quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sal e luz

Reflexão sobre as leituras bíblicas do 5º. Domingo do tempo comum

Sal e luz. Duas metáforas utilizadas por Jesus
Por João Batista Nunes Coelho
“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). O cristão é chamado a exercer esta função. É fácil? Não, pois antes é preciso  ter a luz em si. Isto não é simples. Quem não tem a luz não consegue ser luz para os outros.

Sal e luz. Duas metáforas utilizadas por Jesus.   “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens” (Mt 5,13). O sal transforma o mundo insípido (sem sal), insensato (sem a sabedoria divina) e sombrio (sem a luz de Deus) em reino de Deus. A ação dos cristãos é  fundamental na transformação do mundo. Contudo, se não tiverem o espírito do evangelho, não terão êxito na edificação do Reino.

Glorifiquem.  Qual será a consequência de se ter a luz divina no coração?  A pessoa será iluminada. Os outros a verão dessa forma. Virá o reconhecimento, a pessoa se torna exemplo. Receberá elogios? Pode ser. Mas não é essa a finalidade do cristão ser luz e sal para os outros. A finalidade é manifestar o amor Deus, transferir a ele toda a glória. “Que, vendo vossas boas ações, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16b). Esta é a meta quando nos empenhamos em ser sal da terra e luz do mundo.  Para tanto precisamos realmente sermos pobres em espírito, mansos, misericordiosos, puros, pacíficos e alegres, apesar das perseguições. Essa atitude é a melhor pregação. “A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloquência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino, 5 para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1Cor 2,4-5). O testemunho de vida  exige construção interior, morte para a vontade própria.

Jejum. É forma de mortificação e de preparo do espírito. Isaías já pregava esta necessidade. Contudo alertava para as pessoas não se fixarem apenas em cumprir o preceito do jejum. Ele, em si, não agrada a Deus. Agrada se for caminho para crescimento interior: “Por que foi que jejuamos e tu nem olhaste? Nós nos humilhamos totalmente e nem tomaste conhecimento”. Acontece que, mesmo no dia de jejum, só cuidais dos vossos interesses e continuais explorando os trabalhadores” (Is 58,3). Lição atualíssima. E prossegue censurando duramente esse jejum desvinculado da prática da caridade: “Acontece que jejuais criando caso, brigando e esmurrando. Deixai de jejuar como até agora, para que vossa voz chegue ao Altíssimo” (Is 58,4). Está vendo? Não basta orar, jejuar. Os ritos penitenciais devem ser sinais de sincero arrependimento e expressão de mudança radical de conduta (Jn 3,8).

Rituais. Isaías se dirige aos judeus espalhados pelo mundo e reclama da prática do jejum quando outras pessoas estão sem roupa, enfermas, sem alimento, injustiçadas. O que agrada ao Senhor  “é repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante”  (Is 58,7). .O Antigo Testamento apresenta as ações éticas em favor dos necessitados como portadoras de luz. “Se saciares os pobres, tua luz brilhará nas trevas” (Is 58,10). A verdadeira ação que agrada a Deus não se limita a rituais; ao contrário, é necessário voltar-se para o “outro”. Só assim a glória de Deus resplandecerá. “Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: "’Eis-me aqui!’ Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações” (Is 58,9). Os rituais serão expressão de uma vida dedicada à  prática dos valores do Reino.

“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). Mas, quem não tem a luz não consegue ser luz para os outros. “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens” (Mt 5,13). A luz e o sal transforma a vida insípida e escura das pessoas em vida saborosa e iluminada.

Que sejamos portadores do sal e da luz para o mundo. Mais: sejamos o sal da terra e a luz do mundo.
1 - Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj, doutora em Teologia Bíblica, em artigo na revista Vida Pastoral, jan-fev 2011, São Paulo: Paulus, 2011, p. 56-57.

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