sexta-feira, 29 de junho de 2012

A fé da mulher

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 5, 21-43 que corresponde ao XIII Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. No entanto, neste ano, este domingo coincide com a Festa de São Pedro e São Paulo.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o Evangelho do XIII Domingo do Tempo Comum.
Eis o texto
A cena é impressionante. O evangelista Marcos apresenta uma mulher desconhecida como um modelo de fé para as comunidades cristãs. Dela poderão aprender a olhar para Jesus com fé, como ter um toque de cura com ele encontrando a força para começar uma vida nova, cheia de paz e de saúde.
Ao contrário de Jairo, identificado como “chefe da sinagoga” e homem importante em Cafarnaúm, esta mulher não é ninguém. Só sabemos que tem uma doença secreta, normalmente de mulheres, o que lhe impede viver como uma mulher saudável, esposa e mãe.
Ela sofre muito física e moralmente. Ela gastou tudo o que tinha na procura de médicos, mas ninguém conseguiu curá-la. No entanto, recusa-se a viver para sempre como uma mulher doente. Ela está sozinha. Ninguém a ajuda a se aproximar de Jesus. Ela saberá encontrá-lo, no entanto.
Ela não espera passivamente que Jesus se aproxime dela. Ela não espera que ele a toque com suas mãos. Ela vai olhar. Irá superar todos os obstáculos. Ela fará tudo o que está ao seu alcance. Jesus compreenderá seu desejo de uma vida mais saudável. Ela confia plenamente no seu poder de cura.
A mulher não se contenta apenas em ver Jesus de longe. Ela busca um contato mais direto e pessoal. Age de forma decisiva, mais não é um agir louco. Não quer incomodar ninguém. Aproxima-se de Jesus por trás da multidão, e toca seu manto. Nesse gesto delicado se manifesta sua plena confiança em Jesus.
Tudo aconteceu em segredo, mas Jesus quer que todos saibam da grande fé desta mulher. Quando ela, assustada e trêmula, admite o que fez, disse Jesus: “Filha a tua fé te salvou. Vai em paz e com saúde”. Esta mulher, com sua capacidade de buscar e aceitar a salvação oferecida a nós em Jesus é um modelo de fé para todos.
Quem ajuda as mulheres de hoje ao encontro com Jesus? Quem tenta entender os obstáculos que encontrem na Igreja de hoje para viver sua fé em Cristo, em paz e saúde? Quem valoriza a fé e os esforços das teólogas que, sem nenhum apoio e vencendo todos os tipos de resistência e rejeição, trabalham incansavelmente para abrir caminhos que permitam às mulheres viver com mais dignidade na Igreja de Jesus?
As mulheres não encontram entre nós a valorização e a compreensão que encontraram em Jesus. Não sabemos olhar para elas como as olhava Jesus. Mas muitas vezes são também elas que, hoje com sua fé em Jesus e seu sopro evangélico, sustentam a vida das nossas comunidades cristãs.

Cardeal da Opus Dei, que investiga o Vatileaks, anuncia “surpresas”

O cardeal espanhol Julián Herranz, que dirige a comissão de cardeais encarregada de investigar o escândalo gerado pelo vazamento de documentos secretos, do papa Bento XVI, conhecido como Vatileaks, anunciou nesta terça-feira que em breve “revelará surpresas”.

A reportagem está publicada no sítio Religión Digital, 27-06-2012. A tradução é do Cepat.

Interrogado pela imprensa italiana, o purpurado reconheceu que a investigação avança “com rapidez e exatidão” e que o trabalho que conduz, junto com o cardeal eslovaco Jozef Tomko e o italiano Salvatore De Giorgi, “é intenso e ao mesmo tempo útil”, disse. O purpurado admitiu que no Vaticano “todos colaboram”.

O cardeal Herranz, que pertence ao movimento conservador Opus Dei e que costuma ser uma pessoa muito discreta, não esclareceu sobre “a surpresa” que revelará.

“É evidente que nesta fase é necessário manter uma reserva absoluta, porque as pessoas envolvidas, até a conclusão da investigação, têm direito a isso”, destacou. “Trabalhamos com rapidez, mas não podemos estabelecer concretamente os prazos da investigação”, comentou.

Os interrogatórios acontecem num ritmo intenso, com uma média de quatro a cinco pessoas convocadas pela comissão semanalmente, entre religiosos, leigos e responsáveis dos dicastérios ou ministérios da Cúria Romana, explicou Herranz.

No sábado passado, Bento XVI se reuniu com um grupo de cardeais para que o aconselhassem sobre como tratar o inédito vazamento de documentos à imprensa. A imagem do Vaticano foi prejudicada pelo vazamento de uma centena de documentos internos, entre eles numerosas cartas particulares dirigidas ao Papa ou a seu secretário. Isto tem provocado uma das maiores crises do papado de Bento XVI, uma vez que coloca em suspeita, inclusive, sua liderança como guia da Igreja.

Apenas uma pessoa se encontra detida devido a esse caso, o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, que desde o dia 23 de maio permanece numa cela especial no Vaticano. Segundo a imprensa italiana, o mordomo não era o único a fornecer documentos para a imprensa italiana. Outras pessoas já romperam o juramento de confidência que deve ser observado por todos os que trabalham na administração do Vaticano. Gabriele está sujeito a uma pena de seis anos de cadeia.

A Cúria de Bento XVI. Sinais de abertura

Com as novas nomeações anunciadas nesta terça-feira, às quais se acrescentará a iminente nomeação do novo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Bento XVI estabeleceu um novo rumo para a Cúria romana. Como se sabe, o Papa promoveu a arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana o arcebispo francês Jean-Louis Brugues, que até agora era secretário da Congregação para a Educação Católica. Também chamou o bispo Vincenzo Paglia, com uma longa história como assistente espiritual da Comunidade de Santo Egídio, para a presidência do Pontifício Conselho para a Família. Fez com que o secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Augustine Di Noia, cubra o novo posto de vice-presidente da Comissão “Ecclesia Dei”; em seu lugar, como “número dois” do dicastério que se ocupa da liturgia, estará o inglês Arthur Roche, até agora bispo de Leeds. Para terminar, o Papa designou como secretário adjunto da Propaganda Fidei o bispo de Kigoma (Tanzânia), Protase Rugambwa, ao passo que como regente da Penitenciária Apostólica nomeou o polonês Krzysztof Jozef Nykiel.
A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 27-06-2012. A tradução é do Cepat.

Deve-se destacar que são três os italianos que deixam seus postos (os cardeais Raffaele Farina e Ennio Antonelli, e o bispo Gianfranco Girotti) e que apenas um italiano ocupará um deles (Paglia). E não se pode deixar de notar que o sinal destas mudanças não pode ser classificado como conservador ou tradicionalista. Paglia tem uma longa experiência no diálogo ecumênico e nas iniciativas a favor dos pobres; Brugues é visto como homem aberto e de meditações nas controvérsias que envolveram as universidades católicas nestes anos; Roche é um bispo moderno (não modernista), fiel ao Concílio, especialista em liturgia (durante 10 anos presidiu a ICEL, International Commission on English in Liturgy) e seguramente não tem uma agenda tradicionalista. Quando em 2009 já era candidato para este posto, era o auxiliar do cardeal Murphy O’Connor.

A nova leva de nomeações, em seu conjunto, é um sinal para que se detenha um pouco a ala mais conservadora da Cúria e demonstra a vontade do Papa para manter aberta a linha do diálogo “com todos os campos”. A mudança de abertura de Bento XVI se confirmará dentro de poucos dias, com a designação do bispo de Regensburg Gerhard Ludwig Müller como novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A candidatura de Müller (teólogo alemão que Ratzinger reconhece muito bem) foi o alvo dos ataques de certos ambientes eclesiásticos que consideram o bispo de Regensburg “muito aberto”.

As promoções desta semana e as nomeações, pois, não parecem indicar que o secretário de Estado Tarcisio Bertone esteja para deixar o cargo. A hipótese de uma mudança é considerada, mas não no futuro imediato, sob a pressão dos “vatileaks”, que tinham como um dos principais alvos justamente o “primeiro ministro” do Papa.

Ortodoxos e católicos. A unidade sob o signo do Concílio

Trata-se de um diálogo lento, mas constante. Em razão da solenidade dos santos apóstolos, Pedro e Paulo, Bento XVI recebeu no Vaticano uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, enviada pelo patriarca Bartolomeu I, no marco da troca de visitas entre a Igreja de Roma e o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, por ocasião das festas de seus respectivos patronos.

A reportagem é de Luca Rolandi, publicado no sítio Vatican Insider, 28-06-2012. A tradução é do Cepat.

A delegação, que entregou ao Papa uma mensagem do Patriarca, era composta, segundo o que aponta o Vatican Information Service, pelo metropolita da França, Emmanuel Adamakis; o bispo Ilias Katre, de Philomelion (EUA); e o reverendo Paisios Kokkinakis, do Santo Sínodo do Patriarcado Ecumênico.

A festividade dos santos Pedro e Paulo, disse Bento XVI aos representantes do Patriarcado Ecumênico “nos dá a oportunidade de agradecer ao Senhor as obras extraordinárias que fez e continua fazendo por meio dos apóstolos na vida da Igreja. Sua pregação, selada pelo testemunho do martírio – observou – é a base sólida e perene sobre a qual se assenta a Igreja, e na fidelidade ao depósito da fé, que nos tem transmitido, encontramos as raízes da comunhão que já experimentamos entre nós”.

“Em nosso encontro – ao mesmo tempo em que pedimos a intercessão dos gloriosos apóstolos e mártires, Pedro e Paulo, nossa súplica é para que o Senhor [...] nos conceda chegarmos preparados para o dia abençoado em que possamos compartilhar a mesa eucarística – damos-lhe graças pelo caminho de paz e reconciliação que nos faz percorrer juntos. Neste ano, completa-se o quinquagésimo aniversário de abertura do Concílio Vaticano II, [...] e foi nesse Concílio que, como vocês sabem, estiveram presentes alguns representantes do Patriarcado Ecumênico na qualidade de Delegados fraternos, quando foi aberta uma nova fase importante das relações entre nossas Igrejas. Louvemos o Senhor, primeiramente, pelo redescobrimento da irmandade profunda que nos une, e também pelo caminho percorrido nestes anos pela Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa, em seu conjunto, com a esperança de que, também na fase atual, progrida”.

“Recordando o aniversário do Concílio Vaticano II, acredito que é justo rememorar a figura e a atividade do inesquecível patriarca ecumênico Atenágoras [...] que junto ao beato João XXIII e o servo de Deus, Paulo VI, animados com a paixão pela unidade da Igreja, que nasce da fé em Cristo Senhor, promoveram valorosas iniciativas que solidificaram o caminho e as relações renovadas entre o Patriarcado Ecumênico e a Igreja católica. Alegra-me, profundamente, que sua santidade Bartolomeu I continue com renovada fidelidade, e criatividade fecunda, o caminho traçado por seus predecessores, os patriarcas Atenágoras e Dimitrios, e que seja conhecido, em todo o mundo, por sua abertura ao diálogo entre os cristãos e por seu compromisso em anunciar o Evangelho no mundo contemporâneo”, finalizou o Santo Padre.

Uma nova espiritualidade global?

Em seu último livro, Souci de soi, conscience du monde [Cuidado de si, consciência do mundo], o sociólogo Raphaël Lioger defende que a nossa época é o cenário de uma transformação radical do religioso, na qual o sagrado invade todas as esferas da vida social.
A reportagem é de Antoine Dhulster, publicada na revista Témoignage Chrétien, 23-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.

Em seu último livro, você explica que a nossa época assiste ao surgimento de uma nova religião: o indivíduo-globalismo. Você não vai um pouco longe demais ao defini-la como uma religião?


Tudo depende do que se entende por religião. Para mim, é o âmbito das atividades humanas em que se desenvolvem as instituições especializadas na produção e na difusão de mitos. Os mitos são os grandes relatos implícitos, impensados, aos quais todos nós aderimos. Eles estruturam a nossa existência e lhe dão um sentido. E isso, muito além da esfera "religiosa" em sentido estrito.
Por exemplo, no mundo cristão, a crença não se detém nas portas das igrejas. Ela está difundida em toda a sociedade, até mesmo nas atividades cotidianas. Eu acredito que o nosso mundo desenvolvido, ou pós-industrial, está submetido a uma nova tensão mítica, a um novo grande relato. Nesse novo marco, o indivíduo busca a sua realização, a resposta às suas perguntas metafísicas, em um processo que inclui preocupações globais: a ecologia, a paz mundial etc. A tensão entre essas duas dimensões – individual e global – é o que chamo indivíduo-globalismo.

Em que se baseia essa espiritualidade?

Em primeiro lugar, em uma visão moderna do ser humano, radicalmente diferente daquela que dominou durante séculos. Na antiguidade grega, pensava-se o ser humano como uma pessoa que adquiria sua dignidade na participação na vida da polis. Depois, dependendo dos contextos e das épocas, na vida da tribo, da família e da nação. Na época moderna, nasce o indivíduo. O conceito de indivíduo é a ideia segundo a qual o ser humano se volta à sua subjetividade, que é abissal, e que se torna, ela mesma, uma espécie de transcendência. Segundo elemento: a nossa visão de mundo. Também a partir da época moderna, se desenvolve uma visão do nosso universo como um conjunto infinito.
Até esse momento, a própria ideia de infinito era muito negativa. Os gregos pensavam o cosmos como algo perfeito, porque finito, determinado. Em pensadores como Kant, no fim do século XVIII, vê-se aparecer, portanto, essa dupla noção de indivíduo, que conquista a sua subjetividade em um mundo que se pensa já infinito. A lei moral está nele, como subjetividade abissal. E, por outro lado, há o universo infinito, o céu estrelado acima dele. No século XIX, particularmente com o movimento romântico, esse esquema de pensamento supera o quadro da razão e conquista o campo da emoção. Depois, alcança os nossos modos de viver. Antes marginalmente, em comunidades como a de Monte Verità, na Suíça, depois de forma espetacular com a Nova Era nos anos 1960 e com as nossas preocupações místicas e ecológicas hoje.
Eu tento mostrar que há uma continuidade entre esse longo processo intelectual – a subjetividade do sujeito e o mundo pensado como infinito – e o nosso modo de viver atual. Os mesmos elementos são mobilizados, na busca do bem-estar pessoal nos atos mais cotidianos e, ao mesmo tempo, com a preocupação de um equilíbrio global. Se alguém tivesse hibernando nos anos 1970 e se acordasse agora, constataria que os hippies tomaram o poder. Muitos pensadores analisaram essa reviravolta como a da pós-modernidade. Pessoalmente, defendo a ideia de que a pós-modernidade é a modernidade em atos.

Como imaginar a relação entre o indivíduo-globalismo e as religiões institucionais?

Há uma coexistência entre esse esquema e as grandes religiões. Estas continuam existindo porque o velho mundo, que as criou, ainda existe. Mas estamos em um período de transição. E, a meu ver, existem três possibilidades para as grandes religiões: ou resistem agarrando-se ao passado e, nesse caso, haverá a fuga dos fiéis; ou fazem compromissos com a modernidade e se mantêm vivas; ou antecipam as transformações futuras e, nesse caso, aumentarão seus fiéis.
Concretamente: no cristianismo, uma parte do indivíduo-globalismo, na sua versão emocional, se manifesta nos movimentos evangélicos, que veiculam uma efervescência coletiva e fazem com que os fiéis acreditem que poderão mudar as suas vidas. A Igreja Católica resistiu a essa mudança trazida pelos evangélicos. Resultado: perdeu todos os ciganos franceses, ou se tornaram praticamente neoevangélicos, embora continuando a praticar o culto de Maria, que normalmente é incompatível com o culto protestante, mas isso não é problema para eles. Em um certo ponto, a Igreja começou a compreender esse movimento e "enquadrou" a renovação carismática. Assim, ela passou para a segunda atitude, a da negociação.

Então, a Igreja Católica ainda tem uma carta na manga com relação à modernidade?

Sim, de forma evidente. O indivíduo-globalismo é o produto da modernidade. Mas também devemos lembrar que a modernidade é o produto da evolução dialética do cristianismo, do qual a Igreja Católica participa há 2.000 anos. A relação com o indivíduo pensado como sagrado está presente cristianismo mediante a ideia de encarnação. Lembremos ainda que a filosofia iluminista é um desenvolvimento da teologia cristã em um certo nível. Ora, é justamente a filosofia iluminista que faz nascer o indivíduo-globalismo. Portanto, a Igreja Católica pode se recompor compativelmente com esse novo mito. E ela já faz isso, através das suas redes e das suas ONGs que levam a voz católica ao mundo, à ONU, às instituições internacionais... Mas essa mudança de paradigma pressupõe o abandono de uma parte da sua dogmática, que a mantém nos velhos esquemas.

A Igreja poderia abandonar a sua dogmática? Você acredita nisso?

Pode haver uma resistência muito forte, mas a história nos mostra que a necessidade faz a norma. Por enquanto, a Igreja não está à beira do abismo, mas, quando chegar ao ponto em que não poderá nem mesmo manter o Vaticano, acho que ela aceitará reinterpretar o seu dogma.

Você certamente percebeu que a tendência atual, ao contrário, é o do retorno à Tradição...

Certamente, é um reflexo clássico, provocado pelo medo. Quando temos medo, nos retraímos. Falando em termos de imagem, constroem-se barragens para se proteger das correntes dominantes. Mas, ao fazer isso, proibimo-nos de pensar ou de compreender essas correntes, fixamos a atenção sobre as barragens artificiais. É o mesmo processo do debate francês sobre a identidade. Se fazemos um debate sobre a identidade, significa que a identidade não é mais evidente. Naturalmente, a identidade é algo impensável. Se eu preciso torná-la reflexivo, quer dizer que ela não existe mais. É a mesma coisa para a religião. Quando um indivíduo quer se pensar tradicional, ou integralista, constata implicitamente que a sua tradição morreu.

Que fé, que conteúdo você vê para essa nova espiritualidade que anuncia?

As religiões se recompõem em torno a uma noção central, a energia, que é, ao mesmo tempo, salvadora e pessoal. Daí a noção de conexão, de conectividade entre o individual e o global, entre o indivíduo e a natureza. Nesse contexto, o próprio dogma católico é reinterpretado com essa ideia de energia. É preciso pensá-lo perto do imaginário da ioga, da espiritualidade oriental.

Então a sua tese é a de uma releitura da tradição cristã em uma versão sincrética influenciada pelas outras formas de espiritualidade?

Sim, e isso terá como resultado tornar-nos bipolares. Interiorizaremos, cada um de nós ao nosso nível, as culturas diferentes à nossa. Por exemplo, incensaremos o taoísmo ou o budismo, porque se pressupõe que sejam próximos à natureza. E, simetricamente, rejeitaremos o catolicismo... mas só em um primeiro momento, porque certos aspectos do catolicismo permitem pensar a ecologia, a união com a natureza, o equilíbrio global. É neste jogo de confrontos que o rolo compressor indivíduo-global avança e aproxima as religiões, focando-se na sua estética, mas removendo-lhes o seu núcleo dogmático. As religiões tornam-se pouco a pouco intercambiáveis. Na prática, vê-se o aparecimento de híbridos: faz-se ioga cabalística, gi gong cristão ou meditação zen recebendo a comunhão...

Mas, na prática, todos esses comportamentos continuam sendo individuais, muito limitados. Que relação existe com a prática religiosa da maioria?

Isso é muito menos limitado do que se pensa. No Ocidente, essa espiritualidade é levada adiante pela classe média. Falando em termos midiáticos, os "bobo" [neologismo criado pelo jornalista norte-americano David Brooks a partir da contração de "burguês-boêmio", para se referir a uma pessoa de um certo nível de vida com um estilo de vida pouco convencional]. Mas não só. Poderiam ser acrescentados os católicos de esquerda, muito interessados no diálogo inter-religioso ou o âmbito humanitário, processos indiscutivelmente indivíduo-globais.
As outras partes da população aderem ao mito indivíduo-global, mas não podem se permitir isso completamente, eu poderia dizer. O indivíduo-globalismo é a cor dominante do quadro, mas uma parte da população o percebe como degradado. Nem todos vivem o conhecimento de si mesmo, a realização pessoal, mas todos aspiram a isso. O único que chega a viver essa busca no seu cotidiano é o "bobo" no seu trabalho. Mas a busca, no entanto, se refere a todos. Assim, os outros vão viver os mesmos problemas... no seu tempo livre, fazendo estágios de desenvolvimento pessoal, viagens espirituais, consumindo produtos orgânicos etc.

E em escala planetária?

Encontramos a mesma assimetria. Aqueles que são objeto dos novos cultos (os povos tradicionais, por excelência) sabem que fazem parte do cenário da experiência espiritual que os cidadãos das sociedades pós-industriais buscam viver. Eles mesmos são obrigados a imaginar o que aqueles turistas esperam esteticamente para fazer com que vivam uma experiência. Senão, perdem a força de atração econômica. Portanto, há uma forte pressão ideológica, em que aqueles que jogam esse jogo de papéis (o que eu chamo de "hiperbeduínos" ou "hiperzulus") acabam se afastando do "núcleo" da sua cultura para corresponder às expectativas dos cidadãos das sociedades pós-industriais. Desse ponto de vista, a "valorização" do outro, na realidade, contribui para a sua destruição identitária. Em escala planetária, é a uniformização. As únicas diferenças que restam são estéticas, permitem viajar e viver a aventura para progredir interiormente e encontrar a si mesmos.

Essa mudança lhe parece irreversível?

Sim. Há precisamente a formação de um fundo mítico comum a toda a humanidade, que corresponde a uma situação política, econômica, em que todos já tomaram consciência da condição dos outros. Portanto, não é possível voltar atrás. Quais serão as consequências dessa revolução em algumas décadas? Poderão ser positivas ou negativas. Pode-se até imaginar um integralismo indivíduo-globalista: seitas de loucos poderiam querer destruir a humanidade ou instaurar uma ditadura anti-humanista por causa das devastações causadas pelos seres humanos ao meio ambiente. É possível. Assim como é possível um mundo em que a realização pessoal se tornará a norma dominante. O roteiro ainda está para ser escrito.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Autorrealização não é conquistada no poder, explica Bento XVI



A lógica humana busca muitas vezes a autorrealização no poder, no domínio, mas a Encarnação e a Cruz “nos recordam que a plena realização está no conformar a própria vontade humana àquela do Pai, no esvaziar-se do próprio egoísmo para encher-se do amor e da caridade de Deus” e, assim, ser capaz de amar os outros. Foi o que enfatizou o Papa Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, 27.
Na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Pontífice deu continuidade ao ciclo de catequese sobre a oração segundo as Cartas de São Paulo. Desta vez, ele refletiu sobre a Carta aos Filipenses, escrita enquanto o apóstolo estava na prisão. Mesmo diante da morte iminente ele encontra força e alegria, pois o “Apóstolo nunca afastou seu olhar de Cristo, tornando-se semelhante a Ele na morte, ‘com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos'".
Assim, o Santo Padre destacou que o homem não consegue se encontrar fechado em si mesmo. "É necessário ter uma escala de valores na qual em primeiro lugar está Deus, para afirmar como São Paulo: ‘julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor’ (Fl 3,8). O encontro com o Ressuscitado lhe fez compreender que é Ele o único tesouro pelo qual vale a pena gastar a própria existência", salienta Bento XVI.
Como rezar
O Papa também especificou qual a melhor maneira de rezar, ressaltando que a oração é feita de silêncio e palavra, de canto e de gestos que envolvem a pessoa inteira: da boca à mente, do coração ao corpo inteiro.
"O ajoelhar-se diante do Santíssimo Sacramento ou colocar-se de joelhos na oração expressa justamente a atitude de adoração diante de Deus, também com o corpo. Daí a importância de fazer isso não por hábito, com pressa, mas com profunda consciência. Quando nos ajoelhamos diante do Senhor, nós professamos a nossa fé Nele, reconhecemos que é Ele o único Senhor da nossa vida”, afirmou.
Por fim, o Santo Padre aconselhou os fiéis a fixar o olhar sobre o crucifixo durante a oração, colocar-se em adoração mais vezes diante da Eucaristia e entregar a própria vida ao amor de Deus, "que se inclinou com humildade para elevar-nos até Ele".

Dom Jaime receberá pálio das mãos do Papa


  

No próximo dia 29, Solenidade de São Pedro e São Paulo, o Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha estará entre  os arcebispos, de várias partes do planeta, que receberão o pálio, das mãos do Papa Bento XVI. A cerimônia acontecerá na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Receberão o pálio os arcebispos pelo Papa nomeados entre julho do ano passado até agora.
Dom Jaime viajará a Roma, na próxima sexta-feira dia 22, e retornará a Natal nos dias primeiros dias de julho. Também viajarão à capital italiana, para participar da celebração, o Arcebispo emérito de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, e um grupo de mais de vinte sacerdotes, além de fiéis leigos, entre os quais familiares de Dom Jaime.
O que é o pálio?
É uma espécie de colarinho de lã branca, com cerca de cinco centímetros de largura e dois apêndices, sendo um na frente e outro nas costas. Neste, são bordadas seis cruzes.
O pálio é confeccionado com a lã de ovelhas, ofertadas ao Papa por jovens romanas, no dia 21 de janeiro de cada ano, data da festa de Santa Inês. A lã é, posteriormente, tecida pelas monjas beneditinas, do Mosteiro de Santa Cecília, em Roma. Depois, os pálios são abençoados pelo Papa e colocados sobre o túmulo do Apóstolo São Pedro, na Basílica Vaticana. Anualmente, no dia 29 de junho, os pálios são levados do túmulo de São Pedro para a celebração eucarística e colocados sobre o colarinho dos novos arcebispos.
Nos primeiros séculos da era cristã, o Pálio era usado somente pelos Papas. A partir do século sexto, a indumentária passou a ser usada também pelos arcebispos metropolitanos.
Fonte: Pascom da Arquidiocese de Natal

A dignidade da diferença

A dignidade da diferença

Confira a análise do teólogo Faustino Teixeira, professor e pesquisador Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião – UFJF, ao comentar a despedida do cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão.
Ao ler hoje pela manhã o IHU notícias (27/06/2012), deparei-me com a informação de que o grande cardeal Martini se despedia de sua coluna no jornal italiano Corriere della Sera. Dizia que chegara o momento em que, por razões da idade e da doença, deveria se retirar de suas atividades e empenhos para preparar-se para o encontro decisivo com o Mistério de Deus. Fiquei, de certa forma, entristecido, pois ele sempre foi para mim um fator de alegria, incentivo e esperança na luta em favor de uma Igreja mais fraterna e solidária.
Nesses “tempos difíceis”, sua voz serena, corajosa e audaz vai nos fazer muita falta. Em todo o meu itinerário teológico pude acompanhar atentamente suas produções, seus sermões e suas lindas intervenções nos campos da pastoral e da vida social. Foi sempre uma alegria renovada entrar em contato com suas instigantes provocações. É na verdade, um fiel seguidor de uma Igreja primaveril, um autêntico “amigo de Deus”, e são eles, como tão bem indica Simone Weil, que nos facultam o exercício singelo da manutenção do olhar fixado intensamente em Deus.
O cardeal Martini foi aquele que sempre esteve nos meus sonhos em favor de uma Igreja mais profética, solidária e aberta. Nos últimos dois conclaves, foi por ele que o meu coração bateu mais forte. Talvez a figura mais nobre que um cargo tão complexo, exigente e difícil, poderia fazer jus. O cardeal Martini, jesuíta de ternura e vigor, foi durante muitos anos – de 1980 a 2002 -, arcebispo de Milão, a maior diocese do mundo. Ali atuou de forma impressionante, deixando uma marca que não poderá jamais ser esquecida. É também um dos mais importantes biblistas que temos.
Sua reflexão sobre Jesus é apaixonante. A forma como nos confronta com Jesus de Nazaré é singular e provocadora. Como sinalizou Georg Sporschill, ele nos apresenta Jesus em perspectiva distinta à apresentada por papa Bento XVI em seu livro sobre o itinerante de Nazaré. A partir de sua visada, o Jesus que nos vem revelado “é o amigo dos publicanos e pecadores. Ele escuta a pergunta dos jovens. Ele provoca inquietações.
Ele luta conosco contra as injustiças”. Foi essa perspectiva que pude ver, com grande alegria, no seu livro sobre O itinerário espiritual dos doze (1981), onde aborda o Evangelho de Marcos. Com essa obra ele nos ajuda a rever, refletir e pensar sobre a nossa caminhada interior com base no itinerário espiritual dos doze discípulos. Nos ajuda a trabalhar o difícil confronto interior em favor da decisão de dar prosseguimento na história ao caminho de Jesus. Assim como os discípulos, nós também temos dificuldades de compreender os desafios da missão e de ver com clareza o horizonte a seguir.
O conselho que vem do mestre Martini é simples: basta sair de uma situação marcada pelo orgulho e suficiência e deixar-se habitar por atitude de humildade, de “ignorância”, com a disposição acesa e atenta da audição. Sublinha que esta deveria ser a atitude fundamental de quem se coloca diante do Mistério de Deus, para poder ouvir o que Ele nos quer comunicar. Nada mais importante, sublinha, do que “olhar com atenção”. Mesmo que não se consiga explicar o que há de belo no mundo, e no outro, “a admiração diante da beleza pode me levar a Deus”.
Outro traço que sempre percebi em suas reflexões foi o da abertura ao outro, ao seu mistério indiscernível. Em livro publicado em 2000, Sobre o corpo, o cardeal Martini trata questões difíceis como a doença e o limite. Indica que a doença não é um incidente fortuito, mas nos coloca irremediavelmente diante de limites bem precisos. Desvela ainda algo que está “escondido” em nós mesmo quando nos sentimos saudáveis, mas que aparece um dia, com sua patente realidade, fazendo emergir a verdade de nossa limitação e pobreza. É esse mesmo corpo que coloca para nós, de forma viva, a questão do outro e o desafio imprescindível da relação. Diz Martini: “O outro é, porém, um mistério que escapa a qualquer analogia e redução de semelhança; se quero possuí-lo não é mais ´outro`, e permaneço só, sem nenhum outro”. Não há lugar para o belo Narciso, que se afoga em sua própria imagem e reflexo. Sublinha ainda que esse amor aos outros nunca o afastou de sua comunidade. Ao contrário, diz ele: “Quanto mais convivo com os outros, tanto mais amo a Igreja”.
Um dos maiores desafios assumidos por Martini em sua trajetória foi a defesa desse outro, e sempre com base em Jesus de Nazaré. No livro Diálogos noturnos em Jerusalém (2008), trata da importância de levar a sério a abertura e universalidade que envolve a expressão “católica”. E o caminho que aponta é o seguimento de Jesus. Foi ele que “tornou visível o amor de Deus por meio de sua vida e de suas palavras”. E o que caracteriza esse amor é sua proximidade com os outros, sobretudo os mais necessitados e pobres. Foi alguém que “optou pela vida itinerante e, assim, estar disponível para todos e não construir muros ao seu redor. Jesus foi ao encontro dos estranhos. E o que é mais importante: era capaz de difundir seu amor”. Como assinala Martini, é o nosso grande mestre nessa abertura aos estranhos.
Levando a sério esse desafio, Martini dedicou-se por muitos anos em Milão ao diálogo com os muçulmanos. Um de seus lindos trabalhos a respeito ganhou grande notoriedade: “Nós e o Islã – da acolhida ao diálogo”. Trata-se de um discurso que ele proferiu na vigília do dia de Santo Ambrósio, em dezembro de 1990. Reconhece em seu discurso os grandes valores religiosos e morais que marcam a tradição islâmica, e que tanto ajudaram “centenas de milhões de homens a prestar a Deus um culto honesto e sincero, bem como a praticar a justiça”. É no respeito a tal dignidade que os cristãos são convocados ao diálogo com os muçulmanos, e na sua dinâmica poder refletir e aprender sobre sua “forte experiência religiosa”, destinada a restituir a Deus, com gratuidade, um mundo a ele intimamente vinculado.
Levou também o diálogo ao pórtico dos não-crentes. Nos debates com Umberto Eco, registrados no livro Em que crêem os que não crêem (1999), trata com grande honestidade e seriedade essa questão. O que está em jogo, fundamentalmente, é a questão ética, o lugar da ética, “no qual se decide o futuro meta-histórico da aventura humana”. Partilha com Eco da idéia de uma esperança comum que irmana crentes e não-crentes, que transparece sobretudo na prática. Diz Martini:
“É possível ver crentes e não crentes vivendo o presente, dando-lhe sentido e empenhando-se com responsabilidade. Isto é particularmente visível quando alguém se coloca, gratuitamente, por sua conta e risco, a serviço de valores elevados, sem nenhuma retribuição visível. Quer dizer, portanto, que existe um húmus profundo que crentes e não-crentes, pensantes e responsáveis, alcançam, sem que, no entanto, consigam dar-lhe um mesmo nome”.
Martini reconhece o valor e a dignidade da ação ética de muitas pessoas, com “elevado altruísmo”, sem que estejam animadas por um fundamento transcendente em sua ação.

Sobre o seu sonho de Igreja
“Antigamente eu tinha sonhos em relação à Igreja. Sonhos de uma Igreja que seguisse seu caminho na pobreza e na humildade, de uma Igreja que não dependesse dos poderes do mundo (...). Com uma Igreja que desse lugar às pessoas que pensam o futuro. Com uma Igreja que encorajasse especialmente àqueles que se sentem sozinhos ou pecadores. Eu sonhava com uma Igreja jovem”.
Em seus colóquios de Jerusalém, na ocasião, com avançados 75 anos, revelou que esses sonhos tinham se diluído e que agora rezava pela Igreja. Mas ainda vigorava em seu peito o grande sonho de Teilhard, que via “o mundo caminhar em direção à grande meta, onde Deus será tudo em todas as coisas”.
Em sua última coluna, esse grande cardeal de Milão, conhecedor do segredo dos corações e do mistério das distintas formas de fé, responde a uma última questão, extremamente difícil, levantada por Francesco Rizzo, que havia perdido o seu filho de 10 anos. Na sua carta, o desencantado pai pedia uma palavra de conforto para poder voltar a viver. E com a resposta de Martini, concluo essa minha breve homenagem a esse grande cristão:
“Caro Franco, não há palavras verdadeiras de conforto diante de uma dor tão grande, talvez a maior dor para um ser humano. Eu também não sei lhe indicar caminhos precisos. Posso lhe dizer que rezo por você para que seja Jesus, o Filho, que lhe indique o caminho. Mas certamente não será logo, porque dores tão fortes tiram a força, a visão, a audição e ferem até a nossa força fundamental que é a coragem de enfrentar qualquer acontecimento”.
Coluna semanal que publicava no jornal italiano Corriere della Sera.

Carta das Religiões e o Cuidado da Terra

Carta das Religiões e o Cuidado da Terra

Quarta-feira, 27 de junho de 2012 - 9h28min
por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
No Espaço da Coalizão Ecumênica e Inter-religiosa "Religiões por Direitos", no âmbito da Cúpula dos Povos na Rio+20 para a Justiça Social e Ambiental, contra a mercantilização da vida e em defesa dos bens comuns, os líderes religiosos do Brasil signatários, aderindo à iniciativa da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Interreligioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de Religiões pela Paz, reuniram-se para debater a relação entre as religiões e as questões ambientais. Como resultado do diálogo, concordou-se que a agenda das religiões na atualidade não deve desconsiderar a agenda do cotidiano da vida das pessoas na sociedade e das exigências da justiça ambiental.
A agenda das religiões deve incluir os elementos que traçam os projetos do ser humano na busca de realização da sua existência e afirmar compromissos efetivos com a defesa da vida no planeta.  Religiões, sociedade, desenvolvimento sustentável e meio ambiente não são realidades distanciadas, mas estreitamente correlatas. As tradições religiosas contribuem para a afirmação dos valores fundamentais da vida pessoal, sócio-econômica e ambiental, orientando para a convivência pacífica e respeitosa entre os povos, culturas e credos, e destes com toda a criação.
Assim, é fundamental na agenda das tradições religiosas hoje:
a)    Apresentar ao mundo o sentido da existência humana.  A humanidade vive momentos de pessimismo, com sensação de fracasso e desânimo, sobretudo nas situações e ambientes de crises econômicas, de injustiças, de violência e de guerras.
Comprometemo-nos em fazer com que as nossas tradições religiosas afirmem de modo concreto o valor da vida de cada pessoa, independente da sua condição social, religiosa, cultural, étnica e de gênero, ajudando-as na superação dos problemas que lhes afligem no cotidiano, sejam eles de caráter sócio-econômico-político e cultural, sejam eles de caráter pisíquico-espiritual.
b)    Promover a educação e a prática do respeito mútuo, do diálogo, da convivência pacífica e da cooperação entre os diferentes povos, culturas e religiões,  fundamental no mundo plural em que vivemos.
Assumimos o compromisso de trabalhar para a convergência dos diferentes paradigmas culturais e religiosos dos povos, como uma possibilidade para melhor entendermos o mundo dentro de suas inter-relações e a convivência entre todos os seres humanos.
c)    Explicitar mais e melhor o que já possuímos em comum.  Nossas tradições já condividem valores religiosos, como a fé em um Ser Criador, o cultivo da relação com Ele, a compreensão da origem e do fim de cada pessoa.
Comprometemo-nos a partilhar as riquezas que possuímos para fortalecer as relações entre nossas tradições, o enriquecimento e o reconhecimento mútuos, bases para a cooperação inter-religiosa em projetos que promovem o bem comum.
d)    Discernir juntos os valores que constroem a paz no mundo.  Sabemos que a paz não é simples ausência da guerra, mas é fruto da justiça e da prática do amor.
Comprometemo-nos na promoção da convivência pacífica entre os povos e o desenvolvimento da fraternidade e da solidariedade universal, superando todo fundamentalismo e exclusivismo, bem como o consumismo irresponsável que causam conflitos entre as pessoas e os povos.
e)    Viver a compaixão para com os mais necessitados, empobrecidos e excluídos da sociedade.
Assumimos o compromisso de realizar juntos projetos sociais que fortalecem a solidariedade nas comunidades religiosas e na família humana.
f)    Promover o valor e o cuidado da criação.  Tomamos conhecimento das ameaças à vida do planeta, conseqüências dos interesses econômicos que constroem uma cultura utilitarista e consumista na sociedade em que vivemos.
Comprometemo-nos com o desenvolvimento de uma nova ética na relação com o meio ambiente, capaz de orientar novas atitudes defensoras de todas as formas de vida, sustentadas em políticas públicas de justiça ambiental e numa mística/espiritualidade que explicite a gratuidade e o dom da vida da criação.
g) Afirmar elementos de uma ética comum que, sustentada nas convicções religiosas que possuímos, seja capaz de orientar atitudes e comportamentos de paz e de justiça, tanto dos membros das nossas tradições como de todos os povos.
Comprometemo-nos a desenvolver novos comportamentos, com prevalência da ética da tolerância e da liberdade cultural e religiosa, do respeito às diferenças, da dignidade de toda pessoa, da convivência entre credos e culturas, dos direitos humanos.
Finalmente, solicitamos à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, acolher a contribuição das religiões para o cuidado da vida na terra, reconhecendo que os imperativos morais DAS nossas tradições, convicções e crenças, bem como os nossos esforços de diálogo e cooperação inter-religiosa são imprescindíveis para alcançarmos o desenvolvimento sustentável de toda a humanidade.
Exmo. e Revmo. Dom Francisco Biasin
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso daConferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Rev. Pe. Peter Hughes
Secretário Executivo do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM)
Revmo. Dom Francisco de Assis da Silva
Primeiro Vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Rev. Dr. Walter Altmann
Moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
Rev. Nilton Giese
Secretário Geral do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI)
Rabino Sergio Margulies
Representante da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ)
Sami Armed Isbelle
Diretor do Departamento Educacional e de Divulgação da Sociedade Beneficente Mulçumana do Rio de Janeiro (SBMRJ)
Ialorixá Laura Teixeira
Coordenadora Estadual do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileiras - Rio de Janeiro (INTECAB)
Irmã Jayam Kirpalani
Direitora Européia da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris
Elias Szczytnicki
Secretário Geral e Diretor Regional de Religiões pela Paz América Latina e o Caribe

Tu és o Filho de Deus vivo

Tu és o Filho de Deus vivo - José Raimundo Oliva

Quarta-feira, 27 de junho de 2012 - 20h45min
por www.paulinas.com.br
Os três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, narram esta controvertida passagem da "confissão de Pedro", cada um deles imprimindo suas interpretações teológicas pessoais a suas narrativas. Nos evangelhos de Marcos e Lucas, a resposta de Pedro à pergunta de Jesus sobre sua identidade é breve: "Tu és o Cristo (messias)", e merece a repreensão de Jesus. Pedro e os demais discípulos acreditavam que Jesus seria o messias político esperado, que daria ao povo judeu a glória e o poder sobre as demais nações, como um novo Davi, conforme a imagem elaborada pela tradição do Primeiro Testamento. Jesus censura Pedro por esta compreensão e procura demovê-la da mente dos discípulos.
Mateus modifica a narrativa original de Marcos e também adotada por Lucas. Ele dá um novo sentido à resposta de Pedro, à qual acrescenta a proclamação "Filho de Deus vivo". Segue-se a fala de Jesus confirmando a profissão de seu messianismo celeste, ao elogiar a fala de Pedro, declarando-a como revelação divina. Com o acento sobre o caráter messiânico cristológico de Jesus, Mateus dá uma resposta às suas comunidades, oriundas do judaísmo. Ele escreve na década de 80, depois da destruição do Templo de Jerusalém, quando os cristãos inseridos na comunidade judaica estavam sendo expulsos das sinagogas, que até então frequentavam. Ele pretende convencê-los de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel, de modo a não se intimidarem sob as ameaças e repressão da sinagoga e permanecerem na comunidade cristã.
Com a visão teológica de Mateus ficam estabelecidas duas identidades para Jesus: uma, é "o filho do homem", o simples Jesus de Nazaré, inserido na humanidade, na sua humildade, e presente entre ela até o fim dos tempos, porém, dignificando-o e divinizando-o; a outra é o "cristo" ou "messias" (cristo do grego, messias do hebraico, significando "ungido"), que é o Jesus ressuscitado, manifestado em glória nos céus, acima dos poderes celestiais, de onde virá para o julgamento final.
Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos entre Pedro e Paulo (cf., p. ex., Gl 2,11-14), a liturgia os reúne em uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição (primeira leitura) e Paulo, por seu empenho missionário em territórios da diáspora judaica (segunda leitura).

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Onde encontrar Jesus Cristo hoje

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de São Salvador (BA) e Primaz do Brasil
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, exclamou João Batista, ao ver Jesus que vinha ao seu encontro (Jo 1,29). E completou: “Dou testemunho: ele é o Filho de Deus” (v. 34). Para os discípulos de João Batista, esse anúncio foi tão importante que o deixaram, para seguir Jesus. Um outro João, o evangelista, ao final de sua vida sintetizou o que tinha sido para ele a convivência de três anos com Jesus de Nazaré: “O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que a nossas mãos apalparam... isso vos anunciamos” (1Jo 1,1 e 3). João evangelista deixava claro, assim, que seu anúncio partia de uma experiência pessoal, que o havia transformado radicalmente. Anunciava, também, que todos podem fazer idêntica experiência – isto é, podem ouvir, ver e tocar o Filho de Deus, porque ele veio até nós, assumiu nossa carne e se manifesta a quem o procura.
Se é próprio de Deus manifestar-se, para nos revelar sua intimidade, e se, em vista disso, nos enviou seu Filho, onde encontrar Jesus Cristo hoje? De que modo e em que situações ele se revela a nós? Em que situações ele se faz presente? É importante ter respostas claras a essas perguntas, já que o encontro com Cristo é o ponto de partida para uma autêntica conversão.
Destacarei sete lugares de encontro com Jesus de Nazaré – isto é, onde podemos encontrá-Lo em nossos dias. Podemos encontrá-Lo:
1º - Em sua Palavra. Os Evangelhos apresentam, numa linguagem clara, compreensível a todos, o que Jesus falou e o modo como viveu entre nós. Se prestarmos atenção às suas palavras, será inevitável: nossos corações se transformarão e produziremos frutos de santidade.
2º - Nos pastores que dirigem a Igreja. Cristo, pastor dos pastores, assiste os pastores que dirigem e governam o povo de Deus, como ele mesmo disse aos apóstolos: “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16).
3º - Nos sacramentos. Os sacramentos são ações de Cristo, que os administra por meio de seus ministros. Os sacramentos são santos por si mesmos e, “quando tocam nos corpos, infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas” (Paulo VI). Cristo está sempre presente por sua força nos sacramentos, de tal forma que “quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza” (Santo Agostinho).
4º - Na Eucaristia. O sacramento da Eucaristia contém o próprio Cristo e é, como afirmava Santo Tomás de Aquino, “como que a perfeição da vida espiritual e o fim de todos os sacramentos”. A presença de Cristo nesse sacramento é de uma intensidade sem par; é uma presença especial, uma presença “real”, “não a título exclusivo, como se as outras presenças não fossem “reais”, mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem” (Paulo VI).
5º - Quando a Igreja reza. Cristo está presente em sua Igreja quando ela reza, sendo ele quem “roga por nós, roga em nós e por nós é rogado; roga por nós como nosso Sacerdote; roga em nós como nossa Cabeça; é rogado por nós como nosso Deus” (Santo Agostinho). O próprio Jesus prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20).
6º - No pobre. Quando fazemos o bem a um irmão necessitado, nós o fazemos ao próprio Cristo: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Mais: é Cristo que faz essas obras por meio de nós, socorrendo assim as pessoas necessitadas.
7º - Em nossos corações. Cristo habita pela fé em nossos corações (cf. Ef 3,17) e neles derrama o amor de Deus pela ação do Espírito Santo que nos dá (cf. Rm 5,5).
Penso ter ficado implícito que o cristianismo não é apenas um conjunto de normas éticas e nem se resume a uma proposta de paz e de solidariedade; ele é, acima de tudo, o encontro com uma pessoa – a pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus Salvador. É ele é que dá novas perspectivas à nossa vida. Cabe-nos, pois, estar atentos a seus passos em nossos caminhos. Acolhendo-o, teremos a possibilidade de conhecê-lo sempre melhor e de apresentá-lo a outros.

http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-murilo-sebastiao-ramos-krieger/9667-onde-encontrar-jesus-cristo-hoje

Escolhida a música do Hino da Campanha da Fraternidade de 2013

Desde 2006, por decisão dos bispos do Conselho Episcopal Pastoral, o Consep, o CD da Campanha da Fraternidade traz o Hino da CF e o repertório quaresmal correspondente a cada ano. O hino poder ser executado em algum momento (mais adequado) da celebração, a critério da equipe de celebração e de quem preside. “Por exemplo, em algum momento da homilia – o que facilitará a vinculação da liturgia da palavra com a vida (tema da CF) – ou nos ritos finais, no momento do envio. Prioritariamente, o hino deve ser usado nos momentos de estudo e encontros de formação sobre a CF”, afirma o assessor de Música Litúrgica da CNBB, padre José Carlos Sala.

O hino da Campanha da Fraternidade de 2013 já foi escolhido. A CF 2013 terá como tema: “Fraternidade e Juventude”, e tem como lema: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). O processo de escolha do hino passou por dois momentos: concurso para a letra e concurso para a música.

Na segunda quinzena de dezembro de 2011, representantes das Comissões Episcopais Pastorais para a Liturgia, Juventude e Campanha da Fraternidade, juntamente com o secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, escolheram a letra. Dentre as mais de 40 letras enviadas foi escolhida a do compositor Gerson Cezar Souza.

No final de maio deste ano, representantes das Comissões de Liturgia e Juventude, maestros convidados e o secretário geral da CNBB, escolheram a música.

“A CNBB recebeu mais de 100 contribuições e a equipe analisou cuidadosamente cada uma das composições levando em conta os critérios do concurso e as avaliações da CF deste ano”, disse o padre José Carlos Sala, ressaltando ainda a grande riqueza melódica, harmônica e rítmica em estilos, os mais variados, próprios da diversidade cultural do nosso país.

A música escolhida foi a dos compositores Gil Ferreira e Daniel Victor Santos.

Os bispos do Consep, reunidos em Brasília nos dias 19 e 20 de junho analisaram a composição e a aprovaram.

Faça aqui o download da partitura!

Fonte: CNBB

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O que é teologia?


