terça-feira, 8 de outubro de 2013

Dia do Nascituro encerra Semana Nacional da Vida


Brasília (RV) - Celebra-se no Brasil, nesta terça-feira, o Dia do Nascituro. A data 8 de outubro conhecida como Dia do Nascituro foi uma decisão da 43ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em 2005, em Itaici (SP), e marca o encerramento da Semana Nacional da Vida. Neste período, dioceses e comunidades de todo Brasil organizaram atividades e celebrações em prol da vida.

Segundo o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, o momento é importante para suscitar a reflexão sobre o valor da vida. "A Semana Nacional da Vida e o Dia do Nascituro são ocasiões para que toda a Igreja continue afirmando sua posição favorável à vida desde o seio materno até o seu fim natural, bem como a dignidade da mulher e a proteção das crianças", afirmou.

Uma iniciativa que visa proteger, defender e valorizar a vida humana é o abaixo-assinado pela aprovação do projeto de lei 478/2007, conhecido como Estatuto do Nascituro. O Bispo de Camaçari (BA), Dom João Carlos Petrini, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a vida e a Família da CNBB, enviou uma carta aos bispos e arcebispos do Brasil para que, em suas respectivas localidades, promovam a coleta de assinaturas para aprovação do projeto.

O presidente da comissão sugere que atividades públicas, e também no âmbito da comunidade, sejam feitas para coletar assinaturas em favor da aprovação do Estatuto do Nascituro, na Câmara dos Deputados, em apoio aos deputados que pedem a alteração da lei 12845/2013, que visa atendimento obrigatório a vítimas de violência sexual, mas que obriga também a administração da pílula do dia seguinte (pílula abortiva).

"O ser humano que é gerado no ventre de uma mulher, com a participação de um homem, não é fabricado por aquele homem e aquela mulher, não é um produto que eles produzem, é sempre uma criatura de Deus. O homem e a mulher são apenas instrumentos de uma vontade criadora infinitamente maior, a vontade de Deus, que nos quer, e quer a nossa vida", explicou o bispo.

Ainda, segundo Dom Petrini, "a vida é um dom de inestimável valor, feito de amor e ternura infinita, porque a vida humana é relação com o Mistério Infinito, Eterno e Criador que a quer e a ama. Trata-se de um dom inegociável tanto no mercado quanto nos parlamentos".

Para o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a vida e a Família, Pe. Rafael Fornasier, a aprovação do projeto é necessária, uma vez que a lei defende a vida da criança após o nascimento, mas não a protege no útero materno. "O Estatuto do Nascituro é projeto de lei que quer reforçar os direitos garantidos na Constituição Federal, também para a criança ainda no ventre materno, de tal maneira que o aborto não seja legalizado no Brasil, por desconsiderar a criança no ventre materno", explicou o sacerdote.

O abaixo-assinado, para a aprovação do Estatuto do Nascituro deve ser encaminhado ao Congresso Nacional. "As assinaturas serão entregues ao possível relator do projeto de lei, como uma forma de demonstração de que há muita gente contrária ao aborto no Brasil, e quer uma defesa mais clara da criança no ventre materno e da mulher", concluiu Pe. Fornasier. (MJ/CNBB)




Texto proveniente da página 
do site da Rádio Vaticano 
http://pt.radiovaticana.va/news/2013/10/08/dia_do_nascituro_encerra_semana_nacional_da_vida/bra-735561

Cardeal Maradiaga: o Papa Francisco testemunha que a autoridade é um serviço de amor


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco quer uma Igreja que saia pelo mundo para anunciar com coragem a Boa Nova. Foi o que ressaltou o arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, Cardeal Andrés Rodríguez Maradiaga, na apresentação do livro "O Papa próximo", de autoria do Pe. Michele Giulio Masciarelli, publicado pela Tau Editora. A apresentação teve lugar esta segunda-feira na Sala Marconi da nossa emissora.

Caráter sinodal. Essa é a palavra-chave para compreender a reforma que o Papa Francisco quer dar ao governo da Igreja. O purpurado hondurenho, coordenador do "Conselho de cardeais" – que se reuniu dias atrás no Vaticano com o Papa –, ressaltou como Francisco concebe a autoridade.

