quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Na última missa, Bento XVI lamenta os golpes contra a unidade da Igreja



Bento XVI preside a missa da Quarta-feira de Cinzas (Foto: )
Cidade do Vaticano, 14 fev (SIR) -  Foi a última missa pública do Papa Bento XVI e a ocasião não poderia ser mais simbólica.
Na Quarta-feira de Cinzas, que lembra o caráter transitório e efêmero da vida humana, Bento XVI insistiu na superação dos "individualismos e rivalidades" no período da Quaresma, num sinal "humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes".
O ritual foi o mesmo dos últimos sete anos – Bento XVI colocou nas testas dos fiéis as cinzas, numa cerimônia que contou com a presença de cardeais, bispos, monges, frades e peregrinos –, mas desta vez na Basílica Vaticana, do que no habitual cenário do Monte Avetino, na basílica de Santa Sabina, para receber todos os que queriam estar presentes na última missa de Joseph Ratzinger como Bento XVI. Antes do anúncio da renúncia, na segunda-feira, a Santa Missa da Quarta-feira de Cinzas estava marcada para a pequena Igreja de Santo Anselmo, de onde o Papa sairia em procissão até à Basílica de Santa Sabina. Mas a missa acabou por ser celebrada na Basílica de São Pedro.
O site da Rádio Vaticano faz referência a uma missa "intensa e muito participada", durante a qual Bento XVI comentou a sua renúncia: "É uma ocasião propícia para agradecer a todos, agora que me preparo para concluir o ministério de Pedro." Bento XVI deixou também vários alertas e avisos, contra "a hipocrisia religiosa", contra "o comportamento de quem quer aparecer" e contra "as atitudes que procuram aplausos e aprovação". "A qualidade e a verdade da nossa relação com Deus é o que certifica a autenticidade de qualquer gesto religioso", frisou o Papa, num tom grave. Numa missa interrompida pelos aplausos dos presentes, Bento XVI alertou contra o que considera ser "os golpes contra a unidade da Igreja" e a "divisão do corpo eclesiástico", lamentando que "o rosto da Igreja seja, por vezes, desfigurado".
O Papa criticou ainda aqueles que se dizem prontos "a rasgar as próprias roupas face aos escândalos e às injustiças, naturalmente perpetrados por outros", mas que não se mostram "prontos a agir de acordo com o seu próprio coração, a sua consciência e as suas intenções", cita a AFP.

Papa convida a viver a Quaresma na comunhão eclesial

Na missa da Quarta-feira de Cinzas, Bento XVI também conclamou: "Hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos um novo caminho quaresmal, um caminho que se prolonga por quarenta dias e nos conduz à alegria da Páscoa do Senhor, à vitória da Vida sobre a morte", frisou o pontífice. A Igreja nos repropõe o forte chamado que o profeta Joel dirige ao povo de Israel: "Assim diz o Senhor: retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e com lamentação" (Joe 2,12).
O Papa ressaltou que a expressão "de todo vosso coração" significa "do centro dos nossos pensamentos e sentimentos, das raízes das nossas decisões, escolhas e ações, com um gesto de total e radical liberdade". Este retorno a Deus é possível, "porque há uma força que não reside em nosso coração, mas que brota do coração do próprio Deus. É a força da sua misericórdia. O retorno ao Senhor é possível como graça, porque é obra de Deus e fruto da fé que nós repropomos em sua misericórdia", disse ainda o Santo Padre. "O ´retornai a mim de todo vosso coração´ é um chamado que envolve não somente o indivíduo, mas a comunidade. A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na vida cristã. O ´Nós´ da Igreja é a comunidade em que Jesus nos reúne: a fé é necessariamente eclesial", sublinhou ainda o pontífice. Bento XVI convidou a "viver a Quaresma numa mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes".
"O ´retornar a Deus de todo coração´ em nosso caminho quaresmal passa pela Cruz, o seguir Cristo no caminho que leva ao Calvário, à doação total de si. É um caminho no qual aprender cada dia a sair sempre mais do nosso egoísmo e dos nossos fechamentos, para dar espaço a Deus que abre e transforma o coração", disse ainda o Santo Padre.
No Evangelho de Mateus, Jesus faz referência a três práticas fundamentais previstas pela Lei mosaica: "a esmola, a oração e o jejum são também indicações tradicionais no caminho quaresmal para responder ao convite a retornar a Deus de todo coração." "O nosso testemunho será sempre mais incisivo quanto menos buscarmos a nossa glória e teremos consciência de que a recompensa do justo é o próprio Deus, o estar unido a Ele, aqui, no caminho da fé, e, ao término da vida, na paz e na luz do encontro face a face com Ele para sempre", disse ainda o Papa.
"Ressoe forte em nós o convite à conversão, a retornar a Deus de todo coração, acolhendo a sua graça que nos faz homens novos, com aquela surpreendente novidade que é participação da própria vida de Jesus", concluiu Bento XVI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário