domingo, 2 de junho de 2013

Papa: Maria, mulher da 'escuta, decisão e ação'


'Três palavras sintetizam o comportamento de Maria: escuta, decisão, ação; palavras que indicam um caminho também para nós'
Cidade do Vaticano – O papa Francisco presidiu, na noite dessa sexta-feira (31), na Praça São Pedro, diante da Basílica Vaticana, à solene celebração Mariana, por ocasião da conclusão do mês de maio, dedicado a Maria. O Cardeal Ângelo Comastri, Vigário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano e Arcipreste da Basílica de São Pedro, rezou a oração do Terço com os numerosos fiéis presentes. Durante a oração mariana, a estátua de Nossa Senhora foi levada em procissão pela Praça São Pedro. O Santo Padre participou, desde o início da oração mariana, no patamar da Basílica Vaticana.
Ao término da oração mariana, papa Francisco fez uma meditação, percorrendo alguns acontecimentos do caminho de Jesus, nossa salvação. Neste caminho, disse, fomos acompanhados por Maria, nossa Mãe, que nos conduz a seu Filho Jesus. Hoje, dia em que celebramos a festa da Visitação da Beata Virgem Maria à sua prima Isabel, o Santo Padre falou sobre este mistério, que nos mostra o modo com que Maria enfrenta seu caminho, com grande realismo, humanidade, concretude.
E destacou: “Três palavras sintetizam o comportamento de Maria: escuta, decisão, ação; palavras que indicam um caminho também para nós, diante do que o Senhor nos pede na vida”. Ao explicar o primeiro aspecto do comportamento de Maria, “escuta” o Papa disse que Maria soube ouvir a Deus. Não se trata de um simples “ouvir” superficial, mas de atenção, acolhida e disponibilidade para com Deus. Ela lê os acontecimentos da sua vida, vai a fundo, e colhe seu significado.
E acrescentou: “Isto vale para nossa vida: escuto a Deus, que nos fala, e escuto também a realidade diária, atenção às pessoas, aos fatos, porque o Senhor está à porta da nossa vida e bate de muitos modos, colocando sinais em nosso caminho. Cabe a nós percebê-los. Maria é a Mãe da escuta”. A seguir, o Santo Padre explicou o segundo aspecto do comportamento de Maria: “decisão”. Ela não vive da “pressa”, com ânsia, tampouco se detém na reflexão: ela vai mais além: “decide”. Maria não se deixa arrastar pelos acontecimentos, não hesita em decidir. Nas núpcias de Cana, por exemplo, podemos notar seu realismo, humanidade, concretude, diante dos fatos e aos problemas. Por isso, se dirige ao seu Filho para Ele intervir.
E o papa ponderou: “Na vida é difícil tomar decisões. Muitas vezes, procuramos adiá-las e deixar que os outros decidam por nós; muitas vezes, preferimos deixar-nos arrastar pelos acontecimentos. Mas, Maria se coloca à escuta de Deus, reflete e procura compreender a realidade e decide confiar totalmente n’Ele”.
Por fim, papa Francisco se deteve no terceiro aspecto do comportamento de Maria: “ação”. Ele se põe em viagem e vai depressa visitar sua prima Santa Isabel. Apesar das dificuldades e das críticas, ela não se detém diante de nada e “parte depressa”. Quando Maria descobre o que Deus queria realmente dela, ou seja, o que ela devia fazer, parte “imediatamente”. Ela sai de casa e de si mesma, por amor, carregando no seu seio o dom mais precioso: seu Filho Jesus.
O papa concluiu sua meditação, convidando os fiéis presentes a seguirem o exemplo de Maria, levando, como ela, o que temos de mais precioso: Jesus e o seu Evangelho, mediante a palavra e o testemunho concreto da nossa ação.
Enfim, partindo dos três aspectos do comportamento de Maria “escuta, decisão, ação” pronunciou a seguinte oração a Nossa Senhora: “Maria, mulher da escuta, abri nossos ouvidos; fazei com que saibamos ouvir a Palavra do vosso Filho Jesus entre as tantas palavras deste mundo; fazei que saibamos perceber a realidade em que vivemos; ouvir as pessoas que encontramos, especialmente aquela pobre, necessitada, em dificuldade. Maria, mulher da decisão, iluminai as nossas mentes e os nossos corações, para que saibamos obedecer a Palavra do vosso Filho Jesus, sem hesitação; dai-nos a coragem de decidir, de não nos deixar arrastar pelos que tentam orientar a nossa vida.Maria, mulher da ação, fazei que as nossas mãos e os nossos pés se movam “depressa” em direção aos outros, para que possamos levar-lhes a caridade e o amor do vosso Filho Jesus; para levarmos, como vós, ao mundo a luz do Evangelho. Amém”.
Ao término da celebração mariana de conclusão do mês de maio, mês dedicado a Maria, papa Francisco se despediu dos fiéis e a todos concedeu a sua Bênção Apostólica.
SIR