A esse propósito, eis algumas considerações do Cardeal Maradiaga sobre a reforma do governo da Igreja.

"Para se ter autoridade não é necessário nenhum centralismo. A autoridade é um serviço de amor para fazer crescer. Desse modo, a autoridade do Santo Padre na Igreja não é a monarquia absoluta, um 'aqui mando eu'. É um autor: um autor que a cada dia escreve uma nova página deste livro da vida e vai acrescentando, página por página, uma Igreja que está viva."

Em seguida, o arcebispo de Tegucigalpa observou que o encontro de dias atrás foi somente o primeiro do "Conselho de cardeais", ao qual se seguirá outro em dezembro. Há muito ainda a ser feito, acrescentou, confirmando, todavia, o método de trabalho, querido pelo Papa em vista da reforma da Cúria:

"O método é uma sondagem o mais ampla possível, com todos os cardeais, bispos, sacerdotes e também leigos, em todos os lugares, para se ter o maior número possível de contribuições para uma nova reforma."

O Cardeal Maradiaga recordou a importância da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em maio de 2007 em Aparecida, SP, na qual o então Cardeal Bergoglio ressaltara a urgência de uma Igreja que não tivesse medo de sair de si mesma para vencer a tentação de uma cansada postura de autorreferência. Respondendo às perguntas dos jornalistas, o presidente da Caritas Internacional deteve-se, em seguida, sobre o tema da colegialidade nos anos do pós- Concílio:

"Talvez não se tenha tido a oportunidade de desenvolvê-la pelo fato de haver interesses em outros pontos, como, por exemplo, a reforma litúrgica... como também todo o aspecto da pastoral social.... De fato, havia muitas coisas. Mas agora se pensa que tenha chegado o momento." (RL)




Texto proveniente da página 
do site da Rádio Vaticano 
http://pt.radiovaticana.va/news/2013/10/08/cardeal_maradiaga:_o_papa_francisco_testemunha_que_a_autoridade_%C3%A9_um/bra-735560

Casais unidos superam dificuldades e constroem famílias sólidas


Segundo o bispo espanhol Antonio Algora, os casais que superam as dificuldades são os que estão verdadeiramente unidos, como "uma só carne".

Por Dom Antonio Algora

Há uma frase na Bíblia que resume o que é o casamento cristão: "O homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne".

Chama a atenção especialmente esse ser "uma só carne" com objetivo, centro ou ponto de partida e chegada da aventura entre duas pessoas: mulher e homem que se amam. Na medida em que isso é levado em consideração pelos dois como o objetivo mais importante do seu relacionamento, haverá mais possibilidades de alcançá-lo.

Quando esse "ser uma só carne" se dilui aos poucos, em pactos e consensos de convivência em que cada um busca sua própria realização, autoestima, direitos e inclusive bens econômicos e sociais, a crise matrimonial se instala, dentro ou fora do mesmo teto e aparência social.

Repito: observei atentamente as razões que costumam dar para explicar um divórcio e elas têm este elemento em comum: ou não se buscou desde o início ser "uma só carne", ou esta realidade se diluiu com o tempo, cada vez mais breve em muitos casos, com a afirmação de que o outro ou a própria pessoa tem de ser escrupulosamente fiel aos seus próprios princípios, formas de viver, sua família, seus amigos, seus direitos, sua realização...

No entanto, quando vemos um casal que está vivendo e crescendo segundo esse "ser uma só carne", contemplamos pessoas que não são, em absoluto, despersonalizadas ou carentes de liberdade; pelo contrário: adquirem e projetam em si mesmas e em seus filhos, familiares e amigos uma sensação de plenitude, de segurança e a capacidade de ser dom e presente generoso, que as torna, em conjunto ou separadas, pessoas criativas e fecundas, não somente para sua própria família, mas para a sociedade e para a própria Igreja.

Naturalmente, não estou falando de estados de perfeição nem de um mar de rosas, de algo extraordinário e excepcional; estou falando dessa maioria silenciosa que não coloca mais condições ao seu cônjuge a não ser a de que sejam uma só carne, em suas relações íntimas, com os filhos, com os pais e famílias de cada um deles; estes são os que não desistem e mantêm vivo o desejo de ser "com o outro".

Certamente, a fé e o sacramento do Matrimônio são os fundamentos desta realidade. Aquele "Deus não muda; a paciência tudo alcança; quem a Deus tem, nada lhe falta; só Deus basta", de Santa Teresa de Jesus, recorda a graça necessária para ter a certeza de que "nada te turbe, nada te espante, tudo passa", que leva ao propósito decidido de que, quando Deus deu sua Palavra na vida desse casal, Ele não pode falhar, e sabe dar a energia necessária para chegar a ser, repito, "uma só carne".

Estou falando de uma família que, apoiada no Matrimônio, está suportando o peso da crise moral, econômica e social da sociedade. Os filhos que têm o suporte de "uma só carne" crescem seguros no amor dos seus pais, bem como os irmãos, familiares, amigos e colegas.

Com certeza, que o homem não separe o que Deus uniu.
SIR

Casais unidos superam dificuldades e constroem famílias sólidas
Segundo o bispo espanhol Antonio Algora, os casais que superam as dificuldades são os que estão verdadeiramente unidos, como "uma só carne".

Por Dom Antonio Algora

Há uma frase na Bíblia que resume o que é o casamento cristão: "O homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne".

Chama a atenção especialmente esse ser "uma só carne" com objetivo, centro ou ponto de partida e chegada da aventura entre duas pessoas: mulher e homem que se amam. Na medida em que isso é levado em consideração pelos dois como o objetivo mais importante do seu relacionamento, haverá mais possibilidades de alcançá-lo.

Quando esse "ser uma só carne" se dilui aos poucos, em pactos e consensos de convivência em que cada um busca sua própria realização, autoestima, direitos e inclusive bens econômicos e sociais, a crise matrimonial se instala, dentro ou fora do mesmo teto e aparência social.

Repito: observei atentamente as razões que costumam dar para explicar um divórcio e elas têm este elemento em comum: ou não se buscou desde o início ser "uma só carne", ou esta realidade se diluiu com o tempo, cada vez mais breve em muitos casos, com a afirmação de que o outro ou a própria pessoa tem de ser escrupulosamente fiel aos seus próprios princípios, formas de viver, sua família, seus amigos, seus direitos, sua realização...

No entanto, quando vemos um casal que está vivendo e crescendo segundo esse "ser uma só carne", contemplamos pessoas que não são, em absoluto, despersonalizadas ou carentes de liberdade; pelo contrário: adquirem e projetam em si mesmas e em seus filhos, familiares e amigos uma sensação de plenitude, de segurança e a capacidade de ser dom e presente generoso, que as torna, em conjunto ou separadas, pessoas criativas e fecundas, não somente para sua própria família, mas para a sociedade e para a própria Igreja.

Naturalmente, não estou falando de estados de perfeição nem de um mar de rosas, de algo extraordinário e excepcional; estou falando dessa maioria silenciosa que não coloca mais condições ao seu cônjuge a não ser a de que sejam uma só carne, em suas relações íntimas, com os filhos, com os pais e famílias de cada um deles; estes são os que não desistem e mantêm vivo o desejo de ser "com o outro".

Certamente, a fé e o sacramento do Matrimônio são os fundamentos desta realidade. Aquele "Deus não muda; a paciência tudo alcança; quem a Deus tem, nada lhe falta; só Deus basta", de Santa Teresa de Jesus, recorda a graça necessária para ter a certeza de que "nada te turbe, nada te espante, tudo passa", que leva ao propósito decidido de que, quando Deus deu sua Palavra na vida desse casal, Ele não pode falhar, e sabe dar a energia necessária para chegar a ser, repito, "uma só carne".

Estou falando de uma família que, apoiada no Matrimônio, está suportando o peso da crise moral, econômica e social da sociedade. Os filhos que têm o suporte de "uma só carne" crescem seguros no amor dos seus pais, bem como os irmãos, familiares, amigos e colegas.

Com certeza, que o homem não separe o que Deus uniu.
SIR

A aposta do papa Francisco

Por Andrea Riccardi 


No distante Natal de 1943, em plena Guerra Mundial, De Lubac escrevia que o homem já havia mostrado que o mundo podia se organizar sem Deus. Desde então, mais de meio século de história confirmou abundantemente essa interpretação. Assim, o mundo e a vida se organizam sem Deus. De Lubac observava: "É verdade, porém, que, sem Deus, não é possível, no fim das contas, senão organizá-lo [o mundo] contra o homem. O humanismo exclusivo é um humanismo desumano".

O cardeal Bergoglio compartilha essa análise. Por isso, é preciso falar de Deus aos homens, para que, da sua vivência e do seu pensamento, renasça ou se reforce um humanismo "humano", não exclusivista, não fechado à experiência religiosa. Na introdução de um significativo livro, intitulado La Révolte de l’Esprit, Clément escrevia (estamos em 1979): "Em um momento em que as técnicas, sociológicas e psicológicas, gostariam de explicar tudo através deste mundo e curar tudo dentro deste mundo (exceto a morte), o Espírito nos lembra violentamente que ninguém é deste mundo, mas que, na comunhão das pessoas – da qual a Trindade é o exemplo, a fonte e o lugar –, o mundo pode finalmente respirar".

Esse é o desafio de um humanismo cristão que renasça a partir da vivência. O mundo muda quando homens e as mulheres renascem no Espírito, mesmo no silêncio e no escondimento. O conjunto de tantas existências vividas assim representa, para Clément, a "revolta do Espírito", que, "penetrando na história, a abre a uma insólita bênção". Esta não é uma estratégia ou um plano de ação, mas sim um humilde caminho de homens de fé que podem, contudo, mover continentes, mesmo que lhes pareça que estão apenas escavando alguns buracos no chão ou abrindo apenas alguns espaços nas consciências.

Um grande poeta muçulmano da Índia do século XX, muito amado no Paquistão, Muhammad Iqbal, escreve em uma poesia de 1936 intitulada O Destino: "Não, bem diferente é o sentimento de resignação ao Eterno! Portanto, tenha a audácia de crescer, ousa! O espaço não é tão estreito! / Ó Homem de Deus! O Reino dos céus não é estreito!".

Em um mundo difícil não é estreito o espaço para os crentes, contanto que eles tenham a humildade de habitá-lo pacientemente e não estejam em busca de atalhos inúteis e efêmeros. O Papa Francisco olha com simpatia para este mundo e para os seus habitantes, mas lembra incessantemente que nem tudo se resolve e se encerra naquilo que se vê e se toca; que nem tudo gira em torno do ego, que se tornou tão forte e tão inchado, embora doloroso.

Em um tempo iluminado pelos holofotes da informação, não se percebe a dimensão espiritual para além da realidade, mas que é parte integrante da própria realidade. Há correntes profundas na história, as do espírito e do amor que, no fim, sacodem a realidade.

O Papa Francisco disse: "A nossa fé é tão revolucionária que isso a torna perpetuamente suscetível de ser posta à prova pelo inimigo". No Brasil, o papa falou de modo exigente aos jovens: "Eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade". Chama a atenção o uso não retórico de "revolução" ou de "revolucionários", agora quase desaparecido do vocabulário político. O convite do papa é viver o cristianismo como uma revolução e ser protagonistas da mudança.

Assim ele se expressou falando aos jovens de todas as nações, reunidos no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude: "Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram pelas estradas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. (…) Por favor, não deixem para outros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles que tem o futuro! (…) Através de vocês, entra o futuro no mundo. (…) Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor".

Clément sublinha o caráter revolucionário da fé cristã. Mas observa que, "se o cristão não é revolucionário no sentido da revolução mítica, ele sabe que o cristianismo encerra um poder revolucionário, o de Cristo vencedor da morte, o poder que pode transformar a estrutura da pessoa".

Isso muda em profundidade. Porque, "se essa transformação opera simultaneamente em muitos, em comunhão, o mundo também começa a mudar e é fundada uma civilização". A fé e a vida de muitos criam uma nova realidade. Jorge Bergoglio quer ser um cristão acima de tudo e convida os outros a sê-lo com ele. Ao homem e à mulher de hoje, ele pede que se reconheçam pecadores. A eles, com o amado Gregório Magno, ele diz: "Reconhece o teu Médico!". Ele diz isso à sociedade. Deus é o verdadeiro médico da condição humana.

Bergoglio indica uma via alternativa ao egocentrismo. Ele mostra o caminho da felicidade do dar aos outros, daqueles que abrem o coração a Deus. Essa é a verdadeira grandeza de muitos, mesmo pequenos, homens e mulheres, da humanidade. Com João Crisóstomo, Bergoglio afirma: "Se tu não fazes o bem dos outros, não farás nada grande". A grandeza é fazer o bem aos outros. A conversão a Deus gera uma revolta do Espírito, um percurso de humanismo que, embora escondido, tem um significativo valor para a humanidade justamente pelo amor que semeia.

É um percurso que requer muita paciência e muita esperança. Vai ao encontro de tempos escuros e de dias luminosos. Mas é realmente criador de uma humanidade nova, por ser consciente de que nem tudo se reduz à tragédia de um ou à comédia do outro. As pessoas recomeçam a caminhar com Deus. Encontram uma grande visão que não se esgota nem na própria vida ou na própria geração. É a antiga história do Êxodo de Israel, que se tornou a transumância de pessoas crentes, que irradiam amor, transformam, humanizam, libertam.

A terra nunca se tornará um paraíso. Mas se abrem as portas das "prisões" das existências e das mentes. O mundo pode se tornar mais humano. A proposta do Papa Bergoglio, vivida na comunhão de muitos crentes, pode se tornar uma verdadeira revolução, uma revolta no Espírito. É um grande e humilde, paciente trabalho. Para captar o seu porte, é preciso aprender a ler as correntes profundas da história e não se limitar às pesquisas e à superfície.

O monge Silvano do Monte Athos afirmava nos anos 1930: "A unidade ontológica de toda a humanidade é tal que cada pessoa que supera em si mesma o mal, inflige uma grande derrota também ao mal cósmico, razão pela qual as consequências dessa vitória repercutem de modo benéfico sobre os destinos do mundo inteiro. Até mesmo um só santo é, para a humanidade inteira, um evento extremamente precioso".

Essa é a aposta do cristão, a aposta do Papa Francisco: o valor universal de um homem que se converte e vence o mal. O cristianismo antigo convertia os soberanos para poder batizar os povos. Foi uma grande história, mas também uma grande ilusão. Hoje, a santidade de um homem, a conversão de uma mulher, a fé de tantos em uma comunhão sem fronteiras constituem uma realidade que percorre profundamente a história e sacode a sua superfície. E, além disso, a história é cheia de surpresas.
Avvenire, 03-10-2013.

Para ouvir a voz de Deus


Em mensagem, Francisco afirma que é preciso ter o coração aberto para estar próximo ao Senhor.

Papa fala sobre a história de Jonas: 'ele não desejava ser incomodado, mas no momento em que ouviu a palavra de Deus começou a fugir. E fugia de Deus'.
Para ouvir a voz de Deus na própria vida é preciso ter um coração aberto às surpresas. Caso contrário, o risco é de "fugir de Deus", encontrando às vezes até uma boa desculpa. E pode acontecer que exatamente os cristãos sintam a tentação de fugir de Deus, enquanto as pessoas "distantes" consigam ouvi-lo, afirmou o papa Francisco, durante a celebração da missa na manhã de segunda-feira (7), em Santa Marta, sugerindo um caminho seguro: deixemos que Deus escreva a nossa história.

O bispo de Roma, na homilia, tomou como paradigma a história de Jonas, comentando a primeira leitura (1, 1-2, 1.11): ele "tinha toda a sua vida bem organizada: servia ao Senhor, talvez rezasse muito. Era um profeta bom e praticava o bem". Dado que "não desejava ser incomodado no método de vida que tinha escolhido, no momento em que ouviu a palavra de Deus começou a fugir. E fugia de Deus". Assim quando "o Senhor o enviou a Nínive, embarca-se para a Espanha. Fugia do Senhor".

No final, explicou o pontífice, Jonas já tinha escrito a própria história: “Quero ser assim, assim, assim, segundo os mandamentos”. Não queria ser incomodado. Eis a razão da sua “fuga de Deus”. Uma fuga, advertiu o papa, que hoje nos pode ver protagonistas.

“Pode-se fugir de Deus – afirmou – sendo cristão e católico”, até mesmo “sendo sacerdote, bispo ou Papa. Todos podemos fugir de Deus. É uma tentação diária: não ouvir Deus, não escutar a sua voz, não ouvir no coração a sua proposta, o seu convite”.

E se "se pode fugir diretamente”, continuou, “há outras maneiras de fugir de Deus um pouco mais educadas, mais sofisticadas”. A referência é ao trecho evangélico de Lucas (10, 25-37) que narra de “um homem, moribundo, deitado no chão. Por acaso um sacerdote percorria aquela mesma estrada. Um digno sacerdote, vestido com o talar: muito bem. Viu e pensou: chegarei tarde à missa, e foi embora. Não ouviu a voz de Deus ali”. Trata-se, explicou o papa, de "uma maneira diferente de fugir: não como Jonas que fugia claramente. Depois passou um levita, viu e talvez tenha pensado: mas se eu o ajudo ou se me aproximo dele, talvez esteja morto, e amanhã tenho que ir ao juiz e testemunhar. E foi embora. Fugia da voz de Deus este homem".

Ao contrário, é "curioso" que quem "teve a capacidade de entender a voz de Deus" tenha sido "só” um homem “que habitualmente fugia de Deus, um pecador”. De fato, frisou o pontífice, “quem ouviu a voz de Deus e se aproximou” do homem necessitado de ajuda “foi um samaritano, um pecador” distante de Deus. Um homem, realçou, que “não estava acostumado às práticas religiosas, à vida moral”. Estava teologicamente no erro "porque os samaritanos acreditavam que Deus devia ser adorado noutro lugar", não em Jerusalém.

Mas precisamente esta pessoa “compreendeu que Deus o chamava; e não fugiu”. Sim “aproximou-se” do homem abandonado, “enfaixou-lhe as feridas derramando sobre elas óleo e vinho. Depois, carregou-o no seu cavalo. Mas quanto tempo perdeu: levou-o a um albergue e cuidou dele. Perdeu uma noite!”. Entretanto, frisou o bispo de Roma, “o sacerdote chegou em tempo para a santa missa e todos o fiéis ficaram contentes. O levita teve um dia seguinte tranquilo, segundo o que ele pensava fazer”, porque não teve que ir ao juiz.

“E por que – perguntou-se o papa – Jonas fugiu de Deus? Por que o sacerdote fugiu de Deus? Por que o levita fugiu de Deus?”. Porque – respondeu – “tinham o coração fechado. Quando temos o coração fechado não podemos ouvir a voz de Deus. Ao contrário, o samaritano que estava em viagem, viu aquele homem ferido” e “teve piedade dele. Tinha o coração aberto, era humano”. E a sua humanidade permitiu-lhe que se aproximasse dele.

“Jonas – explicou – tinha um projeto para a sua vida: queria escrever a sua história segundo Deus. Mas ele escreveu-a, o sacerdote e o levita também. Um desígnio de trabalho. O pecador, no entanto “deixou que Deus escrevesse a sua vida. Mudou tudo naquela noite”, porque o Senhor o pôs diante “daquele pobre homem, ferido, deitado no chão”.

Pergunto-me – prosseguiu o pontífice – e pergunto também a vós: “deixamos que Deus escreva a nossa vida ou queremos escrevê-la nós? E isto nos fala da docilidade: somos dóceis à Palavra de Deus? Sim, eu quero ser dócil. Mas temos capacidade de a escutar, de a ouvir? Temos capacidade para encontrar a Palavra de Deus na história de todos os dias ou as nossas ideias são as que nos regem e não deixamos que a surpresa do Senhor nos fale?”.

“Estou certo de que todos nós hoje – concluiu o papa Francisco – neste momento, dizemos: mas este Jonas mereceu isto e aqueles dois, o sacerdote e o levita, são egoístas. É verdade: o samaritano, o pecador, não fugiu de Deus!”. E formulou votos para que “o Senhor nos conceda que ouçamos a sua voz que nos diz: Vai e também tu faz assim”.
L'Osservatore Romano, 08-10-2013.