sexta-feira, 7 de março de 2014

Papa: "Jejum também é saber acariciar"



Cidade do Vaticano (RV) - “Eu me envergonho da carne do meu irmão, da minha irmã?”: esta é uma das perguntas feitas pelo Papa Francisco na missa celebrada esta manhã na Casa Santa Marta.

O Cristianismo, disse ele, não é uma regra sem alma, um prontuário de regras formais para pessoas que usam a máscara da hipocrisia para esconder um coração vazio de caridade. O Cristianismo é a própria “carne” de Cristo, que se curva sem se envergonhar sobre quem sofre. Para explicar esta contraposição, o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia, o diálogo entre Jesus e os doutores da lei, os quais criticam os discípulos pelo fato de não respeitarem o jejum. A questão, afirmou o Papa, é que os doutores da lei transformaram o cumprimento dos Mandamentos numa “formalidade”, esquecendo sua raiz, ou seja, “de que é uma história de salvação, de eleição e de aliança”:

Receber do Senhor o amor de um Pai, receber do Senhor a identidade de um povo e depois transformá-la numa ética, é rejeitar aquele dom de amor. Essas pessoas hipócritas são pessoas boas, fazem tudo o que deve ser feito. Parecem boas! São eticistas, mas eticistas sem bondade, porque perderam seu sentido de pertença a um povo! O Senhor dá a salvação dentro de um povo, na pertença a um povo.
Na Primeira leitura, notou o Pontífice, já o Profeta Isaias descreve com clareza qual era o jejum segundo a visão de Deus: “Romper os grilhões da iniquidade”, “pôr em liberdade os oprimidos”, mas também “repartir o pão com o faminto, recolher em casa os pobres desabrigados”, “vestir quem está nu”.

Este é o jejum que o Senhor quer! Jejum que se preocupa com a vida do irmão, que não sente vergonha – diz o próprio Isaias – da carne do irmão. A nossa perfeição, a nossa santidade vai avante com o nosso povo, no qual nós somos eleitos e inseridos. O nosso maior ato de santidade está justamente na carne do irmão e na carne de Jesus Cristo. O ato de santidade de hoje, nosso, aqui, no altar, não é um jejum hipócrita: não é nos envergonhar da carne de Cristo que vem aqui hoje! É o mistério do Corpo e do Sangue de Cristo. É dividir o pão com o faminto, cuidar dos doentes, dos idosos, daqueles que não podem dar nada em troca: isso é não sentir vergonha da carne!
Isso significa que o “jejum mais difícil”, afirmou ainda o Papa, é “o jejum da bondade”. É o jejum do qual é capaz o Bom Samaritano, que se curva sobre o homem ferido, e não o do sacerdote, que vê o necessitado mas segue avante, talvez com medo de se contaminar. E concluiu: “esta é a proposta da Igreja hoje: eu me envergonho da carne do meu irmão, da minha irmã?”:

Quando dou esmola, deixo cair a moeda sem tocar sua mão? E se por acaso a toco, faço assim, logo? (o Papa faz o gesto de limpar a mão na veste). Quando dou esmola, olho nos olhos do meu irmão, da minha irmã? Quando sei que alguém está doente, vou visitá-lo? O saúdo com ternura? Há um sinal que talvez nos ajudará, é uma pergunta: sei acariciar os doentes, os idosos, as crianças, ou perdi o sentido do carinho? Esses hipócritas não sabiam acariciar! Tinham esquecido… Não ter vergonha da carne do nosso irmão: é a nossa carne! Seremos julgados pelo modo como tratamos este irmão, esta irmã.
(BF)