A teologia é o corpo teórico e disciplinar que estuda as relações entre o “sagrado e o profano”, tanto quanto, o estudo sistemático dos textos e materiais religiosos existentes, estabelecendo uma harmonia, na interpretação dos escritos religiosos – em especial o referente ao cristianismo – sob a investigação científica, que lhe é peculiar.
O termo teologia vem do grego – Theos que significa “Deus, divino, divindade” e logia (logos) que siginifica “estudo, pesquisa". Os teólogos são os especialistas em conhecimentos referentes aos estudos dessas relações.
Os teólogos são formados em seminários, faculdades, institutos, formando-se em bacharéis, licenciados, mestres e doutores. Porém, tais cursos, não são indicativos de que sejam ou estejam preparados para dar explicações acerca de fenômenos sobrenaturais ou de gêneros próximos ao tema. Também, não é uma característica primordial, que sejam os teólogos sacerdotes de nenhuma denominação religiosa, muito embora, seja essa a exigência de muitas religiões, para o exercício efetivo desse cargo.
A maioria das denominações religiosas cristãs e não-cristãs, possuem as suas escolas de formação de seus sacerdotes, onde são formados os teólogos, de acordo com a doutrina particular de cada uma delas, credenciando dessa forma, os seus sacerdotes para o exercício de suas funções. Os teólogos são formados dentro de um ambiente, onde se ministram matérias das mais variadas à sua formação, entre elas: A psicologia, sociologia, história, filosofia, teologias sistemáticas, comparadas, mitologia, etc.
O teólogo, não tem nenhuma obrigação em explicar os chamados fenômenos extrafísicos ou sobrenaturais, pois, não é de sua competência fazê-lo, muito embora, possua recursos técnicos para realizar tais exercícios; porém, tornamos a enfatizar: ”Não é a sua função específica”.
O objeto de estudo e atenção dos teólogos, é o estudo sistemático e comparado dos fenômenos históricos, sociais, filosóficos, antropológicos, psicológicos, das relações entre o sagrado e o profano e, das relações daí decorrentes. A comparação entre as diversas doutrinas, mitologias, dos dogmas, das liturgias das diversas manifestações religiosas existentes, também, é matéria de sua investigação, enquanto agente investigativo.
As diversas escrituras e os seus possíveis significados, tanto quanto as suas diferenças, são também alvo de suas investigações técnicas. As questões espirituais fazem parte de suas pesquisas, muito embora, não esteja interessado em oferecer explicações tácitas e definitivas sobre o tema, tendo na verdade, um comprometimento com a busca de uma possível “verdade” científica sobre esses elementos. As questões que interessa ao teólogo de perto, são na verdade as possíveis relações existentes entre os diversos textos religiosos, assim como, todo o acervo existente que possa trazer conhecimento, sobre a relação entre os fatos históricos e as relações entre o religioso (sentimento) e as práticas místicas e espirituais dos povos, ao longo da existência humana.
Do ponto de vista de uma possível vertente científica, a teologia tem relação direta com a preocupação com os efeitos, mais do que com a essência dos fatos em si. Portanto, a teologia em si é mais uma ciência “investigativa” e não conclusiva, quando trata de “traçar” uma abordagem de entendimento dos fenômenos espirituais. Conclusiva, poderemos considerar, portanto, as escrituras sagradas, que afirmam a sua essência, baseadas na palavra de DEUS.
A teologia, portanto, jamais poderá ser manipulada por interesses pessoais ou denominacionais de qualquer corrente religiosa, pois deve seguir e servir, aos interesses da pesquisa dos fenômenos religiosos e espirituais, porém, sem conotação particular, como um fenômeno abrangente e universalista. Isso não significa, que não possa existir teólogos cristãos, muçulmanos, budistas ou mesmo ateus.
Teologia, não é matéria ou doutrina particular mas: “livre”; estando por isso a serviço do conhecimento. Trata-se portanto, de um conjunto de conhecimentos pluralista, normativo de caráter universal. Dentro do ambiente cristão, serve como elemento retificador dos princípios cristãos, já que foi dentro desse ambiente que a teologia tomou forma. Mas, como elemento de pesquisa, deverá abordar a todo o universo de estudo comparado das diversas religiões.
Um teólogo pode ser um cristão, um muçulmano, um hinduísta, ou até mesmo um ateu, pois, não está em sua essência servir a nenhum grupo de opinião em particular, enquanto ciência empírica. Ser um teólogo, portanto, é estar em sintonia com o pensamento universal, com as causas “primárias” de manifestações espirituais e religiosas dos diversos povos, ao longo da história da civilização. Deverá o teólogo compreender, as diversas manifestações de religiosidade das pessoas e ter em mente que: “A teologia, não é doutrina religiosa, nem tão pouco, deve estar a serviço de interesses particulares, mas, ao conjunto instrumental, que permita aos seus especialistas, compreenderem os mistérios da criação divina, tanto quanto, as questões históricas dos diversos cultos religiosos”.
Portanto, fica patente que: “Existe uma teologia cristã, muçulmana, budista, hinduísta, judaica, e que, os estudiosos desse campo, não podem e nem devem estar submetidos a caprichos pessoais ou amarrados por correntes de intolerância de nenhuma espécie”.
Existindo uma teologia variada como a que temos assistido ao longo da história da civilização, então, temos a oportunidade de estudarmos as mais variadas formas de cultos e crenças existentes, levando a sociedade, uma possível compreensão dessas diferenças.
Deve também, o conjunto de acervo teológico existente, ir conduzindo os homens para uma compreensão salutar, do que venha a ser à vontade de DEUS para os homens, pois, é uma tarefa do teólogo, propiciar esse encontro, ou seja: ”Entre o homem e a sua origem”. Portanto, o teólogo, deve de certa maneira, conduzir o estudioso ao encontro de uma compreensão do mundo espiritual, propiciando o surgimento de uma cultura a DEUS, como o elemento fundamental da existência humana. A causa final do estudo teológico será evidentemente, “tentar” desvendar e tornar conhecido aos homens, a verdadeira relação entre eles e o seu princípio e essência: “DEUS, como o seu criador”.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Eucaristia

    LITURGIA DA MISSA
    A missa, ou celebração da Eucaristia, não é a oração de um só homem, pois já não basta rezar só em casa; a igreja sempre foi e continua sendo a casa de Deus e o lugar de oração em comunidade.  Jesus frequentava o Templo em Jerusalém com Maria, José e os Apóstolos. Jesus já dizia: "se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, o que seja, conseguirão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles" (Mt 18, 19-20).
    É bom que cada fiél católico entenda bem cada parte da missa a fim de que a Santa Eucaristia não se constitua em um mero rito mecâncico, onde as pessoas só "copiam" o que as outras fazem (gestos, sinal da cruz, genuflexão, etc.) sem entender exatamente o que está acontecendo.  A missa é igual para toda a Assembléia mas a maneira de cada um participar pode ser diferente pois depende da fé que as pessoas têm e também do grau de formação na religião. As vezes vamos fazendo muitas coisas sem saber por quê. Para participar da missa com fé e alegria, além da sua formação catequética básica, o fiel  deve conhecer todas as etapas da liturgia da missa pois ninguém ama o que não conhece.
    O objetivo desta página é de apresentar alguns fundamentos básicos da liturgia da missa a fim de que o fiel católico tire todo o proveito espiritual que a Santa Eucaristia oferece para todos nós, a quase dois milênios a fio. O fiel católico deve ser, sobretudo, um fiel bem informado; se não nos salvarmos a culpa é nossa, já dizia São João Crisóstomo!.
     
    PARTES DA MISSA
    A missa é composta pelas seguintes etapas:
     
    • Abertura da Celebração;
    • Liturgia da Palavra;
    • Liturgia Eucarística;
    • Rito Final
     ABERTURA DA CELEBRAÇÃO
    Observando-se a Liturgia da Missa, vemos que ela inicia-se com o canto e a procissão de entrada. A seguir, o sacerdote dialoga com a comunidade, acolhendo-a em nome de Deus. Segue-se o ato penitencial, as aclamações e súplicas e a oração conclusiva.
    Estes ritos têm por finalidade:
     
    • Reunir os fiéis, possibilitando-lhes uma comunhão;
    • Dispô-los a ouvir com proveito a Palavra de Deus;
    • E a celebrar frutuosamente a Eucaristia.
      O Canto De Entrada e "Sinal da Cruz"
    O canto está a serviço do louvor de Deus e de nossa santificação. Quem canta, reza duas vezes. Não é apenas para embelezar a Missa, mas para nos ajudar a rezar. O canto de entrada deverá estar em plena sintonia com o momento litúrgico que se celebra. Ele tem a função de:
     
    • favorecer a união dos fiéis;
    • Criar um clima festivo;
    • Introduzir o povo no mistério ou festa celebrados;
    • Acompanhar a procissão de entrada do celebrante e ministros.
    Durante o Canto de Entrada, o celebrante que preside a Missa, acompanhado dos Ministros ou Acólitos, dirige-se para o altar. Faz uma inclinação profunda e depois beija o altar. O beijo tem um endereço: não é propriamente para o mármore ou a madeira do altar, mas para o Cristo, que é o centro de nossa piedade. A procissão de entrada deve ser solene, passando pelo meio do povo, especialmente nos dias festivos. Neste momento o Presidente faz o sinal da cruz e toda a Assembléia o acompanha, dizendo ao final, Amém. A expressão "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", tem um sentido bíblico: não quer dizer apenas o "nome", como para nós, ocidentais. "Nome", em sentido bíblico, quer dizer a própria pessoa. Isto significa dizer que iniciamos a Missa colocando a nossa vida e toda a ação nas mãos da Santíssima Trindade.
     
    O diálogo do Celebrante com o povo
    Estabelece uma comunicação inicial, criando a comunhão. Pela saudação, o celebrante significa à Assembléia a presença do Senhor no meio do seu povo. A resposta é o reconhecimento desta presença. O diálogo simboliza o mistério da Igreja reunida e vem atualizar o encontro de Cristo com o seu povo.
    Preparação Penitencial
    Os fiéis, unidos pelos cantos e diálogos, conscientes de sua reunião em Cristo e de sua presença na assembléia confessam que são pecadores se reconciliam entre si e com Deus.
    Após um momento de silêncio, usa-se uma das seguintes fórmulas:
    I Formula
    TODOS: Confesso a Deus todo-poderoso / e a vós, irmãos, / que pequei muitas vezes / por pensamentos e palavras, / atos e omissões, / (e, batendo no peito, dizem) por minha culpa, minha tão grande culpa. / E peço à Virgem Maria, / aos anjos e santos / e a vós, irmãos, / que rogueis por mim a Deus, nosso Senhor.
    II Formula
    CEL: Senhor, que viestes salvar os corações arrempendidos, tende piedade de nós.
    ASS: Senhor, tende piedade de nós.
    CEL: Cristo, que viestes chamar os pecadores, tende piedade de nós.
    ASS: Cristo, tende piedade de nós.
    CEL: Senhor, que intercedeis por nós junto do Pai, tende piedade de nós.
    ASS: Senhor, tende piedade de nós.
    CEL: Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
    ASS: Amém!
     
    Canto do Glória
    É o hino pelo qual a Igreja louva, agradece e suplica ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
    O Glória pode também ser recitado, como segue:
    CEL: Glória a Deus nas alturas
    ASS: e paz na terra aos homens por ele amados. / Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: / nós vos louvamos, / nós vos bendizemos, / nós vos adoramos, / nós vos glorificamos, / nós vos damos graças / por vossa imensa glória. / Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito, / Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. / Vós que tirais o pecado do mundo, / tende piedade de nós. / Vós que tirais o pecado do mundo, / acolhei a nossa súplica. / Vós que estais à direita do Pai, / tende piedade de nós. / Só vós sois o Santo, / só vós, o Senhor, / só vós, o Altíssimo, / Jesus Cristo, / com o Espírito Santo, / na glória de Deus Pai, / Amém
    O Canto do Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro, é cantado pela Assembléia dos fiéis ou pelo povo que o alterna com o grupo de cantores ou pelo próprio grupo de cantores. Se não for cantado, dever ser recitado por todos, juntos ou alternadamente.
    O Canto do Glória é cantado ou recitado aos domingos, exceto no tempo do Advento e da Quaresma, nas solenidades e festas e ainda em celebrações especiais mais solenes
     
    Oração do dia (coleta)
    O celebrante, em nome de toda a Igreja reunida, se dirige a Deus, por intermédio de Jesus Cristo. Há sempre uma oração do dia para cada momento litúrgico, conforme estabelece o Missal Romano, cuja versão para a língua portuguêsa, para o Brasil, foi aprovada pela Comisssão Episcopal de Textos Litúrgicos (CETEL), da CNBB, em uso desde 25/09/91. A oração da coleta exprime a índole da celebração e dirige, pelas palavras do celebrante, uma súplica a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo.
    Aqui todos os fiéis oram, em silêncio, por algum tempo. No fim da oração a Assembléia aclama com um Amém. Em seguida todos sentam-se para ouvir com atenção a Liturgia da Palavra.
     
    LITURGIA DA PALAVRA
    A Liturgia da Palavra é composta por
     
    • Leituras: Antigo Testamento, Novo Testamento, e Evangelho.
    • Cânticos Interlecionais: Salmo responsorial ou canto de meditação e Aclamação ao Evangelho.
    • Homilia
    • Profissão de Fé
    • Oração Universal (Prece dos Fiéis).
Através das leituras, Deus fala a seu povo. Como por tradição, o ofício de proferir as leituras não é função presidencial, mas ministerial, convém que via de regra o diácono, ou na falta dele outro sacerdote, leia o Evangelho; o leitor faça as demais leituras.
Através dos cânticos, a Assembléia responde a Deus. O salmo responsorial ou gradual é tirado do Lecionário, pois cada um de seus textos se acha diretamente ligado à respectiva leitura; assim a acolhida dos salmos depende das leituras.
O cântico de aclamação ao Evangelho é feito através do "Aleluia" ou outro canto de acordo com o tempo litúrgico, preparado pela Equipe de Liturgia. O "Aleluia" é cantado em todos os tempos, exceto na Quaresma
A Homilia é a explicação da Palavras do Senhor. Convém que seja uma explicação de algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura ou de outro texto do Ordinário ou próprio da Missa do dia, levando em conta tanto o mistério celebrado, como as necessidades particulares dos ouvintes.
A Profissão de Fé é a adesão da comunidade à Palavra do Senhor. Ela tem por objetivo levar o povo a dar seu assentimento e resposta à palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia, bem como recordar-lhe a regra da fé antes de iniciar a celebração da Eucaristia. Quando cantado, deve sê-lo por todo o povo, seja por inteiro, seja alternadamente.
A oração do Credo pode ser aquela do símbolo apostólico, que aparece normalmente em todos os jornais litúrgicos, ou a do símbolo Niceno-Constantinopolitano, a seguir:
Creio em um só Deus, / Pai todo-poderoso, / criador do céu e da terra, / de todas as coisas visíveis e invisíveis. / Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, / Filho unigênito de Deus, / nascido do Pai antes de todos os séculos: / Deus de Deus, / luz da luz, / Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; / gerado, não criado, / consubstancial ao Pai. / Por ele todas as coisas foram feitas. / E por nós, homens, e para nossa salvação, / desceu dos céus: (referência) / e se encarnou pelo Espírito Santo, / no seio da virgem Maria, / e se fez homem. / Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; / padeceu e foi sepultado. / Ressuscitou ao terceiro dia, / conforme as Escrituras, / e subiu aos céus, / onde está sentado à direita do Pai. / E de novo há de vir, em sua glória, / para julgar os vivos e os mortos; / e o seu reino não terá fim. / Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, / e procede do Pai e do Filho; / e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: / ele que falou pelos profetas. / Creio na Igreja, / una, santa, católica e apostólica. / Professo um só batismo para remissão dos pecados. / E espero a ressurreição dos mortos / e a vida do mundo que há de vir. / Amém.
A Oração Universal ou Prece dos Fiéis é a súplica comunitária pelas necessidades da Igreja universal, do mundo e Igreja local. Ela encerra a Liturgia da Palavra . Os fiéis fazem essas orações confiando em Jesus, que disse: "Pedi e recebereis, buscai e encontrareis, batei e a porte se abrirá. Porque todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e a quem bate se abrirá" (Mt 7, 7-8). Convém que, normalmente, se faça esta oração nas Missas com o povo, de tal sorte que se reze pelas seguintes intensões:
 
  • Pelas necessidades da Igreja;
  • Pelos poderes públicos e pela salvação de todo o mundo;
  • Pelos que sofrem qualquer necessidade;
  • Pela comunidade local.
É bom que se faça preces curtas e bem objetivas, colocando-se em mente que não se trata de uma pequena homilia particular, com textos longos e verdades próprias. A participação do leigo, com orientação das Equipes de Liturgia, é de fundamental importância. Além das preces já preparadas previamente é importante que o celebrante incentive a Assembléia a fazer outras preces complementares, caso haja condições práticas para tal (Assembléias pequenas, etc.).
 
LITURGIA EUCARÍSTICA
Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e a ceia pascal, que tornam continuamente presente na Igreja o sacrifício da cruz, quando o sacerdote, representante do Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória.
É composta pelas seguintes partes:
 
  • Preparação dos dons;
  • Oração Eucarística
  • Ritos da Comunhão.
 
Preparação dos dons ou das ofertas
Na Preparação sobre as oferendas, levam-se ao altar o pão e o vinho com água, isto é, aqueles elementos que Cristo tomou em suas mãos. Em primeiro lugar prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o Missal Romano e o cálice, a não ser que se prepare na credência (mesa junto ao altar, onde se colocam as galhetas e outros acessórios da missa). A seguir trazem-se as oferendas. É louvável que os fiéis apresentem o pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono recebem em lugar conveniente e depõem sobre o altar, proferindo as fórmulas estabelecidas. Também são recebidos o dinheiro ou outros donativos oferecidos pelos fiéis para os pobres ou para a Igreja, ou recolhidos no recinto dela; serão, no entanto, colocados em lugar conveniente, fora da mesa eucarística. Em seguida o celebrante lava as mãos, exprimindo por esse rito o seu desejo de purificação interior.
Aqui, o celebrante levanta a patena com o pão dizendo:
CEL: Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto da terra e do trabalho do homem, que agora vos apresentamos, e para nós se vai tornar pão da vida.
Se não houver o canto do ofertório o povo poderá aclamar:
ASS: Bendito seja Deus para sempre!
O celebrante derrama vinho e um pouco de água no cálice, rezando em silêncio:
CEL: (reza em silêncio) Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade.
Em seguida o celebrante reza:
CEL: Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo vinho que recebemos de vossa bondade, fruto da videira e do trabalho do homem, que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar vinho da salvação.
Se não houver o canto ao ofertório, o povo poderá aclamar:
ASS: Bendito seja Deus para sempre!
O celebrante, inclinado, reza em silêncio:
CEL: De coração contrito e humilde, sejamos Senhor, acolhidos por vós; e seja o vosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.
O sacerdote lava as mãos, dizendo em silêncio:
CEL: Lavai-me, Senhor, das minhas faltas e purificai-me do meu pecado.
Agora, o celebrante faz a oração sobre as ofertas:
CEL: Orai, irmãos, para que o nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso.
ASS: Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para glória do seu nome, para no nosso bem e de toda a santa Igreja.
O celebrante agora profere a oração sobre as ofertas, que é tirada do Missal Romano e é própria de cada celebração, de acordo com o momento litúrgico. No fim a Assembléia responde com "Amém".
 
