quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A seca que desafia a vida



Belo Horizonte, 24 jan (SIR) - “Em missão da Pastoral dos Migrantes a 28 comunidades rurais do município de Berilo (MG), constatamos uma situação desesperadora para a sobrevivência e dignidade humana. Vimos que várias dessas comunidades rurais estão sofrendo com a seca e a total falta de água potável e não potável”, escreveu José Carlos Alves Pereira, membro da Colegiada Executiva Nacional do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) em uma Petição Pública enviada na terça-feira, dia 15, ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
Terra, água, juventude e bem viver foi o tema escolhido para a realização da 28ª edição da missão no Vale do Jequitinhonha, promovida pelo SPM entre os dias 13 e 19. A missão reuniu 60 pessoas dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba, Piauí e Bahia, que visitaram as comunidades de Berilo com a realização de encontros com crianças, jovens, mulheres, trabalhadores, visita às casas, noites culturais, oficinas temáticas, seminários. A seca na região foi a pior dos últimos 15 anos.
Num percentual de 80% da população que vivem na zona rural, cerca de 75% ficaram sem água até para cozinhar. A falta de chuva, porém, não é o único problema que assola a população de Berilo e dos demais 79 municípios do Vale, espalhados numa área de 85.467,10 km², no nordeste do Estado de Minas Gerais. Falta trabalho, incentivo para os agricultores produzirem, fiscalização do governo para impedir as grandes empresas de monocultura que destroem as nascentes dos rios.
Faltam projetos para educação de crianças e jovens, respeito aos direitos das comunidades quilombolas, apoio às iniciativas de pequenos grupos, associações e cooperativas que surgem na região.

O clamor por justiça no Jequitinhonha ressoa na voz da comunidade

Secas que desafiam a vida do povo, dos rios, desafiam o cultivo da terra, a permanência dos pés de pequi (fruta típica da região que serve de sustento) cada vez mais escassos, as grandes cidades que ficam abarrotadas de pessoas que migram sem alternativas.
Para escutar as dificuldades vividas pelo povo daquela região e tentar, junto a ele, organizar atividades que postulem mudanças, é que anualmente universitários, leigos, religiosos, seminaristas, sacerdotes e voluntários partilham as dores, alegrias e sonhos dos moradores do Vale. “Aqui falta oportunidade. A gente tem que sair e ir pra São Paulo trabalhar”, disse Jean Pierre, 22 anos, da comunidade quilombola Vila de Santo Isidoro que  migra para o corte de cana desde os 14. O drama vivido por ele repete-se na fala e na história de quase todos os jovens que compõem os 13.510 habitantes de Berilo. “Eu espero consciência.
Consciência para que as pessoas entendam que todos são iguais e vivam a unidade”, disse Custódio Souza, também migrante do Vale para o corte de cana do interior do Estado de São Paulo. Os desejos descritos acima foram ditos por trabalhadores, a maioria deles migra para o corte de cana e a colheita do café e fica fora do Vale entre seis e oito meses do ano em fazendas no interior de Minas, São Paulo e Mato Grosso. Eles se reuniram na comunidade Vila de Santo Isidoro na noite do dia 15, num encontro coordenado por Maria Eva Santos, da cidade de Jenipapo de Minas, agente da Comissão de Pastoral da Terra (CPT) e membro do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Para mim, a missão é um dever como cristã e como cidadã. Esta semana deixei muita coisa para vir. É um momento de escuta e partilha. O migrante raramente conta maravilhas. São histórias de dor e sofrimento. Com isso, a gente serve para sustentar a fé e esperança e contribuir para promover a justiça”, comentou Eva.
“É preciso conhecer a realidade do povo, suas lutas e anseios para abraçar a causa. Precisamos aprender com a peleja do povo. O pessoal não esmorece e mostra alegria no rosto. De onde vem essa força? Da mística que todos nós precisamos aprender”, disse dom Marcello Romano, bispo da Diocese de Araçuaí (MG), na abertura do seminário sobre Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo, que aconteceu no sábado, 19, na conclusão da missão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário