sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Homilia Papa em Santa Marta: o pensamento do cristão é livre e não uniforme



Cidade do Vaticano (RV) – O Santo Padre celebrou Missa, na manhã desta sexta-feira, na Capela da Casa Santa Marta no Vaticano, onde reside.

Partindo da Liturgia do dia, o Papa explicou qual deve ser “o modo de pensar de um cristão”. O cristão, disse, deve pensar segundo Deus e, por isso, rejeitar um pensamento frágil e uniforme. Quem segue Jesus, não pensa só com a própria cabeça, mas com o coração e o espírito, dentro de si, para poder entender a ação de Deus na história.

Jesus ensina seus discípulos a compreender os sinais dos tempos, que os fariseus não conseguiam. Ele quer que entendamos o que realmente acontece no coração, na vida, no mundo, na história. Eis os sinais dos tempos! Pelo contrário, o espírito do mundo nos faz outras propostas e nos sugere seguir o caminho da uniformidade, sem pensamento e sem liberdade. E o Papa continuou:

“O pensamento uniforme, o pensamento igual e frágil é um pensamento difundido... O espírito deste mundo tenta impedir o que Jesus nos pede: um pensamento livre por parte do homem, que faz parte do Povo de Deus. Eis o significado da salvação: ser povo, ser povo de Deus, viver na liberdade”.

Com efeito, recordou o Pontífice, Jesus quer que pensemos livremente, para entender o que acontece em nós e ao nosso redor. Devemos saber qual é a verdade. Para que isto aconteça, não podemos agir sozinhos, mas precisamos da ajuda do Senhor. Somente assim podemos entender os sinais dos tempos, sobretudo através da inteligência, que nos foi dada como dom do Espírito Santo. Então, qual o meio que o Senhor nos propõe? E o Papa respondeu:

“Sempre através do espírito de inteligência, para entender os sinais dos tempos. É belo pedir ao Senhor Jesus esta graça: que nos envie o seu espírito de inteligência, afim de que não tenhamos um pensamento frágil, um pensamento uniforme... mas um pensamento que brota da alma, do coração e que dá o verdadeiro sentido dos sinais dos tempos”. (MT)


Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano
 

Dia de Ação de Graças, uma festa profundamente católica


Jantar de ação de graças: momento de agradecimento.
Denver, Colorado – Nessa quinta-feira (28), nos Estados Unidos, foi celebrado o "Thanksgiving" ou o Dia de Ação de Graças, que recorda o primeiro jantar de agradecimento em 1621 de um grupo de peregrinos com nativos, em que se agradeceu a Deus pela abundância de colheitas no novo mundo.

O arcebispo de Los Angeles (EUA), Dom José Gómez, explica porque esta festa é profundamente católica. Em 2008 quando era ainda Arcebispo de Santo Antônio (Texas), Dom Gómez publicou no jornal Today’s Catholic um artigo onde explicava o sentido católico do Dia de Ação de Graças, "um dia especial, onde acima de tudo se celebra a unidade familiar. Com efeito, as famílias se reúnem no Thanksgiving com mais frequência que em qualquer outra festa, incluindo o Natal".

O prelado relata que "antes da primeira celebração do Thanksgiving, em 1621 em terras norte-americanas, no dia 30 de abril de 1598, no Texas, Dom Juan de Oñate já tinha declarado oficialmente um ´Dia de Ação de Graças´, que foi comemorado com o santo sacrifício da Missa". Oñate, conta o Prelado, "fez o mais propriamente católico: celebrar a Eucaristia, uma palavra que vem do termo grego Eukaristein, e que significa, precisamente ‘ação de graças’".
"Essa é a razão pela qual, embora o ´Thanksgiving´ não seja um dia de preceito no calendário católico, o calendário litúrgico da Igreja nos Estados Unidos o celebra com a solenidade de duas leituras – uma do Antigo e outra do Novo Testamento – e com uma emblemática leitura do Evangelho de Lucas: a passagem do ‘Magnificat’" de Maria.
Dom Gómez ressalta que "embora a Virgem Maria o tenha vivido de maneira única e privilegiada, todos (…) podemos elevar nossa ação de graças a Deus porque nos deu mais do que imaginamos ou merecemos, simplesmente porque, como nos diz nossa Santa Mãe, Ele fez obras grandes por nós, e seu nome é santo".
"Por isso, os católicos não só temos que celebrar o Dia de Ação de Graças com profundo espírito de oração, agradecimento e alegria, como também a celebração deste dia deve nos levar a recordar que nossa vida como católicos é uma constante ação de graças. Através dos nossos atos da vida cotidiana, que devem todos eles dar glória a Deus, e de maneira especial através da celebração da Eucaristia".
O atual arcebispo de Los Angeles, a maior arquidiocese dos Estados Unidos, recorda também que "este fim de semana iniciamos o tempo especial do Advento. Através dele nos preparamos para receber o supremo presente de Deus: seu próprio Filho, feito um de nós para reconciliar à humanidade". "Rezo –conclui– de todo coração a nossa Santa Mãe, a grande agradecida do Senhor, para que nos prepare com um coração cheio de ação de graças para os grandes mistérios do Natal".
SIR

'Evangelii gaudium', o vade mecum do papa


Por Andrea Tornielli
"Quem quer pregar deve, em primeiro lugar, estar disposto a deixar-se comover pela Palavra e fazê-la sua carne, sua existência concreta". Em torno dessa informação, estão as 18 páginas da exortação apostólica "Evangelii gaudium", dedicadas à homilia e a sua preparação. Um espaço considerável, que demonstra a preocupação do papa pelo "ministério" da pregação, integrado pela mensagem cristã e a celebração eucarística. "Irei me deter, particularmente, e até com certa meticulosidade, na homilia e na sua preparação, porque são muitas as reclamações dirigidas em relação a este grande ministério, as quais não podemos nos fazer de surdos. A homilia é pedra fundamental para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com seu povo".

Não se pode esquecer que justamente as homilias, e as homilias cotidianas da missa em Santa Marta, representam uma das novidades mais significativas do seu pontificado: pregações breves, eficazes, simples, cheias de imagens para que mesmo as pessoas simples as compreendam. Ainda que não sejam escritas, as homilias do magistério cotidiano de Francisco são o fruto de uma longa meditação matinal sobre as Leituras, realizada durante as primeiras horas da madrugada.

Francisco lembra que a pregação durante a missa "não é tanto um momento de meditação e catequese, mas de diálogo de Deus com seu povo", que "a homilia não pode ser um espetáculo de entretenimento, não corresponde à lógica dos recursos midiáticos, mas deve ter o fervor e o sentido de uma celebração” e que, portanto, “deve ser breve e evitar a aparência de uma palestra ou de uma aula”, para não prejudicar “a harmonia” entre as diferentes partes da missa. O Papa convida o pregador a falar "como uma mãe que fala com seu filho”, “mediante a aproximação cordial do pregador”, “o calor da sua voz, a delicadeza do estilo de suas frases, a alegria de seus gestos”. Explica que “a pregação puramente moralista ou doutrinária, assim como aquela que se converte em uma aula de exegese, reduzem esta comunicação entre corações que se dá na homilia”. Na homilia, de fato, “a verdade vai de mãos dadas com a beleza e o bem. Não se trata de verdades abstratas ou de frios silogismos, porque também se comunica na beleza das imagens que o Senhor utilizava para estimular a prática do bem”.

Quem prega deve transmitir “a síntese da mensagem evangélica”, e não “ideias ou valores soltos. Onde está sua essência, ali está seu coração. A diferença entre iluminar o lugar com esta essência e iluminar com ideias soltas é a mesma que há entre o aborrecimento e o ardor do coração. O pregador tem a linda e difícil missão de juntar os corações que se amam, o do Senhor com os de seu povo”.

