quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A vela que se apaga

A decisão de papa Ratzinger imprevista, mas até certo ponto. Os tantos sinais indicadores. A análise é de Marco Tosatti, Vatican Insider.

CIDADE DO VATICANO - Nestes dias se fala muito de complôs e de documentos, e tudo relacionado com a renúncia de Bento XVI. Tudo possível, naturalmente.
Mas nestes dias foi revendo uma série de apontamentos, que andei fazendo ao longo dos anos e dos meses, sobre a saúde do Papa. Informações recebidas de pessoas que lhe são próximas, e que tinha prometido não revelar até que ficasse no cargo.
A renúncia dele me libertou deste compromisso. E examinando aqueles papéis, o quadro é o de uma progressiva deterioração de sua saúde e de suas energias; um quadro que justifica plenamente a decisão difícil que o Papa tomou.
Dois anos atrás: “O Papa não consegue dormir de noite, e não quer tomar tranquilizantes. Por isso apresenta, muitas vezes, um ar cansado. E quem gosta dele insiste para que, na parte da tarde, não seja agendado nenhum compromisso antes das 17h, de maneira que tenha tempo para descansar, especialmente durante as viagens. Mas, no entanto, marcam compromissos logo após o almoço, às 15h30 e assim por diante. O médico, dr. Polisca afirma que pode ir para frente, se conseguir se manter tranquilo e se for controlada a pressão. Este, no momento, é o problema principal, porque a pressão está tendo mudanças repentinas. Polisca disse: sobretudo atenção aos aviões. Insiste para que passe menos tempo possível no avião, porque os perigos estão aí”.
E, com efeito, parece que o Pontífice tenha expressamente afirmando que a viagem intercontinental até o Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, deveria ser excluída. 
Ainda dois anos atrás: “Outro problema, durante as viagem é que cai da cama, se é um pouco pequena. No Vale de Aosta, quando quebrou o braço, é porque parece que caiu da cama. Assim em Malta lhe prepararam um quarto muito bonito, cheio de objetos de arte e de móveis de época, com uma cama do tempo napoleônico, com cortinas, muito bonita, mas apertada. Não conseguiu dormir a noite inteira com medo de cair. E na manhã seguinte, durante a missa, pegou no sono, e um dos assistentes teve que acordá-lo, tocando o braço. ‘Não preguei o olho a noite toda’ lhe disse Bento XVI desculpando-se”. 
O biógrafo de Bento XVI, Peter Seewald, confirmou nestes dias o que encontrei num apontamento de um ano e meio atrás: “Está confirmado que com o olho esquerdo já não enxerga quase nada; e isto cria problemas quando deve subir degraus, e particularmente durante as missas solenes quando deve rodear o altar com o turíbulo”.
“Cansa com grande rapidez”: esta afirmação a encontramos com mais frequência à medida que nos aproximamos do presente. “Tem uma enorme dificuldade para se levantar de manhã: às vezes dorme até nove horas seguidas. Porque necessita de descanso”. E chegamos aos últimos meses: o verão e o outono de 2012. “Sente-se fraco, e o fala, enquanto antes não se queixava”. Anda de bengala também em seu apartamento, porque o quadril e o joelho doem. Provavelmente lhe dão a cortisona, para aliviar a dor. Mas também quem notava antes que no passeio à tarde caminhava tranquilamente, olhava as flores recém-plantadas pelos jardineiros, agora dá alguns passos e depois se senta no assento mais próximo; como se não tivesse mais nem a energia, nem o estímulo, nem a curiosidade de ver.
Se agora os problemas da péssima-ótima saúde de Bento XVI são conhecidos (o íctus  de 1992, o marca-passo, a insônia,a vista, o caminhar), são menos conhecidos os de seu braço-direito, o Secretário de Estado que também parece ter algum problema nas vistas, e que, com toda discrição, como se fala na cidade de Gênova, se submeteu a uma intervenção ortopédica de certa gravidade alguns tempos atrás numa clínica administrada por religiosas naquela cidade.
Marco Tosatti, Vatican Insider - 19/02/13.

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