quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diálogo entre religiões: um caminho possível e necessário

Representantes das três grandes religiões monoteístas falam da necessidade da convivência pacífica entre os credos.

Papa conversa com embaixador árabe: diálogo pela paz.
Por Alexandre Vaz
Redação Dom Total

Em oito meses de pontificado, o papa Francisco vem conseguindo romper a barreira entre as religiões, inspirando pessoas dos mais diferentes credos com suas palavras e gestos de solidariedade, fé e busca pelo diálogo. Reiteradamente, o pontífice vem afirmando a necessidade de se promover a “cultura do encontro” entre as tradições religiosas. "É importante que todos trabalhemos pelos demais, sem egoísmo, segundo os valores da fé. Cada religião tem sua crença, sua fé", afirmou recentemente.

Para muitos, a atitude de Francisco encontra acolhida não apenas entre católicos, como também protestantes, evangélicos, judeus, muçulmanos, budistas, entre outros credos, chegando inclusive até os não crentes, porque falam de princípios básicos para a convivência em sociedade e que, muitas vezes, são esquecidos pelas pessoas na busca pelo poder e pelo dinheiro.

Em entrevista ao Dom Total, representantes das três grandes religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – são unânimes em dizer que a aceitação religiosa é fundamental para a construção de um mundo melhor e que atos de discriminação religiosa, praticados em nome de seu próprio Deus, não passam de deturpações dos ensinamentos primários.

Cristianismo

“A condição principal para o diálogo advém de três convicções profundas. Primeira, Deus salvador, infinito, faz-se presente em todas as religiões. Segunda, nós, os humanos, compreendemos de maneira limitada as manifestações de Deus. Não podemos nem devemos absolutizar nossa compreensão como se fosse perfeita, completa e única. Assim, no diálogo entre as religiões, todas elas têm condição de melhorar a própria interpretação de Deus.

Em terceiro lugar, pelo diálogo, caminhamos para o sonho de Jesus de que haja um só rebanho e um só pastor, não necessariamente sob o aspecto institucional, mas na perspectiva da fé de que o único e verdadeiro Deus seja o grande pastor de todos nós, como único rebanho. Na terra, ainda de maneira imperfeita. Na eternidade do amor de Deus, entenderemos o sentido profundo e último do desejo de Jesus.

Essa visão teológica ampla permite que olhemos para o miúdo de cada religião e o interpretemos à luz da salvação, seja para criticar quando nos afasta dela, seja para valorizar quando nos aproxima. A presença de Deus mostra-se sempre salvífica, onde ela esteja. Tal certeza funda todo diálogo e convivência entre as religiões. Elas existem como caminhos de salvação e não como instituições de poder. Aí está o ponto central do diálogo”.

João Batista Libânio, teólogo jesuíta

Judaísmo

“Idealmente, dever-se-ia criar um cultura de pluralismo religioso, onde o fiel acredita que a sua religião é a melhor para ele, mas não para todos, que outras religiões podem ter pelo menos uma parte da verdade ou que existe salvação mesmo para aqueles que não adotaram a sua religião. O judaísmo desenvolveu a crença de que existe salvação para todos os seres humanos que cumpram as sete leis básicas de Noé. Não existe necessidade de ser judeu para se salvar e, por isso, não existe proselitismo judaico atualmente.

Religiões que acreditam que só através delas chega-se à salvação, que existe necessidade de converter para salvar os demais ou que não respeitam os direitos humanos básicos, serão apenas mais uma fonte de conflitos e não poderão conviver pacificamente com as demais.

As tradições religiosas podem contribuir para um mundo mais pacífico através da criação de uma cultura de solidariedade irrestrita, independente de credo ou etnia. Devemos treinar nossos fiéis para ver no próximo a semelhança humana fundamental que existe dentro dele mesmo”.

Leonardo Alanati, rabino

Islamismo

“Todas as religiões vêm de uma mesma fonte, que é Deus. E Deus não faria uma mensagem para cada uma das correntes religiosas. Na realidade, o que impede a convivência pacífica são os interesses dos homens, que deturpam a mensagem de fé em nome da busca pelo poder.

As três religiões vem de uma mesma raiz, a raiz Abraâmica.  Cada povo recebeu um profeta, trazendo a palavra de Deus e seus mandamentos. Para o islamismo, todos os profetas que passaram pela Terra e que se dedicaram a divulgar a palavra de Deus – Abraão, Jesus, Muhammad, entre tantos - são, por principio, profetas muçulmanos.  E todos professaram as mesmas ideias, como solidariedade uns com os outros, amor ao próximo, respeito ao meio ambiente, justiça no comércio, entre outros ensinamentos.

A mensagem de diálogo e aceitação religiosas está no Alcorão para ser ensinada não apenas aos árabes, mas a todos os homens. Esse é um dos princípios básicos do islamismo”.

Daniel Yussuf, membro da Comunidade Islâmica de Belo Horizonte
Redação Dom Total

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