃO PEDRO
(Branco, Glória, Prefácio dos Apóstolos – Ofício da Festa)

Antífona da entrada: O Senhor disse a Simão Pedro: Roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma os teus irmãos (Lc 22,32).
Oração do dia
Concedei, ó Deus todo-poderoso, que nada nos possa abalar, pois edificastes a vossa Igreja sobre aquela pedra que foi a profissão de fé do apóstolo Pedro. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (1 Pedro 5,1-4)
Leitura da primeira carta de são Pedro.
Carríssimos, 5 1 eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós; porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei participante com eles daquela glória que se há de manifestar.
2 Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação;
3 não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho.
4 E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 22/23
O Senhor é o pastor que me conduz,
não me falta coisa alguma.

O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha
e restaura as minhas forças.

Ele me guia no caminho mais seguro,
pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
nenhum mal eu temerei.
Estais comigo com bastão e com cajado,
eles me dão a segurança!

Preparais à minha frente uma mesa,
bem à vista do inimigo;
com óleo vós ungis minha cabeça,
e o meu cálice transborda.

Felicidade e todo bem hão de seguir-me
por toda a minha vida;
e na casa do Senhor habitarei
pelos tempos infinitos.
Evangelho (Mateus 16,13-19)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu irei construir minha Igreja, e as portas do inferno não irão derrotá-la (Mt 16,18).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 16 13 chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: "No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?"
14 Responderam: "Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas".
15 Disse-lhes Jesus: "E vós quem dizeis que eu sou?"
16 Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!"
17 Jesus então lhe disse: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.
18 E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19 Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
FÉ E MISSÃO
A missão de liderança confiada a Pedro exigiu dele uma explicitação de sua fé. Antes de assumir o papel de guia da comunidade, foi preciso deixar claro seu pensamento a respeito de Jesus, de forma a prevenir futuros desvios.
Se tivesse Jesus na conta de um messias puramente humano, correria o risco de transformar a comunidade numa espécie de grupo guerrilheiro, disposto a impor o Reino de Deus a ferro e fogo. A violência seria o caminho escolhido para fazer o Reino acontecer.
Se o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, transformaria a Boa-Nova do Reino numa proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo medo e terror. De fato, pensava-se que, no final dos tempos, muitos profetas do passado haveriam de reaparecer.
Se a fé de Pedro fosse imprecisa, não sabendo bem a quem havia confiado a sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa, e levar a comunidade a ser como um sal que perdeu seu sabor, ou uma luz posta no lugar indevido.
Só depois que Pedro professou sua fé em Jesus, como o “Messias, o Filho do Deus vivo”, foi-lhe confiada a tarefa de ser “pedra” sobre a qual seria construída a comunidade dos discípulos: a sua Igreja. Entre muitos percalços, esse apóstolo deu provas de sua adesão a Jesus, selando o seu testemunho com a própria vida, demonstração suprema de sua fé. Portanto, sua missão foi levada até o fim.

Oração
Pai, consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em meio às provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de adesão a Jesus.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, com bondade, as oferendas e orações de vossa Igreja, para que, tendo Pedro como pastor, mantenha a integridade da fé e alcance a herança eterna. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Pedro disse a Jesus: Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mt 16,16.18).
Depois da comunhão
Ó Deus, que, ao celebrarmos a festa do apóstolo Pedro, nos fortalecestes com o Corpo e o Sangue de Cristo, fazei que este convívio redentor seja para nós sacramento de unidade e de paz. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (CÁTEDRA DE SÃO PEDRO)
A Cátedra de São Pedro era comemorada em duas datas, que marcaram as mais importantes etapas da missão deixada ao apóstolo pelo próprio Jesus. A primeira, em 18 de janeiro se comemorava a sua posse em Roma, a segunda, em 22 de fevereiro, marca o aparecimento do Cristianismo na Antioquia, onde Pedro foi o primeiro bispo.

Por se tratar de uma das mais expressivas datas da Igreja o martirológio decidiu unificar os dois dias e festejar apenas o dia 22 de fevereiro, que é a mesma data do livro "Dispositio Martyrum", único motivo da escolha para a celebração.

Cátedra significa símbolo da autoridade e do magistério do bispo. É daí que se origina a palavra catedral, a igreja-mãe da diocese. Estabeleceu-se então, a Cátedra de São Pedro para marcar sua autoridade sobre toda a Igreja, inclusive sobre os outros apóstolos.

Sem dúvida alguma foi o mais importante dos escolhidos por Jesus Cristo. Recebendo a incumbência de se tornar a pedra sobre a qual seria edificada Sua Igreja, Pedro assumiu seu lugar de líder, atendendo a vontade explícita de Jesus, que lhe assinalou a tarefa de "pascere" em grego, isto é guiar o novo povo de Deus, a Igreja.

Veremos de fato que Pedro desempenhando, depois da Ascensão, o papel de guia. Presidiu a eleição de Matias e foi o orador do dia de Pentecostes. Mais tarde enfrentou a perseguição de Herodes Agripa, que pretendia matá-lo para aplicar um duro golpe no cristianismo. Implantou as fortes raízes do catolicismo em Antioquia, e então partiu para Roma, onde reinava o imperador Cláudio.

A Igreja ganhou grande força com a sua determinação. Alguns fatos históricos podem ser comprovados através da epístola de São Paulo aos Romanos, do ano 57. Nela, este apóstolo descreve o crescimento da fé cristã, em todos os territórios dos domínios deste Império, como obra de Pedro.

Mas foi na capital, Roma, que Pedro deu impulso gigantesco à expansão do Evangelho, até o seu martírio e a morte, que aconteceram na cidade-sede de toda a Igreja. Conforme constatação extraída dos registros das tradições narradas na época e aceita por unanimidade pelos estudiosos, inclusive os não cristãos. Posteriormente atestadas, de modo histórico irrefutável, pelas escavações feitas em 1939, por ordem do Papa Pio XII, nas Grutas Vaticanas, embaixo da Basílica de São Pedro, e cujos resultados foram acolhidos favoravelmente também pelos estudiosos não católicos.

Um convite ao Amor mais que perfeito

O que Mateus nos propõe é um Amor ilimitado. Esse amor nos faz ser semelhantes a Deus.
Por Raymond Gravel*
No domingo passado, nós vimos a primeira sequência do Sermão da Montanha com quatro leis de Moisés reinterpretadas e atualizadas pelo Jesus do evangelho de Mateus. Hoje, duas outras leis são retomadas pelo evangelista Mateus. Com o mesmo gênero literário da semana passada, a hipérbole, Mateus nos convida a ultrapassar a letra da lei para atingir o espírito. Ele termina o evangelho de hoje com esta frase um pouco surpreendente: "Vocês, portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu" (Mt 5,48). Ser perfeito, como Deus, quer dizer exatamente o quê? A partir das leituras que nos são propostas, procuramos jogar luz sobre esta perfeição que nos é pedida...

Devemos nos lembrar do começo desse discurso de Jesus na montanha, onde ele dizia que não veio para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento (Mt 5,17). E cumprir, significava: colocar a lei a serviço da pessoa humana a fim de proteger sua dignidade, sua integridade e sua liberdade. Para cumprir a lei, é preciso, portanto, passar da letra ao espírito; caso contrário, nossa justiça se parecerá com aquela dos escribas e dos fariseus que Mateus denuncia com força (Mt 5,20).

Na fé cristã, a pessoa humana é tão importante que ela é sagrada. Na segunda leitura de hoje, na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo afirma solenemente que o ser humano é Templo de Deus e que o Espírito de Deus habita nele (1 Cor 3,16). É por isso que, quando se aplica uma lei, não é a lei que é primeira, mas a pessoa humana que ela deve proteger... E isso é sagrado!

Retomemos, pois, as duas últimas leis a que Mateus se refere e vejamos como seu cumprimento se poderia dar hoje...

1. “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’” (Mt 5,38). Esta lei do talião, aplicada ainda hoje em algumas culturas, consiste em limitar a vingança e em medir a justa compensação: um olho e não os dois olhos por um; um dente e não a mandíbula por um dente. A vingança foi limitada, mas ela continua aí. É por isso que o Cristo de Mateus vem para colocar tudo de pernas para o ar: “Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês” (Mt 5,39a). E como se aplica esta não vingança no tempo de Mateus? Pela hipérbole, isto é, pela exageração, pela ampliação, pela desmedida, para mostrar a importância de não se vingar, porque a vingança não traz nenhuma solução, a não ser uma espécie de satisfação egoísta e passageira. Um sábio já disse: "Vingar-se faz bem na hora; perdoar faz bem sempre".

Os exemplos que Mateus dá podem ser exagerados, desmedidos, mas eles ilustram muito bem que é possível desarmar qualquer um que utiliza a violência física ou psicológica: “Se alguém faz um processo para tomar de você a túnica, deixe também o manto!” (Mt 5,40), e “Se alguém obriga você a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele” (Mt 5,41). Esta maneira de agir pode desarmar qualquer um...

Mas como aplicar isso hoje? Ser cristão não é ser cretino. Naturalmente, devemos trabalhar para restaurar a justiça para todos, mas podemos fazê-lo sem nos vingar do mal que sofremos... A vingança não traz nada de positivo, a não ser a violência. Temos inúmeros exemplos de conflitos no mundo que são intermináveis e que são fruto da vingança: jogam-se bombas uns sobre os outros e é sempre em vingança contra o outro... Como isso pode terminar?

2. "Vocês ouviram o que foi dito: ´Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo´" (Mt 5,43). A expressão "odeie o seu inimigo" não se encontra na Bíblia. Por outro lado, para um bom judeu praticante, o próximo é aquele que partilha a mesma fé e a mesma cultura. O inimigo é o estrangeiro, o pagão, o outro que é diferente. Não foi dito para odiá-lo, mas era proibido falar com ele, porque era impuro, e era proibido aproximar-se dele, de tocá-lo. O Cristo de Mateus diz: “Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês” (Mt 5,44). Se nós dizemos que somos filhos e filhas de Deus, como podemos separar as pessoas em próximo e inimigo, como fazia a tradição judaica da época? O sol brilha sobre todos, bons e maus, e a chuva cai sobre justos e injustos (Mt 5,45).

E Mateus vai ainda mais longe: se nós amamos a quem nos ama, que novidade há nisso? Como cristãos, é preciso fazer mais do que isso! Caso contrário, o que nos distingue dos outros? Se saudamos apenas os nossos irmãos, nossos semelhantes, nossos próximos, aqueles que pensam como nós... os pagãos também fazem isso! O que há de tão extraordinário nisso? No fundo, o que Mateus nos propõe é um Amor mais que perfeito: um amor em toda a sua gratuidade, sem discriminação, sem dominação, ilimitado. Este amor nos faz ser semelhantes a Deus...

Se atualizarmos isso para hoje, como isso se traduz em nossas vidas de crentes? Amar o outro, o estrangeiro, o diferente de nós, quando está longe, é fácil... Mas, quando está do nosso lado, próximo de nós, isso é um pouco mais difícil... É isso que nos é pedido. Isso diz algo sobre a perfeição à qual somos convidados para sermos semelhantes a Deus. São Paulo não diz que nós pertencemos a Cristo e que Cristo pertence a Deus? Se isto é verdade, a vida pode nos despojar completamente... mas, mesmo despojados, conservaremos a nossa dignidade de filhas e filhos de Deus.

Em uma nota sobre o evangelho de hoje, o francês Gérard Bessière escreve: "Manto, túnica, roupas, roupas íntimas... em suma, é preciso aceitar desnudar-se e ficar nu! Pensamos em tantas mulheres e homens que tiveram que abandonar inclusive suas roupas ao entrarem nos campos onde queriam destruir seus corpos e suas almas. É necessário empurrar a não violência até semelhante extremidade? Não seria isso fazer o jogo dos violentos e renunciar a qualquer justiça? Alguns denunciaram nessas palavras uma moral de escravos. A dignidade da pessoa humana não exige que seja respeitada em seus direitos fundamentais? Jesus pratica com frequência o paradoxo que choca, revela, faz reagir e refletir! Ele quer levar os homens muito mais longe do que as aparências, as reputações, as situações. Para além de tudo o que permite ao homem se vestir, proteger e esconder, às vezes, ele nos leva à nossa nudez primeira, a esse lugar deserto onde estamos sempre em vias de nascer e de escolher a nossa vida, de recusar ou de acolher em nós a humanidade dos outros, que também é a nossa. Mas as palavras de Jesus eram apenas fórmulas de choque: numa Sexta-feira, soldados dividiram entre si as roupas e tiraram sorte sobre a túnica, após tê-lo pregado numa cruz..."
Réflexions de Raymond Gravel
*Raymond Gravel é padre da Diocese de Joliette. O texto é baseado nas leituras do 7º Domingo do Tempo Comum – Ciclo A do Ano Litúrgico (23 de fevereiro de 2014). A tradução é de André Langer.