Papa Francisco fala sobre 'o escândalo da reencarnação'


Papa Francisco exortou os fiéis a pedir ao Senhor 'que não tenham vergonha de viver com este escândalo da cruz'
O “escândalo” de um Deus que se fez homem e morreu na cruz esteve no centro da homilia do papa Francisco na manhã de sábado (1), durante a missa que concelebrou na capela da Domus Sanctae Marthae, entre outros, com o cardeal cubano Jaime Lucas Ortega y Alamino, arcebispo de San Cristóbal de La Habana.

A recordação do mártir Justino, do qual se celebrava a memória litúrgica, proporcionou ao pontífice a ocasião para refletir sobre a coerência de vida e sobre o núcleo fundamental da fé de cada cristão: a cruz. “Nós podemos fazer todas as obras sociais que quisermos – afirmou – e dirão: mas que bem a Igreja, que bem as obras sociais que a Igreja faz! Mas se nós dizemos que fazemos isto porque aquelas pessoas são a carne de Cristo, causa  escândalo”.

Sem a encarnação do Verbo vem a faltar o fundamento da nossa fé, como ressaltou o pontífice: “Aquela é a verdade, aquela é a revelação de Jesus. Aquela presença de Jesus encarnado. Eis o aspecto”. Se o esquecermos, será sempre grande a “sedução” para os discípulos de Cristo “de fazer coisas boas sem o escândalo do Verbo encarnado, sem o escândalo da cruz”.

Justino foi testemunha desta verdade, porque precisamente devido ao escândalo da cruz atraiu a perseguição do mundo. Ele anunciou o Deus que veio entre nós e se identificou com as suas criaturas. O anúncio de Cristo crucificado e ressuscitado perturba quem o ouve, mas ele continua a testemunhar esta verdade com a coerência de vida. “A Igreja – comentou o Pontífice – não é uma organização de cultura, de religião, nem sequer social; não! A Igreja é a família de Jesus. A Igreja confessa que Jesus é o Filho de Deus que veio na carne. Eis o escândalo e por isto perseguiam Jesus”.

O papa referiu-se ao trecho evangélico de Marcos (11, 27-33) lido durante a liturgia e em particular à pergunta feita a Jesus pelos sacerdotes, pelos escribas e idosos de Jerusalém: “Com que autoridade fazes isto?”. Jesus responde por sua vez com uma pergunta - “O batismo de João vinha do céu ou dos homens?” - e assim não satisfaz a falsa curiosidade deles. Só mais tarde, diante do sumo sacerdote que era “a autoridade do povo”, revelará o que lhe tinham pedido escribas e anciãos. Até àquele momento não o faz, porque compreende que o verdadeiro objetivo dos seus interlocutores é “fazer-lhe uma armadilha”. Tentam de vários modos, como recordou o papa: “Diz-me, mestre pode-se, devem-se pagar os impostos a César?”. Ou: “Diz-me, mestre, aquela mulher foi encontrada em adultério. Devemos cumprir a lei de Moisés ou há outro modo?”. Cada pergunta é uma armadilha para o pôr em dificuldade, para o induzir a dizer algo errado e encontrar um pretexto para o condenar.

Mas por que era Jesus um problema? “Não porque fazia milagres” respondeu o papa. Nem sequer porque pregava e falava da liberdade do povo. “O problema que escandalizava este povo – disse – era que os demônios gritavam a Jesus: “Tu és o Filho de Deus, tu és o santo”. Eis o problema”. O que escandaliza de Jesus é a sua natureza de Deus encarnado. E como a ele, também a nós “armam ciladas na vida; o que escandaliza da Igreja é o mistério da encarnação do Verbo: este não se elimina, o demônio não o elimina”...

Ao concluir o papa Francisco exortou os fiéis a pedir ao Senhor “que não tenham vergonha de viver com este escândalo da cruz”. E convidou a invocar de Deus a sabedoria, para não “nos deixarmos seduzir pelo espírito do mundo que fará sempre propostas educadas, propostas civilizadas, boas”. Por detrás delas, admoestou, nega-se precisamente “o fato de que o Verbo se encarnou”, um fato que “escandaliza” e destrói  a obra do diabo”.
L’Osservatore Romano, 02-06-2013

Artigo: O sorriso do papa

Por  Mario Ponzi

Uma brincadeira que se concluiu no melhor modo possível. O pe. Gianni Toni, assistente regional da União nacional italiana de transportes de doentes a Lourdes e aos santuários internacionais (Unitalsi), explica assim o encontro entre o Papa Francisco e os seus vinte e dois assistidos, realizado na capela da Domus Sanctae Marthae na tarde de sexta-feira 31 de Maio, não por acaso o último dia do mês mariano.

Os pequenos hóspedes do departamento de oncologia pediátrica do hospital de Roma Agostino Gemelli regressaram à cidade há poucos dias depois de uma peregrinação a Lourdes. “Quando estávamos em frente da gruta de Massabielle – explicou-nos o pe. Gianni – para aliviar com um pouco de alegria o cansaço improvisamos um jogo: desenhar a gruta de Lourdes, para o mostrar  depois ao Papa que não a conhece”. Certamente, revelou-nos o sacerdote, enquanto dizia estas coisas às crianças, nunca ninguém pensou que elas iram estar na presença do papa para lhe mostrar a gruta de Lourdes. Mas o desenho de Giovanni – um menino da Sardenha de oito anos, que se tornou cego devido a um tumor cerebral – realizado no quadro braille com base na descrição da gruta que lhe faziam os assistentes comoveu-os de tal maneira que decidiram enviá-lo realmente ao Pontífice   acompanhado por  uma carta que explicava do que se tratava. Portanto,  não foi necessário muito mais para que a brincadeira acabasse exatamente “da melhor forma”.

Teria sido bom vê-los, o pequeno João e o papa Francisco, ontem à tarde, um diante do outro. João perguntou-lhe: “Mas tu és guloso?”. E o Papa: “Sim, muitíssimo. Gosto de bolos e de chocolate. Tu também? Sim? Mas não te  causam dor de fígado?”. Giovanni mostrou-lhe então um grande saco vermelho: “Felizmente que és guloso, porque eu trouxe-te os doces da Sardenha”. Então o Papa respondeu: “Uhm, obrigado! Mas então podemos comê-los juntamente com as outras crianças?”.

E assim o encontro prosseguiu com o tom de diálogo entre um avô e os sues netinhos. As crianças, com os seus pais, os assistentes da Unitalsi do Lácio, guiados pela presidente da subsecção romana Preziosa Terrinoni, sentaram-se em semicírculo em frente do Papa que estava diante do altar. Rezaram juntos e a seguir o Pontífice começou a contar às crianças uma pequena história: “Certa vez Jesus teve que visitar um lugar muito importante. Mas não conseguia lá chegar. Depois do meio dia chegou e, imediatamente, os discípulos foram ter com ele: “Mas mestre, por que chegaste atrasado?”. Sabem o que Jesus lhe respondeu?  Ouçam muito bem: “Ao longo do caminho encontrei uma criança que estava a chorar. Parei para ficar com ela”. Assim faz Jesus com uma criança que chora. Com uma criança que tem qualquer problema. Toca o coração de Jesus, que o ama muito”.

Sucessivamente, o papa Francisco deu a palavra à pequena Michelle. “Estou muito feliz – disse-lhe – por estar aqui na tua casa com os amigos do hospital Gemelli, os médicos, os voluntários, e com os sacerdotes da Unitalsi que nos acompanham a Lourdes.  É bom poder ver-te verdadeiramente e não na televisão! Em Lourdes rezamos por ti, desenhamos a gruta de Nossa Senhora para te oferecer.   Prometemos que rezaremos ainda por ti e queremos pedir-te para que rezes por todas as criança doentes do Gemelli e do mundo. O Pontífice agradeceu à menina abraçando-a. Continuou a cariciar prolongadamente a sua cabecinha enfaixada. Comovido recomeçou a falar com as crianças, continuando o diálogo sobre o amor de Jesus e perguntando-lhes: “Será  que Jesus está neste momento aqui conosco? Sim? Tendes certeza? Bem. Ele está conosco porque nos ama sempre. Jesus caminha conosco na vida e quando temos problemas ele está sempre ao nosso lado”.

O encontro prosseguiu numa atmosfera muito especial. Criou-se gradualmente uma corrente de amor extraordinária. Tudo se concluiu com a oração. Mas antes o Pontífice quis falar de novo ao coração das crianças, pedindo-lhe para que repetissem com ele: “Jesus está sempre conosco. Quando estamos felizes e contentes Jesus está sempre conosco. Quando estamos tristes, Jesus está ao nosso lado. E por quê? Porque Jesus nos ama. Nunca vos esqueçais”. Será difícil que estes pequeninos e os seus pais o possam esquecer. Assim como será difícil que o Papa possa esquecer o último pedido de Michelle: “Papa Francisco, reza pelos nossos pais para que possam ter sempre um sorriso como o teu”.
L’Osservatore Romano, 02-06-2013