O púpito envolvente
Pe. Zezinho, scj
Olho as igrejas, o púlpito de ontem e o de hoje e me vem à mente a
palavra "xaris", do grego. Pode ser traduzida como graça, charme, algo mais. O
púlpito de hoje tem um algo mais e um charme que o de ontem não tinha, embora,
em muitos casos, tenha conteúdo bem menos profundo, menos sociológico,
antropológico ou teológico. Mas são mais envolventes e encantadores.
A
canção, de longa data tem ajudado a pregação, mas os novos recursos da mídia,
que é hoje o mais novo púlpito das mais diversas igrejas, com pregadores de
forte apelo e imensa simpatia, tem trazido, em todas as igrejas, um afluxo,
quase caudal, de novos adeptos. Se um dia se tornarão crentes é outro assunto.
Milagres, exorcismos, curas, muletas ao chão, óculos na grama, cadeiras
de roda abandonadas impressionam, mas isso porque o pregador ganhou
credibilidade pelo seu charme, pelo entusiasmo, pela maneira de pregar. Há quem
goste daquele jeito e daquela forma de anunciar Jesus. Há quem não goste. Quem
não gosta terá outros templos e outros pregadores com quem sintonizar. Novas
igrejas, novos templos e novos pregadores é o que não tem faltado nesses tempos
de mídia farta e ao alcance de todos.
Gravei, recentemente, a prece de
um deles, de formação pentecostal que pedia a Deus para cura de 49 doenças. Ou
ele as conhecia por ter estudado medicina, ou lera alguma lista na Internet.
Queria atingir o máximo de fiéis e aquela parecia uma boa proposta. Chamava-as
de demônios. Assim, em dez minutos de oração afirmava que Deus estava curando as
vítimas de irritabilidade, motilidade, obstrução pilórica, agranulocitose,
miastenia, enfarto do miocárdio, e, assim por diante. Citou 49 doenças. Gravei o
programa. Em algum lugar alguém teria aquela doença. Se a pessoa não se
converteu, ao menos foi tocada e ficou o convite.
Qualquer fiel menos
instruído que ouve um pregador entusiasmado a pedir a cura da enfermidade que o
aflige, sentir-se-á incluído. Entre milhares, talvez milhões de ouvintes e
telespectadores é impossível que não haja pelo menos uns dois mil com algumas
daquelas enfermidades.
É pregador confundindo graça alcançada com graça
pedida e simpatia e charme com eficácia. Embora garantisse que, naquele momento,
fiéis estavam sendo curados, tática muito comum entre alguns grupos
pentecostais, não havia como verificar sua garantia. De fato, milhares desses
novos pregadores na Igreja Católica e nas evangélicas ou pentecostais garantem
que durante sua prece "demônios estão caindo por terra". Se conseguem tais curas
naquela hora, ninguém verifica. Mas as palavras produzem o seu efeito em alguns
irmãos mais carentes de atenção. Alguém se lembrou da sua perplexidade e da sua
dor.
***
É o novo charme do novo púlpito. Tem luzes, cores,
closes, flashes, detalhes que, ontem, o fiel não via. Tem testemunho do fiel
curado para milhões de espectadores. Jesus, segundo alguns evangelistas, às
vezes levava para um canto ou para fora da vista do povo (Mc 8,23) e propunha
depois da cura que não dessem testemunho (Mt 8,4; 9,30; 16,20;17,9). Hoje a
proposta é bem mais proselitista e segue o caminho inverso.
Uma câmera e
um microfone estão a postos para mais um testemunho de que Jesus foi outra vez
eficaz, e, é claro, naquele grupo de cristãos! Apóiam-se mais em Mateus 10,27
que sugere que se proclame a boa nova de cima dos telhados. Por que silenciar se
o milagre aconteceu? Mc 8,30 e Lc 9,21 sugerem que Jesus proibia severamente que
dessem testemunho. Nem sempre obedeciam.
O púlpito envolvente tem feito
muitos novos adeptos. E em geral, o pregador incentiva o fiel a testemunhar a
favor de Jesus naquela igreja, vale dizer, a seu favor! Seria mais digno de
crédito o pregador que chamasse os que foram curados em outros templos e outras
igrejas para testemunhar o que Jesus fez a um católico ou a um evangélico de
outra igreja ou de outro movimento. Não tem sido esta a práxis. A "aqui" tem
tido uma força avassaladora. O Jesus que cura ali, aparentemente não cura
"lá"... Não há ecumenismo que viceje num ambiente assim parcial...

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