Dia 8 de Março - Sábado
DEPOIS DAS CINZAS*
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(Roxo – Ofício do dia)
Antífona da entrada: Atendei-me, Senhor, na vossa grande misericórdia; olhai-nos, ó Deus, com toda a vossa bondade (Sl 68,17).
Oração do dia
Ó Deus eterno e todo-poderoso, olhai com bondade a nossa
fraqueza e estendei, para proteger-nos, a vossa mão poderosa. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Isaías 58,9-14)
Leitura do livro do profeta Isaías.
Assim fala o Senhor: 58 9 "Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
10 se deres do teu pão ao faminto, se alimentares
os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá
como o dia pleno.
11 O Senhor te guiará constantemente,
alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um
jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.
12 Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás
sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o
restaurador das moradias em ruínas.
13 Se te abstiveres de calcar aos pés o sábado, de
cuidar de teus negócios no dia que me é consagrado, se achares o sábado
um dia maravilhoso, se achares respeitável o dia consagrado ao Senhor,
se tu o venerares não seguindo os teus caminhos, não te entregando às
tuas ocupações e às conversações,
14 então encontrarás tua felicidade no Senhor: eu
te farei galgar as alturas da terra, e gozar a herança de Jacó, teu
pai". Porque a boca do Senhor falou.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 85/86
Ensinai-me os vossos caminhos e, na vossa verdade, andarei.
Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido,
escutai, pois sou pobre e infeliz!
Protegei-me, que sou vosso amigo,
e salvai vosso servo, meu Deus,
que espera e confia em vós!
Piedade de mim, ó Senhor,
porque clamo por vós todo o dia!
Animai e alegrai vosso servo,
pois a vós eu elevo a minha alma.
Ó Senhor, vós sois bom e clemente,
sois perdão para quem vos invoca.
Escutai, ó Senhor, minha prece,
o lamento da minha oração!
Evangelho (Lucas 5,27-32)
Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!
Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, mas que ele volte, se converta e tenha vida (Ez 33,11).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 5 27 Jesus viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: "Segue-me".
28 Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
29 Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles.
30 Os fariseus e os seus escribas puseram-se a
criticar e a perguntar aos discípulos: "Por que comeis e bebeis com os
publicanos e pessoas de má vida?"
31 Respondeu-lhes Jesus: "Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos.
32 Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores".
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
VIM CHAMAR OS PECADORES
A presença do Filho de Deus, na história humana, tinha uma finalidade
bem concreta: trazer salvação para toda a humanidade. Fiel à missão
recebida do Pai, Jesus foi em busca dos mais necessitados de salvação.
Sua presença no meio dos publicanos e pecadores, com os quais comia e
bebia, tinha o objetivo, claramente missionário, de sensibilizá-los para
a oferta que o Pai lhes fazia.
Os marginalizados mostraram-se mais sensíveis à presença de Jesus, e
mais puderam beneficiar-se dela, do que os escribas e fariseus. Fechados
em sua própria arrogância, e seguros de terem a salvação garantida,
estes últimos censuravam a atitude do Messias Jesus, quando ele se
misturava com gente de má-fama, e dava mostras de sentir-se bem no meio
deles.
Pensando bem, os que censuravam Jesus, eram os verdadeiros doentes, que
careciam de médico. Segregando-se dos pecadores, revelavam uma grave
falta de solidariedade e incapacidade de colocar-se do lado daqueles aos
quais Deus queria ver salvos. Pensavam que, assim agindo, agradavam a
Deus. Na verdade, estavam indo na contramão, pois o desejo divino era
ver toda a humanidade reconciliada consigo.
A presença eficaz de Jesus junto aos pecadores deve inspirar os
cristãos, uma vez que sua missão é fazer o amor de Deus fermentar este
mundo que precisa ser salvo.
Oração
Espírito de solidariedade, quebra as barreiras que me impedem
de ir ao encontro de quem mais carece do amor misericordioso do Pai.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório –
Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e
disponibilizado neste Portal a cada mês)
Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, este sacrifício de louvor e de
reconciliação e fazei que, por ele purificados, vos ofereçamos o afeto
de um coração que vos agrade. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício, diz o Senhor; não vim chamar os justos, e sim os pecadores (Mt 9,13).
Depois da comunhão
Fazei, ó Deus, que este pão celeste, sacramento para nós na
vida terrena, seja um auxílio para a vida eterna. Por Cristo, nosso
Senhor.
MEMÓRIA FACULTATIVA
SÃO JOÃO DE DEUS
(Branco – Ofício da Memória)
Oração do dia: Ó
Deus, que enchestes de misericórdia o coração de são João de Deus, fazei
que, praticando as obras de caridade, nos encontremos entre os
escolhidos quando chegar o vosso reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Sobre as oferendas:
Recebei, ó Pai, os dons do vosso povo, para que, recordando a imensa
misericórdia do vosso filho, sejamos confirmados nos amor a Deus e ao
próximo, a exemplo dos vossos santos. Por Cristo, nosso Senhor.
Depois da comunhão:
Renovados por estes sagrados mistérios, concedei-nos, ó Deus, seguir o
exemplo de são João de Deus, que vos serviu com filiar constância e se
dedicou ao vosso povo com imensa caridade. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (SÃO JOÃO DE DEUS):
João Cidade Duarte nasceu no dia 08
de março de 1495 em Montemor-o-novo, perto de Évora, Portugal. Seu pai
era vendedor de frutas na rua. Da sua infancia sabemos apenas que, João,
aos oito ou fugiu ou foi raptado por um viajante, que se hospedou em
sua casa. Depois de vinte dias, sua mãe não resistiu e morreu. O pai
acabou seus dias no convento dos franciscanos, que o acolheram.
Enquanto isso, João foi à pé para a Espanha rumo à cidade de Madrid,
junto com mendigos e sanltimbancos. Nos arredores de Toledo, o viajante o
deixou aos cuidados de um bom homem, Francisco Majoral, administrador
dos rebanhos do Conde de Oropesa, conhecido por sua caridade. Foi nessa
época que ganhou o apelido de João de Deus, porque ninguém sabia direito
quem era ou de onde vinha.
Por seis anos Francisco o educou como um filho, ao lado de sua pequenina
filha. Dos catorze anos até os vinte e oito João trabalhou e viveu como
um pastor. E quando Francisco decideu casa-lo com sua filha, de novo
ele fugiu, começando sua vida errante.
Alistou-se como soldado de Carlos V e participou da batalha de Paiva,
contra Francisco I. Vitorioso, abandonou os campos de batalha e ganhou o
mundo. Viajou por toda a Europa, foi para a África, trabalhou como
vendedor ambulante em Gibraltar. Então, qual filho pródigo, voltou à sua
cidade natal, onde ninguém o reconheceu, pois os pais já tinham
falecido; novamente rumou à Espanha, onde abriu uma livraria em Granada.
Nessa cidade, em 1538, depois de ter ouvido um inflamado sermão
proferido por João d'Ávila, que a Igreja também canonizou, arrependido
dos seus pecados e tocado pela graça, saiu correndo da igreja, e gritou:
"misericórdia, Senhor, misericórdia". Todos riram dele, mas João de
Deus não se importou. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e começou
a fazer rigorosas penitências. Tomado por louco foi internado num
hospital psiquiátrico, onde foi tratado desumanamente. Depois de ter
experimentado todas as crueldades que aí se praticavam e orientado por
João d'Ávila decidiu fundar uma casa-hospitalar, para tratar os loucos.
Criou assim uma nova Ordem religiosa, a dos Irmãos Hospitaleiros.
Ao todo foram mais de oitenta casas-hospitalares fundadas, para abrigar
loucos e doentes terminais. Para cuidar deles, usava um processo todo
seu, sendo considerado o precursor do método psicanalítico e
psicossomático, inventado quatro séculos depois por Freud e seus
discípulos. João de Deus, que nunca se formou em medicina, curava os
doentes mentais utilizando a fé e sua própria experiência. Partia do
princípio de que curando a alma, meio caminho havia sido trilhado para
curar o corpo. Ele sentia a dualidade da situação do doente, por te-la
vivenciado dessa maneira. João de Deus sentia-se pertencer ao mundo dos
loucos e ao mundo dos pecadores e indignos e, por isso, se motivou a
trabalhar na dignificação, reabilitação e inserção de ambas as
categorias. Um modelo de empatia e convicções profundas tão em falta,
que várias instituições seguiram sua orientação nesse sentido, tempos
depois e ainda hoje.
Depois, João de Deus e seus discípulos passaram a atender todos os tipos
de enfermos. Seu mote era: "fazei o bem, irmãos, para o bem de vós
mesmos". Ele morreu no mesmo dia em que nasceu, aos cinqüenta e cinco
anos, no dia 8 de março de 1550. Foi canonizado pelo Papa Leão XIII que o
proclamou padroeiro dos hospitais, dos doentes e de todos aqueles que
trabalham pela cura dos enfermos.
Hoje a Ordem Hospitaleira São João de Deus, é um instituto religioso,
internacional, com sede em Roma, composto de homens que por amor a Deus
se consagram à hospitalidade misericordiosa para com os doentes e
necessitados em quarenta e cinco países dos cinco continentes.