sexta-feira, 9 de maio de 2014

Liturgia Diária

Dia 9 de Maio - Sexta-feira

III SEMANA DA PÁSCOA
(Branco – Ofício do Dia)

Antífona da entrada: O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra, aleluia! (Ap. 5,12)
Oração do dia
Ó Deus todo-poderoso, concedei que, conhecendo a ressurreição do Senhor e a graça que ela nos trouxe, ressuscitemos para uma vida nova pelo amor do vosso Espírito. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Atos 9,1-20)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 9 1 Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes,
2 e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que achasse seguindo essa doutrina.
3 Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu.
4 Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
5 Saulo disse: "Quem és, Senhor?" Respondeu ele: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão".
6 Então, trêmulo e atônito, disse ele: "Senhor, que queres que eu faça?" Respondeu-lhe o Senhor:] "Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer".
7 Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém.
8 Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco,
9 onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber.
10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: "Ananias! Eis-me aqui, Senhor", respondeu ele.
11 O Senhor lhe ordenou: "Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; ele está orando".
12 (Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.)
13 Ananias respondeu: "Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém.
14 E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome".
15 Mas o Senhor lhe disse: "Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel.
16 Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome".
17 Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: "Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo".
18 No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado.
19 Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco.
20 Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 116/117
Ide por todo o mundo,
a todos pregai o Evangelho
.

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes,
povos todos, festejai-o!

Pois comprovado é seu amor para conosco,
para sempre ele é fiel!
Evangelho (João 6,52-59)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue em mim permanece e eu vou ficar nele (Jo 6,56).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, os judeus discutiam entre si, dizendo: 6 52 "Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?"
53 Então Jesus lhes disse: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente".
59 Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
EXPLICANDO UM MAL-ENTENDIDO
Os adversários relutavam em entender as palavras de Jesus. Em geral, tomavam-nas num sentido oposto à intenção do Mestre. Quando ele falou em dar sua carne em alimento para a vida do mundo, seus adversários sentiram um certo mal-estar, imaginando a cena macabra da devoração de um ser humano. Entretanto, Jesus não falava de antropofagia, e sim, da Eucaristia. Referia-se à relação a ser estabelecida entre ele e a comunidade dos discípulos, por meio do pão e do vinho eucarísticos.
Pão e vinho seriam constituídos como sacramento da presença do Senhor. Ao redor de uma mesa é que a comunidade de fé faria a experiência de comunhão profunda com o Ressuscitado. Ao comer o pão e beber o vinho, indicariam um tipo novo de relação estabelecida entre o Senhor e a comunidade. Os discípulos assimilariam plenamente o corpo de Jesus, e se deixariam transformar por ele. Seria a maneira de permanecerem nele, e permitir que o Mestre permanecesse em cada um deles. Resultado: toda a vida do discípulo seria um viver por Cristo, com Cristo, em Cristo, de modo a garantir a vida eterna, que só ele pode oferecer, pois lhe fora concedida pelo Pai.
A má-fé dos inimigos impediu-lhes de compreender o sentido profundo desse ensinamento de Jesus. Com isto, indicavam não estar em comunhão com ele, nem interessar-se em partilhar a vida que Jesus lhes oferecia.

Oração
Espírito de boa-fé arranca do meu coração toda dúvida a respeito das palavras de Jesus, e faze-me compreender o seu significado profundo.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Dignai-vos, ó Deus, santificar estes dons e, aceitando este sacrifício espiritual, fazei de nós mesmos uma oferenda eterna para vós. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Aquele que foi crucificado ressurgiu dos mortos e nos redimiu, aleluia!
Depois da comunhão

Tendo participado do sacramento do Corpo e do Sangue do vosso Filho, nós vos suplicamos, ó Deus, que nos faça crescer em caridade a eucaristia que ele nos mandou realizar em sua memória. Por Cristo, nosso Senhor.

Evangelho do Dia

Ano A - 09 de maio de 2014

João 6,52-59

Aleluia, aleluia, aleluia.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue em mim permanece e eu vou ficar nele (Jo 6,56).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, os judeus discutiam entre si, dizendo: 6 52 "Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?"
53 Então Jesus lhes disse: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente".
59 Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
EXPLICANDO UM MAL-ENTENDIDO
Os adversários relutavam em entender as palavras de Jesus. Em geral, tomavam-nas num sentido oposto à intenção do Mestre. Quando ele falou em dar sua carne em alimento para a vida do mundo, seus adversários sentiram um certo mal-estar, imaginando a cena macabra da devoração de um ser humano. Entretanto, Jesus não falava de antropofagia, e sim, da Eucaristia. Referia-se à relação a ser estabelecida entre ele e a comunidade dos discípulos, por meio do pão e do vinho eucarísticos.
Pão e vinho seriam constituídos como sacramento da presença do Senhor. Ao redor de uma mesa é que a comunidade de fé faria a experiência de comunhão profunda com o Ressuscitado. Ao comer o pão e beber o vinho, indicariam um tipo novo de relação estabelecida entre o Senhor e a comunidade. Os discípulos assimilariam plenamente o corpo de Jesus, e se deixariam transformar por ele. Seria a maneira de permanecerem nele, e permitir que o Mestre permanecesse em cada um deles. Resultado: toda a vida do discípulo seria um viver por Cristo, com Cristo, em Cristo, de modo a garantir a vida eterna, que só ele pode oferecer, pois lhe fora concedida pelo Pai.
A má-fé dos inimigos impediu-lhes de compreender o sentido profundo desse ensinamento de Jesus. Com isto, indicavam não estar em comunhão com ele, nem interessar-se em partilhar a vida que Jesus lhes oferecia.

Oração
Espírito de boa-fé arranca do meu coração toda dúvida a respeito das palavras de Jesus, e faze-me compreender o seu significado profundo.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Leitura
Atos 9,1-20
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 9 1 Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes,
2 e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que achasse seguindo essa doutrina.
3 Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu.
4 Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
5 Saulo disse: "Quem és, Senhor?" Respondeu ele: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão".
6 Então, trêmulo e atônito, disse ele: "Senhor, que queres que eu faça?" Respondeu-lhe o Senhor:] "Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer".
7 Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém.
8 Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco,
9 onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber.
10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: "Ananias! Eis-me aqui, Senhor", respondeu ele.
11 O Senhor lhe ordenou: "Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; ele está orando".
12 (Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.)
13 Ananias respondeu: "Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém.
14 E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome".
15 Mas o Senhor lhe disse: "Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel.
16 Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome".
17 Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: "Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo".
18 No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado.
19 Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco.
20 Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.
Palavra do Senhor.
Salmo 116/117
Ide por todo o mundo,
a todos pregai o Evangelho
.

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes,
povos todos, festejai-o!

Pois comprovado é seu amor para conosco,
para sempre ele é fiel!

Oração
Ó Deus todo-poderoso, concedei que, conhecendo a ressurreição do Senhor e a graça que ela nos trouxe, ressuscitemos para uma vida nova pelo amor do vosso Espírito. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

As atitudes cristãs que constroem a comunidade


Nunca esqueçamos que a gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força.
Por Dom Luciano Bergamin*
"O sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte. O vento disse: 'Provarei que sou mais forte. Vê aquela mulher com um lenço azul no pescoço? Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa que você'. O sol aceitou a proposta e recolheu-se atrás de uma nuvem. O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava, mais a mulher segurava o lenço junto a si. Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar. Logo após, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher. Imediatamente esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço. O sol disse, então, ao vento: 'Lembre-se disso: A gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força'".
O tema central da Assembleia dos Bispos do Brasil (CNBB), que acontece em Aparecida desde o início de maio, busca rever o texto “Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia”. Muitas sugestões foram enviadas à Comissão encarregada de redigir o texto. Sem dúvida outras aparecerão durante o debate, de tal maneira que o texto final aprovado será realmente o fruto do empenho geral e se tornará ferramenta prática e útil para a vivência cristã evangelizadora, missionária e solidária da Igreja.
Certamente em primeiro lugar está a ação do Espírito Santo, ao qual devemos ser fiéis e obedientes. De fato, os escritos do Novo Testamento insistem que tudo é graça. Mas, ao mesmo tempo, declaram que nossa contribuição de discípulos missionários é indispensável.
Refletindo sobre isto, compreendo, cada vez mais, como nossas atitudes comunitárias, para sermos realmente esta Igreja Nova que o Papa define “Em saída”, devem ser permeadas de muita “Humanidade e Misericórdia”.
Por isso, de maneira muito simples, desejo apontar algumas atitudes bem “humanas”, mas, que são também bem “cristãs”, indispensáveis para que os relacionamentos comunitários sejam possíveis:
1ª: Conversar com as pessoas. É bom dialogar com os outros, a fim de conhecê-los melhor, transmitindo acolhida e amizade. Ser discípulo é estar “em saída” de si mesmo na busca do outro.
2ª: Sorrir às pessoas. Cara amarrada não leva ninguém para o céu! Papa Francisco insiste que o evangelizador não pode ter “cara de funeral”.
3ª: Ser cordial e simples. Nada de imposição, egoísmo, autoritarismo, orgulho e exigências descabidas. Com cordialidade se conquista o coração das pessoas.
4ª: Ser prestativo, disponível, interessar-se pelo bem dos outros. Deus a todos concede dons e qualidades, não para que fiquem enterrados e estéreis, mas para que sejam colocadas a serviço de quem precisar. Como é maravilhoso escutar de alguém: “Conte comigo. Farei todo o possível para lhe auxiliar!”. Por outro lado, como é triste ouvir: “Tiro meu corpo fora, pois não tenho nada a ver com isto! Problema seu”.
5ª: Respeitar os sentimentos dos outros. Deus nos fez diferentes, mas complementares. Por isso não podemos nos impor a todo custo sobre os demais. O irmão respeita o irmão assim como ele é. Há introvertidos e extrovertidos, tímidos e corajosos, falantes e calados... Todos merecem respeito, atenção e carinho.
6ª: Saber elogiar, animar e incentivar. Como é bom reconhecer o valor dos outros, seus dotes e capacidades! Esta valorização deve ser sincera e autêntica, de tal forma que ajudará bastante para criar um clima de verdadeira comunhão, capaz de somar forças pelo crescimento do reinado de Deus e de comunidades mais fraternas e corresponsáveis.
7ª: Saber perdoar e pedir perdão. Somente Deus é totalmente santo, perfeito e nunca erra. Todos nós caminhamos rumo à santidade, mas ainda somos imperfeitos, pecadores e falhamos tantas vezes. Pedir e dar perdão com sinceridade nos é tão necessário quanto o pão cotidiano. Uma comunidade onde os membros são incapazes de exercer o perdão nunca será realmente uma “família de Deus”.
Que a Sagrada Família de Nazaré, exemplo para todas as famílias e comunidades cristãs, nos ajude a termos para com todas as pessoas relacionamentos fraternos, educados e construtivos. Nunca esqueçamos que a gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força.

*Dom Luciano Bergamin é bispo da Diocese de Nova Iguaçú (RJ).

Copa de civilidades


Estamos vivendo a catástrofe de um surto de incivilidades, avalanche de barbáries que está assolando nossa sociedade. Constata-se a perda irracional dos limites e, sobretudo, de referências, sem as quais tudo é possível, inclusive escolhas que estão na contramão da cidadania. Aos rosários de lamentações inevitáveis diante desse cenário desolador, é preciso acrescentar uma efetiva atitude reativa.  Somente assim não se permitirá que este tempo de conquistas admiráveis da inteligência humana se sucumba diante das irracionalidades que geram violências, corrupção, eleições “sujas”, insanidade nas relações interpessoais e uma série de outros desafios que expõem o avanço da desumanização.
Os números e estatísticas são indispensáveis como instrumento de conscientização e sensibilização. Mas, o determinante nessa necessária postura reativa é a identificação das raízes e causas produtoras desses preocupantes cenários. O que se está vivendo é um grande drama social, com perdas de rumo na busca da verdade, no gosto pelo bem e pela justiça. Certamente, aí está um gargalo produtor de situações caóticas. Cada um estabelece e busca impor o seu próprio critério. Os resultados têm sido terríveis, como mostram os episódios em que se busca fazer “justiça com as próprias mãos”. Infelizmente, vivemos um tempo de linchamentos, desentendimentos com desfechos violentos, que muitas vezes resultam em perdas irreversíveis.
A ordem, enquanto justiça e garantia de respeito irrestrito à dignidade humana, tem um percurso e balizamentos éticos próprios. A perda dessa referência é grave e torna-se um grande desafio chegar às raízes dos males contemporâneos. Fixar o olhar nas bases que instauram a desordem é o passo determinante para promover grandes mudanças. E alcançá-las não se faz sem o que é próprio da fé, como experiência e como caminho para a fonte perene dos valores essenciais. Ela é um patrimônio insubstituível da pessoa, da família e sociedade, capaz de corrigir rumos e recompor o tecido da cultura.
É hora de percorrer o caminho da fé.  O colapso que se abate sobre nós é uma séria crise de valores em razão da superficialidade que emoldura o viver humano contemporâneo. Só dá conta de alcançar o equilíbrio e seriedade quem se alimenta diariamente de sólidas referências. A dinâmica da cultura contemporânea tem empurrado a sociedade para o esquecimento de um princípio básico inegociável. Trata-se da justa compreensão de que o essencial está na interioridade, vem das raízes, e não se resume nas coisas colocadas ao nosso redor. Ao ignorar esse princípio, a humanidade alimenta a tempestade que tem gerado naufrágios no percurso da vida. Todos precisam compreender que o essencial está na interioridade. Caso contrário, perde-se o rumo, não se consegue a força necessária para superar adversidades, perde-se o balizamento da ética, escorregando na direção de todo tipo de imoralidade. A cultura contemporânea está ficando cega para esse princípio, que se cultiva com a fé.
Compartilho a experiência vivida por nós, bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunidos na Assembleia Geral que será concluída hoje. Neste último dia, viveremos um tempo dedicado ao investimento na fundamental experiência da fé.  A conclusão da Assembleia será com um retiro, marcado pelas orações, balizando uma carregada pauta de trabalhos, debates, reflexões sobre temas relacionados à evangelização e à construção da sociedade justa e fraterna. Meditaremos à luz de grandes personagens bíblicos como Abraão, Maria - Mãe de Jesus, Pedro e Paulo. Deste modo, amadureceremos a compreensão de que é peregrinando na fé que se consegue manter a vida no rumo certo.
A partir dessa peregrinação, nós, bispos do Brasil, encontramos força e fôlego para produzir, nesses dias de Assembleia, um importante documento que indica o caminho para fortalecer as paróquias e comunidades de fé, presença solidária e comprometida na vida do povo em diferentes realidades, grande capilaridade da Igreja Católica. Também aprovamos rico e corajoso documento sobre a Igreja e a questão agrária brasileira. Não menos importante foi a abertura da reflexão sobre a cidadania de cada cristão na Igreja e sua atuação testemunhal na construção da sociedade. Nesta direção, desenvolvemos nosso Projeto Brasil, cujo coração é a continuação da luta pela reforma política. Em resposta à crescente violência, foi aprovada, por unanimidade, a vivência do Ano da Paz, do dia 30 de novembro de 2014 até o Natal de 2015, quando serão promovidas ações para mudar este triste cenário de desumanidades.
O grande volume de assuntos tratados, encaminhamentos e compromissos assumidos nos confirmam, às vésperas da Copa do Mundo, que é hora de avaliações e escolhas de rumos novos, uma prolongada Copa de Civilidades. Se não jogarmos esta Copa, não venceremos. É hora de chutar a bola que desfigura a civilidade. Caso contrário, perderemos o jogo pela vida. Os cenários que horrorizam nossa sociedade só serão vencidos se conseguirmos, com a graça da fé alimentando nossa cidadania e o respeito à dignidade humana, jogar uma Copa de Civilidades.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.        

Francisco: santos não são herois, mas humildes testemunhas de Cristo





Cidade do Vaticano (RV) – Os santos não são heróis, mas são pecadores que seguem Jesus no caminho da humildade e da cruz: na homilia desta sexta-feira, na Casa Santa Marta, o Papa Francisco comentou a primeira leitura, que narra a conversão de São Paulo.

O Pontífice explicou o que se entende quando dizemos que a “Igreja é santa”:

Mas como pode ser santa se todos nós estamos dentro? Somos todos pecadores, aqui. E a Igreja é santa. É a esposa de Jesus Cristo e Ele a ama, Ele a santifica, a santifica todos os dias com o seu sacrifício eucarístico. E nós somos pecadores, mas numa Igreja santa. E também nós nos santificamos com esta pertença à Igreja: somos filhos da Igreja e a Mãe Igreja nos santifica, com o seu amor, com os Sacramentos do seu Esposo.

Nas suas cartas – recordou o Papa –, São Paulo fala aos santos, a nós: “pecadores, mas filhos da Igreja santa, santificada pelo Corpo e o Sangue de Jesus”:

Nesta Igreja santa, o Senhor escolhe algumas pessoas para que a santidade fique mais evidente, para mostrar que Ele é quem santifica, que ninguém santifica si mesmo, que não existe um curso para se tornar santo, que ser santo não é ser faquir ou algo desse estilo… Não! A santidade é um dom de Jesus à sua Igreja, e para mostrar isso Ele escolhe pessoas em que o seu trabalho para santificar fica evidente.
No Evangelho – observou ainda Francisco –, existem muitos exemplo de santos: há Madalena, Mateus, Zaqueu e muitos outros que nos mostram qual é a primeira regra da santidade: “é necessário que Cristo cresça e nós nos rebaixemos”.

Assim, Cristo escolheu Saulo, que era um perseguidor da Igreja. E de tão grande que era, se tornou pequeno, obedeceu. Mas Paulo não se tornou um herói, explicou o Papa. Ele, que pregou o Evangelho em todo o mundo, “terminou a sua vida com um pequeno grupo de amigos, aqui em Roma, vítima dos seus discípulos”. Do grande homem que era, morreu decapitado. “Rebaixou-se, rebaixou-se, rebaixou-se….” A diferença entre os heróis e os santos – explicou por fim Francisco – “é o testemunho, a imitação de Jesus Cristo. Percorrer o caminho de Cristo, o caminho da cruz. Penso, afirmou ainda, nos últimos dias de São João Paulo II...”:

Não podia falar, o grande atleta de Deus, o grande guerreiro de Deus acaba assim: aniquilado pela doença, humilhado como Jesus. Este é o percurso da santidade dos grandes. Também é o percurso da nossa santidade. Se nós não nos deixarmos converter o coração por este caminho de Jesus – carregar a cruz todos os dias, a cruz ordinária, a cruz simples – e deixar que Jesus cresça; se não percorrermos este caminho, não seremos santos. Mas se o percorrermos, todos nós testemunharemos Jesus Cristo, que nos ama tanto. E daremos testemunho que, não obstante sejamos pecadores, a Igreja é santa. É a esposa de Jesus.

(BF)



Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano 

Papa: "Igreja missionária acolha os pobres com amor preferencial"





Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã de sexta, 09, os participantes do Encontro das Pontifícias Obras Missionárias que está se realizando em Roma nestes dias foram ao Vaticano para uma audiência com o Papa.

Das 200 pessoas recebidas, havia também funcionários da Congregação para a Evangelização dos Povos, liderados pelo Cardeal-Prefeito, Fernando Filoni.

Em discurso ao grupo, Francisco abordou a nova ‘estação evangelizadora’ apontada por ele na Exortação Evangelii gaudium.

Para evangelizar, neste tempo de transformações sociais, é preciso uma Igreja missionária totalmente em saída, que faça um discernimento para se confrontar com as diferentes culturas e visões do homem”, disse o Papa, frisando que “com a contemplação e o contato pessoal com Cristo, podem ser encontrados novos caminhos, métodos criativos e novas formas de expressão para a evangelização”.

Fraquezas, pecados e impedimentos não podem nos deter no testemunho e na proclamação do Evangelho, porque é a experiência do encontro com o Senhor que nos encoraja e nos doa a alegria de anunciá-Lo a todos os povos”, prosseguiu.

Missionária por natureza, a prerrogativa fundamental da Igreja é a caridade com todos, mediante a fraternidade e a solidariedade. “A Igreja é o povo das beatitudes, a casa dos pobres, dos aflitos, dos excluídos e perseguidos; de quem tem fome e sede de justiça. Vocês – dirigiu-se assim o Papa aos missionários – devem fazer com que a Igreja acolha com amor preferencial os pobres, mantendo as portas da Igreja abertas para que todos possam encontrar refúgio nela”.

Terminando, Francisco pediu aos animadores e formadores que “com paciência, promovam a co-responsabilidade missionária, pois existe a necessidade de sacerdotes, pessoas consagradas e leigos que, apegados ao amor de Cristo, sejam ‘marcados pelo fogo da paixão pelo Reino de Deus’ e disponíveis a adentrar-se no caminho da evangelização”.
(CM)



Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano 

Papa recebe Ban Ki-Moon e propõe "mobilização ética mundial"





Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, cerca de 70 participantes do Encontro do Conselho dos Chefes Executivos para a coordenação das Nações Unidas. Esta delegação da ONU foi liderada pelo Secretário-Geral, Ban Ki-Moon.

Para Francisco, é significativo que este encontro se realize poucos dias depois da canonização de João Paulo II e João XXIII – Pontífices que nos inspiraram com sua paixão pelo desenvolvimento integral da pessoa humana e pela compreensão entre os povos. Paixão que o Conselho de Chefes Executivos deve levar avante através de “grandes esforços” em favor da paz mundial, do respeito pela dignidade humana, especialmente dos mais pobres.

Um exemplo deste esforço são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Todavia, ressaltou o Papa, jamais se deve perder de vista que os povos merecem e aguardam frutos ainda melhores.

Quem tem um alto grau de responsabilidade jamais deve se conformar com os resultados alcançados, mas se empenhar cada vez mais para obter o que falta:

No caso da organização política e econômica mundial, o que falta é muito, já que uma parte importante da humanidade continua excluída dos benefícios do progresso e, de fato, relegada a seres humanos de segunda categoria.
Francisco pede que os Objetivos de desenvolvimento sustentável futuros sejam realmente formulados com generosidade e coragem, para que cheguem efetivamente a incidir sobre as causas estruturais da pobreza e da fome. E não só: que incidam também na proteção do meio ambiente e na garantia de um trabalho decente para todos, salvaguardando a família, que é o elemento essencial de qualquer desenvolvimento econômico e social sustentável.

Trata-se, em especial, de desafiar todas as formas de injustiça, opondo-se à ‘economia da exclusão’, à ‘cultura do descartável’ e à ‘cultura da morte’, que, infelizmente, poderiam se tornar uma mentalidade aceita passivamente.
Aos representantes das mais altas instâncias da cooperação mundial, Francisco recordou um episódio ocorrido cerca de dois mil anos atrás, narrado no Evangelho de S. Lucas: o encontro de Jesus Cristo com o rico publicano Zaqueu.

Zaqueu tomou a decisão radical de partilhar o que tinha quando a sua consciência foi despertada pelo olhar de Jesus: “Este é o espírito que deveria estar na origem e no fim de toda ação política e econômica. O olhar, muitas vezes sem voz, daquela parte de humanidade rejeitada deve estimular a consciência dos agentes políticos e econômicos, e levar a escolhas generosas e corajosas que tenham resultados imediatos, como aquela decisão de Zaqueu.”

A consciência da dignidade humana deve nos levar a compartilhar, com total gratuidade, os bens que a providência colocou em nossas mãos, sejam essas riquezas materiais ou espirituais. Esta abertura generosa deve estar acima dos sistemas e das teorias econômicas e sociais. Jesus não pede a Zaqueu de mudar o próprio trabalho, mas o induz simplesmente a colocar tudo, livremente, mas imediatamente, a serviço dos homens.

Enquanto os encorajo a prosseguirem neste trabalho, que é um serviço a todos os homens, os convido a promoverem juntos uma verdadeira mobilização ética mundial que, para além de qualquer diferença de credo ou de opinião política, difunda e aplique um ideal comum de fraternidade e de solidariedade, especialmente pelos mais pobres e excluídos.
(BF)