quinta-feira, 6 de junho de 2013

Há 50 anos, morria o papa João XXIII


Em 3 de junho de 1963, o papa João XXIII morria em seu quarto no terceiro piso do palácio pontifício. Dir-se-á que expirou no Ite missa est da missa que era celebrada para ele na Praça São Pedro. Estamos na noite de segunda-feira de Pentecostes, uma coincidência notável para aquele papa que tinha desejado tanto um novo pentecostes para a Igreja, e que havia visto o início de sua concretização com a reunião da primeira sessão do Concílio Vaticano II, convocado por ele cinco anos antes.
A morte de João XXIII foi um acontecimento mundial experimentado ao vivo. O dominicano Yves Congar escreveu em seu diário: “Todos tinham a sensação de perder, em João XXIII, um pai, um amigo pessoal, alguém que pensava nas pessoas, e que as amava”. De fato, o mundo inteiro chorará aquele homem de pequena estatura, não particularmente agraciado e elegante, que tinha sabido ser plenamente o papa. Aquela unanimidade espantava a Cúria Romana que não entendia como aquele homem assim bom, longe dos usos arrogantes de um soberano pontífice e que, de bom grado, admitia – talvez com um pouco de faceirice – as suas lacunas em teologia, pudesse ter conquistado tantos corações.
Eleito aos 77 anos como “papa de transição”, João XXIII foi, além da esperança daqueles que o haviam elegido. Fez o catolicismo passar de uma lógica de fortaleza assediada para uma cultura de diálogo e aberta ao mundo. No entanto, ao longo de seu pontificado, aconteceu muitas vezes de decepcionar as esperanças daqueles que esperavam pelas mudanças, ao ponto de julgarem-no duramente.
A releitura histórica mostra que João XXIII, sob aquele ar de “avô” era, na verdade, um temível estrategista. Da orientação que queria levar à Igreja, jamais revelou algo antes de sua eleição. Os franceses, que mantiveram a memória da estrita obediência a Roma no período do caso dos padres operários (1953), não esperavam muito dele. E a sua postura diplomática nos confrontos da Cúria fez com frequência acreditar que ele não soubesse tomar decisões difíceis.
Qualquer semelhança com a recente e surpreendente eleição de um novo pontífice não é totalmente fortuita. Certo, a história não se repete, e Jorge Mario Bergoglio não é Angelo Roncalli. Todavia, o surgimento de um novo estilo papal, de um modo de falar que todos o compreendem e que faz torcer o nariz aos apaixonados dos altos debates teológicos, a vontade de não “bancar o papa”, mas permanecer ele mesmo são, depois de cinquenta anos de distância, características muito comuns.
Resta saber até onde andará o papa Francisco. A julgar por uma série de afirmações recentes e, em particular, pelo seu discurso em São Pedro na frente dos bispos italianos, parece que o papa argentino é muito menos diplomático do que foi João XXIII. É também verdade que Francisco tem a vantagem de ser instruído pela experiência. Conhece o peso dos hábitos, em particular daqueles maus, e a tendência da Igreja Católica de preocupar-se antes de tudo com ela própria.
Padre ordenado no período das esperanças acesas pelo Concílio, ele sabe que muitas dessas esperanças foram decepcionadas. Sonhava com uma Igreja a serviço do Evangelho, queria anunciar Jesus Cristo até os confins, até as extremidades da Terra.
Agora que se tornou papa, está sempre ávido por conhecer Jesus. É a prioridade que dá à Igreja, quase contra si própria, isto é, contra o seu narcisismo. Se há um ponto em comum entre João e Francisco, é que o seu amor pela Igreja é o amor por uma Igreja que serve a Jesus Cristo, servindo a humanidade.
Lumen Christi, lumen gentium…, “a luz de Cristo é a luz das nações”. É com essas palavras que João XXIII tinha começado uma importantíssima mensagem radiofônica que havia pronunciado um mês antes da abertura do Concílio para pedir as orações de todos os católicos. “Lumen Gentium” são as palavras que abrem a grande constituição conciliar sobre a Igreja. Mas, contrariamente a quanto se acredita normalmente, o texto permanece fiel ao pensamento do papa João. A primeira frase da Constituição diz: “Cristo é a luz das gentes”, e acrescenta que é “a luz do Cristo que resplandece no rosto da Igreja”. A sugestão merece ser sublinhada. A Igreja não se acredita a luz, ela é somente o espelho, há o dever de refleti-la. Jesus no centro! Eis o que une João XXIII e Francisco!
Témoignage chrétien, 01-06-2013.

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