quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

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Você nasceu nômade, juntamente com os outros.
Dessa forma você passará entre os seres humanos e as coisas, os animais e as plantas, por entre as flores e as rochas, as nuvens e a chuva.
Por uma trilha que só você conhece, você subirá à montanha, que o convida ao seu cume.

Outros virão por encostas diferentes, por trilhas diversas, por culturas e religiões desconhecidas.
Para encontrarem-se juntos, lá em cima, no ápice, num único rio de seres humanos. Diante de Deus.

Passar.
Mas agora vocês já estão seguindo seus caminhos - só seus -, testemunhas da terra que os espera, do chamado universal que os atrai, de uma herança que virá.
Porque a terra que lhes dá vida não é aquela que lhes pertence, mas aquela na qual vocês se reconhecerão, finalmente, como irmãos e irmãs.

Um dia, até mesmo Deus, como um nômade, desceu da montanha altíssima, para entrar na terra da Judéia.
E, ajoelhando-se, curvou-se docemente para beijá-la...
Mas beijar uma terra é falar da dignidade dos seres humanos que ela gerou.

A dignidade das tradições, crescidas como oliveiras seculares sobre colinas tornadas imortais.
Beijar a identidade de um povo, formado lentamente por milênios, como que no ventre de uma mulher.
E a esperança que humildemente trará aos outros, em nome de Deus.

Porque o Seu nome não era conhecido.
Grandeza, poder ou vingança não eram mais do que ídolos criados pelos mesmos seres humanos, para sentirem-se mais fortes e subjugarem mais facilmente os próprios semelhantes.

Destruir os muros que separam você do outro.
Destruir o ódio e a suspeita, o preconceito e a intolerância, o sentimento de inferioridade e o de superioridade: muros invisíveis, mas muito sólidos, que constroem a exclusão, que separam a vida que flui entre você e aquele que está ao seu lado.

Se a mão é diferente do pé e os olhos dos ouvidos, sem terem sido separados, se as folhas de uma planta se diferenciam de seus ramos, sem que seja necessário separá-los, quem, portanto, é separado, vive excluído da vida do outro. Separar é, no fundo, submeter o outro, tornando um mais importante e o outro quase sem valor.
Distinguir, no entanto, é sentir com humildade as próprias diferenças.

Cada diferença, então, não existirá a não ser para o outro.
Cada parte manterá o sentido de um corpo.
Um secreto viver-juntos palpitará em cada um de vocês.
Porque a vida é existir em si mesmo, mas também trocar com os outros.

Assim, num ramo de flores diferentes, cada flor dirá da beleza que possui e do fascínio de estar junto das outras, lançando-se como pontes invisíveis entre as diferenças de forma e de cor.
O olhar recíproco de encantamento e de respeito dirá, então, da abertura de um coração ainda jovem, como o seu.

Porque ser especial não é exaltar os muros da diferença que separa, mas reencontrar aquilo que ainda os une profundamente.

Desse modo, o nômade retornará à sua trilha, para ajoelhar-se e pousar de novo os seus lábios.
E dizer humildemente o seu nome que é Amor.


Renato Zílio

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