sábado, 5 de julho de 2014

Com Francisco, cristianismo volta à sua pureza


Por Giovanni Reale

Na entrevista concedida por Francisco ao Il Messaggero, encontrei algumas das novidades revolucionárias que este papa está introduzindo e que nem todos entenderam ainda.

Estou convencido de que esse é um pontífice muito filósofo, mas poucos se deram conta disso. Tende-se a pensar que a filosofia só se expressa com linguagem acadêmica; ao contrário, a filosofia é chegar à essência das coisas e expressá-la de modo simples, e Francisco tem exatamente essa capacidade.
Das palavras de Francisco, entende-se que a primazia para o cristão deve ser dada ao encontro com a pessoa de Cristo, que é posta acima do encontro com as ideias. O cristianismo não é ideologia, é um encontro com a pessoa.
É um conceito que Kierkegaard expressou de modo estupendo: quando não houver mais ninguém que ouça Cristo contemporâneo, defende o grande filósofo, o cristianismo estará acabado.
A contemporaneidade de Cristo – uma contemporaneidade espiritual, entenda-se – é a condição da fé.
Na entrevista, o papa relembra com grande força os conceitos de pobreza e humildade, e observa justamente que isso não significa ser comunistas, mas, no mínimo, foi o comunismo, 2.000 anos depois, que roubou do cristianismo a bandeira dos pobres.
Kierkegaard expressa o mesmo conceito com outras palavras: "O enviado é Jesus Cristo, o humilhado. E foi ele que pronunciou as palavras de convite, mas não sentado na glória", porque, "para crer em Cristo, é preciso começar com o abaixamento".
Se ele tivesse vindo na glória, na riqueza, bem-vestido, teriam acorrido a ele os tolos, os pagãos. Mas Cristo é outra coisa: é o abaixamento, isto é, a pobreza. Por pobreza, Francisco entende tanto a física quanto a espiritual, "as periferias", como ele as chama. Ir buscar o homem na sua humildade total.
Francisco, além disso, fala de outra grande revolução que ele está implementando: a reforma da Cúria, que não é um ato político, não é apenas uma reorganização estrutural, como é dito às vezes nos jornais.
Francisco faz com que as pessoas entendam que a Igreja não é a Cúria, mas sim uma comunidade de cristãos que creem em Cristo, dos quais Cristo é a cabeça, e a Cúria é apenas – segundo a terminologia aristotélica – uma manifestação acidental, mas não a substância.
A dimensão do poder temporal deve ser eliminada pouco a pouco. Apesar das muitas reformas já feitas, a Igreja muitas vezes ainda tem os pés no poder.
Il Messaggero, 30-06-2014.

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