terça-feira, 30 de julho de 2013

Seguir Jesus, desafio que exige compromisso (2ª parte)


Subida de Jesus e do seu Movimento para Jerusalém, um Caminho de libertação
1 – Introdução

“Jesus toma a firme decisão de partir para Jerusalém.” (Lc 9,51). “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém.” (Lc 13,22). Esses dois versículos emolduram a 1ª grande parte da Caminhada de Jesus e do seu movimento para Jerusalém (Lc 9,51-13,21). Muitas narrativas compõem essa parte imprescindível do Evangelho de Lucas. Vamos interpretar essas narrativas, não todas, observando como elas podem nos inspirar no Seguimento de Jesus e no compromisso com seu Projeto. Veremos os apelos de Jesus, suas exigências e o compromisso necessário para se seguir o Profeta da Galileia.

1.1 – Não se instalar nem olhar para trás (Lc 9,51-62)

Seguir Jesus é o coração da vida cristã. Em três pequenas cenas, Jesus sacode a consciência dos discípulos. Não busca aumentar o número de seguidores e nem de “adoradores”, mas quer seguidores comprometidos que o acompanhe sem reservas. Seguir Jesus é viver a caminho, sem nos instalarmos no bem-estar e sem buscar religião como refúgio. Jesus desconcerta: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu vais anunciar o reino de Deus” (Lc 9,60). Há “mortos” ainda de pé sem viver o sentido mais profundo da vida. Estão alucinados pelo projeto do mercado endeusado. Não é possível seguir Jesus olhando para trás. Trabalhar no projeto do Pai exige dedicação total, confiança no Deus da vida, audácia para seguir os passos de Jesus e se comprometer com seu projeto.

Seguir Jesus exige uma dinâmica de permanente movimento. A sociedade capitalista nos leva a buscar segurança, o que é uma farsa. É hora de aprendermos a seguir Jesus de forma humilde e vulnerável, porém autêntica e real. Não se distrair com costumes e obrigações que provêm do passado, mas não ajudam a construir uma sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente.

Concordamos com o teólogo José Antônio Pagola ao dizer: “Em tempos de crise é grande a tentação de buscar segurança, voltar a posições fáceis e bater novamente às portas de uma religião que nos proteja de tantos problemas e conflitos”  (p. 166). Cuidado com a busca de segurança religiosa. Hoje devemos viver “com a atmosfera de Jesus” e não “ao sabor do vento que mais sopra”. Há muita gente afundando em “água benta” e busca individual por cura, consolo. Isso é auto-ajuda, é amuleto, não é seguimento de Jesus.

Seguir Jesus implica andar na contramão, remar contra a correnteza de tantos fundamentalismos e da idolatria do consumismo. Exige também rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que entortam o queixo e de modas que aniquilam o infinito potencial humano existente em nós.

2.2 - Discípulos identificados com Jesus (Lc 10,1-12.17-20)

Ao longo da viagem para Jerusalém, as pessoas vão se definindo a favor ou contra o processo de libertação, aderindo a Jesus ou fazendo parte dos grupos que o rejeitam e o condenam à pena de morte. Todos são chamados a participar do projeto de libertação (Lc 10,1). O número 72 (setenta, segundo alguns manuscritos) é emblemático. Recorda os setenta anciãos de Israel (cf. Nm 11,16-30). Lembra, ainda, a tábua das nações de Gênesis 10. O apelo a participar no anúncio do Reino é feito a todos, sem exceção.

Qual a identidade dos discípulos de Jesus? A partir de Lc 10,2-12 percebemos sete características que identificam os discípulos e discípulas de Jesus:

1. são pessoas que rezam/oram porque percebem a urgência do projeto de Deus (Lc 10,2);

2. são pessoas que anunciam o Reino em uma sociedade de classes com interesses antagônicos e não empregam os métodos violentos da classe dominante que vai matar e perseguir seus discípulos. Anunciam o Reino de Deus despojados do poder e se regendo pela lógica do amor (Lc 10,3);

3. são pobres (Lc 10,4a) e a mensagem é urgente (Lc 10,4b);

4. são construtores da paz, que é a plenitude dos bens da nova sociedade (Lc 10,5-6);

5. são pessoas que não visam a  lucro (Lc 10,7);

6. são precursores na missão, são pessoas que se preocupam em defender os injustiçados (Lc 10,8-9);

7. são pessoas que não fazem média com a sociedade que rejeita o projeto de Deus (Lc 10,10-11).

Importante observar que há outro envio dos discípulos no Evangelho de Lucas, em Lc 22,35-38, que trata da hora do combate, da luta. No primeiro envio, Jesus indicou aos discípulos que fossem despojados e desarmados. Assim deve ser todo início de missão: conviver, estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro, tornar-se um irmão entre os irmãos para que seja reconhecido como “um dos nossos”, estabelecer proximidade, como nos ensina o papa Francisco. Mas, durante a evolução da missão, chega a hora em que não basta esbanjar ternura, graciosidade e solidariedade. È preciso partir para a luta, pois as injustiças precisam ser denunciadas. Ao tomar partido e “dar nomes aos bois”, irrompem-se as divisões e desigualdades existentes na realidade. Os incomodados tendem naturalmente a querer calar quem os está incomodando. É a hora das perseguições que exigem resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no máximo.” (Lc 22,36-38).

Resistir não é violência, é legítima defesa. Diante de qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do sistema capitalista, que sempre tritura vidas e pratica injustiças, é dever das pessoas cristãs resistirem contras as opressões perpetradas contra os empobrecidos, os preferidos de Jesus. Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil – econômica, política e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “um outro caminho” a ser seguido por nós, discípulos e discípulas de Jesus, o rebelde de Nazaré.

1.3 - Sejam universais e ecumênicos!

A narração de Lucas, no evangelho, está cheia de prefigurações de uma futura abertura para reconhecer que o Reino de Deus está também no meio dos não judeus, o que se confirma em Atos dos Apóstolos com a abertura “aos de fora”. Já no início do evangelho aparece o tema do universalismo, ao dizer que Jesus será “luz para as nações” (Lc 2,30-32). Ainda antes da missão pública de Jesus já se assinala que “toda carne verá a salvação...” (Lc 3,6), anunciando que a ação de Jesus virá trazer a salvação de Deus, superará barreiras, transporá fronteiras, romperá limites. Como exemplo do universalismo e do ecumenismo defendido por Lucas podemos citar a inegável prioridade que Lucas dá aos samaritanos.

No caminho de subida para Jerusalém, Jesus cura dez leprosos (Lc 17,11-19). Nesse relato, Lucas faz questão de dizer que o único que voltou dando graças a Deus era um samaritano (Lc 17,16), um estrangeiro (Lc 17,18), colocado como paradigma a ser seguido pelos discípulos, porque apresentou fé crítica e criativa, nascida da esperança (Lc 17,12-13), foi dócil à Palavra de Jesus (Lc 17,14), revelou gratidão (Lc 17,16). Com isso, ele não só recebe a cura, mas é salvo.

1.4 - Seja compassivo e misericordioso! Tenha coração aberto e mãos solidárias! (L 10,25-37)

Uma das colunas mestras da teologia de Lucas é a compaixão-misericórdia, a bondade, o amor de Jesus pelos pecadores, marginalizados, pobres e os excluídos (Lc 19,10), explicitados no discurso programático na sinagoga em Nazaré (Lc 4,14-27). No evangelho de Lucas, compaixão e misericórdia verificam-se em ser amigo de pecadores e publicanos (Lc 7,34), na solidariedade com a viúva de Naim (Lc 7,11-17), nas parábolas da misericórdia (Lc 15,4-7.8-10.11-32), no episódio-parábola do Bom Samaritano (Lc 10,29-37), na experiência de Zaqueu (Lc 19,1-10) e no convite para ser misericordioso (Lc 6,36). E mais: ternura, cuidado, compaixão e misericórdia estão disseminadas em todas as páginas do evangelho de Lucas como um tempero que permeia, penetra e perpassa todo o ensinamento e práxis de Jesus de Nazaré.

Gilvander Moreira é frei e padre carmelita. Mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), do Serviço de Animação Bíblica (SAB) e Via Campesina. Autor de alguns livros: Compaixão-misericórdia, uma espiritualidade que humaniza (Ed. Paulinas, 1996), Lucas e Atos, uma teologia da História (Ed. Paulinas, 2004) e co-autores de vários livros do CEBI. 

Jovens: protagonistas da História


Para a professora Mariza Rios, JMJ e recentes manifestações comprovam o potencial da juventude brasileira.

Jovens na JMJ: chama da mudança já estava presente
Por Alexandre Vaz
Repórter Dom Total
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada na última semana no Rio de Janeiro, deixou uma lembrança positiva na mente de todos os católicos que estiveram presentes ou acompanharam pelos meios de comunicação os sete dias de encontro. Além de ficar marcada como a primeira viagem do papa Francisco, pontífice que vem propondo novos rumos para a Igreja Católica, a jornada serviu de palco para as manifestações de fé e consciência da juventude brasileira, que se uniu a jovens católicos de diversas partes do mundo para refletir sobre os rumos da sociedade e demonstrar que a fé e a solidariedade são a saída para os diversos dilemas impostos pelo mundo contemporâneo.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Apoio ao Ensino Personalizado (NAEP) e Apoio ao Trabalho de Conclusão de Curso da Escola Superior Dom Helder Câmara, professora Mariza Rios, a participação dos jovens brasileiros na JMJ e nas recentes manifestações nas capitais do país refuta a tese de que a juventude é alienada e distante das questões sociais. Segundo Mariza Rios, o engajamento sempre existiu, porém era visto com descrédito pelos demais setores da sociedade.

“Em minha opinião, os jovens não estão se tornando mais conscientes, nós é que, somente agora, passamos a observar o crescimento do potencial da juventude. É uma planta que vem sendo cultivada por muita gente, ao longo da historia nacional, mas o descrédito depositado nessa camada da população dá-nos a impressão de que tudo começou agora”, ressalta.

Para a professora, mesmo equivocadamente associada ao consumo, à futilidade e ao apego ao supérfluo, a juventude vem demonstrando que ainda pode ser a janela para uma nova perspectiva de futuro, como bem disse o papa Francisco. Para o pontífice, "o jovem que não protesta, não o agrada".
Segundo Mariza Rios, nas palavras e gestos de Francisco, os jovens encontram o estímulo para que tenham fé e assumam seu lugar como atores da História. “O pontífice encoraja os jovens a serem protagonistas das lutas sociais. Dessa forma, rejuvenesce a Igreja de Cristo em pensamento e atitude. Sem obras, a fé carece de vida. Faz, com isso, a unidade entre o sagrado, a qualidade da vida e a justiça social. Nessa paisagem santa, a violência não tem vez, a corrupção representa a obra do mal e a luta desenfreada pelo poder não encontra lugar”, finaliza.
Redação Dom Total