quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Evangelho do dia

Ano C - 02 de janeiro de 2014

João 1,19-28

Aleluia, aleluia, aleluia.
Depois de ter falado, no passado, aos nossos pais, pelos profetas, muitas vezes, em nossos dias Deus falou-nos por seu Filho (Hb 1,1s).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
1 19 Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: “Quem és tu?”
20 Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: “Eu não sou o Cristo”.
21 “Pois, então, quem és?”, perguntaram-lhe eles. “És tu Elias?” Disse ele: “Não o sou. És tu o profeta?” Ele respondeu: “Não”.
22 Perguntaram-lhe de novo: “Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?”
23 Ele respondeu: “Eu sou a voz que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como o disse o profeta Isaías”.
24 Alguns dos emissários eram fariseus.
25 Continuaram a perguntar-lhe: “Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?”
26 João respondeu: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.
27 Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado”.
28 Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
Palavra da Salvação. 

Comentário do Evangelho
UMA DEFINIÇÃO DE IDENTIDADEJoão Batista teve sua parcela de colaboração no projeto de Deus, com uma tarefa aparentemente simples: anunciar a chegada do Messias e predispor o povo para acolhê-lo. Contudo, defrontou-se com sérias dificuldades. A maior delas tocava sua identidade de Precursor. Sua figura ascética levava as pessoas a tomá-lo por Messias. Ele, porém, se esforçava para explicar não ser o Cristo, nem pretender sê-lo, reconhecendo-se apenas como uma voz clamando para que as pessoas se preparassem para a vinda do Messias.
João definia sua identidade confrontando-se com o Messias, que ele nem conhecia. Tinha consciência da superioridade daquele que viria depois dele. Por isso, na sua humildade, reconhecia não ser digno nem mesmo de curvar-se para desatar-lhe as correias da sandálias. Essa consciência mantinha-o livre da tentação de usurpar uma posição que não lhe pertencia.
O realismo de João não o impedia de realizar seu ministério com simplicidade. Ele não era um concorrente do Messias. Não agia por iniciativa própria; apenas fazia o que lhe fora pedido por Deus. Seu compromisso com ele impedia-o de extrapolar os limites do seu ministério. Sua figura só tinha importância por causa do Messias que estava para vir.
Foi a humildade de João que fez dele um grande homem, pois a verdadeira grandeza consiste em reconhecer a própria indignidade diante do Pai e colocar-se a serviço dele.

Oração
Senhor Jesus, ensina-me a servir ao Pai e a ti, com simplicidade de coração, reconhecendo minha pequenez.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês) 
Leitura
1 João 2,22-28
Leitura da primeira carta de são João.
2 22 Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho.
23 Todo aquele que nega o Filho não tem o Pai. Todo aquele que proclama o Filho tem também o Pai.
24 Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se permanecer em vós o que ouvistes desde o princípio, permanecereis também vós no Filho e no Pai.
25 Eis a promessa que ele nos fez: a vida eterna.
26 Era isto o que eu vos tinha a escrever a respeito dos que vos seduzem.
27 Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou.
28 E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando aparecer, tenhamos confiança e não sejamos confundidos por ele, na sua vinda.
Palavra do Senhor.
Salmo 97/98
Os confins do universo contemplaram
A salvação do nosso Deus. 

Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
Porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo
Alcançaram-lhe a vitória.

O Senhor fez conhecer a salvação
E, às nações, sua justiça;
Recordou o seu amor sempre fiel
Pela casa de Israel.

Os confins do universo contemplaram
A salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,
Alegrai-vos e exultai! 
Oração
Ó Deus, que iluminastes a vossa Igreja com o exemplo e a doutrina de são Basílio e são Gregório Nazianzeno, fazei-nos buscar humildemente a vossa verdade e segui-la com amor em nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Papa Francisco, artífice da paz




Que em 2014, a partir do estímulo e da grandeza do seu principal artífice, nosso querido Papa Francisco, a paz seja constante no planeta. (Foto: Arquivo)
Por Padre Geovane Saraiva*
A aparição do argentino Jorge Mario Bergoglio, na sacada da Praça de São Pedro, aos 13 de março de 2013, foi uma grande e agradável surpresa. O arcebispo de Buenos Aires foi eleito papa e escolheu o nome de Francisco, o santo da paz e dos pobres, para governar os destinos da Igreja Católica, carregando consigo marcas de crises profundas.

Permita-me, querido leitor, falar de paz interior e exterior, tão bem compreendida por Francisco de Assis, redescoberta no Papa Francisco, a qual foi por ele encarnada, quando humildemente se apresentou ao mundo. Foi a mesma graça salvadora de Deus que se manifestou a todos os homens no natal (cf. Tt 2, 11), na imanência da encarnação que entrou no seu interior, encantando-o e fascinando-o, a ponto de ter o que ofertá-la a humanidade, como um dom indizível e inexprimível.

Numa época conturbada, assemelhando-se a vivida por Francisco de Assis, eis que surge o fermento de renovação dentro da Igreja; fermento novo, no mundo da economia, da política e do social onde o dinheiro e o lucro não devem se impor como o eixo e a mola mestra, naquilo de mais nobre e elevado em detrimento do valor da vida humana, imagem e semelhança de Deus.

É por isso mesmo que na sua mensagem para o dia Mundial da Paz, 1º de janeiro deste ano de 2014, Francisco ajuda-nos, propondo uma reflexão, no sentido de se redescobrir a fraternidade na economia como condição sine qua non para se atingir o grande sonho do Pai, manifestado no Menino que nos foi dado, no qual nos deparamos como o mistério da vida em plenitude, tornando-nos filhos de Deus e irmãos uns dos outros.

O papa Francisco diz com todas as letras em sua mensagem de paz, que a corrupção e o crime organizado são antagônicos a fraternidade, que é o fundamento e o caminho da paz. Como é belíssimo e coerente o testemunho humanitário de José Pepe Mujica, na Revista espanhola “Econimist”, indicando a verdadeira direção da paz, vindo do presidente do Uruguai, quando indagado sobre a possível indicação ao Prêmio Nobel da Paz, na seguinte assertiva: "Seria uma honra para os humildes e empobrecidos do nosso país. Temos muitas mulheres que vivem sozinhas com quatro ou cinco filhos, porque os maridos as abandonaram e lutamos para que elas possam ter uma casa digna (...) e penso que só assim esse Prêmio Nobel da Paz teria sentido”.

Francisco de Assis experimentou à Igreja, no tempo do Papa Inocêncio III. Tempo de muito poder e de muito fausto. Faziam-se sentir diversos movimentos de renovação a partir da realidade, fundamentalmente, marcada pela pobreza. Infelizmente, tais movimentos queriam conseguir o seu objetivo colocando-se à margem daquele que ao encarnar, revelou o rosto terníssimo do Pai, na condição de Supremo Pastor e por Ele enviado. É exatamente no contexto semelhante a esse que Deus nos mandou o Papa Francisco, que em sua plenitude, se colocou como servo dos servos de Deus, num grande desejo de paz ao dialogar com as realidades, seja a pessoa humana, seja a realidade do planeta no seu conjunto.

Ao iniciar o ano de 2014, celebramos o dia mundial da paz, tendo no nosso interior, o Cântico das Criaturas, de Francisco de Assis que se extasiava diante de Deus, o qual com o coração cheio de ternura costumava chamar a Deus de Bom Senhor, Altíssimo, Sumo Bem, Único Bem e todo o Bem. E o que sentia tornava-se oração. Convém ler e meditar as orações que brotaram espontâneas, desta alma toda repleta da mais excelsa misericórdia do Senhor, da transcendência de Deus, tão assimilada nos gestos e nas atitudes do nosso querido Francisco, Vigário de Cristo na terra.

Francisco de Assis viveu numa época marcada por ambiguidades. Hoje, mais do que nunca, é necessário que a fraternidade seja redescoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade.

Precisamos ter diante dos nossos olhos e no nosso coração a paz duradoura, que tem origem no nosso Deus, grande, imenso e divino em sua ternura. Na obediência da fé e da bondade de um Deus pobre, dizendo-nos que só quem tem o coração despojado, assemelhando-se a Ele, totalmente aberto ao seu amor misericordioso, é capaz de compreendê-lo e levar uma vida a partir desta realidade misteriosa.

Com a chegada do novo Sucessor de Pedro, o planeta foi alegremente contemplado, porque através dele os cristãos passaram a se sentir estimulados e fomentados a um grande compromisso de dialogar e cuidar da criação, nas suas mais diversas realidades. É o mundo que precisa carinhosamente de práticas ecológicas e ambientais, nas quais a humanidade possa se tornar cada vez mais viva e coerente com aquilo que a professa e acredita.

Um belo e maravilhoso exemplo veio da gaúcha Ana Paula Maciel, integrante do Greenpeace Internacional, ao desembarcar no dia 28 de dezembro de 2013, após 100 dias de prisão na Rússia, ao dizer: “Eu não poderia falar em final feliz, enquanto o Ártico continuar derretendo, a Amazônia sendo reduzida e os oceanos sendo envenenados. Eu tomei uma atitude e assumi os riscos por enxergar a urgência de mudar os rumos da humanidade. Há muito trabalho pela frente e precisamos de toda a ajuda possível dos que se importam e acreditam em nosso trabalho”.

Saibamos compreender que é imprescindível a luta pela paz do mundo, na grandeza divina, envolvida em sua misteriosa pequenez, revelada “naquele que era rico e se fez pobre para nos enriquecer na sua pobreza” (2Cr 8, 9).

Que em 2014, a partir do estímulo e da grandeza do seu principal artífice, nosso querido Papa Francisco, a paz seja constante no planeta, contando com o diálogo e a generosa colaboração de todos os credos e religiões. Assim seja!
* Geovane Saraiva é padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso. É autor dos livros “O peregrino da Paz”, “Nascido Para as Coisas Maiores”, “A Ternura de um Pastor”, “A Esperança Tem Nome”, "Dom Helder: sonhos e utopias" e "25 Anos sobre Águas Sagradas”.

Vamos aos pobres


Por Dom Orani Tempesta*
O papa Francisco, em sua Exortação apostólica “Evangelii Gaudium” quando inicia falando da inclusão social dos pobres nos diz que “deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres e marginalizados, a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade” (nº 186). E continua: “Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus a serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo.” (nº 187) Quando iniciamos o ano da caridade em nossa Arquidiocese que se abrirá com a trezena de “São Sebastião, discípulo do amor e da caridade” refletindo sobre o texto de lCor 13,3: “Se não tiver caridade, de nada adianta” somos chamados a refletir sobre episódios e pessoas que marcaram com suas vidas o trabalho com os pobres. Em 2013 comemoramos o bicentenário do nascimento de Antônio Frederico Ozanam, o Beato Apóstolo da caridade, um dos intercessores da JMJ Rio 2013.

Interessante é como ele descreve, sete meses antes de sua morte, as ideias que, diante de desafios de jovens ateus e críticos da Igreja, impulsionaram a fundação das Conferências de São Vicente de Paulo:

"Fala-vos um daqueles oito estudantes que há vinte anos se reuniram sob a inspiração de São Vicente de Paulo, na capital da França. Sentíamos a necessidade de perseverarmos na fé em meio aos assédios que vinham de diversas teorias de falsos profetas. E dissemos: Trabalhemos; façamos algo que mostre a fortaleza de nossa fé. Porém, o que podíamos fazer para ser católicos de verdade senão de nos propormos a fazer o que mais agrada a Deus? Socorramos, pois, a nosso próximo como fazia Jesus Cristo. Para que Deus abençoe nosso apostolado nos falta uma coisa: obras de caridade. A benção dos Pobres é a benção de Deus”.

Então, há mais de 180 anos, aos 20 anos de idade esse jovem universitário fundou a Sociedade de São Vicente de Paulo – em Paris (França), com a ajuda de um pequeno grupo de jovens, que comungavam o mesmo sonho de Frederico Ozanam: “Construir no mundo, uma grande rede de caridade”, tendo como espiritualidade e modelo de amor e serviço aos pobres, o grande pai da caridade, São Vicente de Paulo. E, ainda, sob a proteção da querida Virgem Maria, que para os vicentinos Ela é o modelo da Mãe Igreja, que vai ao encontro dos seus filhos para servir, missionar e santificar, a exemplo da caridosa visita que Ela fez a prima Isabel. Aqui no Brasil a primeira conferência vicentina foi fundada no Rio de Janeiro, sob o patrocínio de São José, em 4 de agosto de 1872, portanto há 141 anos.

O papa Francisco em sua Exortação Apostólica nos recorda que “no coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo “Se fez pobre” (nº 197)”. E ele confessa uma dor: “desejo afirmar, com mágoa, que a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual” (nº 200). Ele recorda que “o que Jesus nos ensina é primeiro encontrar-nos, e no encontro, ajudar. Precisamos saber encontrar-nos. Precisamos edificar, criar, construir uma cultura do encontro”. É famosa pergunta a que o Papa se refere quando pergunta às pessoas se dão esmola: “quando você dá esmola, toca a mão ou joga-lhe a moeda?” “E se não o tocou, não se encontrou com ele”.

Portanto não se trata apenas de uma distribuição de alimentos, mas de compromisso com o outro em todas as dimensões. Para isso supõe uma espiritualidade. Nesse sentido, na Igreja, temos muitos grupos que assim atuam. Hoje refletimos sobre a inspiração de Ozanam.

Frederico Ozanam, nascido no seio de uma família santa, devotada de grande amor a Deus, manifestado no serviço aos pobres, ele foi dotado de muitas virtudes: filho amoroso e obediente aos pais, temente a Deus, fiel aos ensinamentos da Igreja, estudante exemplar, esposo e pai dedicado, professor e advogado esmerado, espírito de liderança refinado, leigo engajado, solidário e fraterno com todos, especialmente os mais pobres. “A ordem da sociedade repousa em duas virtudes: justiça e caridade”.

Firme nesta verdade Frederico Ozanam dedicou de corpo e alma durante 20 anos (1833-1853), em estruturar, solidificar e expandir a Sociedade de São Vicente de Paulo sob as bênçãos da Igreja concedidas pelo Papa Pio IX. Como que boa semente lançada em terra fértil, o sonho de Ozanam tem produzidos abundantes frutos em várias partes do mundo. Suas fileiras são engrossadas por: crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos de todas as classes sociais, que unidos e fortalecidos pelo vínculo da caridade, formam no mundo uma grande família.

Nenhuma obra de caridade é estranha a Sociedade de São Vicente de Paulo. Algumas delas como: hospitais, creches, instituições de longa permanência para idosos, dispensários de alimentos e vestuários, centros de formação profissional e capacitação religiosa, etc...

Lembra a mística dos vicentinos: “a grande missão é a VISITA DOMICILIAR (semanal) aos assistidos da Conferência”. Neste tempo de tantas questões de comunicação virtual, como nos recorda o Santo Padre, é necessário o trabalho presencial. “É necessário compartilhar os bens que recebemos anunciar o Cristo nossa esperança verdadeira, ter o contato pessoal com os pobres e mais do que partilhar os bens materiais é o oferecimento do dom de nós mesmos, numa relação caridosa e fraterna, avivados pelo santo pensamento de São Vicente de Paulo: “Os pobres são nossos mestres e senhores”. Onde existe trabalho vicentino bem estruturado é uma força viva para o trabalho missionário e social da Igreja.

Todos nós sabemos que o ano de 2014 será o Ano da Caridade dentro do âmbito de nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro. Serão muitas atitudes para a articulação maior desse trabalho em nossa igreja. São muitas atividades e muitos grupos. As conferências vicentinas são convidadas a entrar nessa comunhão trazendo sua bela experiência de uma espiritualidade e caminharem “sentindo como Igreja” nesse ano especial. Como uma das expressões da caridade da Igreja, o trabalho apostólico dos vicentinos, em número expressivo presente em nossa Arquidiocese, acrescenta a essa dimensão da evangelização própria do próprio carisma. Nas visitas domiciliares semanais dos vicentinos quero contar com o empenho pessoal de todos os vicentinos no trabalho evangelizador e na vivência da caridade fraterna.

Dessa forma iremos, com todos os demais grupos, responder ao chamado do Papa Francisco em sua Exortação Apostólica: “ninguém podem sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social” e ainda: “Temo que também estas palavras sejam objeto apenas de alguns comentários, sem verdadeira incidência prática”. (nº 201)

Frederico Ozanam terminou sua missão bem cedo. Faleceu em 08/09/1853 na França. Mas, o seu sonho e sua obra continuam firme ao longo destes 180 anos. É o movimento com mais tempo de existência navida da nossa Igreja, aberto à todos os leigos de boa vontade que com coração e generoso atendam o chamado de Deus, para amá-Lo e servi-Lo napessoa dos pobres e dos injustiçados, que são tantos e sempre muito próximos de nós.

A Família Vicentina no mundo todo viveu a grande alegria de ver a Beatificação de Antônio Frederico Ozanam, ocorrida na França, na Catedral de Notre Dame, pelo Beato João Paulo II, em 22 de agosto de 1997; quando acontecia lá a grande Jornada Mundial da Juventude naquele ano, e Ozanam foi apresentado aos jovens como modelo do “Jovem missionário e servidor dos Pobres”. Também o escolhemos com um dos intercessores da nossa santa e abençoada JMJRIO 2013. Portanto, um dos frutos do maior evento do ano de 2013 deve ser um trabalho articulado inspirado nessa espiritualidade que tanto tem sido aprofundada pelo Papa Francisco.

Suplicamos a Deus, por intercessão do Beato Ozanam e de todos as Santas e Santos Padroeiros de todas a Unidades Vicentinas espalhadas no mundo, confiando também a sua poderosa intercessão o nosso ano da caridade arquidiocesano, que abençoe e santifique a todos que a elas estão ligados, para que neste ano da caridade arquidiocesano, sonho de Ozanam em construir “uma grande rede caridade no mundo” se concretize no dia a dia da nossa vida e que o tamanho do nosso amor a Deus seja medido pelo nosso amor ao próximo, de modo especial os mais pobres, por que a vida é uma partilha de bens e dons.
CNBB, 30-12-2013.
*Dom Orani João Tempesta é arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).

Ano Novo e bons propósitos


A passagem do ano costuma significar, para muitos de nós, época de bons propósitos. Damos um balanço no ano que findou e, frente ao que se inicia, prometemos a nós mesmos ao menos não repetir os erros cometidos.

Tais propósitos variam muito. Para uns, ficar menos dependentes do celular e da internet e dar um pouco mais de atenção aos familiares. Para outros, evitar a obesidade e o risco de diabetes, fazer exercícios físicos e reduzir a comilança engordativa.

O fato é que cada um de nós sabe exatamente onde dói o calo. Resta ter força de vontade para pisar mais leve no chão da vida e evitar tropeços.

Mudar de ano e mudar de vida é o que muitos de nós gostariam. O que favorece a distância, por vezes enorme, entre os nossos propósitos e a nossa prática? Por que nem sempre somos coerentes com os ideais que abraçamos?

Aprendi com os mestres da mística que, ao fazer propósitos, temos que primeiro nos perguntar: procedo para agradar a mim mesmo ou preferencialmente aos olhos alheios?

Muitas vezes somos movidos a agir contrariando nossa própria vontade, por colocarmos a nossa autoestima na opinião alheia e não na felicidade do nosso coração. É como a mulher que usa salto agulha, embora suportando a dor nos pés e o desconforto da coluna, além do risco de um tombo. Porém, assim ela se considera mais elegante e sedutora aos olhos alheios.

“Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”, disse Jesus (Mateus 6, 21). Se o nosso coração se deixa imantar pela vaidade, pela ambição, pela inveja, é natural que adotemos procedimentos pautados por essa escala de “valores”.

Em uma sociedade tão consumista e competitiva como a nossa, não é fácil sentir-se bem consigo mesmo. A cultura neoliberal impregna o nosso inconsciente de motivações que reduzem o valor que damos a nós mesmos.

O tempo todo somos bombardeados pela publicidade que alardeia não ser feliz quem não possui tal carro, não mora em tal bairro, não veste tal grife, não faz tal viagem...

Vejam como nas peças publicitárias todos são felizes e saudáveis! Vejam como os ricos e famosos, que têm acesso a todos esses produtos de luxo, são esbeltos e alegres! Como canta Chico Buarque em “Ciranda da bailarina”: Procurando bem ¤ Todo mundo tem pereba ¤ Marca de bexiga ou vacina ¤ E tem piriri, tem lombriga, tem ameba ¤ Só a bailarina que não tem.

Assim, dançamos conforme a música do consumismo, na esperança de que aquilo que é tido como valor – o carro de luxo, por exemplo – impregne de valor também quem o possui. Sem a posse de produtos de grife e que, supostamente, elevam o nosso status, nos sentimos des-valorizados.

Afinal, vivemos em uma sociedade capitalista na qual ninguém tem valor pelo simples fato de ser uma pessoa.  Vejam os mendigos e moradores de rua. Quem lhes dá valor?

Para a idolatria do mercado o que possui valor é o produto – o fetiche denunciado por Marx. A pessoa só tem valor se ela se apresenta revestida de produtos valorizados pelo mercado. Assim, o sujeito se faz objeto e o objeto, sujeito.

Eis a inversão total que favorece a depressão, o suicídio e a dependência química. Nesse reino do deus mercado, no qual poucos são os escolhidos e muitos os excluídos, a felicidade é um bem escasso e difícil de ser alcançado, até pelo fato de ser não mercantilizável.

Quem no mercado oferece o que mais buscamos, a felicidade? O mercado tenta nos iludir sob a promessa de que a felicidade é o resultado da soma de prazeres.

Quem é feliz sabe muito bem que a felicidade é um estado de espírito, uma sabedoria de vida, uma leveza de coração, uma questão de conteúdo e não de forma, que plenifica, eleva o nosso bem-estar espiritual e faz mergulhar no inefável oceano da amorosidade.

Para alcançá-la é preciso nascer de novo, fazer-se novo no Ano-Novo, e ousar reduzir a distância entre os bons propósitos e a prática cotidiana viciada por fatores que nos afastam dela.

Frei Betto é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de "Batismo de Sangue", e "A Mosca Azul", entre outros.