segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os dois caminhos no encontro pela Palavra de Deus


A Palavra de Deus está sempre a nosso alcance para nos mostrar o sentido da vida. A leitura do Deuteronômio 11, 18s nos diz: “Incuti estas minhas palavras em vosso coração e em vossa alma”. É a proposta dos dois caminhos, tão freqüente na literatura bíblica e cristã: o caminho do bem e o caminho do mal; o caminho dos vícios e das virtudes, o caminho da luz e das trevas, o caminho largo e o caminho estreito, o caminho da árvore plantada à margem do rio que produz muito fruto e da semente que cai em terra seca; o caminho da realização do plano de Deus, o caminho da bênção e o caminho dos próprios horizontes, o caminho da perdição. 

Esta leitura prepara o trecho do evangelho de Mateus 7, 21-27. “Quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram enchentes, ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu porque estava construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!” 

Para receber convenientemente a linguagem de Deus e tirar proveito do seu falar a nós, podemos recomendar três regras: escutar, refletir, praticar. Praticar, sem ter escutado e refletido, é impossível; escutar e refletir sem pôr em prática é inútil. Trata-se de verdadeiro itinerário de vida cristã. 

Há vários modos de pôr-se em contato com a palavra de Deus: escuta da Palavra durante as ações litúrgicas, cursos bíblicos, subsídios escritos e a insubstituível leitura pessoal da Bíblia. 

A leitura pessoal não deve se preocupar com os métodos mais avançados da crítica histórica e filológica. A primeira disposição é receber o livro sagrado com fé. Somos gratos aos que empregaram sua vida em estudar a Bíblia e penetrar sempre mais a fundo o seu sentido e, assim, nos ajudam a compreender a escuta. 

Deve ser evitado o fundamentalismo que toma a Escritura à letra, materialmente, sem dar a mínima atenção ao contexto, aos gêneros literários, a uma sadia hermenêutica. Isso é ignorar o Espírito Santo para cair na letra. A letra mata a força da mensagem. Cuidado, pois, para não se perder a atenção ao conteúdo do que Deus nos revela. 

O segundo momento da escuta da Palavra é a reflexão: um fixar o olhar sobre a Palavra, uma parada longa diante do espelho, segundo a expressão do apóstolo Tiago 1, 22-25. Como a semente que cai em terra boa, o coração aberto, para germinar, crescer e produzir fruto. Assim a Palavra pode ser compreendida depois de contemplada com vontade de assimilar o ensinamento. 

Um exemplo pode-se tomar do sermão das bem-aventuranças. Após cada enunciado, perguntemos a nós mesmos: E eu sou pobre no espírito, puro de coração, minha caridade é paciente, não é invejosa, tudo suporta? Tudo que Deus nos revela deve fazer olhar-nos no espelho, para nos questionar, para saber como estamos. Assim, olhando-nos no espelho, descobrimos o rosto de Deus, o seu coração e nós vamos adquirindo o rosto e o coração de Deus em nós mesmos. 

O terceiro momento, e mais importante, da escuta da Palavra de Deus é colocar em prática a Palavra. O contraste maior está entre quem escuta e põe em prática e quem escuta e não põe em prática. O mesmo pode ser dito também hoje que a oposição maior não está entre quem conhece o Evangelho e quem não o conhece; entre os cristãos e os não cristãos; mas está entre quem conhecendo o Evangelho não o põe em prática; e quem o conhecendo ou não o conhecendo, o põe em prática; ou ainda entre fé viva e fé morta. Quem diz ter fé e não pratica é apenas como um sino que toca. 

A Palavra de Deus, como se vê, pode constituir um caminho em si completo de santificação: guia-nos à contemplação da verdade e ao exercício da caridade. A carta de São Tiago e a de São Pedro insistem, quase com as mesmas palavras: “Por isso, deixada toda impunidade e todo resto de malícia, acolhei com docilidade a palavra que foi semeada em vós e que pode salvar as vossas almas”. 

Orígenes completa: “o mesmo respeito, devido ao Corpo eucarístico do Senhor, é devido à Palavra de Deus escutada”!
CNBB

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