sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Francisco vive a mensagem do Concílio em palavras e ações


Francisco mudou as prioridades, e uma mudança nas prioridades é um grande momento de mudança para qualquer organização.

Por John W. O´Malley*

Nenhum papa antes jamais havia concedido uma entrevista à imprensa. O evento, como visto na longa história dos sucessores de Pedro, é absolutamente sem precedentes. É igualmente tão sem precedentes para um papa revelar tanto sobre si mesmo como ser humano, falar sobre suas fraquezas e nomear seus erros e expressar arrependimento por eles. Eu poderia continuar. Mas não devemos pensar que a entrevista causou tal sensação.

Não devemos, no entanto, pensar tanto sobre a mensagem básica da entrevista. Nela, o Papa Francisco simplesmente coloca em palavras a mensagem que ele tem pregado pelas suas ações e pelo estilo de comportamento desde o momento em que foi eleito. Qual é essa mensagem? Eu penso no mandato que o Papa João XXIII deu ao Vaticano II no dia em que o Concílio abriu. Ele disse aos bispos que o Concílio deveria mostrar que a Igreja era "a mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade".

O Concílio levou a sério esse mandato. Ele fez o seu melhor para torná-lo operativo nos seus decretos, como quando descreveu a Igreja como povo de Deus, como quando estendeu a mão em amizade a outras Igrejas e a outras religiões, como quando dirigiu o seu documento final a todas as pessoas de boa vontade.

Francisco é o primeiro papa das Américas, o primeiro jesuíta papa, o primeiro a assumir o nome de Francisco. Ele também é o primeiro papa em 50 anos a não ter participado do Concílio. E isso é uma boa notícia! Os Papas Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, todos eles participaram do Concílio e, durante os seus pontificados, tiveram que lidar com as suas batalhas. Francisco está acima disso. Não tendo participado, ele era mais livre para assumir a mensagem básica do Concílio, e ele a tem colocado em ação por palavras e atos desde a sua eleição.

O Concílio estava mais preocupado com o "como" a Igreja é do que com o "quê" ela é, mesmo que essas duas coisas realmente não possam ser separadas. O Concílio estava preocupado com "como" a Igreja se comporta, com "como" ela vai ao encontro dos seus membros e daqueles que não são membros. Ela se comporta em primeiro lugar como a mãe amorosa de todos ou ela se comporta como a polícia moral do mundo? Francisco claramente escolheu a primeira opção.

Mas será que ele realmente vai mudar as coisas? Bem, você não acha que ele já mudou muito as coisas? Ele mudou as prioridades, e uma mudança nas prioridades é um grande momento de mudança para qualquer organização. Ao assumir o nome de Francisco, sua primeira decisão como papa, ele fez a primeira proclamação das suas prioridades para a Igreja. Como ele explicou, ele escolheu o nome por três motivos: por causa do amor de Francisco pelos pobres, pelo seu cuidado pela natureza e pelo seu amor pela paz. Paz, cuidado pelo ambiente e cuidado pelos pobres deste mundo.

Ao escolher o nome de Francisco, ele escreveu a sua primeira encíclica, e o fez de uma forma mais poderosa do que qualquer documento escrito. Ele fez o mesmo quando ele lavou os pés da mulher muçulmana.

Há um velho ditado com o qual você pode estar familiarizado: as ações falam mais alto do que as palavras. Há outro: o que você é ressoa tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz. Pelas suas ações, Francisco foi revelando-se, e essas ações, há seis meses, têm ressoado muito alto por toda a Igreja e pelo mundo para além dela.
America, 24-09-2013.
*John W. O'Malley é do jesuíta, professor do departamento de teologia da Georgetown University e autor do livro What Happened at Vatican II.

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