quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cumprir o sentido da lei


É preciso perguntar o que Deus pretendia ao instituir os mandamentos.
Por João Batista Nunes Coelho
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição" (Mt 5,17). Que significa "levar à perfeição"? Significa não apenas  cumprir a materialidade do mandamento, mas  perguntar o que Deus pretendia ao instituí-lo. Desta forma a lei não atinge apenas a conduta externa mas alcança a reta intenção.

Intenção.  Aqui está o foco da questão. A novidade da interpretação que Jesus faz da Escritura está na explicitação do que o Senhor pretendeu ao nos dar o mandamento. Não basta, por exemplo, não matar. Há que se evitar ferir o próximo com palavras de desamor, de desprezo, de ressentimento. Essa observância também nos protegerá dos desvios. “Se quiseres guardar os mandamentos, e praticar sempre fielmente o que é agradável (a Deus), eles te guardarão” (Eclo 15,16). Protegerão. Dessa forma o mandamento “não matarás”, abrange também evitar a morte psicológica e moral que pode ser perpetrada contra alguém; o mandamento “não roubarás”, proíbe também a exploração ilícita da mão de obra ou das habilidades alheias. Assim,  cada mandamento terá uma visão ampla e não apenas uma interpretação restritiva. Com isto as orações brotarão de um coração reto.

Deixa tua oferta. Seja coerente. “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta” (Mt 5,23-24). No Dia da Expiação (ou do Perdão, ver Lv 16), os judeus confessam os pecados cometidos contra Deus e pedem perdão durante 24 horas. Acreditam que os pecados contra o “próximo” devem ser perdoados por quem sofreu a ofensa  e não por Deus; por isso, primeiramente pedem perdão ao próximo para depois se dirigirem a Deus. Jesus faz mudança radical em relação a esse dia de perdão. Afirma que não somente num dia especial, mas todos os dias, os cristãos devem pedir perdão ao seu próximo para depois dirigir-se a Deus.

Adultério. A compreensão dos escribas a respeito do adultério era diferente no caso da culpa da mulher e da culpa do homem. Entendiam que a mulher cometia adultério até mesmo sozinha,  no coração, quando era casada e desejava outro homem. Não só. Cometia também adultério  quando observava um homem para vê-lo passar ou quando se exibia para ser notada por ele. Se fosse flagrada numa dessas atitudes, poderia ser apedrejada porque seu adultério não dependia do consentimento de um homem. Apenas a intenção a condenava. Jesus amplia este conceito. Põe homem e mulher em pé de igualdade. “Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5,28). Seja homem ou mulher, cada um comete adultério no coração, nas mesmas condições.

Juramento.  Quanto ao juramento, muitas vezes os judeus juravam sem pensar e se obrigavam a agir mesmo se descobrissem ser a vontade de Deus diferente do que foi prometido por juramento.  Mesmo assim, algumas pessoas preferiam fazer algo que desagradava a Deus a descumprir um juramento, pois amaldiçoavam a si mesmas quando  não cumpriam o juramento  (ver 1Rs 19,1-2). Jesus  exorta a não jurar. “Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo tornar-se branco ou negro” (Mt 5,34-35). Vivendo segundo os mandamentos do Senhor, não há necessidade de jurar.

Aquele que os guardar será grande no reino dos céus. "Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. "Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5,19).
*Reflexões sobre as leituras bíblicas do 6º Domingo do Tempo Comum, 16-02-2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário