sexta-feira, 7 de março de 2014

Fraternidade e Tráfico Humano


Brasão_Dom_Saburido
As Campanhas da Fraternidade (CF), ao longo dos seus 51 anos de existência, têm estimulado a vivência da Quaresma no âmbito pastoral. Sua aplicação desperta compromisso e solidariedade, conforme ensina o Apóstolo Tiago “De que adianta alguém dizer que tem fé quando não a põe em prática? A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta” (Tg 2,14a;17). Sobretudo, nas últimas décadas, têm apresentado temas de grande atualidade e urgência, promovendo o debate e a tomada de atitude.
Neste ano de 2014, temos por tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e o lema: “É para a Liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). A escolha do tema surgiu com a proposta dos Grupos de Trabalho de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e de Combate ao Trabalho Escravo, junto à Pastoral da Mobilidade Humana com a aprovação final do Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB (Consep).
De acordo com as Nações Unidas o tráfico de pessoas é caracterizado pelo “recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, e engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração”. Esta prática acontece em diferentes escalas: local, nacional e internacional.
No Brasil, os estudos mostram que há tráfico de pessoas no país na escala local dentro dos estados e cidades); na escala nacional (entre estados) e internacional (mais comum nos países com a presença da imigração brasileira: países fronteiriços, Europa e Estados Unidos). Diante dessa realidade, o Objetivo Geral da CF-2014 é “Identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.
Assegura o texto base da campanha que a situação do tráfico humano no país e no mundo é alarmante: a Organização Internacional do Trabalho (OIT) chama a atenção para o aumento de vítimas do tráfico humano, do trabalho forçado e do tráfico para a exploração sexual. De acordo com o site da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, o tráfico de pessoas faz cerca de 2,5 milhões de vítimas por ano, incluindo homens, mulheres e crianças, mas principalmente pessoas vulneráveis e carentes – psicologicamente e de recursos. Segundo a ONU, o tráfico de pessoas é bastante lucrativo: movimenta anualmente 32 bilhões de dólares em todo o mundo. Desse valor, 85% provêm da exploração sexual. Entre os principais destinos de pessoas traficadas estão: Espanha, Itália, Portugal, França, Holanda, Áustria e Suíça.
O tema “Tráfico Humano” chega esse ano junto com a Copa do Mundo, época em que o país receberá muitos eventos e visitantes – o que pode favorecer a ação de aliciadores e traficantes. Soma-se ao tráfico o problema das drogas que vicia e cria dependência deixando as vítimas inteiramente entregues às mãos de pessoas inescrupulosas. A Campanha da Fraternidade deverá então ser intensificada com um trabalho de conscientização para minimizar a prática criminosa.
O tema da Campanha da Fraternidade deve nos levar a contemplar com maior carinho e atenção para a realidade que temos vivido no vicariato Cabo de Santo Agostinho, com o crescente desenvolvimento que vem acontecendo naquela região, por conta de Suape, assim como o Vicariato Olinda que se estende até Igarassu e Araçoiaba, por conta de Goiana. Essas regiões estão propensas, como de fato já vem acontecendo, a explorações de todo tipo, dentro da linha do que nos adverte a campanha.
O objetivo maior de todas as campanhas da fraternidade é promover o debate em todos os âmbitos e buscar soluções partilhadas e assumidas comunitariamente. Elas não podem se restringir apenas aos 40 dias da quaresma, mas devem se prolongar por todo o ano. Somos convidados/as a fazer a nossa parte e colaborarmos para que essas ideias alcancem a todos/as e possam promover a conscientização e mudanças necessárias para que a Igreja continue sua missão profética de anunciar o Reino e denunciar tudo aquilo que fere os princípios fundamentais do Evangelho.
Concluo desejando a todos e todas uma santa e fecunda Quaresma e transformadora celebração pascal.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano

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