quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Pensando com a Igreja

O pensamento por detrás das orientações inacianas não perderam sua relevância em nada.
Por Paul Nicholson*
No final do seu livro "Os exercícios espirituais", Inácio de Loyola apresenta uma série de orientações. Apresentadas no contexto de um retiro, estas orientações ajudam os retirantes a pensar através de diferentes aspectos de sua vida cristã.

À luz da profunda experiência de oração que os participantes no retiro passam, o que eles podem fazer em relação à caridade, ou o que podem escolher comer e beber em seu dia a dia? Como podem continuar discernindo a vontade de Deus em suas vidas, e como evitar cair em escrúpulos? E como essas pessoas deveriam viver enquanto membros de uma comunidade de fé visível e institucional?
"Acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado". Muitos rejeitaram isso como um chamado à obediência cega do tipo mais extremo e servil. Então, se assim for compreendido, as outras orientações que Inácio apresenta – louvar as relíquias, as indulgências, as peregrinações e as imagens sagradas, por exemplo – podem parecer como tentativas de se encerrar dentro de uma adesão rígida para cada estrutura da Igreja Católica romana pós-Reforma.

Mas dois princípios subjazem o que Inácio diz aqui, e eles são tão válidos e úteis hoje quanto o foram no século XVI. O primeiro é que o Espírito de Deus está agindo em todo o povo de Deus bem como em cada pessoa tomada individualmente. O segundo é normalmente expresso na frase "uma boa construção".

 Em termos gerais, isso quer dizer que, se você disser algo que inicialmente a mim parece objetável ou simplesmente estúpido, eu deverei dar o meu melhor a fim de entender num sentido positivo o que quer significar tal afirmação e o que levou você a dizê-la, antes que eu recorra à condenação. Tomados em conjunto, estes princípios sugerem que, se eu tiver uma opinião contrária àquela professada pela Igreja, deverei dedicar-me a descobrir por que a Igreja fala assim a este respeito, e confiar que – de alguma forma – a obra do Espírito de Deus pode ser descoberto através deste processo.

Aqueles que eram membros da Companhia de Jesus quando a ordem foi suprimida em 1773 foram chamados a ver Deus operando através da destruição ou do confisco de todas as suas instituições que eles haviam criado. Aqueles que se juntaram a ela (ou aqueles que voltaram a fazer parte dela) após a Restauração precisavam – no dizer de Kipling – "se curvar e se reconstruir com ferramentas gastas". Os registros que possuímos não revelam um grupo de homens que reconstruíram as injustiças sofridas ou que conspiraram contra seus responsáveis.

Muitos, talvez, simplesmente continuaram com suas vidas de serviço dentro da Igreja e, com gratidão, aproveitaram as oportunidades oferecidas na Companhia restaurada. Em nossos dias, quando as divisões de opinião dentro e entre as partes da Igreja cristã são, muitas vezes, tão profundas como jamais se viu, o pensamento por detrás das orientações inacianas para pensar com (e dentro) da Igreja não perderam sua relevância em nada.
Jesuit Restoration, 24-02-2014.
*Paul Nicholson é jesuíta.

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