sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Francisco começou a reforma pelo papado, diz cardeal Hummes


Papa Francisco, ao lado do cardeal Cláudio Hummes (à dir.)
Por José Manuel Vidal
Sentado ao lado de Bergoglio, o cardeal Claudio Hummes teve a inspiração de sussurrar-lhe, quando foi eleito papa, o já famoso “não se esqueça dos pobres”. Quatro meses depois do conclave, o prefeito emérito do Clero esteve na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, feliz e radiante. Pela Igreja, que “antes estava triste e, agora, feliz e com a cabeça erguida”. E por seu amigo Francisco, “a surpresa do Espírito” e o Papa que irá reformar a Cúria. Cumprimenta o padre Ángel, que conhece de ouvir falar, e diz que é “um admirador de sua obra”.

Confira a entrevista:

Está aqui “seu” papa, a quem você propôs o nome e disse-lhe “não se esqueça dos pobres”.

Sim. Estou muito feliz com a estadia do papa, e por tudo o que ele é e representa. Porque realmente o papa Francisco é um grande dom, um dom extraordinário que o Espírito Santo concede à Igreja. Seu nome já é todo um programa pastoral, porque ele será exatamente o papa que conduzirá a Igreja para este novo milênio. E fará isto de uma forma nova.

Francisco levará adiante uma “revolução tranquila”?

Acredito que sim, com uma forma nova de fazer as coisas, com a qual, principalmente, está apontando o essencial, o importante, aquilo para o qual devemos estar abertos. Particularmente, ele é um homem que pensa muito nas periferias, nos pobres. Carrega em seu coração os esquecidos.

Aqueles que precisam voltar a ser os preferidos?

Claro. Isso é o que ele está demonstrando, não apenas com palavras, mas muito mais ainda com gestos, com sua forma de ser e de fazer, de se relacionar com as pessoas. Para todos nós está sendo uma luz que nos indica novos caminhos.
Souberam escolher bem!
Acredito que o Espírito Santo conduziu o coração dos cardeais para escolher muito bem, e eu estou feliz. Acredito que foi uma coisa extraordinária e inesperada.

Pode-se dizer que começou uma primavera na Igreja?

Sim. Percebe-se que o povo católico está feliz novamente, está com a cabeça erguida de novo. Antes estava meio triste, preocupado em razão de todas as crises que estavam sendo descobertas no seio da Igreja. E hoje o povo está com esperança novamente. Claro que os problemas continuam aí e ainda precisam ser solucionados, mas o Papa já começou com as soluções, e o povo tem esperança de que os problemas serão corrigidos.

Você acredita que ele irá fazer a reforma da Cúria?

Sim, fará. E começou pela reforma da figura do Papa. Agora reformará a Cúria e, depois, também terá que enfrentar assuntos que tem a ver com toda a Igreja.

Será capaz de contagiar a sociedade civil desiludida, especialmente na Europa, com esta esperança?

Claro que sim, com toda segurança. Tanto assim, que na Europa já se ouve governantes que se perguntam: “Como pode ser que a Igreja em um dia e meio de conclave produza uma nova Igreja, e nós não consigamos fazer isso em nossos países e com nossos governos?”. Também se vê, de fato, uma apreciação mundial muito positiva do Papa, inclusive por parte dos governos.

Você temeu que pudesse ocorrer algo com o papa no Brasil?

Não, não. Sempre esteve bem protegido, especialmente pelo carinho do povo.

Os protestos não são contra o papa?

Não. E depois de tudo, acabarão sendo controlados. Às vezes, as forças de segurança contam com um pouco de falta de prática para lidar com este tipo de novas manifestações, mas pouco a pouco se nota que tudo vai sendo normalmente controlado. É claro que está havendo atos de vandalismo e de violência, mas estão sendo isolados e controlados.

O que você considera que ficará da passagem do papa pelo Rio de Janeiro? Qual foi a principal mensagem que ele deixou?

Sobretudo, a partir daqui, o Papa pensa em dar força à Igreja, especialmente na direção que o encontro de Aparecida, do qual ele participou, já havia destacado. Ele tem as orientações de Aparecida gravadas muito fortemente em seu interior. E, ao mesmo tempo, o que está nos apontando, com sua mensagem e com seu exemplo, é a forma como devemos viver Aparecida. E aí, em primeiro lugar, entram os pobres, a nova evangelização, e a proposta de uma Igreja mais aberta, mais misericordiosa, mais próxima do povo e de todas as pessoas. E, especialmente, daqueles que sofrem, dos pobres.

Foi proposto que o papa visitasse Casaldáliga. Você teria gostado de um gesto assim?

Com certeza, teria ficado encantado. Agradar-me-ia se ele o tivesse visitado, mas sei que era impossível.

Não podia?
Não. Não teve como fazer isto.
Por motivos de segurança?

Claro. Era irrealizável.

E Casaldáliga também não conseguiria vir ao Rio de Janeiro?

Não sei, mas talvez já não possa se deslocar numa viagem tão longa.
Religión Digital, 30-07-2013.

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