quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Queriam calar Igreja e estudantes", afirma assessor em envento da OAB-PE

O assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) padre José Ernanne Pinheiro declarou  no dia 17 de agosto, em sessão pública da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), que o assassinato do padre Henrique, em maio de 1969, foi uma tentativa da repressão de calar os dois segmentos mais atuantes da sociedade pernambucana naquele momento: a Igreja Católica e o movimento estudantil. Na época, o padre Ernanne era o vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife e acompanhou todos os ataques e a pressão sofrida por dom Helder e seus principais assessores e amigos.
A morte do padre Henrique era um ataque indireto a dom Helder. Além disso, Henrique cuidava da Pastoral da Juventude e tinha muita influência entre os estudantes, o que também incomodava. Não tenho nomes para acusar por esse fato, mas está claro que se tratou de um crime político”, avaliou padre Ernanne. Para o religioso, a Comissão da Verdade cumpre uma tarefa primordial dentro do processo de registro histórico brasileiro. “As próximas gerações precisam conhecer seus heróis. Esperamos que essa comissão, a nacional e as demais que estão surgindo nos outros Estados contribuam para isso”, frisou.
Em seu depoimento, padre Ernanne esclareceu que dentro da própria Igreja Católica existiam correntes adversas e que bispos e padres colaboraram com a repressão. “Em Pernambuco, sob o comando de dom Helder nos posicionamos ao lado da democracia e dos excluídos”, completou.
Para o advogado Pedro Eurico, relator do caso Padre Henrique na comissão, o depoimento reforçou o entendimento de que vários setores da sociedade pernambucana sujaram as mãos de sangue durante a ditadura. “Não era apenas a Polícia e as Forças Armadas que estavam na vanguarda desse movimento. Muitos civis se engajaram na repressão e se beneficiaram disso posteriormente”, concluiu.
O presidente da comissão, Fernando Coelho, afirmou que o depoimento trouxe elementos importantes para a investigação. “Ficamos honrados com a presença do padre Ernanne, pela clareza de suas ideias e pela contextualização do momento histórico que eles nos trouxe”.
A comissão resolveu adiar, do dia 23 para dia 30 deste mês, o depoimento do ex-major da PM de Pernambuco José Ferreira dos Anjos. Os integrantes da comissão querem mais tempo para se preparar para ouvir o ex-militar, considerado uma das fontes mais ricas sobre o período da ditadura no Estado. Ferreira foi recrutado dentro da PM pelo 4º Exército e atuou diretamente na repressão aos opositores do golpe militar de 1964. Sobre a importância das informações guardadas pelo ex-major, o advogado Humberto Vieira de Melo, membro da comissão, foi enfático. “Basta que ele repita o que nos disse na sessão reservada”, ressaltou.
Leia na íntegra o depoimento do padre José Ernanne, sobre o trucidamento do padre Antonio Henrique Pereira Neto, na Comissão da Verdade e da Memória Dom Helder Camara, em Pernambuco.
Exmo. Sr Dr. Fernando Coelho, presidente da Comissão,
Exmo. Sr. Dr. Pedro Eurico, relator do caso Padre Henrique na Comissão,
Demais membros da Comissão da Verdade e da Memória,
Meus Senhores e minhas Senhoras,
Meu depoimento perante esta significativa Comissão é eclesial. No período, eu exercia o cargo de Vigário Episcopal dos Leigos na Arquidiocese de Olinda Recife e como tal fui nomeado pelo arcebispo Dom Helder Camara, na missa de corpo presente, o sucessor do padre Henrique para dar continuidade aos trabalhos da Pastoral de juventude. Vou tentar organizar minha reflexão em cinco partes:
1.    Quem era o Padre Henrique e como realizava o trabalho pastoral;
2.    O contexto da Igreja em Olinda e Recife no período;
3.    O bárbaro trucidamento do padre Antônio Henrique;
4.    A morte do padre Antonio Henrique e a Igreja de Olinda e Recife;
5.    As repercussões do trucidamento do padre e perguntas consequentes.

