domingo, 27 de julho de 2014

Dom Cláudio Hummes fala do amigo Francisco


Porto Alegre, 27 jul (Zero Hora) - Auri Afonso virou Cláudio aos 18 anos, ao ingressar na Ordem Franciscana dos Frades Menores, numa época em que a mudança de nome era obrigatória e simbolizava uma página virada.

Mas o rascunho da carreira religiosa do gaúcho, que chegaria a ser um dos favoritos à sucessão do papa João Paulo II, havia começado a ser escrito muito antes. Precocemente, aos nove anos, quando ele descobriu a vocação ao ser conquistado pelas vestes de um franciscano.

No ano passado, quando o mundo se surpreendeu com o anúncio do primeiro papa latino-americano, dom Cláudio Hummes apareceu sorrindo ao lado do argentino Jorge Bergoglio, um jesuíta que, inspirado pelo cardeal brasileiro, escolheu justamente se chamar Francisco. Arcebispo emérito de São Paulo, Hummes foi apontado como o principal articulador da eleição de Bergoglio.

Prestes a completar 80 anos, Hummes faz nesta entrevista uma avaliação positiva do pontificado de Francisco, com quem troca cartas e se reúne quando viaja a Roma. Fala sobre temas polêmicos como celibato, pedofilia e casamento gay e diz confiar que o Papa fará reformas necessárias na Igreja, mas pede paciência.

Que avaliação o senhor faz desses 16 meses de pontificado de Francisco?

Muito positivamente. Todos sabemos que ele foi um grande presente para a Igreja. É de uma vitalidade, de uma capacidade de sentir, de viver a realidade, de se aproximar das pessoas e de entrar na vida delas. Ele tem um carisma extraordinário e um grande amor aos pobres. Para ele, é fundamental que a Igreja consiga ir às periferias, ir até os que estão fora de todo o grande processo humano, que progride. Na escolha do nome, ele afirma isso, porque São Francisco de Assis é o homem dos pobres, da paz e da ecologia.

No conclave, o senhor estava sentado ao lado de Bergoglio. Quando ele obteve dois terços dos votos, foi um dos primeiros a cumprimentá-lo e disse a frase que inspirou a escolha do nome Francisco: "Não se esqueça dos pobres". O que passou pela sua cabeça naquele momento?

Não podia contar isso, porque é segredo do conclave, mas o Papa, uma vez eleito, não está mais sujeito ao segredo do conclave. Assim que ele teve os votos suficientes, houve aquele aplauso, eu o abracei — ele estava sentado à minha direita — e disse no ouvido dele isso que me veio na hora. Não tinha preparado nada. Sempre digo que foi o Espírito Santo que falou, porque não imaginava que tivesse tal repercussão dentro dele. Acho que, se queremos ser fiéis a Jesus Cristo, não podemos nos esquecer dos pobres. O Papa constantemente reza pela paz e, agora, está escrevendo uma encíclica sobre ecologia.
SIR

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