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Um homem de vida interior afastou-se do tumulto da cidade e das obrigações impostas por seus afazeres e simplesmente contemplou as montanhas.
Durante algum tempo estaria impedido, ainda que involuntariamente, de se dedicar às suas obrigações cotidianas. Mas por alguma razão, sentia-se solitário e com o coração oprimido pela angústia.
Lançou seu grito ao vento e ouviu o eco que provinha de seu próprio interior. Experimentava solidão, porque os homens e mulheres que automaticamente compunham o cenário de seus afazeres não o animavam com as questões práticas que se transformaram no sentido de sua vida. Procurou distrair-se com a televisão, mas a atitude de seu exílio não permitia conectá-lo com a imensa vitrine em que o vídeo se transformara.
A angústia e a solidão aumentaram! Após algum tempo, tornou a lançar seu grito ao vento e o que escutou foi o eco gerado na própria montanha. Sua voz retornou, repetida e distante, exigindo do solitário um novo ponto de vista. A vida continuava pulsando na grande cidade, com todos os problemas sendo produzidos e resolvidos apesar de sua ausência. Os papéis sociais, a quem muitos homens e mulheres foram transformados, continuavam interagindo sem sua presença.
Um pássaro solitário também emitiu seu grito estridente, que foi reproduzido pelo eco da montanha. Homem e pássaro gritavam e suas vozes, harmonizando a dignidade humana e da natureza, restauravam uma parceria perdida. O silvo do vento nas copas das árvores e o fluxo harmonioso da cascata próxima enriqueceram uma vida ampliada, tornada holística, que escapara à redução do ser ao mero fazer. Dir-se-ia que a grandeza do universo resgatava uma existência renovada.
O homem emitiu um novo grito. O que ouviu foi o eco que reverberava a sua nova condição abrangente, livre, cósmica. As vozes sufocadas do pássaro, sem desfazerem a realidade e seu ritmo, apenas sussurravam, reverentemente, diante da sinfonia maior. Eis que o homem renovado, capaz de relativizar a sua participação no concerto do universo, compreendeu finalmente que o espírito livre se alimenta no vazio.
José Tarcísio Amorim
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