quinta-feira, 2 de outubro de 2014

São Cosme e São Damião, cuidadores da alma


Rio de Janeiro presta homenagem aos patronos dos médicos e cirurgiões
Por Igor Marques

Entre tantos festejos e solenidades, a celebração da memória dos irmãos Cosme e Damião é uma tradição no calendário de muitos brasileiros. Mais especificamente no Rio de Janeiro, a devoção aos santos é uma marca muito expressiva na vida dos fiéis. Seja presente nas missas votivas ou nos eventos sociais, centenas de pessoas participam da programação da Paróquia São Cosme e São Damião, no bairro do Andaraí, na Zona Norte da cidade.

A comunidade, que se prepara para celebrar em 2015 seus 70 anos de fundação, fica localizada na Rua Leopoldo, 434, e tem como pároco o padre Lincoln de Almeida Gonçalves, que desde 2009 desenvolve seu trabalho pastoral no local.

"A paróquia surgiu para atender as famílias que moravam e trabalhavam nas fábricas de tecido da região. A comunidade foi fundada em 1945 pelo padre Olivério Kraemer, que também foi responsável pelo início da sua construção em 1944. Depois da sua morte, assumiu Dom Romeu Brighenti, que terminou a obra de seu antecessor e promoveu também uma mudança na estrutura social da paróquia com a criação de uma creche que existe até hoje para 94 crianças", contou.

Atualmente, a comunidade conta com 31 grupos de pastorais, movimentos e associações, que se mobilizam para organizar os festejos dos padroeiros.

Mártires da fé

Os santos gêmeos Cosme e Damião nasceram em Egeia (agora Ayas, no Golfo do İskenderun, Cilícia, Ásia Menor), e tinham outros três irmãos. O pai foi mártir durante a perseguição dos cristãos na era de Diocleciano. Cosme e Damião eram médicos que curavam os enfermos não só com seu saber, mas através de milagres propiciados por suas orações.

Os dois irmãos praticavam a medicina e não aceitavam nenhum pagamento por seus serviços. Dessa forma, trouxeram muitos novos adeptos para a fé católica. Quando a perseguição de Diocleciano começou, o prefeito Lísias mandou prender Cosme e Damião e ordenou-lhes que se retratassem. Eles se mantiveram constantes sob tortura, e de forma milagrosa não sofriam nenhum ferimento por água, fogo, ar, nem mesmo na cruz, até que foram decapitados por uma espada. Seus três irmãos, Antimo, Leôncio e Euprepio também morreram como mártires com eles.

Cosme e Damião são considerados os patronos dos médicos e cirurgiões e, por vezes, são representados por emblemas médicos. Além disso, os irmãos são invocados no Cânon da Missa e na Ladainha de Todos os Santos.

A data

A Igreja Católica Apostólica Romana, desde tempos imemoráveis até o Calendário Romano de 1962, que vigorou até 1969, celebrava a festa dos santos Cosme e Damião no dia 27 de setembro. Porém, em 1969, com a reforma litúrgica, o Calendário Romano passou a comemorá-los no dia 26, pois considerada a importância de São Vicente de Paulo, também celebrado no dia 27, preferiram não pôr as duas memórias na mesma data. São Vicente ficou com o dia 27, já que era a data sabida de sua morte; já os santos Cosme e Damião, como não se sabe a data precisa da morte deles, tiveram sua memória movida para o dia 26 de setembro.

“Respeitando as diferentes crenças, celebramos aqui na comunidade o dia dos santos padroeiros nas duas datas: 26 e 27 de setembro. Percebemos que a presença do povo é grande nos dois dias”, afirmou padre Lincoln. Todo mês no dia 27 acontece na paróquia uma missa em homenagem aos santos Cosme e Damião. Se a data cair durante a semana, a missa é celebrada às 16h, e quando é final de semana, às 18h.

“A missão da paróquia é resgatar no coração das pessoas o espírito de coragem de assumir a sua fé, como fez os dois irmãos que hoje são santos. Em nossa comunidade, temos uma relíquia de Cosme e Damião, com documento autenticado pela Santa Sé”, disse.
Doces

Como uma forma de devoção e agradecimento, durante os dias de festa, muitos devotos distribuem doces para as crianças. Levando alegria a muitas pessoas, os saquinhos de doces também são entregues em diversas obras sociais, especialmente em orfanatos e asilos.

“Muitas vezes o ato de dar doces está alinhado à questão de promessas feitas pelo povo e pelo simples desejo de agradar as crianças. Essa distribuição de doces já é uma tradição antiga”, explicou.

Espaço para devoção

Padre Lincoln conta que, quando chegou à comunidade, sentia falta de um “espaço para devoção”, onde os fiéis pudessem depositar objetos devocionais, velas e outros ex-votos.

"Em 2012, fizemos uma sala dos milagres onde as pessoas podem guardar suas promessas e devoções. Além de também fazer o relato e registro das graças alcançadas. Tivemos há pouco tempo uma pessoa que fez sua tese de mestrado sobre São Cosme e Damião e que utilizou em seus estudos esses registros feitos e colocados na sala. O amor dos fiéis por São Cosme e Damião faz toda diferença", salientou.

Exemplo para os cristãos

“Hoje em dia as pessoas dão desculpas de não renovarem ou viverem sua fé devido ao trabalho, sua família e problemas pessoais. Porém, São Cosme e Damião nos deixam um grande exemplo, pois em seu ambiente de trabalho souberam viver sua fé. Em qualquer situação experimentada, o povo tem condições de viver sua fé nos mais diversos ambientes”, frisou.
Arquidiocese do Rio

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