Ao se olhar de perto a preparação da homilia, Francisco pede que se dedique a ela “um tempo prolongado de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral”, além de todos os assuntos que deve seguir um padre: “Um pregador que não se prepara não é ‘espiritual’; é desonesto e irresponsável com os dons que recebeu”.

Há que se “prestar toda a atenção ao texto bíblico, que deve ser o fundamento para a pregação”; a Palavra deve ser venerada e estudada “com sumo cuidado e com um santo temor em manipulá-la. Para poder interpretar um texto bíblico necessita-se de paciência e de se abandonar toda a ansiedade”. A preparação da pregação “requer amor. Só se dedica tempo livre e sem pressa às coisas ou as pessoas que se ama e aqui se trata de amar a Deus que está querendo falar”.

Também é importante captar a mensagem central do texto: “Se um texto foi escrito para consolar, não deve ser utilizado para corrigir erros; se foi escrito para encorajar, não deveria ser utilizado para doutrinar; se foi escrito para ensinar algo sobre Deus, não deveria ser utilizado para explicar diversas opiniões teológicas; se foi escrito para motivar os louvores ou o trabalho missionário, não utilizemos para informar sobre as últimas notícias”. Além disto, deve-se saber apresentar o texto em plena harmonia como toda a mensagem cristã, sem “prejudicar o tom próprio e específico do texto que irá pregar”.

“Quem quer pregar, primeiro deve estar disposto a se deixar comover pela Palavra e fazê-la carne em sua existência concreta. Desta maneira, a pregação consistirá nesta atividade tão intensa e fecunda que é ‘comunicar aos outros o que se contemplou’”, como escrevia São Tomás. Deus quer usar os pregadores “como seres vivos, livres e criativos, que se deixam penetrar por sua Palavra antes de transmiti-la; sua mensagem deve passar realmente através do pregador, mas não apenas por sua razão, mas tomando todo o seu ser”.

Francisco fala depois sobre a importância da “lectio divina”, a leitura espiritual de um texto a partir de seu significado literal, para fazer com que não se diga: “o que lhe convém, o que lhe serve para confirmar suas próprias decisões, o que se adapta aos seus próprios esquemas mentais. Isto, em definitivo, será utilizar algo sagrado para o próprio benefício e passar essa confusão ao Povo de Deus”. Para fazê-lo, é necessário que o sacerdote se pergunte: “Senhor, o que este texto diz a mim? O que quer mudar na minha vida com esta mensagem? O que me incomoda neste texto? Por que isto não me interessa?”, ou melhor: “O que me agrada? Como esta Palavra me estimula? O que me atrai? Por que me atrai?”. Evitando a tentação, “muito comum” de “pensar o que o texto diz aos outros, para evitar aplicá-lo a própria vida”.

Os que pregam necessitam “também ouvir o povo, para descobrir o que os fiéis necessitam escutar. Um pregador é um contemplador da Palavra e também um contemplador do povo”. Deve conectar “a mensagem do texto bíblico com a situação humana”, com algo que as pessoas vivem. “Esta preocupação não corresponde a uma atitude oportunista ou diplomática, mas é profundamente religiosa e pastoral”. Não tem que “oferecer crônicas da atualidade para despertar os interesses: para isto já existem os programas televisivos”, mas podem ser tomados como pontos de partida “alguns fatos para que a Palavra possa ressoar com força, como convite à conversão, adoração, atitudes concretas de fraternidade e de servidão”.

Além do conteúdo, a forma para transmiti-lo é importante. “Alguns creem que podem ser bons pregadores por saber o que devem dizer, mas descuidam de como, a forma concreta de desenvolver uma pregação. Queixam-se quando os demais não os escutam ou não os valorizam, mas talvez não se tenham se empenhado na buscar de uma forma adequada de apresentar a mensagem”.

Para que uma homilia seja atrativa e rica, Francisco sugere “aprender a usar imagens na pregação, quer dizer, a falar com as imagens”. E a linguagem deve ser simples: “Deve ser uma linguagem que seus receptores compreendam, para não correr o risco de falar para o vazio. Frequentemente, os pregadores usam palavras que aprenderam em estudos e em determinados ambientes, mas que não são parte do linguajar comum das pessoas que os escutam”. Para poder falar para as pessoas deve-se “escutar muito”, há que “compartilhar a vida das pessoas e prestar uma deliciosa atenção”. Bergoglio explica que a simplicidade e a clareza não são as mesmas coisas, e que se pode falar com a primeira, enquanto linguagem, ao mesmo tempo em que se carece de clareza por falta de lógica, de ordem, de unidade temática.

A linguagem deve ser positiva: “Não diz tanto o que não deve se fazer, mas propõe o que podemos fazer melhor. Em todo caso, se indicar algo negativo, também se atenta em mostrar seu valor positivo que atraia, para não ficar apenas na queixa, no lamento, na crítica e no remorso”.

Sacerdotes e pregadores, como forem, têm à sua disposição um detalhado vade mecum para preparar suas homilias. E têm, sobretudo, um exemplo cotidiano no papa.
Vatican Insider, 27-11-2013.

Para vencer o medo

A edificação da paz passa através do direito à liberdade religiosa .

Os cristãos não querem impor nada a ninguém. Testemunham apenas com alegria aquilo em que crêem. Estão sempre prontos a dar o primeiro passo para ir ao encontro dos outros, sem desanimar perante medos e possíveis incompreensões.

Convictos de que o futuro consiste na convivência respeitosa das diversidades e não na homologação a um pensamento único. Estão também convictos de que a edificação da paz passa através do respeito do direito à liberdade religiosa, que vale para todos.

Ao encontrar na manhã dessa quinta-feira (28) os participantes na Plenária do Pontifício Conselho para o diálogo inter-religioso, o papa Francisco sintetizou assim o seu pensamento sobre a necessidade de prosseguir o caminho do diálogo entre os homens de diferentes confissões para responder juntos a quantos continuam a procurar confinar a religião na esfera do privado ou a impedir a sua profissão recorrendo até à perseguição.
E deseja que cada fiel se liberte dos medos e incompreensões gerados pelos erros do passado e, mesmo respeitando as diversidades dos outros, prossiga no caminho do diálogo "que não significa renunciar à própria identidade".


L'Osservatore Romano, 29-11-2013.

A fé nunca é um fato particular


A proibição de adorar a Deus é o sinal de uma “apostasia geral”, é a grande tentação que procura  convencer os cristãos a empreender “um caminho mais racional e tranquilo”, obedecendo “às ordens dos poderes mundanos” que pretendem reduzir “a religião a um fato particular”. Não querem sobretudo que Deus seja adorado “com confiança e fidelidade”. Foi precisamente contra esta tentação que o papa Francisco advertiu na missa celebrada nessa quinta-feira (28), na capela de Santa Marta.

Como de costume, o pontífice inspirou-se na liturgia da Palavra que "nos faz pensar nos últimos dias, no tempo final, no fim do mundo, no tempo da vinda final de nosso Senhor Jesus Cristo". De fato, explicou, "na vida de cada um de nós, temos tentações. Muitas. O demônio impele-nos a não ser fiéis ao Senhor. Às vezes fortemente". Como quando Jesus disse a Pedro: “o demônio queria joeirá-lo como o trigo. Muitas vezes tivemos esta tentação e, como pecadores, caímos”. Mas na liturgia, disse o papa, hoje "fala-se da tentação universal, da provação universal, do momento no qual toda a criação do Senhor estará diante desta tentação entre Deus e o mal, entre Deus e o príncipe deste mundo".

De resto, prosseguiu, "com Jesus o demônio começou a fazer esta experiência no início da sua vida, no deserto, procurando convencê-lo   a empreender outro caminho, mais racional e tranquilo, e menos perigoso. No fim fê-lo ver a sua intenção: se tu me adorares dar-te-ei isto!  Procurava ser o deus de Jesus”.  E o próprio Jesus, afirmou o papa, depois “teve muitas provações na sua vida pública: insultos, calúnias” ou quando se apresentaram diante dele de modo hipócrita “para o pôr à prova”. Também “no final da sua vida foi posto à prova  na cruz pelo príncipe deste mundo: “mas se és o Filho de Deus desce e  acreditaremos!”“. Eis que, continuou o Pontífice, Jesus se depara “outra vez com a prova de optar por outra via de salvação”. Mas, a ressurreição de Jesus chegou através da via “que o Pai queria e não por aquela que o príncipe deste mundo desejava”.

Na liturgia de hoje, disse o papa,  “a Igreja faz-nos pensar no fim deste mundo, porque ele acabará. A fachada deste mundo desaparecerá”. E há uma palavra no Evangelho “que nos impressiona bastante: todas estas coisas acontecerão”.  Mas até quando devemos esperar? A resposta que o Evangelho de Lucas (20, 21-28) nos dá é: “enquanto os tempos dos pagãos não se realizarem”. E de fato, disse o papa, “também os pagãos têm um tempo de plenitude”: o kairós dos pagãos. “Eles – repetiu – têm um kairós que será este, o triunfo final: Jerusalém espezinhada” e, lê-se no Evangelho, “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, e na terra angústia dos povos em ansiedade pelo fragor do mar e das ondas, enquanto os homens morreram por causa do medo e pela expectativa do que acontecerá na terra. Os poderes dos céus de fato estarão invertidos”.

Praticamente “é a calamidade”, frisou o papa. “Mas quando Jesus fala desta calamidade noutro trecho, diz-nos que será uma profanação do templo, da fé e do povo. Será a abominação, a desolação da abominação (Daniel 9, 27). O que significa? Será como o triunfo do príncipe deste mundo, a derrota de Deus. Parece que ele, naquele momento final de calamidade, apoderar-se-á deste mundo”, tornando-se assim o “dono do mundo”.

A palavra de Deus recorda-nos, prosseguiu o papa, como “os cristãos que sofrem tempos de perseguições, de proibição de adoração, são uma profecia daquilo que acontecerá a todos”. Mas precisamente em  momentos como este, isto é quando os tempos dos pagãos se  realizarem, “erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação  está próxima”. Com efeito, explicou o bispo de Roma “o triunfo, a vitória de Jesus Cristo é levar a criação ao Pai no final dos tempos”.

Mas não devemos temer. O papa repetiu a promessa de Deus  que “nos pede fidelidade e paciência. Fidelidade como Daniel, que foi fiel ao seu Deus e adorou a Deus até ao fim. E paciência, porque os cabelos da nossa cabeça não cairão, assim prometeu o Senhor”. E concluiu exortando a refletir, sobretudo esta semana, sobre “esta apostasia geral que se chama proibição de adoração”. E a  perguntarmo-nos: “Eu adoro o Senhor? Adoro Jesus   Cristo o Senhor? Ou faço o jogo do príncipe deste mundo e adoro a meias? Adorar até ao fim com confiança e fidelidade é a graça que devemos pedir”.
L'Osservatore Romano, 29-11-2013.

A Igreja Católica e a educação

O catolicismo se interessa pelo desenvolvimento do homem todo e de todos os homens.


Biblioteca da Escola Superior da Dom Helder Câmara: fonte de crescimento humanitário espiritual. (Foto: Arquivo)
A educação integral da pessoa humana faz parte indissociável da missão evangelizadora da Igreja. Porque colabora com o desenvolvimento humano de forma integral, ela tem sido reconhecida como Mestra em questões de humanidade. Como prosseguidora e atualizadora da   obra de Cristo que "veio para que todos tenham vida e a tenham plenamente". (Jo.10,10), a Igreja existe para evangelizar, ou seja, para anunciar Jesus Cristo. A partir da prática humanitária de Jesus, no dizer de Paulo VI, a Igreja deve interessar-se no desenvolvimento do homem todo e de todos os homens.

A palavra de Cristo "Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos é a mim que estareis fazendo" (Mt.25,22) indica a caridade como uma atividade ampla, através de meios que favoreçam aos homens e mulheres seu desenvolvimento integral, seja na saúde física, seja na capacidade intelectual, seja na responsabilidade de criar reais condições para a convivência social pacifica, solidária, justa, tendo consciência da transcendência da vida humana.

Nesse sentido, na história, encontramos a presença da Igreja na linha de frente do desenvolvimento intelectual, já no início do cristianismo com o surgimento vários autores competentes, com o fim de responder à perseguição física e intelectual dos quatro primeiros séculos, que usaram de seus recursos de estudo e pesquisa para argumentar de forma consistente, através da razão a sustentabilidade da fé cristã. Exemplifiquemos com Irineu de Lion, com seus "Adversus Haereses", Policarpo, Tertuliano, Cirilo de Alexandria, Jerônimo, o biblista, Ambrósio, Basílio, João Crisóstomo, o grande Santo Agostinho de Hipona e outros.

Na Idade Média, compreendida entre o ano 476, quando se deu a queda do Império Romano do ocidente e o ano 1453, queda de Constantinopla, no Oriente, erroneamente e preconceituosamente apresentada como idade das trevas, revela luminosas novidades no campo do estudo. É aí que surgem as Universidades, originadas pelas mãos da Igreja Católica, ao lado das catedrais e dos mosteiros, se transformando em extraordinários centros do saber que atravessariam os séculos e chegariam até nossos tempos como sistema ainda insuperado do conhecimento, da pesquisa, da formação de profissionais e construtores da vida social.

O caráter social das escolas que já existiam junto às igrejas paroquiais, catedrais e mosteiros, recebendo não só gente da classe nobre, mas também dos meios populares e pobres, perdura ao surgirem as universidades. A primeira universidade fundada foi a de Bologna, no centro da Itália, no ano de 1158. Em 1200, ela já contava com cerca de 10 mil estudantes de toda a Europa.

A segunda foi a Sorbone, de Paris, nascida da escola episcopal de Notre Dame, cujo início se deu em 1170, iniciativa do Padre Sorbon, confessor do rei São Luis IX, da França. Entre tantos nomes de destaque, nesta escola se formaram Tomás de Aquino, Inácio de Loyola e Francisco Xavier.   

Hoje, em todo o mundo há milhares de escolas católicas e centenas de universidades que têm sido responsáveis pela graduação de um imenso número de profissionais, pensadores e cientistas. Elas são fonte de crescimento humanitário  espiritual. No centro da vida acadêmica católica, além do altíssimo nível formativo que pretendem ter, as escolas católicas oferecem aos alunos e suas comunidades o maior conhecimento de Jesus Cristo, homem e Deus verdadeiros, salvador da humanidade.
A12, 26-12-2013.
* Dom Gil Antônio Moreira é arcebispo metropolitano de Juiz de Fora.

Alegria do evangelho


O Papa Francisco reaviva a recuperação de sentidos genuínos na vivência do Evangelho
O Papa Francisco define ainda mais nitidamente o horizonte norteador da Igreja Católica neste tempo com a sua recém-publicada Exortação Apostólica, intitulada “A alegria do Evangelho”.  Obviamente, trata-se de uma exortação que nasce da “escuta”, na dinâmica da vida da Igreja e do que é próprio da graça de Deus. O Papa Francisco, com frescor próprio do coração de pastor enraizado no chão latino-americano, reaviva, com singularidades, a recuperação de sentidos genuínos na vivência do Evangelho. O conhecimento da Exortação do Papa é determinante na compreensão e no tratamento do mais importante desafio da Igreja Católica na contemporaneidade: a insubstituível tarefa de anunciar o Evangelho no mundo atual.

Ao falar sobre alegria, um capítulo determinante da vida e um interesse comum a todos os corações, é imprescindível compreender que o Evangelho de Jesus Cristo não é um simples conjunto conceitual alternativo para aprendizagem, ou simples referência quando necessário. A alegria do Evangelho é duradoura.  Enche o coração dos que, no cotidiano, vivenciam a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria que não é como muitas outras, que seduzem, mas são passageiras e não têm força para resgatar o vazio interior, o isolamento e a tristeza. O Papa Francisco adverte que o grande risco do mundo contemporâneo, com a oferta múltipla e opressora de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração acomodado e avarento, da busca doentia de prazeres superficiais.

Não é possível encontrar uma alegria verdadeira e duradoura quando a vida interior se fecha nos seus próprios interesses. Isto impede a escuta de Deus e faz morrer o entusiasmo de se fazer o bem. Um risco que, sublinha o Papa Francisco, pode atingir também aos que creem e praticam a fé. Um cenário que pode ser constatado quando são encontradas pessoas descontentes, ressentidas, amargas e incapacitadas para cultivar sonhos e projetos, necessários para conduzir a vida na direção da sua estatura própria de dom de Deus. A alegria, necessidade natural do coração humano, expressão de vida vivida com dignidade, vem com o anúncio, conhecimento, experiência e testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.

A Igreja, que tem a missão de promover a experiência dessa alegria duradoura tem que estar em movimento, isto é, sempre a caminho. Cada membro, tomando a iniciativa de sair e ir ao encontro, deve renunciar às comodidades e acolher o desafio da mudança, da renovação, numa atitude permanente de conversão. É preciso ter coragem de mudar, de ousar novas respostas, em todos os campos da sociedade, dinâmicas e projetos. No caminho contrário, corre-se o risco de se tornar um instrumento inócuo no serviço e no anúncio da fonte inesgotável dessa alegria.

Por isso, diz o Papa Francisco, a Igreja está desafiada por uma exigência de renovação improrrogável. Para se adequar a esta necessidade, é preciso reconhecer os muitos desafios postos pelo mundo contemporâneo. A consideração das diferentes culturas urbanas, com um conhecimento mais aprofundado de suas dinâmicas, interesses, linguagens e configurações, tem a propriedade de mostrar o caminho novo que fará a renovação da Igreja. O Papa Francisco sublinha que na atual cultura dominante, o primeiro lugar está ocupado por aquilo que é exterior, imediato, visível, veloz, superficial e provisório. O real dá lugar à aparência. Constata-se uma deterioração de valores culturais, com a assimilação de tendências eticamente fracas. Esse processo de renovação e  trabalhosa tarefa de ajudar o mundo a encontrar no Evangelho a fonte perene de alegria duradoura supõe, sem negociação, a coragem e a perseverança no dizer “não” a uma economia da exclusão, “não” à nova idolatria do dinheiro, que dá ao mercado a força de governar e não  a de servir, gerando perversidades inadmissíveis. “Não” a todo tipo de iniquidade que gera violência, “não” ao egoísmo mesquinho e ao pessimismo estéril.

É hora de compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de uma nova “escuta” prioritária dos pobres, trabalhando para respeitar o povo, de muitos rostos e necessidades. Convida-nos o Papa Francisco a buscar, corajosamente, novas configurações organizacionais, institucionais e pessoais, apoiados na certeza daquilo que, luminosamente, está na alegria do Evangelho.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.

Evangelho do dia

Ano C - 29 de novembro de 2013

Lucas 21,29-33

Aleluia, aleluia, aleluia.
Levantai vossa cabeça e olhai, pois a vossa redenção se aproxima! (Lc 21,28)


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Jesus 21 29 acrescentou ainda esta comparação: "Olhai para a figueira e para as demais árvores.
30 Quando elas lançam os brotos, vós julgais que está perto o verão.
31 Assim também, quando virdes que vão sucedendo estas coisas, sabereis que está perto o Reino de Deus.
32 Em verdade vos declaro: não passará esta geração sem que tudo isto se cumpra.
33 Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão".
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
A LIÇÃO DA FIGUEIRA
Os cristãos são admoestados a se manterem em contínuo estado de vigilância em relação à história, uma vez que ela está sendo fermentada pelas realidades escatológicas. Urge, pois, perceber como nela se manifestam os sinais do fim.
A mensagem de Jesus nada tem a ver com os apocalipses da época, reservados a um grupo restrito de iniciados. Jesus ensina publicamente, sem a preocupação de selecionar seus ouvintes. Embora só os discípulos o compreendam, sua doutrina deve ser anunciada a todos os povos. Basta abrir-se para ele, para entender o conteúdo de seus ensinamentos.
A figueira e as demais árvores foram empregadas para ilustrar a parábola da escatologia. Vendo-as frutificar, é possível afirmar, sem perigo de engano, que o verão se aproxima. Igualmente, pode-se declarar que algo de novo estará acontecendo na história, quando a morte ceder lugar à vida, a escravidão abrir espaço para a liberdade, a injustiça for sobrepujada pela justiça, o ódio e a inimizade forem vencidos pelo amor e pela reconciliação.
Este germinar de esperança é um sinal evidente da presença do Filho do Homem, fazendo a escatologia acontecer. Chegará um tempo de plenitude. Este, porém, está sendo preparado pela aproximação paulatina daquilo que todos esperamos.

Oração
Espírito de atento discernimento, dá-me olhos para perceber os sinais da aproximação do Senhor, cuja libertação vai, pouco a pouco, concretizando-se na nossa história.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Daniel 7,2-14
Leitura da profecia de Daniel.
Eu, Daniel, 7 2 via, no transcurso de minha visão noturna, os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o Grande Mar.
3 Surgiram das águas quatro grandes animais, diferentes uns dos outros.
4 O primeiro parecia-se com um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o olhava, suas asas foram-lhe arrancadas, foi levantado da terra e erguido sobre seus pés como um homem, e um coração humano lhe foi dado.
5 Apareceu em seguida outro animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um lado e tinha à boca, entre seus dentes, três costelas. Diziam-lhe: "Vamos! Devora bastante carne!" 6 Depois disso, vi um terceiro animal, idêntico a uma pantera, que tinha nas costas quatro asas de pássaro; tinha ele também quatro cabeças. O império lhe foi atribuído.
7 Finalmente, como eu contemplasse essas visões noturnas, vi um quarto animal, medonho, pavoroso e de uma força excepcional. Possuía enormes dentes de ferro; devorava, depois triturava e pisava aos pés o que sobrava. Ao contrário dos animais precedentes, ostentava dez chifres.
8 Como estivesse ocupado em observar esses chifres, eis que surgiu, entre eles outro chifre menor, e três dos primeiros foram arrancados para dar-lhe lugar. Este chifre tinha olhos idênticos aos olhos humanos e uma boca que proferia palavras arrogantes.
9 Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas, com rodas de fogo ardente.
10 Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu audiência e os livros foram abertos.
11 Olhei então, devido à balbúrdia causada pelos discursos arrogantes do chifre, olhei até o momento em que o animal foi morto, seu corpo subjugado e a fera jogada ao fogo.
12 Quanto aos outros animais, o domínio lhes foi igualmente retirado, mas a duração de sua vida foi fixada até um tempo e uma data.
13 Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido.
14 A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído.
Palavra do Senhor.
Salmo Dn 3
Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

Montes e colinas, bendizei o Senhor!
Plantas da terra, bendizei o Senhor!
Mares e rios, bendizei o Senhor!

Fontes e nascentes, bendizei o Senhor!
Baleias e peixes, bendizei o Senhor!

Pássaros do céu, bendizei o Senhor!
Feras e rebanhos, bendizei o Senhor!
Oração
Levantai, ó Deus, o ânimo dos vossos filhos e filhas, para que, aproveitando melhor as vossas graças, obtenham de vossa paternal bondade mais poderosos auxílio. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.