Oração Eucarística
Na Oração Eucarística rendem-se graças a Deus por toda a obra salvífica e as oferendas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo. Pela fração do mesmo pão manifesta-se a unidade dos fiéis e pela comunhão os fiéis recebem o Corpo e o Sangue do Senhor como os Apóstolos o receberam das mãos do próprio Cristo.
É o ponto central da ação litúrgica: é a ação de graças e consagração.
Por ela os fiéis se unem a Cristo para proclamar as maravilhas de Deus e oferecer o verdadeiro sacrifício: oferecem o Cristo, pelo sacerdote; e unidos a Cristo, oferecem a sim mesmos ao Pai.
Inicia-se pelo prefácio do celebrante, que é sempre oração de ação de graças pela obra da salvação e de glorificação ao Pai. O prefácio é variável e há um ou mais para cada tempo da Liturgia, conforme o Missal Romano. Por exemplo: Prefácios do Advento, do Natal, da Epifania, da Quaresma, da Paixão, da Páscoa, da Ascensão do Senhor, do Pentecostes, de Cristo Rei, da Eucaristia, da Santíssima Trindade, de nossa Senhora, de São José, dos Apóstolos, dos Santos, dos Mártires, dos Pastores, das Virgens e Religiosos, dos Anjos, dos Mortos e diversos Prefácios do Tempo Comum, além de alguns Prefácios especiais que fazem parte da Oração Eucarística. O prefácio é um hino de "abertura" que nos introduz no Mistério Eucarístico. Por isso, o presidente convida a Assembléia para elevar os corações a Deus, dizendo: "Corações ao alto!". É um hino que proclama a santidade de Deus e dá graças ao Senhor.
O final do prefácio é sempre igual. Termina com esta aclamação "Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus do universo! O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!" Às vezes, quanto o "Santo" é cantado, mudam-se algumas palavras. Mas o sentido deve permanecer o mesmo. Em geral, é cantado nas Missas dominicais e recitado nas Missas simples do meio da semana. O "Santo" é tirado do profeta Isaías (6,3), o qual teve a seguinte visão: Serafins, no Templo, aclamavam em alta voz: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos! Toda a terra está cheia de sua glória!" A repetição, dizendo três vezes "Santo", é um reforço de expressão para significar o máximo de santidade. É como se dissesse que Deus é "Santíssimo". O que o profeta Isaías quer dizer é que ele é um homem de lábios impuros, indigno de falar em nome de Deus, e que, no entanto, viu a glória do Senhor no templo. Por isso estava atemorizado e dizia: "Ai de mim, estou perdido!" Então veio um anjo e purificou os seus lábios com uma brasa viva. Esta passagem é uma lição para nós, que participamos da Eucaristia. Também nós somos pecadores, de lábios impuros, e estamos nos preparando para receber o Corpo do Senhor em nossa boca.
O Missal Romano apresenta cinco Orações Eucarísticas básicas que contemplam os seguintes aspectos:
 
  • A Igreja invoca o Pai para que sejam consagrados os dons oferecidos pela comunidade. (Orações Eucarísticas I e III)
  • A Igreja invoca o Pai para que sejam consagrados os dons oferecidos pela comunidade. Os dons apresentados, pela ação do Espírito Santo, se tornarão corpo e sangue do Senhor (Orações Eucarísticas II e IV);
  • A ação de graças se prolonga: a criação do homem a desobediência deste e o socorro salvífico, anunciado na esperança dos profetas, e na encarnação do Filho de Deus, que entregou-se à morte, mas ressuscitou glorioso, enviando o Espírito Santo para levar à plenitude a obra da redenção (Oração Eucarística IV, pag. 488 do Missal Romano)
  • A Igreja intercede pelo santo padre, pelo bispo local e por todos os presentes (todas as Orações Eucarísticas);
  • A Igreja da terra se une aos santos do céu (Oração Eucarística I, pág. 469);
  • Os dons apresentados pela ação do Espírito Santo se tornarão corpo e sangue do Senhor (Orações Eucarísticas I e III);
  • A narrativa da Instituição revive a última ceia na qual Cristo instituiu o sacramento de sua paixão e ressurreição (todas as Orações Eucarísticas);
  • A Igreja rememora o oferecimento do próprio Cristo ao Pai, recordando sua paixão, ressurreição e ascensão ao céu. É o verdadeiro ofertório da missa (todas as Orações Eucarísticas);
  • As intercessões são a prece pela qual se manifesta que a celebração eucarística é feita em união com toda a Igreja, a da terra e a do céu, pelos vivos e mortos (todas as Orações Eucarísticas);
  • A doxologia (forma de louvor à glória de Deus) final é a expressão da glorificação de Deus, uno e trino, que a comunidade ratifica (todas as Orações Eucarísticas);
  • A igreja reconhece a necessidade de louvar a Deus. Este louvor leva a Igreja a ser santa (Oração Eucarística V, página 495 do Missal Romano).
Um detalhe interessante a ser observado pela Assembléia é o anúncio, pelo celebrante, de "Tudo isto é Mistério da Fé!", proferido logo após a narrativa da Instituição; nesse momento todos os que se ajoelharam deverão ficar de pé e recitar de alto e bom som a seguinte citação:
Toda vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho, se recorda a paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta.
O Missal Romano apresenta ainda Orações Eucarísticas para diversas circunstâncias com Missas com crianças (I, II e III), sobre reconciliação (I, pág 866 e II, pág 871) entre outras.
 
Ritos da Comunhão
Visam preparar os fiéis para receberem o corpo e o sangue do Senhor como alimento espiritual.
Na Oração do Senhor, o Pai-Nosso, os fiéis vivenciam os seguintes aspectos:
 
  • Todos sentem com filhos do mesmo Pai que está nos céus;
  • Pedem o pão de cada dia e a vinda do reino de Deus;
  • Imploram o perdão e perdoam seus irmãos.
A seguir a Assembléia pede paz e unidade para a Igreja. Saúdam-se todos, fraternalmente, no amor do Senhor. No abraço da paz todos, segundo o costume do lugar, manifestam uns aos outros a paz e a caridade. Ao cumprimentar o seu irmão, pergunte pelo nome dele, repetindo-o na sua saudação. Fica mais elegante e aproximam mais as pessoas.
Ao término todos voltam a fazer silêncio para que haja um clima de comunhão associado às orações do momento. Aqui o celebrante parte o pão e coloca um pedaço no cálice, rezando em silêncio: "Esta união do corpo e do sangue de Jesus, o Cristo e Senhor nosso, que vamos receber, nos serva para a vida eterna!" Enquanto isso a Assembléia canta ou recita o "Cordeiro de Deus"
A seguir o celebrante reza em silêncio: "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que cumprindo a vontade do Pai e agindo com o Espírito Santo, pela vossa morte destes vida ao mundo: livrai-me dos meus pecados e de todo mal; pelo vosso corpo e pelo vosso sangue, dai-me cumprir sempre a vossa vontade e jamais separar-me de vós." ou ainda: "Senhor Jesus Cristo, o vosso corpo e o vosso sangue, que vou receber, não se tornem causa de juízo e condenação; mas, por vossa bondade, sejam sustento e remédio para minha vida".
Agora temos a cumunhão propriamente dita, sendo o momento da participação mais perfeita: comunhão com Cristo após a comunhão com os irmãos. O sacerdote diz em voz alta: "Felizes os convidados para a ceia do Senhor! Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Agora ele acrescenta, com o povo: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo". Em seguida ele reza em silêncio: "Que o corpo de Cristo me guarde para a vida eterna". Ele comunga o corpo de Cristo e depois reza em silêncio: "Que o sangue de Cristo me guarde para a vida eterna." Nesse momento ele comunga o sangue de Cristo. A seguir, o celebrante e/ou diácono(s) e ministros da eucaristia toma o cibório e diz a cada um dos que vão comungar: "O corpo de Cristo". O que vai comungar responde: "Amém!".
Ao final, enquanto faz a purificação o celebrante reza em silêncio: "Fazei, Senhor, que conservemos num coração puro o que nossa boca recebeu. E que esta dádiva temporal se transforme para nós em remédio eterno." É aconselhável guardar um momento de silêncio ou recitar algum salmo ou cântico de louvor.
 Enquanto o celebrante comunga o corpo de Cristo, inicia-se o canto da comunhão
 
RITO FINAL
Conhecido como o Rito da Bênção, é o desfecho da Santa Eucaristia. Após os comunicados e avisos importantes a serem apresentados à comunidade é uma boa prática que a Equipe de Liturgia indique à Assembléia o compromisso da semana, baseada na liturgia que acaba de ser desenvolvida.
Ao dar a bênção, o celebrante traça uma cruz sobre a Assembléia, e todos podem inclinar a cabeça. Existem outras fórmulas de bênçãos mais solenes, de acordo com a festa litúrgica. Eis, por exemplo, a bênção que o Missal Romano traz para o primeiro dia do ano:
CEL: Que Deus todo-poderoso, fonte e origem de toda a bênção, vos conceda a sua graça, derrame sobre vós as suas bênçãos e vos guarde sãos e salvos todos os dias deste ano!
ASS: Amém!
CEL: Que vos conserve íntegros na fé, pacientes na esperança e perseverantes até o fim na caridade!
ASS: Amém!
CEL: Que Ele disponha na sua paz os vossos atos e vossos dias, atenda sempre vossas preces e vos conduza à vida eterna!
ASS: Amém!
CEL: A bênção de Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre!
ASS: Amém!
O celebrante pode também abençoar com outras palavras, de acordo com as circuinstâncias. Os franciscanos por exemplo utilizam muito a oração conforme Nm 6, 22-27, que diz: "O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno; o Senhor mostre para ti a sua face e te conceda a paz"
Cada fiel deve se colocar pessoalmente sob aquela bênção, como seu nome e sua vida. Não saia da igreja antes da bênção final. A missa termina com a bênção e em seguida vem o canto final, que deve ser alegre, pois foi uma felicidade ter participado da Missa. E desejável também que a Assembléia só saia da igreja após a retirada do celebrante, acólitos e ministros. Exercite também o espírito de comunidade, conversando mais com seus irmãos. Ao chegar em casa, dê um abraço em todas as pessoas da sua família, saudando com "A Paz e Cristo"; mostre que você está em estado de graça pois acaba de vir da Santa Eucaristia, que representa um encontro com o Senhor e com os irmãos em Cristo.
Fonte:
Missal Romano, co-edição de Edições Paulinas e Editora Vozes, 1991
A Missa Parte por Parte, Padre Luiz Cechinato, Editora Vozes, 1993
Liturgia da Missa (Opúsculo), Edições Paulinas, 1979