Texto proveniente da página do site da Rádio Vaticano

Fraternidade e Tráfico Humano


Brasão_Dom_Saburido
As Campanhas da Fraternidade (CF), ao longo dos seus 51 anos de existência, têm estimulado a vivência da Quaresma no âmbito pastoral. Sua aplicação desperta compromisso e solidariedade, conforme ensina o Apóstolo Tiago “De que adianta alguém dizer que tem fé quando não a põe em prática? A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta” (Tg 2,14a;17). Sobretudo, nas últimas décadas, têm apresentado temas de grande atualidade e urgência, promovendo o debate e a tomada de atitude.
Neste ano de 2014, temos por tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e o lema: “É para a Liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). A escolha do tema surgiu com a proposta dos Grupos de Trabalho de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e de Combate ao Trabalho Escravo, junto à Pastoral da Mobilidade Humana com a aprovação final do Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB (Consep).
De acordo com as Nações Unidas o tráfico de pessoas é caracterizado pelo “recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, e engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração”. Esta prática acontece em diferentes escalas: local, nacional e internacional.
No Brasil, os estudos mostram que há tráfico de pessoas no país na escala local dentro dos estados e cidades); na escala nacional (entre estados) e internacional (mais comum nos países com a presença da imigração brasileira: países fronteiriços, Europa e Estados Unidos). Diante dessa realidade, o Objetivo Geral da CF-2014 é “Identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.
Assegura o texto base da campanha que a situação do tráfico humano no país e no mundo é alarmante: a Organização Internacional do Trabalho (OIT) chama a atenção para o aumento de vítimas do tráfico humano, do trabalho forçado e do tráfico para a exploração sexual. De acordo com o site da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, o tráfico de pessoas faz cerca de 2,5 milhões de vítimas por ano, incluindo homens, mulheres e crianças, mas principalmente pessoas vulneráveis e carentes – psicologicamente e de recursos. Segundo a ONU, o tráfico de pessoas é bastante lucrativo: movimenta anualmente 32 bilhões de dólares em todo o mundo. Desse valor, 85% provêm da exploração sexual. Entre os principais destinos de pessoas traficadas estão: Espanha, Itália, Portugal, França, Holanda, Áustria e Suíça.
O tema “Tráfico Humano” chega esse ano junto com a Copa do Mundo, época em que o país receberá muitos eventos e visitantes – o que pode favorecer a ação de aliciadores e traficantes. Soma-se ao tráfico o problema das drogas que vicia e cria dependência deixando as vítimas inteiramente entregues às mãos de pessoas inescrupulosas. A Campanha da Fraternidade deverá então ser intensificada com um trabalho de conscientização para minimizar a prática criminosa.
O tema da Campanha da Fraternidade deve nos levar a contemplar com maior carinho e atenção para a realidade que temos vivido no vicariato Cabo de Santo Agostinho, com o crescente desenvolvimento que vem acontecendo naquela região, por conta de Suape, assim como o Vicariato Olinda que se estende até Igarassu e Araçoiaba, por conta de Goiana. Essas regiões estão propensas, como de fato já vem acontecendo, a explorações de todo tipo, dentro da linha do que nos adverte a campanha.
O objetivo maior de todas as campanhas da fraternidade é promover o debate em todos os âmbitos e buscar soluções partilhadas e assumidas comunitariamente. Elas não podem se restringir apenas aos 40 dias da quaresma, mas devem se prolongar por todo o ano. Somos convidados/as a fazer a nossa parte e colaborarmos para que essas ideias alcancem a todos/as e possam promover a conscientização e mudanças necessárias para que a Igreja continue sua missão profética de anunciar o Reino e denunciar tudo aquilo que fere os princípios fundamentais do Evangelho.
Concluo desejando a todos e todas uma santa e fecunda Quaresma e transformadora celebração pascal.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano

Evangelho do Dia

Ano A - 07 de março de 2014

Mateus 9,14-15

Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!
Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; então o Senhor, nosso Deus, convosco estará! (Am 5,14)


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
9 14 Então os discípulos de João, dirigindo-se a Jesus, perguntaram: "Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não?"
15 Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão.
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
CADA COISA A SEU TEMPO
A atitude de Jesus em relação aos seus discípulos deixava confundidas certas pessoas. O Mestre orientava-os de forma inusitada; seus ensinamentos não coincidiam com as estritas normas religiosas da época. Ele era suficientemente sensato para não se deixar escravizar por determinadas tradições, nem sempre observadas de maneira conveniente.
O fato de Jesus não exigir dos discípulos a prática do jejum gerava suspeitas em seus opositores. Estes não podiam entender como um rabi passasse por cima de uma tradição tão venerável, e não exigisse dos seus a prática freqüente do jejum.
A visão de Jesus projetava o jejum para além da pura ascese pessoal. Ele o relacionava com a presença do Messias na história humana. Durante o tempo da vida terrestre do Messias-esposo, não convinha jejuar, para que se patenteasse a alegria de sua presença. Ao se concluir sua missão terrena e Jesus voltar para o Pai, então, será tempo de jejuar auspiciando sua nova vinda.
A prática cristã do jejum é uma forma de manter-se sempre atento, à espera do Messias que vem. A intemperança no comer e no beber pode levar o cristão a olvidar-se do caminho traçado pelo Senhor, e a buscar uma alegria efêmera. Só vale a pena festejar, quando se tem certeza da presença de Jesus.

Oração
Espírito de sabedoria, ensina-me a compreender que a prática do jejum é um meio de preparar-me para a chegada do Messias que vem.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Leitura
Isaías 58,1-9
Leitura do livro do profeta Isaías.
58 1 Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas, e à casa de Jacó seus pecados.
2 Sem dúvida eles me procuram dia após dia, desejam conhecer o comportamento que me agrada, como uma nação que houvesse sempre praticado a justiça, sem abandonar a lei de seu Deus. Informam-se junto a mim sobre as exigências da justiça, desejam a presença de Deus.
3 De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.
4 Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.
5 O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?
6 Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
7 É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.
8 Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
9 Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
Palavra do Senhor.
Salmo 50/51
Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!

Eu reconheço toda a minha iniqüidade,
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha alma penitente,
não desprezeis um coração arrependido!
Oração
Ó Deus, assisti com vossa bondade a penitência que iniciamos, para que vivamos interiormente as práticas externas da Quaresma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Liturgia Diária

Dia 7 de Março - Sexta-feira

DEPOIS DAS CINZAS *
(Roxo – Ofício do dia)

Antífona da entrada: O Senhor me ouviu e teve compaixão. O Senhor se tornou o meu amparo (Sl 29,11).
Oração do dia
Ó Deus, assisti com vossa bondade a penitência que iniciamos, para que vivamos interiormente as práticas externas da Quaresma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Isaías 58,1-9)
Leitura do livro do profeta Isaías.
58 1 Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas, e à casa de Jacó seus pecados.
2 Sem dúvida eles me procuram dia após dia, desejam conhecer o comportamento que me agrada, como uma nação que houvesse sempre praticado a justiça, sem abandonar a lei de seu Deus. Informam-se junto a mim sobre as exigências da justiça, desejam a presença de Deus.
3 De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.
4 Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.
5 O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?
6 Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
7 É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.
8 Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
9 Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 50/51
Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!

Eu reconheço toda a minha iniqüidade,
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha alma penitente,
não desprezeis um coração arrependido!
Evangelho (Mateus 9,14-15)
Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!
Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; então o Senhor, nosso Deus, convosco estará! (Am 5,14)


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
9 14 Então os discípulos de João, dirigindo-se a Jesus, perguntaram: "Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não?"
15 Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
CADA COISA A SEU TEMPO
A atitude de Jesus em relação aos seus discípulos deixava confundidas certas pessoas. O Mestre orientava-os de forma inusitada; seus ensinamentos não coincidiam com as estritas normas religiosas da época. Ele era suficientemente sensato para não se deixar escravizar por determinadas tradições, nem sempre observadas de maneira conveniente.
O fato de Jesus não exigir dos discípulos a prática do jejum gerava suspeitas em seus opositores. Estes não podiam entender como um rabi passasse por cima de uma tradição tão venerável, e não exigisse dos seus a prática freqüente do jejum.
A visão de Jesus projetava o jejum para além da pura ascese pessoal. Ele o relacionava com a presença do Messias na história humana. Durante o tempo da vida terrestre do Messias-esposo, não convinha jejuar, para que se patenteasse a alegria de sua presença. Ao se concluir sua missão terrena e Jesus voltar para o Pai, então, será tempo de jejuar auspiciando sua nova vinda.
A prática cristã do jejum é uma forma de manter-se sempre atento, à espera do Messias que vem. A intemperança no comer e no beber pode levar o cristão a olvidar-se do caminho traçado pelo Senhor, e a buscar uma alegria efêmera. Só vale a pena festejar, quando se tem certeza da presença de Jesus.

