domingo, 8 de fevereiro de 2015

A importância do recolhimento para orar


Cada vez somos menos para fazer mais coisas. O nosso risco é cair no vazio interior.
No meio da intensa atividade de profeta itinerante, Jesus cuidou sempre da Sua comunicação com Deus no silêncio e na solidão. Os evangelhos conservaram a recordação de um costume Seu que causou profunda impressão: Jesus costumava retirar-se de noite a orar.

O episódio que narra Marcos ajuda-nos a conhecer o que significava a oração para Jesus. À véspera tinha sido uma jornada dura. Jesus "tinha curado muitos doentes". O êxito tinha sido muito grande. Cafarnaum estava comocionada: "A população inteira aglomerava-se" em torno de Jesus. Toda gente falava dele.

Essa mesma noite, "de madrugada", entre as três e as seis da manhã, Jesus levanta-se e, sem avisar os Seus discípulos, retira-se para um descampado. "Ali se pôs a orar". Necessitava estar a sós com o Seu Pai. Não quer deixar-se aturdir pelo êxito. Só procura a vontade do Pai: conhecer bem o caminho que tem de percorrer.

Surpreendidos pela Sua ausência, Simão e os seus companheiros correm a procura-Lo. Não hesitam em interromper o seu diálogo com Deus. Só querem retê-Lo: "Toda gente Te procura". Mas Jesus não se deixa programar desde fora. Só pensa no projeto do Seu Pai. Nada, nem ninguém o afastará do Seu caminho.

Não tem nenhum interesse em ficar a desfrutar do Seu êxito em Cafarnaum. Não cederá ante o entusiasmo popular. Há aldeias que, todavia, não escutaram a Boa Nova de Deus: "Vamos... para predicar também ali".

Um dos rasgos mais positivos no cristianismo contemporâneo é ver como se vai despertando a necessidade de cuidar mais da comunicação com Deus, o silêncio e a meditação. Os cristãos mais lúcidos e responsáveis querem arrastar à Igreja de hoje a viver de forma mais contemplativa.

É urgente. Os cristãos, em geral, já não sabem estar a sós com o Pai. Os teólogos, predicadores e catequistas falamos muito de Deus, mas falamos pouco com Ele. O costume de Jesus é esquecido há muito tempo. Nas paróquias fazem-se muitas reuniões de trabalho, mas não sabemos retirar-nos para descansar na presença de Deus e encher-nos da Sua paz.

Cada vez somos menos para fazer mais coisas. O nosso risco é cair no ativismo, no desgaste e no vazio interior. No entanto, o nosso problema não é ter muitos problemas, mas ter a força espiritual necessária para enfrentá-los.
Instituto Humanitas Unisinos, 06-02-2015.

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