1. Quem era Padre Antônio Henrique Pereira Neto e seu trabalho pastoral
Nasceu no Recife aos 28 de outubro de 1940. Fez sua formação sacerdotal em Olinda, João Pessoa, com estudos de psicologia nos Estados Unidos. Foi ordenado sacerdote aos 25/12/1965, poucos dias após o término do Concílio Vaticano II.
Desde os tempos de Seminário, manifestava uma vocação para trabalhar com a juventude. Vários grupos de secundaristas e universitários recebiam sua orientação. Henrique defendia uma proposta metodológica baseada no seguinte princípio: o final do curso médio e o início do curso universitário é um momento propício para ajudar os jovens a se encaminhar para a vida.
Padre Henrique já tinha a experiência da Juventude Estudantil Católica (JEC); mas para melhor se preparar para sua missão, participava de encontros de pastoral de juventude a nível regional, nacional e latino-americano. Para fundamentar cada vez mais seus pressupostos apostólicos, dedicava bastante tempo aos estudos, sobretudo das Sagradas Escrituras e da Liturgia. Como responsável da Pastoral da Juventude da Arquidiocese reservava suas tardes para atender os jovens que o procuravam para conversar e discutir temas de interesse juvenil no próprio prédio do secretário arquidiocesano – o Juvenato Dom Vital. Também atendia no Colégio Marista do Centro, em parceria com os irmãos maristas no trabalho de formação dos jovens.
Solicitei ajuda para o meu depoimento a membros dos grupos acompanhados pelo padre Henrique, perguntando: como funcionava a metodologia do grupo e qual o papel do Padre Henrique no relacionamento com os jovens. Recebi um depoimento esclarecedor, através de Lavínia Lins, após trocar ideias com outros/as colegas:
“...Éramos naquela época, amigos e conhecidos, (alguns filhos de pais que eram amigos), que se encontravam para conversar, “paquerar”,  formar banda de música (“conjunto”, na época), organizar quadrilhas no São João. Henrique (assim gostava de ser chamado) havia aparecido por ali porque “um dos jovens estava tendo problemas com os pais”  e ele intermediava diálogos entre eles. Os meninos então começaram a se encontrar com ele (Henrique) com regularidade. As meninas souberam e se interessaram.
Passamos a nos reunir às 3ª feiras à noite, para conversas (a “reunião”) e domingos à tarde para a missa e debates.  Às vezes os pais iam à reunião e um diálogo entre gerações era mediado por ele. Com cada um de nós Henrique estabelecia uma relação pessoal, de intimidade e conhecimento. Chegou a aplicar alguns testes psicológicos (como o desenho de árvore e da família) buscando aproximar-se, saber mais sobre cada um de nós.
Sua postura era de aceitação (tão importante nesta idade) e sua linguagem era a nossa. Era jovem também. Favorecia as relações e a exposição sadia de cada um no grupo. Nossas vozes eram ouvidas e repercutiam. Sentíamos pertencendo a algo que nós mesmos criávamos. Era com este sentimento que estávamos sendo direcionados, de forma muito inteligente, a não nos envolver com álcool e drogas e a repensar temas que nos cercavam, como: as relações interpessoais, com outras gerações, temas sociais como  a prostituição, etc.
Ao mesmo tempo nos oferecia a Igreja Católica, não apenas na vivência dos encontros, mas através de uma missa descontraída, onde se tocava violão e cantava. Cada etapa era explicada. A missa  agora  era “prazerosa”. Um clima de informalidade e participação, incluindo as nossas realidades na própria celebração. Tudo era muito real e próximo, assim como as relações que se estabeleciam com amizades  que duram até hoje, apesar da distância, namoros que evoluíram para casamentos que se mantêm.  Henrique nos mostrava uma forma nova de nos relacionar conosco mesmos, com o outro, com o mundo”.
2. O contexto da Igreja em Olinda e Recife  no período
Padre Henrique assimilou com carinho as perspectivas da Igreja do Concílio Vaticano II, em clima de diálogo com o mundo, em clima de ecumenismo. Era um jovem que vivia a primavera da Igreja em renovação. E a nomeação inesperada de Dom Hélder Camara para o Recife, exatamente nesse período, lhe era providencial e tornou-se para o nosso jovem padre um modelo a imitar e uma corresponsabilidade a exercer.
Dois fatores significativos acentuavam a importância primordial da presença de Dom Helder no Nordeste do Brasil no momento:
-    O recente golpe militar de 31 de março de 1964;
-   O Concílio Vaticano II em pujante evolução na perspectiva de renovar a Igreja e melhor servir no mundo atual (duas sessões tinham acontecido).
Diante do regime militar, eram já conhecidas suas posições, tanto pela atuação na cidade do Rio de Janeiro como em nível nacional - em defesa dos direitos dos pobres, da democracia e da liberdade de expressão.
Durante o Concílio Vaticano II, exercendo, no período, a missão de Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lhe foi oferecida a possibilidade de ser, em breve, missionário do mundo, como peregrino da justiça e da paz, o que,  de fato, aconteceu e o exerceu com maestria.
Construiu imediatamente um relacionamento especial de amizade durante o Concílio com os Bispos que tinham maior sensibilidade para a problemática do então chamado “Terceiro Mundo”. Neste contexto, surge o famoso grupo de Bispos, provenientes de todos os Continentes, que se encontrava para refletir sobre a missão da Igreja junto aos pobres e a necessidade da Igreja ser sinal do Cristo pobre.
Estes fatores históricos tornavam Dom Hélder um homem de características excepcionais para assumir o pastoreio numa região sofrida como o Nordeste, numa cidade cheia de contrastes sociais como o Recife, num momento político específico.
Dom Helder  assumia o seu pastoreio a 12 dias do golpe militar de 1964. A cidade do Recife era palco de numerosas prisões, exílios, por motivos políticos. O  medo invadia a população. Havia um clima de sobressalto. A cada momento poderia haver novas prisões, novos pichamentos...
Dom Hélder, logo na mensagem de chegada, abre o coração aos seus diocesanos, procurando desarmar os espíritos.  Fez uma saudação ao povo, ao seu povo, logo ao chegar ao Recife, permeada de liberdade evangélica, embebida de sabor profético – anúncio e denúncia, de teor missionário. Apresenta-se como o bispo de todos ao explicitar sua postura pessoal e suas prioridades: ”Ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas como indignas e pecadoras. Quem não é pecador? Quem pode jogar a primeira pedra? Nosso Senhor, acusado de andar com publicanos e almoçar com pecadores, respondeu que justamente os doentes é que precisam de médico. Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou de má fé. Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno”.

3. O bárbaro trucidamento do Padre Antonio Henrique
Padre Antônio Henrique foi formado na escola do seu Pastor Dom Helder. Também era fruto tanto da renovação da Igreja em pleno Concílio Vaticano II como fruto do compromisso com o mundo estudantil, ainda em ebulição, contra a ditadura militar. Henrique tinha consciência de que corria risco. Estava comprometido com as causas dos estudantes universitários, ainda muito politizados, e fazia seu trabalho pastoral em sintonia com a dimensão profética da Arquidiocese com contínuas denúncias contra as arbitrariedades da ditadura milita; isto o levava a viver em  vigilância.
Seu bárbaro trucidamento aconteceu no dia 27 de maio de 1969.  Na tarde do dia 26 de maio ainda recebeu vários jovens no Juvenato. Por volta das 19 horas saiu para uma reunião no bairro de Parnamirim, onde permaneceu com os jovens acompanhados dos seus pais, até às 22,30 horas. Conforme depoimento do grupo de Lavínia Lins já citado, após a última reunião quando o Padre Henrique entrou num carro desconhecido:
“Nosso último encontro se deu para que os pais e os filhos pudessem discutir tendo Henrique  como intermediador. O clima era agradável e seguro. Saí com meus pais e no Largo do Parnamirim, avistei Henrique pela última vez. Passamos de carro e tentei acenar para ele. Sem nos ver, entrava numa “rural”  verde e branca, me parece. Dois homens estavam fora do carro, de porta aberta, junto com ele. Outro dirigia. Depois  foi apenas a notícia”.
Na manhã seguinte, as autoridades eclesiásticas foram advertidas de que havia um corpo num capinzal ao lado da Universidade, reconhecido como o corpo do padre Henrique. Fora transportado para o necrotério público onde Dom Helder logo acorreu. Outros padres, inclusive Dom Basílio Penido, o abade do mosteiro de São Bento, médico, também se aproximaram e aí permaneceram até a conclusão da necropsia. O sacerdote tinha sido amarrado, arrastado, recebeu três tiros na cabeça e algumas torturas; todos os golpes atingiram exclusivamente a cabeça e o pescoço, conforme atesta o próprio Dom Basílio Penido.
O corpo foi velado na matriz do Espinheiro, onde aconteceram duas celebrações – uma às 21 horas do mesmo dia e outra na manhã seguinte antes de partir para o cemitério. Nesse contexto, foi divulgada uma nota do Governo Colegiado da Arquidiocese, expressando a dor da arquidiocese, o sofrimento dos jovens em plena comoção, dos familiares perplexos.
Como a Igreja local não dispunha de meios de comunicação viáveis para divulgar o acontecimento e a imprensa local estava sob censura, o texto da Nota, após pronunciada, foi mimeografado e  distribuída pelas paróquias, pelos colégios e universidades, fato que fez acorrer uma  grande quantidade de pessoas  para a celebração e, logo depois,  para o enterro. A Nota foi redigida e discutida com a participação de 40 padres, vários deles membros do Conselho Presbiteral.
A Nota do Governo Colegiado da Arquidiocese de Olinda e Recife :
1.    Cumprimos o pesaroso dever de comunicar o bárbaro trucidamento do padre Antônio Henrique Pereira Neto, cometido na noite anterior, 26 de maio, nesta cidade do Recife;
2.    Aos 29 anos de idade e 3 anos de sacerdote, o padre Henrique dedicou a vida ao apostolado da juventude, trabalhando sobretudo com os universitários. Até às 22,30 horas de ontem, segundo o testemunho de um grupo de casais, esteve reunido, em Parnamirim, com pais e filhos, na tentativa que lhe era tão cara, de aproximar gerações;
3.    O que há de particularmente grave no presente crime, além dos requintes de perversidade de que se reveste (a vítima foi amarrada, golpeada no pescoço e recebeu três tiros na cabeça) é a certeza prática de que o atentado brutal se prende a uma série pré-estabelecida e objeto de ameaças e avisos;
4.    Houve, primeiro, ameaças escritas em Edifícios, acompanhadas por vezes, de disparos de armas de fogo. O Palácio de Manguinho recebeu numerosas inscrições. A Sede do Secretariado Arquidiocesano e Regional nordeste II foi alvejado. A residência do Arcebispo, na igreja das Fronteiras, alvejada e pichada.
5.    Vieram, depois, ameaças telefônicas, com o anúncio de que já estavam escolhidas as próximas vítimas. A primeira foi o estudante Cândido Pinto de Melo, quartanista de engenharia, presidente da União dos Estudantes de Pernambuco. Acha-se inutilizado, com a medula seccionada. A segunda foi um jovem sacerdote, cujo crime exclusivo consistiu em exercer apostolado entre os estudantes.
6.    Como cristãos, e a exemplo de Cristo e do proto-mártir Santo Estevam, pedimos a Deus perdão para os assassinos, repetindo a palavra do mestre: “Eles não sabem o que fazem”.
Mas julgamo-nos no direito e no dever de erguer um clamor para que ao menos, não prossiga o trabalho sinistro deste novo esquadrão da morte.
7.    Que o holocausto do padre Antônio Henrique obtenha de Deus a graça da continuação do trabalho pelo qual doou a vida e a conversão dos seus algozes.
Recife, 27 de maio de 1969.
+Dom Helder, arcebispo de Olinda e Recife,
+Dom José Lamartine, Bispo Auxiliar e Vigário Geral,
Monsenhor Isnaldo Fonseca, Vigário Episcopal,
Monsenhor Arnaldo Cabral, Vigário Episcopal,
Mons Ernanne Pinheiro, Vigário Episcopal
O percurso da Igreja do Espinheiro em direção ao cemitério, sobretudo na Avenida Caxangá, parecia um campo de guerra. O cortejo fúnebre foi crescendo em população durante a caminhada; contou com a presença de mais ou menos 8 mil pessoas. Também aconteceram alguns incidentes desagradáveis. Invasão do cortejo por policiais para prender personalidades como o deputado federal cassado Oswaldo Lima Filho presente ao enterro e a invasão do cortejo para mandar tirar as faixas conduzidas pelas lideranças estudantis: ”Os militares mataram Padre Henrique”.
O enterro aconteceu no cemitério da Várzea, a pedido da família.  Lá chegando, o recinto estava totalmente cercado por forças militares, o que impedia qualquer manifestação. Era plano dos estudantes expressarem sua indignação juvenil diante do que eles estavam presenciando, o que Dom Helder tinha evitado que acontecesse no interior da Igreja do Espinheiro.
Dom Helder acompanhou com muita unção todo o cortejo e foi perspicaz em perceber o quadro à chegada do cemitério. Procurando evitar possíveis confrontos, subiu numa cadeira, acenou para a população com um lenço branco em sinal de paz, rezou um Pai Nosso com a população, deu uma benção e solicitou que todos se retirassem em silêncio. Um silêncio piedoso, mas extremamente gritante.
4. A morte do padre Antonio Henrique  e a Igreja de Olinda e Recife
A missa de 7º. dia foi o momento forte para a assimilação do trágico ocorrido.
A Arquidiocese, tentando evitar fatos indesejáveis, preferiu descentralizar a celebração; preparou um texto litúrgico unificado para orientação de todas as paróquias e centros religiosos. Foi a ocasião para oferecer os critérios cristãos para avaliar o trágico acontecimento. Sua introdução dizia o seguinte: “Meus irmãos, há sete dias precisamente Antônio Henrique, presbítero da Igreja de Deus no Recife, foi trucidado por causa do Evangelho de Jesus Cristo. Reunidos, hoje aqui, não são pensamentos de ódio ou de vingança, não é a sede de mais sangue que nos movem e nos irmanam. São pensamentos de paz. Paz que brota da fé. Fé que fala mais alto do que a perversidade dos maus. Fé, que nos diz que padre Antonio Henrique está com Jesus, no Reino dos vivos. Fé que nos faz apreciar a importância do seu holocausto e ouvir os apelos de Deus a continuarmos o trabalho que  padre Henrique começou. Imploremos a misericórdia de Deus sobre todos nós, que vivemos esta hora triste e angustiante; sobre a família do padre Henrique; sobre o mundo que mata aqueles que lhe anunciam a verdadeira paz; sobre os assassinos do padre Antonio Henrique”.
Na missa de 30º. dia, a homilia de Dom Helder amplia a reflexão numa leitura religiosa do trágico acontecimento em sua relação com o momento político. Começou a Homilia com uma  pergunta: “O que diria o nosso Padre Henrique se Deus lhe permitisse que ele mesmo pregasse a homilia desta Missa? Que ponderações teria a fazer, que sugestões a apresentar, falando-nos de junto de Deus, onde nossa fé espera que ele se ache? Salvo engano, começaria repetindo a palavra de Nosso Senhor, em sua paixão:”Não choreis sobre mim, mas sobre vós e vossos filhos” (Lc 23,28)”.
E apresenta “Apelo que chega da eternidade”:
- da eternidade, de junto de Deus, ele apela para todos os que acusam a Igreja no Nordeste, de subversão e comunismo. Comparem o que estamos pregando em nossa região com o Ensino Social da Igreja, ainda recentemente expresso por Paulo VI em Genebra: estamos rigorosamente dentro da “Populorum Progressio” e das conclusos de Medellin;
- da eternidade, de junto de Deus, ele pede aos Governantes que, sem perda de tempo, partam para a reforma de base e, de modo particular, para a reforma agrária. Mas adverte que será impossível qualquer mudança autêntica de estrutura através de reforma conduzida de cima para baixo. Ou o Povo participa como agente de mudança, ou não haverá promoção humana e social;
- da eternidade, de junto de Deus, ele pede aos Responsáveis pela ordem pública que, quanto antes, terminem as medidas de exceção que estão tornando impossível o uso de processos democráticos da parte dos cidadãos em geral, e especialmente dos estudantes, e dos trabalhadores. A situação presente cria clima propício a arbitrariedades, e abusos, a crimes (e não seria difícil apontar casos, de que são tristes exemplos os esquadrões da morte). A situação presente impele os mais impacientes para a clandestinidade, a radicalização e a violência.
Estas afirmações do nosso Arcebispo Dom Helder Camara levam-nos a considerar que a morte do padre Henrique, por motivações sócio-políticas, mas com convicções cristãs sólidas, não era uma exceção na América Latina. Estávamos rodeados de densa nuvem de testemunhos de fé (cf. carta aos Hebreus 12,1).
Nos anos das ditaduras na América Latina foram publicadas muitas reflexões sobre o conceito de martírio, valorizando os que tombaram numa luta pela democracia, em busca da justiça, motivados pela fé, sabendo que poderiam pagar com a vida sua doação.
O padre jesuita Karl Rahner, considerado o grande teólogo do século XX, fala sobre a necessidade de ampliação do conceito clássico de martírio. Propõe que o termo martírio seja aplicado tanto para a morte suportada pela fé como pela morte que tem sua origem num compromisso e numa luta ativa, assumidos pela mesma fé.
5. As repercussões do trucidamento do padre  e perguntas consequentes
A Igreja local de Olinda e Recife não ficou isolada nesse sofrido  momento. Recebeu solidariedades diversas e significativas do Brasil e do exterior. Confortadora para todos, mas sobretudo para Dom Helder, foi a visita imediata  do Secretário Geral da CNBB, Dom Aloísio Lorscheider.
Chegaram Mensagens do Santo Padre Paulo VI, do Secretário de Estado do Vaticano, da Presidência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), da Nunciatura Apostólica e tantas outras.
O Governador do Estado da época, Sr. Nilo Coelho, nomeou uma Comissão de Inquérito e entregou sua presidência ao Magistrado, juiz da 11ª. Vara, o Dr. Aloísio Xavier e para desempenhar as funções de Procurador nomeou o Dr. Rorinildo da Rocha Leão.
Logo no dia 11 de junho de 1969, o Dr. Aloísio Xavier, segundo publicou o jornal Diário de Pernambuco, deu um excelente testemunho em favor da conduta do sacerdote, afirmando com palavras claras e incisivas que valeu como uma resposta a todas as insinuações veiculadas por órgãos da imprensa.
Convidado a depor sobre o assassinato do Padre Antônio Henrique, na Comissão Judiciária, em abril de 1975, Dom Helder solicitou a anexação aos autos do processo sua declaração.
Ele relembra em detalhes os acontecimentos de maio de 1969, a nota do Governo Colegiado da Arquidiocese, o caminhar da Comissão Judiciária, as fases do processo e repete perguntas publicadas em Nota, no dia 29 de Agosto de 1969, fazendo sérias considerações (importante de serem explicitadas mesmo se algumas já atendidas).
Fala Dom Helder na sua declaração: “Como esquecer a coincidência de, poucas horas antes do que ocorreu a Cândido Melo, ter sido alvejado o Juvenato Dom Vital (local em que trabalhava o padre Antonio Henrique), havendo os assaltantes – segundo depoimento de duas testemunhas citadas no Relatório da Comissão Judiciária - (parte final do item V), disparado suas armas, aos gritos de CCC? Como esquecer que, segundo o mesmo Relatório, no mesmo item, foi o CCC quem ameaçou o Padre Henrique pelo telefone?”
A nota continuava perguntando: “Porque não se faz uma devassa em regra sobre este famigerado CCC? Como e quando foi organizado? Quem o financia e quem o dirige? Quem são os seus sócios? Onde tem sua sede? Quais os objetivos e quais os feitos desta versão do Ku-Klux-Kan? Houve interesse efetivo em apurar a passagem do CCC pela Universidade Rural? E pela Universidade Católica? E pelos Diretórios Acadêmicos da Escola de Engenharia e da antiga Faculdade de Filosofia, ambas da Universidade Federal de Pernambuco? E pela residência do Arcebispo, duas vezes alvejada e objeto de inscrições com ameaças? E pelo Palácio de Manguinho? Quais os resultados do Inquérito sobre o alvejamento do Juvenato Dom Vital onde funcionam a Cúria Arquidiocesana e os Secretariados Arquidiocesanos e do Regional da CNBB?”
Por que voltar ao caso neste momento?
A indignação ética dos brasileiros/as e, em especial, dos pernambucanos/as, exige que fato como esse agora relatado seja conhecido, refletido e avaliado para que nunca mais volte a acontecer no nosso país – Nunca Mais.
Ao mesmo tempo, é sumamente importante as novas gerações conhecerem seus verdadeiros heróis – os que deram a vida na busca de mais vida.
E numa leitura cristã, repetimos o que diziam os primeiros cristãos: “O sangue dos mártires é semente de novos Cristãos”.
Está de parabéns a Comissão da Verdade e da Memória de Pernambuco!
Recife, 16 de agosto de 2012.
Padre José Ernanne Pinheiro,
Assessor da CNBB.
Fonte: CNBB

JMJ 2013: começam as inscrições


inscriojmjDepois de lançar o Manual de Inscrições do Peregrino, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio2013 dá mais um passo para garantir a participação dos jovens e organizar dos grupos. As inscrições serão abertas no próximo dia 28 de agosto. Segundo a diretora do Setor de Inscrições da JMJ Rio2013, Irmã Maria Shaiane Machado, será um dia significativo para a JMJ.
"No momento da inscrição o grupo de peregrino poderá optar pelo tipo de pacote. Assim poderemos acolher o peregrino em suas necessidades". "A inscrição no portal oficial da JMJ Rio2013 representa uma pré-reserva. A confirmação da inscrição é o pagamento", disse. "O peregrino já pode optar pelo seu pacote e a JMJ está se organizando para acolhê-lo".
Desde o último dia 31 de julho, está disponível online o Manual de Inscrições de Peregrinos. Nele estão todas as orientações necessárias para preparar da melhor forma o grupo. As inscrições serão feitas em grupo por meio de um responsável (chamado de “responsável pelo grupo”). Além desse, haverá um “segundo responsável”. Para grupos mistos, preferencialmente um responsável masculino e um feminino. Os valores têm variações, tanto da modalidade dos pacotes (que poderão ou não incluir alojamento e alimentação), quanto por classificação dos países. Para ajudar que peregrinos de países economicamente mais pobres possam participar das JMJs, eles são classificados nas classes A, B e C.
A classificação dos países e os tipos de pacotes definem os valores. Serão 21 tipos de pacotes com valores que variam de R$ 100,70 a R$ 577,60. Esses valores são válidos até 31 de janeiro de 2013, incluindo um desconto de 5%. Após esse período, as variações são de R$ 106,00 a R$ 608,00.
Os grupos deverão ter até 50 peregrinos, incluindo os responsáveis. Grupos maiores deverão ser divididos em subgrupos de até 50 pessoas, que poderão estar vinculados entre si por um grupo principal. A vinculação entre os grupos não garante que todos ficarão juntos. O alojamento oferecido pelo COL será por região linguística. Também outros fatores podem ser decisórios, como por exemplo, a distância dos pagamentos entre os grupos.
As inscrições serão realizadas exclusivamente online, através do portal oficial da Jornada - www.rio2013.com. "Incentivamos a todos que façam sua inscrição em grupo, que podem ser formados nas paróquias, comunidades, movimentos católicos, escolas, universidades", diz irmã Shaiane.
Os candidatos ao voluntariado que não forem selecionados deverão fazer a inscrição como peregrinos.

TODAS AS INFORMAÇÕES NO SITE OFICIAL DA JORNADA
www.rio2013.com

Em mensagem, comissão Bíblica-Catequética parabeniza catequistas do Brasil

dom_jacintoEm celebração ao Dia dos Catequistas no Brasil, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jacinto Bergmann, divulgou uma mensagem parabenizando e abençoando a todos os catequistas.
Na mensagem, o presidente se refere aos catequistas como discípulos, e agradece o trabalho de evangelização prestado. “[...] só podemos louvar a Deus pelo indispensável serviço prestado ao nosso povo de Deus, como catequistas, na educação da fé iniciando à vida cristã [...]”, mencionou dom Jacinto no texto.
Leia a mensagem na íntegra:
Mensagem aos/às catequistas do Brasil
Neste ano de 2012, o que dizer, de coração, celebrando o Dia do/a Catequista dentro do Mês Vocacional, a todos/as os/as catequistas do nosso querido Brasil? Ano de 2012: ano que teve como Tema Central da 50ª Assembléia Geral da CNBB e resultou no Documento 97: “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja”?; ano que vivenciará o início do “Ano da Fé”, proclamado pelo Papa Bento XVI, marcando o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II e o 20º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica?; ano que terá a XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos com o tema “A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã”? Só estes três eventos, ligados diretamente ao nosso ministério bíblico-catequético, já fazem esse ano de 2012 especial!
Tendo tudo isso presente, só podemos louvar a Deus pelo indispensável serviço prestado ao nosso povo de Deus, como catequistas, na educação da fé iniciando à vida cristã. E, louvando a Deus, quero, em nome da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética” da CNBB, parabenizar a todos/as catequistas: o nosso Deus Trindade lhes cumule de toda a benção, sim, no sentido mais bíblico de bênção: “garantia da Sua presença”. Nós precisamos, continuamente, no árduo ministério bíblico-catequético, desta “presença garantida do Senhor”!
E por falar em Bíblia, que contem a Palavra de Deus, reforça e anima o nosso ministério as palavras do Papa Bento XVI, escritas na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini: “A atividade catequética implica sempre abeirar-se das Escrituras na fé e na Tradição da Igreja, de modo que aquelas palavras sejam sentidas vivas, como Cristo está vivo hoje onde duas ou três pessoas se reúnem em seu nome (cf. Mt 18,20). A catequese deve comunicar com vitalidade a história da salvação e os conteúdos da fé da Igreja, para que cada fiel reconheça que a sua vida pessoal pertence também àquela história” (VD, n. 74).
Um abraço fraterno e caloroso,
Dom Jacinto Bergmann,
Arcebispo de Pelotas e presidente da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-Catequética da CNBB.

"Uma vergonha", diz Dom Erwin sobre decisão do STF de soltar acusado da morte de irmã Dorothy

 
domerwinkrautler_premioO ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu o pedido de habeas corpus, determinando a expedição de alvará de soltura para Regivaldo Pereira Galvão, condenado pelo Tribunal do Júri de Belém (PA) a 30 anos de reclusão pelo homicídio que vitimou a missionária Dorothy Stang. “Recebo essa informação com espanto”, declarou o bispo da prelazia do Xingu (PA), dom Erwin Krautler.


“Não posso admitir que seja esta a Justiça de nosso país. Que Deus tenha pena de todos nós”, afirma o bispo, que avalia que a decisão do STF desconsidera o que foi determinado pelo Tribunal de Júri do Pará. “Esta notícia envergonha a todos”.

Com a decisão do STF, o juiz de Altamira (PA) Raimundo Moisés Flexa, expediu o alvará de soltura. Regivaldo foi solto na tarde desta quarta-feira. Está marcado, para o próximo dia 3, o depoimento do policial federal Fernando Luiz Raiol, que recentemente protocolou documento em cartório, revelando fatos sobre o assassinato da missionária que poderão ensejar a reabertura do caso.

"Maria é Rainha no serviço a Deus para a humanidade", destaca Papa

 Como todas as quartas-feiras, o Santo Padre recebeu para audiência geral um numeroso e alegre grupo de fiéis oriundos de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. A Audiência Geral foi realizada na Praça da Liberdade, diante do portão principal da Residência de Verão dos Papas, em Castel Gandolfo. Bento XVI se ateve à comemoração de hoje marcada pelo calendário litúrgico: Nossa Senhora Rainha.

Esta festa, disse o Papa, decorrente de uma devoção antiga, foi estabelecida por Pio XII em 1954, na conclusão do Ano Mariano, a ser comemorada a cada 31 de maio. Na reforma pós conciliar ela foi colocada oito dias depois da solenidade da Assunção para destacar a ligação estreita entre realeza de Maria e sua glorificação em corpo e alma ao lado de seu Filho. Esta convicção encontramos na Constituição sobre a Igreja do Vaticano II.
Maria é rainha, mais que outra criatura, pela elevação de sua alma e pela excelência dos dons divinos que recebeu.
Segundo Santo Efrém, Maria é rainha porque é a Mãe do Senhor, do Rei dos Reis (cfr Is 9, 1-6) além do nos indicar Jesus como vida, salvação e esperança nossa. Em seguida Bento XVI nos cita Paulo VI em sua Exortação Apostólica Marialis Cultus: “Na Virgem Maria tudo é relativo a Cristo e tudo dele depende.” 
O Pontífice se pergunta: “O que quer dizer Maria Rainha?” É uma conseqüência de sua união ao Filho, Senhor do Universo e da História. A realeza de Cristo é tecida de humildade, de serviço e de amor. É proclamado rei no momento da paixão, quando desce ao mais profundo do sofrimento humano e realiza o mais elevado gesto de amor. Sua realeza em nada tem a ver com a dos poderosos da terra. Jesus é um rei que serve seus servidores, como fez na última Ceia, lavando os pés dos discípulos. 
Isso também vale para Maria: é rainha no serviço a Deus e à Humanidade, rainha que vive o dom de si a Deus para entrar no desígnio da salvação do Homem. Ao Anjo responde: “Eis a Serva do Senhor!”m Maria exercita essa realidade de serviço e de amor velando sobre nós, seus filhos. Dirigimo-nos a ela para agradecer ou para pedir sua materna proteção e sua celeste ajuda. Confiamos no auxílio de Maria, em sua intercessão junto ao Filho, em nossa peregrinação ao longo da estrada do mundo”. Bento XVI cita o Rosário, as Ladainhas e a Salve Rainha onde Maria é diversas vezes invocada como rainha.
O Santo Padre nos diz que “a devoção a Nossa Senhora é um elemento importante da vida espiritual”. “Maria não deixará de interceder por nós junto ao Filho. Maria é a Rainha do Céu, próxima a Deus, mas também a mãe próxima a cada um de nós, que nos ama e escuta a nossa voz.”
Antes de concluir a Audiência o Santo Padre saudou os diversos grupos em suas línguas, inclusive em Português:  
Amados peregrinos de língua portuguesa, uma cordial saudação de boas-vindas para todos. Hoje, a Igreja celebra Nossa Senhora Rainha dos Céus e da terra que, a exemplo de Seu Filho Jesus, Senhor do Universo, manifesta a sua realeza através da humildade, do serviço e do amor. Na vossa oração, não deixeis de dirigir-vos a Ela com confiança. Possa A Virgem Maria velar por cada um de vós. E que Deus vos abençoe.

Corrupção, ontem e hoje

O fenômeno da corrupção vem de longe, no tempo e na geografia. É um mal histórico e, praticamente, onipresente. A ele se reportam, por ângulos próprios e comuns, a justiça, a administração, a imprensa, a religião, a polícia, a academia, a literatura e a voz do povo. A religião não pode deixar de denunciar a face iníqua da corrupção que sempre causa prejuízos à coletividade. No Antigo Testamento, os profetas denunciam a corrupção praticada por administradores públicos e por pessoas. Amós e Miquéias são exemplos nessa linha de denúncia porque têm palavras muito duras contra quem pratica a corrupção. “Eu digo: ‘Ouvi bem, chefes de Jacó, dirigentes da casa de Israel: Por acaso não é vossa obrigação saber o que é de direito? Mas sois pessoas inimigas do bem e apaixonadas pelo mal. Arrancais o couro dos outros e até a carne que está por cima dos ossos. Sois aqueles que devoram a carne do meu povo e lhe tiram o couro como se fosse uma roupa. Partis seus ossos, quebrando-os como se fosse para cozinhar, carne picada que vai para a panela. Depois, ainda clamarão ao Senhor mas ele não há de lhes dar resposta. Ele, naquela hora, se esconderá dessa gente por todo o mal que praticaram.’ (...) Ouvi bem, chefes da casa de Jacó, dirigentes da casa de Israel, vós que tendes ódio ao que é de justiça e perverteis tudo o que é reto, que construís Sião com sangue derramado, Jerusalém com injustiças. Seus chefes dão sentença a troco de uma propina, seus sacerdotes instruem em vista do lucro, seus profetas adivinham por dinheiro. E é no Senhor que se apóiam, dizendo: ‘O Senhor está no meio de nós, nada de mau nos poderá acontecer!’.” (Mq 3,1-4.9-11)

Em toda e qualquer forma de corrupção, é visível o prejuízo social, porque os benefícios não chegaram à população e, quando chegam, via de regra, têm a marca da má qualidade; isso acontece, com muita frequência, em caso de desvio de verbas e de superfaturamento em contratos entre o poder público e a iniciativa privada. Miquéias denuncia as autoridades pela prática do suborno, da propina. Tanto no seu tempo quanto hoje, o dinheiro na mão de pessoas inescrupulosas é sempre um perigo próximo para a prática da corrupção, qualquer que seja a sua condição - governante, empresário, juiz, policial, sacerdote.
A população está acompanhando o julgamento do “Mensalão”, no Supremo Tribunal Federal, uma prática coletiva de corrupção, tendo como mentores e patrocinadores políticos e empresários muito conhecidos no cenário nacional; contemporaneamente, acontece outro julgamento, por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, no Congresso Nacional, também envolvendo políticos e empresários. Salta aos olhos do juiz mais atento e do cidadão mais comum que se está diante de um evidente caso de corrupção. Sendo um julgamento, necessariamente, há a tese - a acusação do Procurador Geral da República - a antítese – a defesa dos Advogados dos réus – e a síntese - o julgamento dos Ministros do STF. A sociedade espera que, diante da realidade dos fatos, o resultado seja a punição dos culpados, na medida cabível, a fim de que não se confirme mais um caso de impunidade.
Os corruptos do tempo de Miquéias já usavam “o nome de Deus em vão”, dizendo “nada de mau nos poderá acontecer”; os corruptos daqui e de hoje também sabem que “nada de mau nos poderá acontecer”, porque a impunidade tem sido a marca registrada, em casos semelhantes. Será que vai acontecer isso, mais uma vez? Um julgamento justo, neste caso, é uma questão de dignidade para os Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

Mt. 18: O projeto da Igreja sonhada por Deus

O capítulo 18 de Mateus tem merecido ultimamente grande destaque por parte dos exegetas, que em geral, o classificam como o discurso eclesiástico de Jesus. Efetivamente, Mateus é o único evangelista que fala de “Igreja” (cf. Mt. 16, 18; 18, 17). Alguns estudiosos descobriram neste capítulo as sete dimensões essenciais da Igreja sonhada pelo próprio Jesus. “Para os leitores que lutam com problemas da Igreja, hoje, este pode ser o mais útil discurso de Jesus… A legislação que, no correr dos séculos, a Igreja assumiria para organizar-se no mundo, encontro neste capítulo seu sólido e puríssimo núcleo imaginário” (Raymond E. Brown).

Procurarei apenas apontar as ditas dimensões, sem me estender nos comentários.

1. A conversão radical: “Em verdade, Eu vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mt. 18, 3).

Na realidade, “se alguém está em Cristo, é uma nova criatura” (2Cor 5, 17).

2. A remoção dos escândalos: “Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem” (Mt 18, 7). O escândalo é a tentativa satânica de destruir a obra de Cristo.

3. A dimensão missionária: a Igreja de Jesus é essencialmente missionária, e isto ao ponto de o pastor ser capaz de deixar noventa e nove ovelhas nos montes e ir ao encontro de uma única ovelha extraviada: “E se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram… Porque não é da vontade do Pai, que está nos céus, que um desses pequeninos se perca” (Mt 18, 12 -14).

4. A correção fraterna: esta é descrita em Mt 18, 15-17 com uma precisão de fórmulas de tipo jurídico, que retrata com certeza a prática da comunidade primitiva. “Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lher der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvido, trata-o como o gentio ou o publicano”.

5. A hierarquia: “Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18, 18). O poder das chaves, conferido a Pedro em Mt 16, 19, é conferido agora ao colégio apostólico como um todo.

6. A oração em comum: Os versículos 19-20 constituem o cerne não somente do discurso eclesiástico, como de todo o Evangelho de Mateus. Quando Jesus afirma que “onde dois ou três estiverem reunidos, em meu nome, ali estou eu no meio deles”, está realmente definindo a Igreja que deseja edificar. Esta, consequentemente, não depende do número de seus membros. Basta a comunidade mínima (dois ou três), desde que esteja reunida em seu nome e com Ele no meio.

7. A dimensão do perdão: Por ser comunidade, a Igreja é um contínuo encontro de pessoas, com seus temperamento, seus problemas, seus defeitos. Sempre haverá atritos, desencontros, ofensas. Nesse quadro realista nasce o problema de Pedro: “Senhor, quantas vezes devo perdoas ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” A resposta de Jesus foi incisiva: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22)! O perdão é a grande prova do amor; se ele vier a faltar, faltará também o amor. E onde falta o amor, Deus aí não está. Então, não haverá Igreja.

Frei Geraldo de Araújo Lima, O.Carm.
membro da Comissão Arquidiocesana de Pastoral
para a Doutrina da Fé

Evangelho do Dia

Ano B - Dia: 23/08/2012



Como tesouro
Leitura Orante


Mt 13,44-46

- O Reino do Céu é como um tesouro escondido num campo, que certo homem acha e esconde de novo. Fica tão feliz, que vende tudo o que tem, e depois volta, e compra o campo.
- O Reino do Céu é também como um comerciante que anda procurando pérolas finas. 46Quando encontra uma pérola que é mesmo de grande valor, ele vai, vende tudo o que tem e compra a pérola.


Leitura Orante


Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os internautas:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Trindade Santíssima
- Pai, Filho, Espírito Santo -
presente e agindo na Igreja e na profundidade do meu ser.
Eu vos adoro, amo e agradeço.
1. Leitura (Verdade)

O que diz o texto do dia?

Leio atentamente, na Bíblia, o texto Mt 13,44-46, e observo as recomendações de Jesus.
Jesus diz que o Reino vale muito. Vale tudo o que se tem. É como um tesouro escondido pelo qual vale sacrificar tudo. Ou como um comerciante que encontra uma pérola fina, preciosa. Da mesma forma, vende tudo o que tem e compra esta pérola. Nos dois casos, cabe ao homem, à pessoa, descobrir o tesouro, a jóia e decidir por ela, a ponto de renunciar a tudo mais que tem. É uma renúncia ao transitório e que não merece ser supervalorizado. Uma renúncia por preferir o melhor. O homem, então, dá tudo pelo tudo.

2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
O maior tesouro, a pérola preciosa é participar do Reino, ou seja da família de Jesus, como os discípulos.
O texto me faz recordar o que disseram os bispos em Aparecida: "Jesus faz dos discípulos seus familiares, porque compartilha com eles a mesma vida que procede do Pai e lhes pede, como discípulos, uma união íntima com Ele, obediência à Palavra do Pai, para produzir frutos de amor em abundância. Dessa forma o testemunho de São João no prólogo de seu Evangelho:"A todos aqueles que crêem em seu nome, deu-lhes a capacidade para serem filhos de Deus", e são filhos de Deus que "não nascem por via de geração humana, nem porque o homem o deseje, mas sim nascem de Deus" (Jo 1,12-13)." (DAp 133).

3.Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, com salmos ou outras orações e concluo, com os bispos da América Latina:
Louvamos a Deus pelo dom maravilhoso da vida e por aqueles que a honram e a dignificam ao colocá-la a serviço dos demais; pelo espírito alegre de nossos povos que amam a música, a dança, a poesia, a arte, o esporte e cultivam uma firme esperança em meio a problemas e lutas.
Louvamos a Deus porque, sendo nós pecadores, Ele nos mostrou seu amor reconciliando-nos consigo pela morte de seu Filho na cruz.
Louvamos a Deus porque Ele continua derramando seu amor em nós pelo Espírito Santo e nos alimentando com a Eucaristia, pão da vida (cf. Jo 6,35)." (DAp 106).

4.Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é impregnado do espírito de renúncia para conquistar o tesouro do Reino.

Bênção Bíblica
O Senhor o abençoe e guarde!
O Senhor lhe mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de você!
O Senhor lhe mostre seu rosto e lhe conceda a paz!' (Nm 6,24-27).
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.