quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O desapego e a busca pelo bem maior


Abandonar a vida de busca de interesse egoísta é vital para se ganhar o tesouro do Reino de Deus.
Por Dom José Alberto Moura*

Em geral, não gostamos de deixar algo atraente, a não ser para trocarmos por outro mais chamativo e de mais valor. Para isso, é preciso conhecermos a preciosidade do que vamos assumir como novo. Exige maturidade para a nova escolha. Às vezes ficamos perplexos por querermos algo conceitualmente melhor e sermos como que arrastados por aquilo que é apetitoso para os instintos. Estes nos atraem até de modo inconsciente. Paulo lembra essa situação, em que reconhece um valor, aceita-o e se sente atraído pelo de menos valia.
No entanto, a ascese ou exercitação para a prática do bem maior, nos faz fortificar a vontade para não sucumbirmos às tentações dos vícios e dos prazeres efêmeros, em detrimento da busca de valores maiores, como a consecução de um ideal na vida. Para isso, não podemos deixar passar as oportunidades que Deus nos dá de sabermos abandonar o que não convém e nos deixarmos atrair e até arrastar pelo atrativo de seu amor. Isso é chamado por Jeremias de “sedução de Deus”: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jeremias 20,7).
Mudar de vida muitas vezes nos custa, também pelas críticas e comentários de pessoas acostumadas ao nosso comportamento anterior de descompromisso com a ética, a verdade e a prática das virtudes. A conversão verdadeira exige força de vontade e uso da convicção de que achamos o tesouro da vida de sentido. Não o trocamos por valores menores. O mesmo Jeremias fala bem disso quando teve a tentação de voltar atrás de sua conversão para o Senhor (Cf. Jeremias 20,8-9). Mas Deus deu-lhe a força necessária para não ser derrotado em sua conversão.
Paulo nos lembra a necessidade de transformação e renovação para a prática do bem, fortificando a vontade para realizarmos o projeto de Deus (Cf. Romanos 12,1-2). Para isso, precisamos usar os meios naturais e sobrenaturais para conseguirmos ficar em pé sem cair, como fizeram e fazem tantas pessoas de fidelidade a Deus. Deste modo, são como colunas firmes, que sustentam o edifício da construção da sociedade e dão suporte a um convívio de promoção do bem e da justiça. Trabalham com afinco e exemplo na ordem familiar, eclesial, política e social para ajudarem a implantar nova ordem justa e fraterna.
Jesus vem implantar nova mentalidade e prática de vida, que exige conversão e mudança, abandonando-se o egocentrismo exagerado e os interesses mesquinhos de pessoas e grupos. Trata-se de cada um dar de si pelo bem outro: “Quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mateus 16, 26). Abandonar a vida de busca de interesse egoísta e viver na oblatividade por amor e promoção do semelhante é vital para se ganhar o tesouro do Reino de Deus.
CNBB, 27-08-2014.
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).

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