sábado, 8 de março de 2014

Papa Francisco aos institutos religiosos: "Administrem os bens com transparência e atenção aos pobres"




Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma mensagem, neste sábado, 8 de março, aos participantes do simpósio internacional promovido, em Roma, pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica sobre o tema "A gestão dos bens eclesiásticos, a serviço da humanidade e da missão da Igreja". O encontro reúne ecônomos de institutos e congregações religiosas provenientes de várias partes do mundo.

"O nosso tempo é caracterizado por mudanças relevantes e progressos em várias áreas, com consequências importantes para a vida dos seres humanos. Todavia, não obstante a redução da pobreza, os objetivos atingidos muitas vezes contribuíram para a construção de uma economia de exclusão e iniqüidade", afirma o Papa na nota, acrescentando um trecho de sua Exortação Apostólica Evangelli gaudium que diz: "Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco".

"Diante da precariedade em que vive a maior parte dos homens e mulheres de nosso tempo, como também diante das fragilidades espirituais e morais de muitas pessoas, em particular os jovens, como comunidade cristã, sentimo-nos interpelados", frisa ainda o pontífice.

Segundo o Santo Padre, "os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica podem e devem ser sujeitos protagonistas e ativos no viver e testemunhar que o princípio de gratuidade e a lógica do dom encontram o seu espaço na atividade econômica. O carisma de fundação de cada instituto está inscrito nesta lógica: no ser dom, como consagrados, vocês dão uma verdadeira contribuição ao desenvolvimento econômico, social e político".

"A fidelidade ao carisma de fundação e ao patrimônio espiritual, e as finalidades próprias de cada instituto permanecem o primeiro critério de avaliação da administração, gestão e de todas as intervenções realizadas nos institutos, em vários níveis: "A natureza do carisma direciona as energias, sustenta a fidelidade e orienta o trabalho apostólico de todos numa única missão", destaca ainda o pontífice.

"É preciso vigiar atentamente para que os bens dos institutos sejam administrados com prudência e transparência, sejam tutelados e preservados, unindo a dimensão carismática e espiritual à dimensão econômica e à eficiência, que tem seu próprio humus na tradição administrativa dos institutos que não tolera o desperdício e está atenta ao uso adequado dos recursos", frisa ainda o Santo Padre.

Após o encerramento do Concílio Vaticano II, o Servo de Deus Paulo VI convidou a uma nova e autêntica mentalidade cristã e um novo estilo de vida eclesial. "Notamos, com vigilante atenção, que, num período como o nosso, absorvido inteiramente pela conquista, pela posse e pelo gozo dos bens econômicos, se encontra na opinião pública, dentro e fora da Igreja, o desejo, e quase a necessidade, de ver a pobreza do Evangelho, principalmente onde o Evangelho é pregado e representado", ressalta o Papa Francisco na mensagem recordando as palavras do Papa Paulo VI.

Francisco disse ainda que enfatizou esta necessidade na Mensagem para a Quaresma deste ano. "Os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica sempre foram voz profética e testemunho vivo da novidade vibrante, que é Cristo, do configura-se a Ele que se fez pobre enriquecendo-nos com sua pobreza. Esta pobreza amorosa é solidariedade, partilha e caridade e se expressa na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial, para pôr-se alerta aos ídolos materiais que ofuscam o verdadeiro sentido da vida", sublinha ainda o Santo Padre.

O Papa conclui a mensagem afirmando que "não é necessária uma pobreza teórica, mas a pobreza que se aprende tocando a carne de Cristo pobre, nos humildes, nos pobres, nos doentes e nas crianças. Vocês são ainda hoje, para a Igreja e para o mundo, as sentinelas da atenção a todos os pobres e a todas as misérias, materiais, morais e espirituais, como superação de todo egoísmo na lógica do Evangelho que ensina a confiar na Providência de Deus". (MJ)




Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano

Liturgia Diária

Dia 8 de Março - Sábado

DEPOIS DAS CINZAS* *
(Roxo – Ofício do dia)

Antífona da entrada: Atendei-me, Senhor, na vossa grande misericórdia; olhai-nos, ó Deus, com toda a vossa bondade (Sl 68,17).
Oração do dia
Ó Deus eterno e todo-poderoso, olhai com bondade a nossa fraqueza e estendei, para proteger-nos, a vossa mão poderosa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Isaías 58,9-14)
Leitura do livro do profeta Isaías.
Assim fala o Senhor: 58 9 "Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
10 se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.
11 O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.
12 Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o restaurador das moradias em ruínas.
13 Se te abstiveres de calcar aos pés o sábado, de cuidar de teus negócios no dia que me é consagrado, se achares o sábado um dia maravilhoso, se achares respeitável o dia consagrado ao Senhor, se tu o venerares não seguindo os teus caminhos, não te entregando às tuas ocupações e às conversações,
14 então encontrarás tua felicidade no Senhor: eu te farei galgar as alturas da terra, e gozar a herança de Jacó, teu pai". Porque a boca do Senhor falou.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 85/86
Ensinai-me os vossos caminhos e, na vossa verdade, andarei.

Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido,
escutai, pois sou pobre e infeliz!
Protegei-me, que sou vosso amigo,
e salvai vosso servo, meu Deus,
que espera e confia em vós!

Piedade de mim, ó Senhor,
porque clamo por vós todo o dia!
Animai e alegrai vosso servo,
pois a vós eu elevo a minha alma.

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,
sois perdão para quem vos invoca.
Escutai, ó Senhor, minha prece,
o lamento da minha oração!
Evangelho (Lucas 5,27-32)
Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!
Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, mas que ele volte, se converta e tenha vida (Ez 33,11).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 5 27 Jesus viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: "Segue-me".
28 Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
29 Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles.
30 Os fariseus e os seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: "Por que comeis e bebeis com os publicanos e pessoas de má vida?"
31 Respondeu-lhes Jesus: "Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos.
32 Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
VIM CHAMAR OS PECADORES
A presença do Filho de Deus, na história humana, tinha uma finalidade bem concreta: trazer salvação para toda a humanidade. Fiel à missão recebida do Pai, Jesus foi em busca dos mais necessitados de salvação. Sua presença no meio dos publicanos e pecadores, com os quais comia e bebia, tinha o objetivo, claramente missionário, de sensibilizá-los para a oferta que o Pai lhes fazia.
Os marginalizados mostraram-se mais sensíveis à presença de Jesus, e mais puderam beneficiar-se dela, do que os escribas e fariseus. Fechados em sua própria arrogância, e seguros de terem a salvação garantida, estes últimos censuravam a atitude do Messias Jesus, quando ele se misturava com gente de má-fama, e dava mostras de sentir-se bem no meio deles.
Pensando bem, os que censuravam Jesus, eram os verdadeiros doentes, que careciam de médico. Segregando-se dos pecadores, revelavam uma grave falta de solidariedade e incapacidade de colocar-se do lado daqueles aos quais Deus queria ver salvos. Pensavam que, assim agindo, agradavam a Deus. Na verdade, estavam indo na contramão, pois o desejo divino era ver toda a humanidade reconciliada consigo.
A presença eficaz de Jesus junto aos pecadores deve inspirar os cristãos, uma vez que sua missão é fazer o amor de Deus fermentar este mundo que precisa ser salvo.

Oração
Espírito de solidariedade, quebra as barreiras que me impedem de ir ao encontro de quem mais carece do amor misericordioso do Pai.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, este sacrifício de louvor e de reconciliação e fazei que, por ele purificados, vos ofereçamos o afeto de um coração que vos agrade. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício, diz o Senhor; não vim chamar os justos, e sim os pecadores (Mt 9,13).
Depois da comunhão
Fazei, ó Deus, que este pão celeste, sacramento para nós na vida terrena, seja um auxílio para a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor.


MEMÓRIA FACULTATIVA

SÃO JOÃO DE DEUS
(Branco – Ofício da Memória)

Oração do dia: Ó Deus, que enchestes de misericórdia o coração de são João de Deus, fazei que, praticando as obras de caridade, nos encontremos entre os escolhidos quando chegar o vosso reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Sobre as oferendas: Recebei, ó Pai, os dons do vosso povo, para que, recordando a imensa misericórdia do vosso filho, sejamos confirmados nos amor a Deus e ao próximo, a exemplo dos vossos santos. Por Cristo, nosso Senhor.
Depois da comunhão: Renovados por estes sagrados mistérios, concedei-nos, ó Deus, seguir o exemplo de são João de Deus, que vos serviu com filiar constância e se dedicou ao vosso povo com imensa caridade. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (SÃO JOÃO DE DEUS):
João Cidade Duarte nasceu no dia 08 de março de 1495 em Montemor-o-novo, perto de Évora, Portugal. Seu pai era vendedor de frutas na rua. Da sua infancia sabemos apenas que, João, aos oito ou fugiu ou foi raptado por um viajante, que se hospedou em sua casa. Depois de vinte dias, sua mãe não resistiu e morreu. O pai acabou seus dias no convento dos franciscanos, que o acolheram. Enquanto isso, João foi à pé para a Espanha rumo à cidade de Madrid, junto com mendigos e sanltimbancos. Nos arredores de Toledo, o viajante o deixou aos cuidados de um bom homem, Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, conhecido por sua caridade. Foi nessa época que ganhou o apelido de João de Deus, porque ninguém sabia direito quem era ou de onde vinha. Por seis anos Francisco o educou como um filho, ao lado de sua pequenina filha. Dos catorze anos até os vinte e oito João trabalhou e viveu como um pastor. E quando Francisco decideu casa-lo com sua filha, de novo ele fugiu, começando sua vida errante. Alistou-se como soldado de Carlos V e participou da batalha de Paiva, contra Francisco I. Vitorioso, abandonou os campos de batalha e ganhou o mundo. Viajou por toda a Europa, foi para a África, trabalhou como vendedor ambulante em Gibraltar. Então, qual filho pródigo, voltou à sua cidade natal, onde ninguém o reconheceu, pois os pais já tinham falecido; novamente rumou à Espanha, onde abriu uma livraria em Granada. Nessa cidade, em 1538, depois de ter ouvido um inflamado sermão proferido por João d'Ávila, que a Igreja também canonizou, arrependido dos seus pecados e tocado pela graça, saiu correndo da igreja, e gritou: "misericórdia, Senhor, misericórdia". Todos riram dele, mas João de Deus não se importou. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e começou a fazer rigorosas penitências. Tomado por louco foi internado num hospital psiquiátrico, onde foi tratado desumanamente. Depois de ter experimentado todas as crueldades que aí se praticavam e orientado por João d'Ávila decidiu fundar uma casa-hospitalar, para tratar os loucos. Criou assim uma nova Ordem religiosa, a dos Irmãos Hospitaleiros. Ao todo foram mais de oitenta casas-hospitalares fundadas, para abrigar loucos e doentes terminais. Para cuidar deles, usava um processo todo seu, sendo considerado o precursor do método psicanalítico e psicossomático, inventado quatro séculos depois por Freud e seus discípulos. João de Deus, que nunca se formou em medicina, curava os doentes mentais utilizando a fé e sua própria experiência. Partia do princípio de que curando a alma, meio caminho havia sido trilhado para curar o corpo. Ele sentia a dualidade da situação do doente, por te-la vivenciado dessa maneira. João de Deus sentia-se pertencer ao mundo dos loucos e ao mundo dos pecadores e indignos e, por isso, se motivou a trabalhar na dignificação, reabilitação e inserção de ambas as categorias. Um modelo de empatia e convicções profundas tão em falta, que várias instituições seguiram sua orientação nesse sentido, tempos depois e ainda hoje. Depois, João de Deus e seus discípulos passaram a atender todos os tipos de enfermos. Seu mote era: "fazei o bem, irmãos, para o bem de vós mesmos". Ele morreu no mesmo dia em que nasceu, aos cinqüenta e cinco anos, no dia 8 de março de 1550. Foi canonizado pelo Papa Leão XIII que o proclamou padroeiro dos hospitais, dos doentes e de todos aqueles que trabalham pela cura dos enfermos. Hoje a Ordem Hospitaleira São João de Deus, é um instituto religioso, internacional, com sede em Roma, composto de homens que por amor a Deus se consagram à hospitalidade misericordiosa para com os doentes e necessitados em quarenta e cinco países dos cinco continentes.

Evangelho do Dia

Ano A - 08 de março de 2014

Lucas 5,27-32

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!
Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, mas que ele volte, se converta e tenha vida (Ez 33,11).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 5 27 Jesus viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: "Segue-me".
28 Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
29 Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles.
30 Os fariseus e os seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: "Por que comeis e bebeis com os publicanos e pessoas de má vida?"
31 Respondeu-lhes Jesus: "Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos.
32 Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
VIM CHAMAR OS PECADORES
A presença do Filho de Deus, na história humana, tinha uma finalidade bem concreta: trazer salvação para toda a humanidade. Fiel à missão recebida do Pai, Jesus foi em busca dos mais necessitados de salvação. Sua presença no meio dos publicanos e pecadores, com os quais comia e bebia, tinha o objetivo, claramente missionário, de sensibilizá-los para a oferta que o Pai lhes fazia.
Os marginalizados mostraram-se mais sensíveis à presença de Jesus, e mais puderam beneficiar-se dela, do que os escribas e fariseus. Fechados em sua própria arrogância, e seguros de terem a salvação garantida, estes últimos censuravam a atitude do Messias Jesus, quando ele se misturava com gente de má-fama, e dava mostras de sentir-se bem no meio deles.
Pensando bem, os que censuravam Jesus, eram os verdadeiros doentes, que careciam de médico. Segregando-se dos pecadores, revelavam uma grave falta de solidariedade e incapacidade de colocar-se do lado daqueles aos quais Deus queria ver salvos. Pensavam que, assim agindo, agradavam a Deus. Na verdade, estavam indo na contramão, pois o desejo divino era ver toda a humanidade reconciliada consigo.
A presença eficaz de Jesus junto aos pecadores deve inspirar os cristãos, uma vez que sua missão é fazer o amor de Deus fermentar este mundo que precisa ser salvo.

Oração
Espírito de solidariedade, quebra as barreiras que me impedem de ir ao encontro de quem mais carece do amor misericordioso do Pai.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Isaías 58,9-14
Leitura do livro do profeta Isaías.
Assim fala o Senhor: 58 9 "Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
10 se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.
11 O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.
12 Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o restaurador das moradias em ruínas.
13 Se te abstiveres de calcar aos pés o sábado, de cuidar de teus negócios no dia que me é consagrado, se achares o sábado um dia maravilhoso, se achares respeitável o dia consagrado ao Senhor, se tu o venerares não seguindo os teus caminhos, não te entregando às tuas ocupações e às conversações,
14 então encontrarás tua felicidade no Senhor: eu te farei galgar as alturas da terra, e gozar a herança de Jacó, teu pai". Porque a boca do Senhor falou.
Palavra do Senhor.
Salmo 85/86
Ensinai-me os vossos caminhos e, na vossa verdade, andarei.

Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido,
escutai, pois sou pobre e infeliz!
Protegei-me, que sou vosso amigo,
e salvai vosso servo, meu Deus,
que espera e confia em vós!

Piedade de mim, ó Senhor,
porque clamo por vós todo o dia!
Animai e alegrai vosso servo,
pois a vós eu elevo a minha alma.

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,
sois perdão para quem vos invoca.
Escutai, ó Senhor, minha prece,
o lamento da minha oração!
Oração
Ó Deus eterno e todo-poderoso, olhai com bondade a nossa fraqueza e estendei, para proteger-nos, a vossa mão poderosa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

A liberdade de escolha e a tentação do pecado


Ainda hoje, como cristãos, somos tentados pelo poder: o poder de servir a nós mesmos.
Por Raymond Gravel*
A Quaresma nos remete ao nosso batismo, ao nosso compromisso cristão, à nossa escolha, para que a Igreja que somos possa realmente testemunhar esse mundo novo iniciado pelo Cristo da Páscoa, o novo Adão, isto é, a nova humanidade em Cristo. As três leituras de hoje têm em comum a Liberdade dada ao ser humano e a capacidade de escolher que derivam da tentação. No primeiro domingo da Quaresma, todos os anos, nós temos o relato da Tentação no deserto, de acordo como evangelista do ano. Hoje, é Mateus e, através deste relato, são todos os cristãos que são concernidos por esta tríplice tentação de Jesus no deserto. Mas o que estas passagens querem nos dizer?

1. “A tentação não é o pecado, mas a hora da escolha” (J. Debruynne)

Na primeira leitura de hoje, do livro do Gênesis, no segundo relato da criação, que é ao mesmo tempo o mais antigo, o autor que é um sábio, procura responder à seguinte questão: como explicar o limite humano? Como o mal entrou no mundo? Na realidade, se Deus criou o mundo, por que o fez tão limitado? A resposta é simples: é porque Deus criou o homem livre, capaz de escolher. E em suas escolhas, o ser humano é capaz de grandezas e de criatividade, assim como também é capaz de atrocidades e de destruições. O autor do livro do Gênesis conta, em forma de parábola, com as imagens do seu tempo, a história de Adão que é, na realidade, a história da humanidade com seus altos e baixos. Criado livre, o homem é capaz de generosidade, de serviço, de gratuidade, de doação de si, de perdão, etc. Mas, ao mesmo tempo, também é capaz de egoísmo, de egocentrismo, de destruição, de exploração, de violência, de morte...

Não há necessidade de fazer uma longa pesquisa histórica para compreender esta realidade; basta pensar nas guerras, nos inúmeros genocídios, nos ajustes de conta, na exploração dos pobres. Sabemos tudo isso, mas o que fazemos para mudar a situação? Na segunda leitura de hoje, Paulo retoma o relato do Gênesis e faz dele uma leitura cristã: o primeiro Adão, pelo qual entrou no mundo o mal, a injustiça e a morte, é agora substituído pelo segundo Adão, o Cristo ressuscitado, que restabeleceu a justiça e que dá a vida. Esse Cristo vivo é a Igreja que somos... Estamos conscientes disso? Ainda hoje, há muitos lugares em que reinam a injustiça, a opressão, a exclusão... O que fazemos como cristãos para mudar a situação? Os Jogos Olímpicos de Sochi são um belo exemplo de como não se fez nada para mudar as coisas...

No evangelho de Mateus, Jesus também é tentado; é a prova de que ele é humano. Sua tentação não é uma falta; é a condição da sua liberdade humana. Sobretudo, não esqueçamos isso: Jesus foi um ser humano, desde o seu nascimento até sua morte na cruz. Ele não fingiu ser humano. O que os evangelistas fizeram foi reconstituir sua vida à luz da Páscoa; eles, portanto, o divinizaram, ou melhor, o cristianizaram para suas comunidades cristãs, conservando sua humanidade em toda a sua fragilidade. Para Mateus, Jesus foi o novo Adão e o novo Moisés. Durante 40 dias, ele vai vencer as tentações. Vai assumir sua liberdade.

Para o evangelista Mateus, os cristãos devem ser responsáveis por sua liberdade humana, porque Cristo o foi até o fim; venceu as tentações, isto é, fez boas escolhas. Na realidade, o novo Povo de Deus, a Igreja, deve ter sucesso lá onde o antigo Povo de Deus fracassou, sucumbiu. Mas atenção! O relato de Mateus não é moralizante. Não devemos demonizar o diabo, pois, como escreveu muito bem o exegeta francês Jean Debruynne: “O demônio não é somente horrível. Se o diabo existe, é porque Deus não é um sistema totalitário. Existe uma alternativa para Deus: uma vez que podemos escolher, a alternativa não é entre Deus e o nada. Com seu ar sujo e sem sabê-lo, o demônio é a prova da nossa liberdade”.

2. O poder

Para as três tentações apresentadas pelo evangelista Mateus – o poder do consumo ou a tentação de transformar as pedras em pão (Mt 4,3), o poder religioso ou a tentação da religião espetacular em que Jesus é convidado a saltar no vazio do alto do Templo para tornar-se uma vedete da religião (Mt 4,5-6) e o poder político ou a tentação de dominar o mundo, na condição de se ajoelhar (Mt 4,8-9) –, o mesmo coloca na boca do diabo, assim como as de Jesus, palavras tiradas nas Escrituras:

1) “Se tu és o Filho de Deus...” (Mt 4,3). Aqui o diabo retoma a palavra celestial ouvida no batismo de Jesus por João Batista (Mt 3,17). “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Aqui Jesus cita Dt 8,3 na versão grega da Septuaginta.

2) “Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra” (Mt 4,6). Aqui o diabo cita o Sl 91,11-12. “Não tente o Senhor seu Deus” (Mt 4,7). Aqui Jesus cita Dt 6,16.

3) “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar” (Mt 4,9). Aqui o diabo atribui a si mesmo o verbo adorar, como em Mt 2,2; 8,2; 9,18; 28,17; Gn 37,7-10. “Você adorará ao Senhor seu Deus e somente a ele servirá” (Mt 4,10). Aqui Jesus cita livremente Dt 6,13.

Em todo o caso, o que Mateus nos diz é que nós temos o poder de escolher, baseados na Palavra de Deus, entre o alimento material ou o alimento espiritual, entre parecer ou ser e entre o poder de possuir ou o poder de servir.

Ainda hoje, como cristãos, somos tentados pelo poder: o poder de servir a nós mesmos, o poder de possuir Deus e o poder de dominar os outros e de explorá-los. Por outro lado, temos escolhas a fazer, em nossa liberdade, e é possível fazer desses poderes, serviços: serviço ao próximo, aos outros e a Deus... Também nós somos, portanto, convidados ao deserto, para fazer essas escolhas, a fim de seguir a missão cristã que decorre do nosso batismo. Não tenhamos medo da tentação; ela é necessária para as escolhas que temos que fazer com toda a liberdade. Essas tentações fazem parte da nossa realidade humana e cristã e elas não são reservadas a alguns poucos. Jean Debruynne acrescenta: “Felizmente, a tentação é a prova de que sempre temos escolhas, de que somos livres e de que estamos vivos. Viva a escolha!”

Uma boa Quaresma 2014!
Réflexions de Raymond Gravel
*Raymond Gravel é padre da Diocese de Joliette (Canadá). O texto é baseado nas leituras do 1º Domingo da Quaresma – Ciclo A do Ano Litúrgico (09 de março de 2014). A tradução é de André Langer.