sexta-feira, 9 de maio de 2014

As atitudes cristãs que constroem a comunidade


Nunca esqueçamos que a gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força.
Por Dom Luciano Bergamin*
"O sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte. O vento disse: 'Provarei que sou mais forte. Vê aquela mulher com um lenço azul no pescoço? Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa que você'. O sol aceitou a proposta e recolheu-se atrás de uma nuvem. O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava, mais a mulher segurava o lenço junto a si. Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar. Logo após, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher. Imediatamente esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço. O sol disse, então, ao vento: 'Lembre-se disso: A gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força'".
O tema central da Assembleia dos Bispos do Brasil (CNBB), que acontece em Aparecida desde o início de maio, busca rever o texto “Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia”. Muitas sugestões foram enviadas à Comissão encarregada de redigir o texto. Sem dúvida outras aparecerão durante o debate, de tal maneira que o texto final aprovado será realmente o fruto do empenho geral e se tornará ferramenta prática e útil para a vivência cristã evangelizadora, missionária e solidária da Igreja.
Certamente em primeiro lugar está a ação do Espírito Santo, ao qual devemos ser fiéis e obedientes. De fato, os escritos do Novo Testamento insistem que tudo é graça. Mas, ao mesmo tempo, declaram que nossa contribuição de discípulos missionários é indispensável.
Refletindo sobre isto, compreendo, cada vez mais, como nossas atitudes comunitárias, para sermos realmente esta Igreja Nova que o Papa define “Em saída”, devem ser permeadas de muita “Humanidade e Misericórdia”.
Por isso, de maneira muito simples, desejo apontar algumas atitudes bem “humanas”, mas, que são também bem “cristãs”, indispensáveis para que os relacionamentos comunitários sejam possíveis:
1ª: Conversar com as pessoas. É bom dialogar com os outros, a fim de conhecê-los melhor, transmitindo acolhida e amizade. Ser discípulo é estar “em saída” de si mesmo na busca do outro.
2ª: Sorrir às pessoas. Cara amarrada não leva ninguém para o céu! Papa Francisco insiste que o evangelizador não pode ter “cara de funeral”.
3ª: Ser cordial e simples. Nada de imposição, egoísmo, autoritarismo, orgulho e exigências descabidas. Com cordialidade se conquista o coração das pessoas.
4ª: Ser prestativo, disponível, interessar-se pelo bem dos outros. Deus a todos concede dons e qualidades, não para que fiquem enterrados e estéreis, mas para que sejam colocadas a serviço de quem precisar. Como é maravilhoso escutar de alguém: “Conte comigo. Farei todo o possível para lhe auxiliar!”. Por outro lado, como é triste ouvir: “Tiro meu corpo fora, pois não tenho nada a ver com isto! Problema seu”.
5ª: Respeitar os sentimentos dos outros. Deus nos fez diferentes, mas complementares. Por isso não podemos nos impor a todo custo sobre os demais. O irmão respeita o irmão assim como ele é. Há introvertidos e extrovertidos, tímidos e corajosos, falantes e calados... Todos merecem respeito, atenção e carinho.
6ª: Saber elogiar, animar e incentivar. Como é bom reconhecer o valor dos outros, seus dotes e capacidades! Esta valorização deve ser sincera e autêntica, de tal forma que ajudará bastante para criar um clima de verdadeira comunhão, capaz de somar forças pelo crescimento do reinado de Deus e de comunidades mais fraternas e corresponsáveis.
7ª: Saber perdoar e pedir perdão. Somente Deus é totalmente santo, perfeito e nunca erra. Todos nós caminhamos rumo à santidade, mas ainda somos imperfeitos, pecadores e falhamos tantas vezes. Pedir e dar perdão com sinceridade nos é tão necessário quanto o pão cotidiano. Uma comunidade onde os membros são incapazes de exercer o perdão nunca será realmente uma “família de Deus”.
Que a Sagrada Família de Nazaré, exemplo para todas as famílias e comunidades cristãs, nos ajude a termos para com todas as pessoas relacionamentos fraternos, educados e construtivos. Nunca esqueçamos que a gentileza e a amizade são sempre mais poderosas que a fúria e a força.

*Dom Luciano Bergamin é bispo da Diocese de Nova Iguaçú (RJ).

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