Oração
Espírito de sabedoria, ensina-me a compreender que a prática do jejum é um meio de preparar-me para a chegada do Messias que vem.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Sobre as oferendas
Ó Deus, nós vos oferecemos o sacrifício da nossa observância quaresmal para que tenhamos maior domínio sobre nós mesmos e nossas vidas vos sejam agradáveis. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão: Mostrai-me, Senhor, vossos caminhos e ensinai-me vossas veredas (Sl 24,4).
Depois da comunhão
Ó Deus todo-poderoso, concedei que, purificados de todas as faltas pela participação neste sacramento, sejamos transformados pelos remédios do vosso amor. Por Cristo, nosso Senhor.


MISSA VOTIVA

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
(Branco – Missal, pág. 382)

Oração do dia: Ó Deus, que no coração do vosso Filho, ferido por nossos pecados, nos concedestes infinitos tesouros de amor, fazei que lhe ofereçamos uma justa reparação, consagrando-lhe toda a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Sobre as oferendas: Considerai, ó Deus, o indizível amor do coração do vosso amado Filho, para que nossas oferendas vos agradem e sirvam de reparação por nossas faltas. Por Cristo, nosso Senhor.
Depois da comunhão: Ó Deus, que este sacramento da caridade nos inflame em vosso amor e, sempre voltados para o vosso amor e, sempre voltados para o vosso Filho, aprendamos reconhecê-lo em cada irmão e em cada irmã. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS):

Penitência e caridade na Quaresma


É preciso compreender o sentido dessas práticas para não ficarmos numa atitude superficial.
Por Dom Orani Tempesta*

Uma das características do tempo da Quaresma é a penitência, que deve se manifestar em uma mudança de vida e aprofundamento da fé. A tradição da igreja nos coloca o jejum, a abstinência e outros sacrifícios como oportunidades de ascese. A penitência pode consistir em uma simples abstinência, que é renúncia a algum alimento, ou pode chegar ao jejum, que consiste no privar-se das refeições de modo total ou parcial. Muitas vezes, podem ser outras formas, de acordo com a situação e a pessoa. É muito salutar a prática de tal forma de penitência.

Mas, por que jejuar? Por que abster-se de alimentos? É necessário compreender o sentido profundo que o cristianismo dá a essas práticas para não ficarmos numa atitude superficial, às vezes até folclórica ou, por ignorância pura e simples, desprezarmos algo tão belo e precioso no caminho espiritual do cristão.

O jejum nos ensina que somos radicalmente dependentes de Deus. A ideia que isso exprime é que nossa vida não vem de nós mesmos, não a damos a nós próprios; nós a recebemos continuamente: ela entra pela nossa garganta com o alimento que comemos, a água que bebemos, o ar que respiramos. Jamais o homem pode pensar que se basta a si mesmo, que pode se fechar para Deus.

Quando jejuamos, sentimos certa fraqueza e fragilidade e, às vezes, nos vem mesmo um pouco de tontura. Isso faz parte da “psicologia do jejum”: recorda-nos o que somos sem essa vida que vem de fora que nos é dada por Deus continuamente. A prática do jejum impede-nos, então, da ilusão de pensar que a nossa existência, uma vez recebida, é autônoma, fechada, independente. Nunca poderemos dizer: “A vida é minha; faço como eu quero!” A vida será sempre e, em todas as suas etapas, um dom de Deus, um presente gratuito, e nós seremos sempre dependentes dele. Essa dependência nos amadurece, nos liberta de nossos estreitos e mesquinhos horizontes, nos livra da autossuficiência e nos faz compreender “na carne” nossa própria verdade, recordando-nos que a vida é para ser vivida em diálogo de amor com Aquele que no-la deu.

O alimento é uma de nossas necessidades básicas, um de nossos instintos mais fundamentais, juntamente com a sexualidade. A abstenção do alimento nos exercita na disciplina, fortalecendo nossa força de vontade, aguçando nossa capacidade de vigilância, dando-nos a capacidade para uma verdadeira disciplina.

Nossa tendência é ir atrás de nossos instintos, de nossas tendências, de nossa vontade desequilibrada. Aliás, essa é a grande fraqueza e o grande engano do mundo atual. Dizemos: “não vou me reprimir; não vou me frustrar” e vamos nos escravizando aos desejos mais banais e às paixões mais contrárias ao Evangelho e ao amor pelo próximo.

O próprio Jesus, de modo particular, e a Escritura, de modo geral, nos exortam à vigilância e à sobriedade. O jejum e a abstinência, portanto, são treinos para que sejamos senhores de nós mesmos, de nossas paixões, desejos e vontades. Assim, seremos realmente livres para Cristo, sendo livres para realizar aquilo que é reto e desejável aos olhos de Deus! Jesus afirmou que quem comete pecado é escravo do pecado!

O jejum tem também a função de nos unir a Cristo no seu período de 40 dias no deserto. O cristão jejua por amor a Cristo e para unir-se a Ele, trazendo na sua carne as marcas da cruz do Senhor. É uma união com o Senhor que não envolve somente a alma, com seus sentimentos e afetos, mas também o corpo. É o homem todo, a pessoa na sua totalidade, que se une ao Cristo. Nunca é demais recordar que o cristianismo não é uma religião simplesmente da alma, mas atinge o homem em sua totalidade. Pelo jejum, também o corpo reza, também o corpo luta para colocar-se no âmbito da vida nova de Cristo Jesus. Também o corpo necessita, como o coração, ser esvaziado do vinagre dos vícios para ser preenchido pelo mel, que é o Espírito Santo de Jesus.

O jejum e a abstinência fazem-nos recordar aqueles que passam privação, sobretudo a fome, abrindo-nos para os irmãos necessitados. Há tantos que, à força, pela gritante injustiça social em nosso País, jejuam e se abstêm todos os dias, o ano todo! O jejum nos faz sentir um pouco a sua dor, tão concreta, tão real, tão dolorosa! Por isso mesmo, na tradição mística e ascética da Igreja, o jejum e a abstinência devem ser acompanhados sempre pela esmola: aquele alimento do qual me privo já não é mais meu, mas deve ser destinado ao pobre. É o sentido da coleta da solidariedade do Domingo de Ramos: a oferta dos valores referentes à penitência quaresmal para os trabalhos sociais da Igreja. Eis o jejum perfeito: ele me abre para Deus e para os irmãos. Nesse ponto é enorme a insistência seja da Sagrada Escritura, seja dos Padres da Igreja (os santos doutores dos primeiros séculos do cristianismo).

Nesse sentido podemos notar que o jejum vai de encontro com a caridade, ou seja, o ato de ajudar o próximo. É por isso que, justamente para valorizar o espírito do amor ao próximo e da ação social, quis dedicar na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, o ano de 2014 como Ano da Caridade. Este se iniciou no dia 20 de janeiro e vai até dia 23 de novembro. Não deixa de ser interessante perguntar o que vai ser feito no Ano Arquidiocesano da Caridade, pois a reposta não poderia ser mais simples: vamos praticar a caridade e motivar os outros a seguirem o mesmo caminho. Isso vale para cada pessoa, grupo e instituição. O importante é perceber: ninguém está isento de colocar em prática o mandamento do Senhor Jesus naquela parte que se refere a amar ao próximo.

Caridade pode ser como estamos acostumados a conceber, ajuda imediata na hora do sofrimento agudo. O mais comum nestes casos é a ajuda diante da fome. Isso é muito bom. Isso é indispensável. A fome não tem idade, raça, religião, sexo nem qualquer outra condição. Fome é fome e precisa ser enfrentada com ajuda urgente. Acontece, porém, que nem sempre as pessoas têm apenas o que chamamos de fome material, isto é, ausência de alimentos. As pessoas têm outras necessidades que podem ser materiais, como também afetivas, emocionais e espirituais.

Caridade é, portanto, doação gratuita. É doar um sorriso, uma gentileza, uma atenção, respeito, alimento e roupas, engajamento nas obras sociais, participação no âmbito das políticas públicas em prol do bem comum, diálogo com quem pensa diferente. Esta lista, na verdade, não termina.
SIR/Arquidiocese do Rio de Janeiro
*Dom Orani Tempesta é cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro.

Primazia da dignidade

É preciso promover mudanças e uma nova compreensão capaz de impedir que a humanidade caminhe para o caos.
O compromisso com a promoção e o respeito à dignidade humana é a possibilidade real de mudanças nos rumos da sociedade contemporânea e nos cenários que envergonham a humanidade. A primazia da dignidade das pessoas é a meta mais importante na vivência séria da cidadania. Lamentavelmente, a luminosidade da inteligência humana contracena e é obscurecida por irracionalidades, que submetem homens e mulheres a condições degradantes, ofensivas e prejudiciais à liberdade e autonomia. É preciso promover mudanças e uma nova compreensão capaz de impedir que a humanidade caminhe para o caos. Vivemos um tempo propício para isso, a Quaresma, quando a Igreja Católica convida a humanidade para ouvir Deus, fixando o olhar em Cristo Jesus, o Salvador e Redentor, preparando a celebração da Páscoa.

Exercício de espiritualidade, o caminho quaresmal é marcado pela experiência de amorosa escuta da Palavra de Deus. Também caracteriza-se por uma disposição para rever gestos e assumir atitudes mais condizentes com a dignidade humana. Trata-se de oportunidade singular para fazer crescer a solidariedade e a fraternidade, promovendo a qualificação pessoal e comunitária. A conversão do coração possibilita a cada um assumir uma conduta digna, percebendo todos como filhos e filhas de Deus, irmãos uns dos outros.  No itinerário quaresmal, a Igreja Católica enriquece o horizonte com a promoção da Campanha da Fraternidade que, neste ano, é iluminada pela Palavra de Deus com o lema “É para liberdade que Cristo nos libertou”, da Carta de São Paulo aos Gálatas. Assim, convoca todos para a coragem de reconhecer, compreender e atuar no horizonte da gravíssima situação gerada pelo tráfico humano.

“Fraternidade e tráfico humano” é o tema da Campanha que focaliza uma realidade chamada pelo Papa Francisco de “atividade ignóbil, uma vergonha para nossas sociedades que se dizem civilizadas”. O texto base da Campanha da Fraternidade 2014, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), também sublinha o absurdo desse atentado contra os filhos e filhas de Deus, limitando suas liberdades, desprezando sua honra, agredindo seu amor próprio pela exploração de sua vulnerabilidade social e econômica. Os traficantes geralmente são aliciadores que se aproximam das vítimas e de seus familiares, agindo como se fossem amigos. A pessoa é abordada com uma oferta irrecusável de trabalho, mas, levada a lugares distantes, é escravizada e torna-se prisioneira.

Esses aliciamentos se camuflam pelo recrutamento de pessoas para atividades diversas, a partir da promessa de um futuro promissor em diferentes carreiras, como as de modelo, jogador de futebol, enfermeiras, babás, garçonetes, cortador de cana, dançarinas, pedreiro e tantas outras. As vítimas são homens e mulheres, crianças e adolescentes. São reais as histórias de jovens aliciadas por redes de prostituição, levadas para lugares distantes de suas famílias, com a promessa de altos salários semanais, mas que são mantidas em cativeiro, em péssimas condições.

É hora de colocar cotidianamente na pauta de nossas ações a questão do tráfico humano, dedicando maior atenção aos acontecimentos para efetivamente oferecermos nossa contribuição cidadã aos organismos estatais. Também é preciso maior cooperação entre países na tarefa de se investir na solução desse grave problema. Torna-se cada vez mais urgente a união de esforços para fortalecer o enfrentamento dessas organizações criminosas que, entrelaçadas, se tornam sempre mais eficientes. O passo importante nesse enfrentamento será sempre o crescimento da consciência da primazia da dignidade humana.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.

O coral do Movimento Pró-criança abre o evento de lançamento regional da Campanha da Fraternidade 2014.