segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A comunicação do Evangelho


A formação do povo de Deus exige mais dos evangelizadores. Estamos mal de pregação. É necessário mais conteúdo.
Por Luiz Carlos de Oliveira*

O enriquecimento da comunicação atual trouxe para dentro de nossa casa o mundo que era distante.  Pregamos o mesmo evangelho pregado pelos apóstolos com os meios atuais.

O papa Francisco alerta para alguns riscos: “algumas questões fundamentais que fazem parte da doutrina moral da Igreja e ficam fora do contexto que lhes dá sentido. Pior quando os aspectos secundários por si só não manifestam o núcleo da mensagem de Cristo” (EG 34).

A velocidade da comunicação pode não favorecer chegar ao mais importante do Evangelho ficando somente em aspectos secundários. O anúncio deve ir ao conteúdo que é a transformação da pessoa em uma nova criatura.

Não basta apresentar somente frases bonitas de autoajuda, slogans, imagens que comovem, mas não movem.  Tudo é muito bom, mas não é completo. O que mais assusta é o desconhecimento de pontos básicos e fundamentais da doutrina da Igreja.

O povo não foi bem catequizado. Por isso mesmo não se pode exigir um conhecimento que não receberam nem dar por suposto o conhecimento da doutrina. Urge então ir ao coração do Evangelho que é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo, morto e ressuscitado (EG 16).

As verdades da fé e da moral estão unidas e conduzem ao essencial. Jesus resume todo seu ensinamento no amor. Não é uma conversa mole para amaciar o coração, mas tem em Jesus e em sua entrega na cruz o ponto central que dá sentido a tudo mais.

É bom saber de cor (significa coração) a doutrina, mas é necessário levá-la ao coração. S. Paulo insiste no fundamental que é “a fé que age pelo amor” (Gl 5,6). A fé e o amor estão intimamente unidos, se complementam e se explicam.

Misericórdia é amor

Santo Tomás explica esse fundamento da fé: “O elemento principal da Nova Lei é a graça do Espírito Santo que se manifesta através da fé que opera pelo amor”.  O nome do amor é misericórdia. Ela é a maior das virtudes. Ela é o primeiro culto, pois é o que mais agrada a Deus, uma vez que garante o bem ao próximo (Idem).

Vivemos uma religião egoísta e intimista. Pensamos só em nós, quando o verdadeiro bem é pensar nos outros.  O Papa Francisco continua afirmando que esta é a atitude de quem é superior. Como estamos no lugar de Deus, o poder que nos foi dado é usar seu poder de misericórdia e não de dominação.

É poder de debruçar-se sobre os outros. Lembramos a parábola do bom samaritano: “Quem foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos bandidos? Aquele que usou de misericórdia (Lc 10,37). A conclusão da parábola é mais clara: “Vai, e faze o mesmo”.

Anúncio vivido 

A transmissão da Palavra exige uma proporção, isto é, percorrer os diversos temas da doutrina. A formação do povo de Deus exige mais dos evangelizadores. Estamos mal de pregação. É necessário mais conteúdo. Essa parte, reservada em particular aos padres e bispos, necessita de maior atenção. Há muitos que reclamam que não levam nada da celebração.

Também o pregador deve ser ouvinte da Palavra, não somente um transmissor. Somos os primeiros ouvintes da Palavra. O Papa encerra o texto: “Não podemos pregar ideologias, pois a mensagem correrá o risco de perder o seu frescor e já não ter o “perfume do Evangelho” (EG 39).

Há ideologias de esquerda e também de direita. Podemos ter certeza que conseguiremos anunciar quando acreditamos em Cristo com a fé de discípulo. Se anunciarmos o coração do Evangelho, poderemos garantir a força do anúncio vivido.
A12, 23-12-2014.
*Luiz Carlos de Oliveira é padre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário